Prólogo

2039 Words
Os olhares sobre mim me julgavam como um monstro destinado a destruir, a ferir e a matar. As pessoas sentadas naquela sala de um tribunal, olhavam para mim como alguém que deveria ter recebido a repreensão dos pais quando mais nova, como uma adolescente que não sabia o que fazer, mas que optou pelo caminho do crime e que lhe taxa na sociedade como um lixo que deveria ser removido a qualquer custo. Essas pessoas julgavam-me da mesma forma que cansei de me ver no espelho do meu quarto,da mesma forma que me auto julgava, elas me olhavam com o mesmo nojo que sentia. Mas havia algo que esqueciam, havia algo que nem sequer passava nas suas mentes e que jamais acreditariam; ambas crucificavam-me, mas esqueciam que poderiam estar no meu lugar, poderiam estar passando pela mesma situação, se não fosse ambos, poderia ser seus filhos, pois no momento que aceitei passar por tudo aquilo, no momento em que tentei buscar tranquilidade no lugar errado, descobri que haviam mais adolescente dentro daquele grupo sujo, do que adultos. Errei em procurar o caminho mais fácil e conveniente, errei em acreditar que aquela vida poderia trazer-me paz quando sabia que não. O advogado de defesa a minha frente, insistia em defender a minha causa, meus erros e minhas escolhas m*l pensadas. O homem de terno a minha frente, fazia o possível para que conseguisse sair desse lugar em liberdade, porém sabia que não seria assim que as coisas aconteceriam. A minha atenção estava nas cinco cadeiras vazias atrás da mesa em que o meu advogado se apoiava, os meus olhos ardiam como brasas, o meu peito se apertava de uma forma que jamais senti, as minhas tremiam com tanta intensidade que fez a policial a meu lado se preocupar, a minha mente estava presa numa desculpa qualquer, numa desculpa que pudesse explicar o porquê de não estarem ali. Erick, Ricardo, Dulce, Logan e, por mais que não sentisse carinho por mim, minha mãe; eles não estavam ali para me apoiarem, não estavam ali para me dizer que tudo ficaria bem, mesmo sabendo ser mentira. Eles não queriam saber o que aconteceria, não queriam saber o que a minha vida poderia se transformar. — Senhorita Miller, tem algo a dizer? Ouvindo a voz do juiz que decidiria a minha condenação,pude deixar que as lágrimas caíssem com intensidade,pude perder o controle de tudo aquilo que não deveria acontecer. Estava presa em uma cela há um mês e meio,desde que saí do hospital algemada com provas que me incriminavam,provas essas que Luke entregou em anonimato, não tive contato com ninguém e muito menos demonstrei o quão estava-me sentindo sozinha, o quão pedia por alguém, pedia por sequer uma visita de alguém que demonstrasse se importar comigo. Mas isso não aconteceu, ninguém veio saber como estava ou como me sentia, ninguém apareceu para sequer demonstrar estar ao meu lado, para dizer que não importa o que fiz ou o que acontecesse,estaria sempre pronto para me ajudar a passar por tudo isso. Não consegui sentir-me bem, não conseguia me ver preparada para tudo que viria com o passar do tempo, não consegui acreditar que ninguém se importava comigo. — Senhorita Miller? — o meu advogado chama por mim. Olhando para todos ali, para aqueles policias,para aqueles promotores e para o juiz,me senti vazia e como um objeto que havia sido descartado por não servir mais. Ouvindo a porta daquela sala ser aberta,desejei tanto que fosse alguém que dizia me amar,mas não era; a pessoa a entrar naquela sala,era a mesma que me colou ali,a mesma que atirou em mim e que tentou me matar. — Não... não tenho nada a dizer! — com a voz embargada e as lágrimas molhando o meu rosto, mantenho o olhar na única pessoa que conhecia. Não sabia o que havia lhe feito vir nesse tribunal, não sabia qual seria seu interesse em me ver ser condenada,porém ao olhar em seus olhos,soube o que ele tentou me mostrar,soube o que ele quis me dizer quando me chamou de fraca. Agora, passando por isso sozinho e sem ninguém para me apoiar, acreditava em suas palavras, acreditava em tudo que Luke tentou me mostrar. — Todos de pé para o decreto da sentença de Malia Miller Albuquerque!...