Capítulo 8
Enquanto segurava aquele copo com uma dose de whisky,podia sentir minhas mãos trêmulas e minha respiração desregulada,a garrafa sobre a mesinha de centro era a única coisa que tinha minha atenção,porém sabia que minha empregada me observava parada na escada,assim como sabia que existia um olhar amedrontado em si. A arma na qual antes estava em minha cintura,agora se encontrava ao meu lado sobre o sofá no qual me mantinha sentada desde que retornei daquele galpão onde havia deixado Logan,meu celular vibrava em um intervalo de quinze minutos, certamente seria as dezenas de mensagens de Luke perguntando onde estava e o que fazia. A sala de estar estava me sufocando,a casa me atormentava,porém não se comparava as palavras de Logan que não saíam da minha mente. Ele havia dito com tanta certeza,com tanta convicção de que iria me arrepender, isso estava me deixando confusa,mas não acredito em suas palavras,pois mesmo que tudo não tenha sido como Luke disse,não poderia existir algo que me fizesse esquecer esse ódio,não haveria nada que pudesse justificar o abandono deles.
Pela primeira vez em anos,pude sentir meus olhos arderem e um nó se formar em minha garganta,pude sentir a necessidade de derramar algumas lágrimas,porém não faria isso e muito menos me mostraria fraca e relutante em prosseguir com meu objetivo. Fechando meus olhos bebendo aquela dose,suspiro deixando o copo sobre a mesinha ao lado da garrafa de bebida e me levanto mantendo-me de costas para minha empregada que permanecia me observando.
— Pode ir para sua casa! Não precisa vir trabalhar amanhã — me pronuncio sem ao menos olhar para a mulher.
Pegando minha arma e celular,sigo para meu escritório tendo em mente voltar a minha pesquisa sobre o porquê de não haver nada relacionado ao meu julgamento ou prisão. Sentando-me em minha poltrona de frente para meu notebook aberto em um site de pesquisa, suspiro mais uma vez enquanto apoiava minhas costas no encosto do acento. A foto de Erick, Ricardo e Lorena estava aberta,porém o que me causava uma sensação de desconfiança, é o fato de ambos estarem com uma feição abatida,com um olhar vago e distante na situação em questão,diria que ambos estavam sofrendo.
— O que estava acontecendo? — questiono para mim mesma enquanto observava detalhadamente aquela fotografia.
Olhando para meu celular que vibrava frequentemente por ser uma ligação,pude ver o nome de Luke brilhar na tela de meu aparelho e mesmo não querendo ouvir sua voz, não poderia deixar minhas suspeitas me entregarem,pois mesmo sendo um traidor filho da p**a,ainda estava trabalhando consigo e deveria seguir suas ordens.
— O que você quer?
— O que eu quero? Será que esqueceu que você trabalha para mim e deveria estar nessa merda de pista de corrida? Tenho que lhe lembrar do nosso acordo? — esbraveja fazendo com que revire meus olhos.
— Não, você está enganado! Ao contrário do que você disse, não trabalho PARA você,e sim, trabalho COM você. Sentiu a diferença? — ironizo, podendo ouvir sua respiração desregulada e irritada.
— Filha da p**a! Vai correr nessa merda ou não?
Poderia dizer que não, mas sempre me senti tranquila enquanto estava atrás de um volante e pronta para sentir toda adrenalina possível em meu corpo. Desde que entrei nessa vida,a única coisa que não desisto de fazer é estar em uma pista de corrida.
— Às onze! Estarei na pista pronta para correr às onze da noite.
Encerrando a ligação sem ao menos me importar se ele ficaria irritado, desligo meu celular e o deixo de lado. Apoiando meus cotovelos sobre a mesa,cubro meu rosto sentindo o cansaço invadir meu corpo e minha mente voltar a me atormentar. Não sabia o porquê,mas algo me pedia para acreditar nas palavras de Logan,pedia para que ouvisse sua explicação e que repensasse em meus próximos atos,mas não conseguia,pois o ódio falava mais alto do que qualquer outro sentimento. Ouvindo a porta sendo aberta, suspiro profundamente tentando não soar grosseira com minha empregada.
— Pedi para você ir pra sua casa! Me deixa sozinha — peço calmamente.
— Acho que você pediu isso para outra pessoa, não para mim!
Em um movimento rápido,pego minha arma sobre aquela mesa e a aponto em sua direção. Era muita audácia dele em estar na minha casa e em meu escritório,estar a minha frente após ter dito que não o queria por perto,que a única aproximação que desejava seria no momento em que estivesse prestes a lhe ferir. Com seu olhar sobre mim,tive a mesma sensação que senti ao olhar aquela foto,ao reler aquele e-mail e ao relembrar de como foi viver ao seu lado,pelo menos antes de nutrir esse ódio tão intenso que foi capaz de substituir qualquer sentimento bom que existia dentro de meu coração. Aquele olhar me fez sentir um arrepio percorrer por meu corpo,mas em momento algum me vi pensando em exitar puxar o gatilho.
— Quem te deu permissão para entrar em minha casa? Como passou pelos portões sem a minha autorização? — questiono sentindo a raiva se apossar de meu subconsciente.
