Rafa narrando
Já eram 11 horas da manhã e eu ainda não tinha visto ela sair pra comer nada .
Eu achei que as coisas seriam diferentes , começando pelo fato de ela estar fazendo o almoço e não eu .
Eu não sei se eu devia ir até o quarto dela e dizer algo . . . e se ela não quiser comer ? ? Enfio goela abaixo ? ?
" Mantenha ela viva , tenha um relacionamento , me dê herdeiros . . . " .
Respiro fundo me lembrando do acordo que fiz com o pai dela . A última parte era impossível de acontecer . Ela me odeia . . . como vou chegar nela e dizer que prometi netos pro pai dela ? ?
E quando meu pai descobrir , vai me matar , me matar por ter concordado com algo tão escroto assim . Tenho 27 anos mas isso não significa que posso tomar decisões desse tipo . Meu pai não me criou pra fazer esse tipo de merda .
" Tessa . . . " .
Gosto do nome dela , é diferente .
Eu não sabia antes porque o pai dela não tinha mencionado nenhuma vez e quando pedi pro Caio procurar pra mim ele tinha 3 filhas . Tessa é a mais nova . . .
Ouço a porta do quarto dela abrir , desligo o fogo do fogão e vou até a porta da cozinha vendo ela passar direto pro banheiro sem me olhar . Era como se eu não existisse .
Respiro fundo tentando manter a paciência . Eu tinha que tentar resolver as coisas , eu tinha que tentar pelo menos fazer a gente conviver melhor . Posso enrolar o pai dela sobre os filhos mas não posso enganar ele sobre o fato de ela me odiar . Precisava pelo menos parecer que estamos transando , que estamos tentando . . .
Escuto ela escovando os dentes e logo sai do banheiro me olhando um pouco pensativa . A cicatriz , ela sempre olhava a cicatriz . . . olho nos olhos dela buscando o que falar e ela também me olha nos olhos agora , as palavras parecem ter sumido por alguns segundos da minha cabeça . Ela olha pro chão meio estranha e começa a ir pro rumo das escadas . Rapidamente penso em algo pra falar .
_ " Fiz macarrão ! " _ digo pra ela tentando evitar o tom de súplica pra que pelo menos tentasse alguma coisa comigo , nem que fosse só conversar . Assim talvez eu teria a chance de pelo menos bolar um plano com ela .
Ela me olha parando de andar , surpresa , como se não esperasse que eu realmente soubesse fazer comida .
Graças a Deus isso é uma coisa que a Rebecca me ensinou , escondido . Quase ninguém sabe que eu realmente cozinho .
_ " Você . . . cozinhou ? " _ ela diz como se tivesse reformulando a imagem que tinha criado sobre mim . Agora eu era um cara m*l e cozinheiro .
_ " Bom , eu . . . não sei fazer muita coisa mas eu sei fazer macarrão ! " _ digo sincero . Talvez essa fosse a forma de chamar a atenção dela , só , sendo eu mesmo .
Ela me olha por alguns segundos pensativa .
_ " Pode buscar sua faca se quiser ! " _ digo sabendo que ela tinha um pouco de medo de mim e ela parece corar um pouco .
Sorrio um pouco de lado vendo as bochechas vermelhas enquanto as pintinhas de sarda ficam em um tom mais forte . Aquilo era mágico .
Vejo ela subir pra buscar a faca e abro um sorriso maior agora .
O que tá acontecendo comigo . . . ? ? ?
Fico sério entrando na cozinha colocando um pouco de comida pra gente . Macarrão com mussarela , tomate , feijão e bife . Sinto a presença dela na porta e olho vendo ela me observando , a faca na mão . Rapidamente sinto vontade de rir mas me contenho . Coloco os pratos na mesa e me sento em uma cadeira normalmente .
Começo a comer enquanto ela me olha um pouco e depois se senta devagar um pouco longe .
Do que ela tinha tanto medo ? ?
Vejo ela mexendo na comida um pouco com atenção e observo ela separando cada alimento em uma parte do prato , tirando cada comida de perto uma da outra como se ver elas em cima uma da outra fosse incômodo pra ela . Ela olha um pouco pro prato vendo que não tinha como separar o feijão , porque eu coloquei caldo , e aperta um pouco o garfo que estava na mão dela , incomodada .