— sem desviar o olhar se Luke e sem conter as lágrimas silenciosas, obedeço ao guarda. — Pelo assassinato de Julian Esteves, Robert Lewes...— os homens que matei naquele galpão — por tráfico de drogas e corridas clandestinas... sentencio a réu a pagar uma fiança de cento e cinquenta mil dólares e a dez anos de prisão em regime aberto podendo ter redução de pena por bom comportamento...— ao ouvi-lo bater o martelo, deixo com que as lágrimas voltassem a cair com intensidade. Sendo algemada novamente pela polícia do presídio, sinto meu advogado tocar em meu ombro como se dissesse sentir muito. Passando por aquela porta que me levaria para a sala na qual deveria me trocar novamente,olho mais uma vez para onde Luke estava,mas não o vejo. — Vamos querida! — Lêda toca no meu braço fazendo com que continuasse o meu caminho. Não sabia como seria esses anos presa, não sabia como seria viver cercada por grades,mas tinha um único pensamento; sairia daquele lugar, poderia recomeçar uma vida diferente. Entrando naquela sala, Lêda tira minhas algemas e fecha a porta me deixando sozinha para que trocasse minha roupas vestindo novamente as do presídio. — Você se lembra das minhas palavras? — olhando para Luke sentado naquele sofá do canto da sala,assinto. — Pensei que não lhe veria nunca mais! Se levantando,Luke se aproxima e toca em meu rosto me puxando para um abraço no qual retribui, deixando as lágrimas caírem fazendo com que um soluço escape por meus lábios. Me apertando mas a si, sinto um beijo em meus cabelos. — Disse que aquelas pessoas lhe causaria o enfraquecimento, tentei te fazer enxergar que você não era tão importante para eles... Mas você não viu, você escolheu se sacrificar por ambos, escolheu morrer para proteger aqueles que amam pela metade...— apenas assinto concordando com suas palavras. — Por que me entregou para polícia? Por que está aqui me consolando se me colocou nessa situação? — me afastando para olhar em seus olhos,o vejo confuso. — Não entreguei nada, sequer tenho provas para te incriminar. Queria apenas que se revelasse para eles,mas você não quis. Atirar em você não foi uma decisão minha e sim de Fabrício,o chefe de tudo. — Ele sabe que estou viva? — Luke n**a e acaricia o meu rosto. — Ele está morto! Estou no comando agora. — Seu irmão,onde ele está? — pergunto me afastando de seu toque e me lembrando que nem mesmo ele estava aqui para me apoiar. — Com aqueles que dizem ser sua família...— Luke suspira irritado. — Você tinha razão, não devia ter me apegado, não devia ter me arriscado tanto por alguém que não se importa. Olha onde estou agora! São dez anos presa em uma cela, são dez anos da minha vida...— se aproximando novamente,Luke segura em minhas duas mãos e sorri. — Te tirarei daquele lugar, Malia,farei com que não fique anos presa. Sei que não somos amigos e muito menos colegas,mas você trabalhou no mesmo que trabalho, você é do nosso grupo, mesmo que deseje sair depois de tudo o que aconteceu. Eu te prometo! Embora não confiasse em Luke, sabia que essas pessoas cumpriam suas promessas, pois ambos tinham grande influência na lei e com juízes dessa cidade, obviamente não seria difícil conseguirem uma diminuição maior em minha pena. Ouvindo a porta ser aberta, Luke solta minha mão e entra em uma segunda porta que deveria ser o banheiro. Sabia que Lêda estava parada me observando e me perguntando o porquê de não ter me trocado ainda. Não olhando em sua direção,tira aquelas roupas mais sociais ficando apenas com minhas roupas íntimas. A cicatriz em meu peito,se curava de forma rápida,as costelas que havia fraturado com o chute que tomei de Luke,ainda me causava dor,porém não se comparava com a dor que sentia em meu peito,a dor que sentia ao lembrar que ninguém da minha hipócrita família se importava comigo,ao me lembrar que por mais que tente arranjar uma desculpa plausível para suas ausências,90% das chances eram por não se importarem,por não quererem saber o que acontecerá comigo. Terminando de me vestir,me viro para Lêda e sorrio fraco estendendo os meus braços para que pudesse algemar-me. — Sinto muito pela sua família... — apenas assinto. Saindo daquela sala,seco as minhas lágrimas e sigo por aquele corredor que nos levaria para frente daquele fórum onde se encontrava a viatura que me levaria para o presídio. Atravessando aquela porta de saída, pude ver inúmeros “flashes” sendo disparados, inúmeros repórteres atrás de uma notícia que ganharia a capa principal e seria notícia maior nos jornais dessa cidade, pois além de ser enteada de um dos empresários mais bem sucedidos da cidade, também era filha de um militar que havia se aposentado de profissão. — Senhorita Miller, porque ninguém da sua família compareceu ao julgamento? — uma jornalista pergunta, mas não lhe respondo e contínuo descendo aquelas escadas a medida que os seguranças abriam espaço para que passasse. — Qual foi sua sentença? — outro questiona. — Como ficou a relação com a sua família? Ambos estão contra você? — aquela foi a pergunta que mais me doeu. Entrando naquele carro com ajuda de Lêda, fecho os meus olhos e apoio a minha cabeça naquela janela podendo tentar desfazer aquele nó na minha garganta, porém estava sendo impossível. Os meus olhos estavam pesados pela abundância de lágrimas, minha garganta e meu peito causavam-me dor por tentar segurar o choro, mas não deixaria que isso acontecesse, pois se dependesse disso, passaria dez anos da minha vida chorando, passaria dez anos sofrendo por uma coisa que não aconteceu e que somente eu sinto por isso, uma coisa que estava destinada a atormentar-me pelo restante da minha vida. Não permitiria, não deixaria que me machucasse com esses pensamentos, pois seriam três mil e seiscentos e sessenta dias presa numa cela na qual não haverá nada além da minha consciência me atormentando. Essas seriam minhas últimas lágrimas, seriam a última vez que me deixaria sofrer devido a pessoas que pensei serem por mim o que era por eles. A Lia havia morrido no momento em que entrei em uma cela, havia morrido no momento em que a realidade bateu na minha porta e entrou sem permissão; o que era amor, havia se transformado em ódio e o que havia sido dor, se transformaria em vingança. — Está tudo bem, Malia? Abrindo os meus olhos novamente, deixo um sorriso se formar nos meus lábios e fito Lêda, que me observava enquanto dirigia aquele carro em direção à saída da cidade, pois o presídio no qual ficaria dez anos da minha vida, ficava a quase uma hora daqui. Embora soubesse que os meus dias seriam um inferno, não deixaria que isso me abalasse ou que sequer me fizesse se sentir fraca. Sabia o que acontecia em lugares como aqueles, sabia como era ficar presa entre pessoas que cometeram crimes perversos, pois mesmo nunca tendo sido presa, ouvia diversas vezes pessoas que tiveram o desprazer de entrar num lugar com aquele, não deixaria que isso me assustasse, seria o oposto, pois usaria isso como um incentivo para quando saísse, voltasse a ser o que era antes, voltasse a não deixar ninguém brincar comigo ou pisarem nos meus sentimentos. — Melhor impossível!... O mundo não foi gentil, a vida deu-me inúmeras rasteiras na quais me deixaram diversas feridas, as consequências vieram cedo de mais e sem aviso, as lágrimas fizeram parte da minha vida, mas tudo havia se tornado um aprendizado, seria motivo para me mostrar ser pior do que ontem e melhor do que hoje. Tentei ser boa, tentei aquilo que muitos queriam, tentei ser uma pessoa diferente, mas essas pessoas destruíram-me, essas pessoas fizeram com que me quebrasse como um espelho arremessado no chão, ambas fizeram-me conhecer o fundo do poço. Agora seria minha vez de lhes afogarem, assim como fizeram comigo!
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