— Apesar de poder ter sido mais emocionante,foi a sua empregada que permitiu minha entrada, obviamente ela acreditou que sou um dos seus seguranças ou algo do tipo — com sarcasmo em sua voz, Erick explicou sentando-se a minha frente enquanto mantinha seu olhar em mim.
— Acredite, não quero te ferir agora, pretendo me divertir enquanto você estiver implorando para que pare a tortura — advirto colocando minha arma na cintura e me aproximando da pequena adega atrás de mim.
Quem me visse agora,diria que estava me tornando uma alcoólatra, porém bebia a medida certa somente para retirar toda a tensão de meu corpo e os problemas da minha mente. Ingerir álcool não lhe faz uma doente viciada,desde que tenha controle do que bebe e que nunca ultrapasse seus limites. Estava sóbria e ficaria até tudo isso acabar, não me embebedaria enquanto não desse por encerrado todos os meus problemas, tanto com todos da minha lista,como os que estão surgindo com o bastardo do Luke.
Virando-me em sua direção,o sirvo com uma dose. Apesar de sentir ódio e um incômodo ao olhar para si, não agiria de forma esnobe,pois o seu momento de tortura está próximo e pretendo fazer isso tendo todos juntos,pois Logan havia sido o primeiro,o próximo será o merda do Digson e por aí adiante. Os quero juntos e em minha frente,todos prontos para experimentarem o que senti,o que passei e o que vivi cinco anos da minha maldita vida. Porém dentre eles,havia um único que não machucaria ao extremo,somente deixaria as lembranças de que sou bem mais que a garota que o abraçou em um momento de reencontro e chorou aliviada e feliz,somente ele voltará para casa com a certeza de ter pagado pelo abandono.
— Você me intriga!...— Erick comenta enquanto contornava a borda do copo com um de seus dedos — seu olhar carrega um vazio,uma escuridão que a faz nos odiar,mas atrás dele, atrás dessa neblina n***a e aterrorizante, há um sentimento puro,um sentimento que lhe permite ter dúvidas em suas escolhas. Você não está segura de si.
— Você está enganado! Tenho certeza de que puxarei o gatilho quando chegar a vez de cada um de vocês,tenho certeza que não irei exitar ao lhes fazerem sentir tudo o que vivi durante esses malditos cinco anos...— esbravejo apoiando minhas mãos sobre a mesa e enquanto fitava seu rosto com tamanha intensidade e segurança em minhas palavras.
Se levantando tranquilamente, Erick deixa seu copo sobre a mesa ainda com o líquido dentro,e em passos cautelosos,porém precisos,ele se pôs a minha frente prendendo-me contra a pequena adega e seu corpo. Levando minha mão até a arma para pegá-la,suas mãos a seguraram juntas enquanto tentava me intimidar com seu olhar,o mesmo olhar que anos atrás me fez sentir um sentimento que causou a minha fraqueza,um sentimento que apenas me destruiu e me feriu.
— Tem certeza? Sua mente não está confusa? Não está se perguntando se realmente deve prosseguir com essa sua obsseção infundada? Não está se perguntando quem realmente é o correto nessa história? Pois até dias atrás, pensávamos que Luke era o bom samaritano, acreditávamos que ele dizia a verdade! Acha mesmo que somos os errados,os traidores da história? — sussurra colocando meus cabelos para o lado deixando um beijo em meu pescoço — acho que sua mente está em uma luta interna para descobrir quem realmente está dizendo a verdade.
O empurrando fazendo-o se apoiar em minha mesa, sustento seu olhar demonstrando o quão estava lhe odiando e o quão disposta estava lhe ferir. Sentir sua respiração próximo a mim,seus lábios em contato com a pele de meu pescoço e suas mãos em mim,causou uma sensação que fiz questão de encobri-la com o sentimento de ódio e desprezo,pois não deveria sentir aquelas emoções e muito menos ouvir algo que destruí a anos mas que insistiu em deixar rastros.
— Não se aproxime de mim e muito menos tente me tocar,pois juro que esquecerei a merda de minhas palavras e atiro em você aqui mesmo. Não pense que por ter sido alguém em meu passado fudido,estará livre de algo,pois você é o que mais me insentiva.
— Tudo bem! Mas me diz se não sente nada quando toco em você — puxando meu corpo contra o seu, Erick toca em meu rosto com uma mão e pega minha arma com outra,a colocando ao seu lado e volta apertar minha cintura — diz que não senti nada quando a abraço...— murmura com o olhar preso ao meu,porém o desvia para meus lábios e,me deixando sem reação,me beija com intensidade — diz que não sente nada quando lhe beijo! — sussurra.
Agindo por impulso e desejo,o puxo para um outro beijo no qual foi retribuído de imediato e com intensidade. Nos virando,Erick me coloca sentada sobre minha mesa e se posiciona entre minha pernas enquanto suas mãos subiam por baixo da minha blusa apertando meu corpo.
— Eu te amo, Lia! — sussurrou contra meus lábios.
— Eu te odeio,mas não significa que não possa me divertir realizando seu último desejo de tocar em mim!
A verdade estava em minhas palavras a todo momento, não menti em nenhum segundo,pois não o amava e não o perdoaria por ter virado as costas para mim no momento em que mais precisei. Assim como todos os que me rodeiam,cada um possuía parte do ódio que carrego dentro de meu c
oração e corpo,eram pessoas que sofreriam com minha vingança.