Vejo ela me olhar e disfarço fingindo que não estava olhando pra ela . Como minha comida disfarçando e logo a atenção dela volta pra comida .
Vejo ela começando a comer pegando um pouco de cada comida que tinha no prato de uma forma organizada .
_ " Obrigada ! " _ ela diz pela comida . Séria , como sempre .
_ " Eu tava pensando , que talvez , a gente pode ir junto no baile de hoje . . . " _ comento devagar observando a reação dela . _ " A gente pode tentar fazer isso dar certo , tenho algumas ideias . . . " _ digo sobre a gente fingir pelo menos quando saíssemos juntos .
Tenho certeza que o pai dela tá contando os dias pra eu apresentar logo ela como minha fiel .
Ela me olha como se eu tivesse pedido pra ela tirar a roupa .
_ " Não tenho roupa ! " _ diz um pouco incomodada . Estava inventando motivos pra não ir .
_ " Posso comprar ! " .
_ " Eu durmo cedo ! " _ ela diz séria sem me olhar enquanto come .
_ " Posso comprar um energético também ! " _ Ela fica quieta e eu respiro fundo largando os talheres com cuidado . _ " Olha eu não queria que estivesse aqui tanto quanto você ! " _ digo sincero . _ " Eu não tinha opção . . . " _ digo e ela me interrompe séria .
_ " Você tinha muitas opções ! " _ ela diz um pouco alto .
_ " Pessoas estavam morrendo ! Seu pai tava matando elas por prazer ! " _ falo alto também , jogo na cara dela já sem paciência .
_ " Isso tudo aconteceu porque você não deu conta do trabalho de proteger elas ! " _ ela joga na minha cara com raiva e eu bato as duas mãos na mesa explodindo de raiva .
Ela se encolhe um pouco .
_ " O mundo não gira ao seu redor Tessa ! Para de pensar só em você ! " _ digo alto pra ela vendo ela me olhar com medo .
Respiro fundo com raiva e me levanto saindo da cozinha deixando ela sozinha .
Perdi a fome . . . ela conseguiu fazer eu perder a fome em segundos .
.
Lembrança on
Vejo a mulher jogando todo o dinheiro na minha cara enquanto chorava . As notas voando pela minha sala como uma chuva de dinheiro . . .
_ " Acha que quero seu dinheiro ? " _ ela diz com os olhos vermelhos , cheios de lágrimas , o rosto molhado como se já tivesse chorado muito . _ " Isso não vai trazer meu marido de volta , não vai trazer meu filho devolta ! " _ ela diz alto , quase gritando pra mim enquanto eu fico parado sem saber o que dizer que confortasse ela . Não existia nada que eu pudesse dizer que realmente ajudasse ela .
Era meu dever manter todo mundo seguro . . . e eu falhei .
Vejo a porta se abrir vendo o Caio checar pra ver se estava tudo tudo bem e vejo dois meninos com ele .
Pareciam ter 4 anos os dois . Olhavam pra mãe preocupados sem saber o que realmente estava acontecendo ali . A gravidade do problema .
Olho pro Caio vendo ele um pouco abalado pela situação e fico pior imediatamente . . . " .
Lembrança off .
.
Vou até o aparador de bebidas colocando um pouco do wiskhy pra mim tentando abafar as memórias indesejáveis e sinto a presença dela na sala .
_ " É melhor você subir ! " _ digo sincero eu já estava perdendo a cabeça .
_ " Rafael . . . " _ ela diz meu nome pela primeira vez , baixo , e eu interrompo ela antes que fale mais alguma coisa estúpida .
_ " Você não faz ideia do quanto ofereci pro seu pai . . . Não faz ideia do quanto eu queria que não estivesse aqui ! " _ digo com raiva ainda sem olhar pra ela . _ " Não tenho culpa se ele não te queria mais . . . " _ falo sincero com a raiva me consumindo , sem pensar muito e recebo silêncio em troca .
Olho pra ela vendo ela fervendo de raiva .
_ " Eu te odeio ! " _ Diz fervilhando .
_ " Novidade ! " _ digo normalmente e bebo um pouco do meu wiskhy .
Vejo ela saindo dali , subindo as escadas rapidamente me deixando sozinho .
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . continua . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .