Ignore os chamados! Seja realista e compreenda que não há ninguém,nenhum ser humano é bom o bastante para se preocupar e muito menos vale a pena para que permaneça viva em pró a promessas vazias.
Ouvia um tipo de barulho irritante adentrando meus ouvidos, todas as veias de meu corpo adiam como se houvesse brasas queimando cada centímetro. Meu abdômen latejava mesmo que tivesse ingerido uma grande quantidade de medicamentos para as dores, minhas pernas pareciam pesar o quádruplo do que realmente pesavam. Realmente estava exausta de ficar deitada sobre aquela cama com os lençóis manchados em um tom avermelhado.
— Merda! — murmurei ao me mover para fora e me sentando com certa dificuldade.
O mesmo barulho irritante se fez presente,então descobri ser meu celular sobre o criado mudo. Com uma mão sobre a ferida na qual uma faixa estava circulando meu abdômen em curativo, apanhei o eletrônico com a outra e descobri o motivo daquela irritação toda: Luke estava me ligando e havia inúmeras mensagens do próprio, certamente querendo saber onde estava e o que provavelmente estaria fazendo. E ao olhar a data na tela, suspirei pesadamente ao perceber ter ficado três dias desacordada nessa casa.
Com muito esforço,deixei o aparelho sobre o colchão e me obriguei a ficar de pé e seguir até meu banheiro,esse que ainda continuava uma tremenda bagunça devido minha habilidade em me fazer um curativo a três dias atrás. Encontrando os mesmo objetos e curativos usados naquele dia,apenas suspirei e os deixei no mesmo lugar enquanto adentrava o box e ligava o chuveiro. Sentindo as dores daquele ferimento,retirei duras as minhas roupas e me coloquei debaixo daquela água fria a deixando molhar cada parte de meu corpo.
Com as mãos apoiadas naquela parede fria,dei liberdade para as lágrimas caírem com força total,as deixei caírem com o peso de todos os malditos dias que a segurei,dei liberdade por não estar suportando as feridas que jamais se fecharão e muito menos se cicatrizaram. No auge desse campeonato,a única coisa que queria fazer e que se passava em minha mente, é usar aquela maldita arma sobre meu criado mudo, é dispará-la contra minha própria cabeça tirando a vida que ainda insiste em estar nesse meu corpo completamente quebrado. Pensando em tudo o que fiz e estou fazendo,consigo apenas me imaginar morta e de preferência pelas minhas próprias mãos. Mas não poderia parar, não nesse momento, precisaria fazer com que todos sentissem na pele o que estou sentindo,eles merecem saber o que passei e como me senti. Será um castigo que pagaram sem hesitação.
Levando uma de minhas mãos até a faixa completamente molhada, a tirei lentamente podendo sentir o sangue escorrer de minha ferida até meus pés,o rastro avermelhado juntamente a dor inexplicável que estava sentindo me fizeram gritar com todo o ar de meus pulmões,me fizeram gritar até minhas forças vocais ficassem afetadas, até o soluço me impedir de prosseguir. Estava doendo além do físico,era o emocional que estava mais afetado.
Então,após sentir todo meu corpo completamente exausto,me deixei cair naquele piso completamente gélido e fechei os olhos desejando que a inconsciência me atingisse de forma rápida e reconfortante. E foi exatamente isso que aconteceu.
[…]
Já se perguntou como a vida termina? Já tentou entender como a morte nos alcança e nos arrasta para a escuridão que nossos olhos não podem enxergar e nosso corpo não consegue sentir? Se perguntou quando será o fim de tudo o que se conhece e se formou? É,eu também nunca me questionei quando chegaria a minha hora de dizer adeus e me despedir daquilo que um dia me fez sorrir e amar. Sabe,tenho medo do que o futuro me aguarda,tenho medo do que o destino poderá fazer comigo,mas acima de tudo,tenho medo de perceber que nada do que fiz foi realmente importante ou simplesmente valeu a pena.
Uma vez li uma frase que me fez pensar,me levou além do que poderia fazer ou que houvesse feito durante meu pouco tempo de vida: “ Tudo o que fazermos por nós, será esquecido. Mas tudo o que fizermos em pró dos outros e do mundo,será lembrado eternamente.” . Sabe aquelas baboseiras que sempre ouvimos de pessoas aleatórias? Então,tenho a ousadia de dizer que essa frase se encaixa perfeitamente nesse papel. A humanidade é tão suja, tão egoísta que podemos lhes dar o mundo,ela sempre fará questão de lhe criticar e te arremessar em um lugarzinho onde a pó está sucumbindo a cada outras lembranças.
Não ouse acreditar que possamos ser dignos de algo sem o devido sofrimento, não ouse inflar o peito para gritar aos quatro cantos do mundo, não ouse gritar que possa ser merecedor de coisas simples, porém benéficas para sua vida. Somos dignos daquilo que lutamos para ter, dignos de viver de acordo com o que somos e escolhemos. Somos pessoas que não deveriam exigir nada, apenas deveríamos ficar calados diante as repreensões da vida e do destino que estará nos segurando pelo braço e nos levando a tudo o que procuramos com nossas escolhas miseráveis.
Às vezes me pergunto como chego a essas conclusões,a esses pensamentos tão profundos como o abismo no qual gostaria de me jogar sem pensar em mais nada. Irônico estar pensando em algo assim quando estou em um terraço de uma lanchonete com uma arma apontada para uma pessoa e com a mira em sua cabeça. Mas não atiraria, não seria fria o bastante para lhe matar em frente a uma criança que aparenta estar em seus belos quatro anos de idade,na frente da mulher loira que demonstra estar radiante com a presença do homem cujo designei como meu alvo.
A brisa fria batia contra meus fios presos em um r**o de cavalo,um arrepio percorria meu corpo coberto por uma roupa completamente preta,em minhas mãos haviam luvas na mesma tonalidade. Realmente vim preparada para concluir algo diferente fui obrigada a fazer. Não era um monstro como muitos passaram a me enxergar, não sou capaz de fazer minha mente esquecer essas cenas e meu emocional destruir a possibilidade de estar chorando em minha cama no meio da madrugada. Nunca havia machucado ninguém, nunca sequer disparei uma arma contra outra pessoa como estava prestes a fazer,porém entre minha família e amigos,escolho arranjar forças e coragem de onde não tenho.
Mesmo com outra pessoa ao meu lado, apenas me sentei começando a desmontar a arma e guardar parte por parte na capa protetora; é uma arma grade e de longa distância, atingiria aquele homem como se não fosse nada,sua mira é perfeita e aceitaria até em um pássaro voando tranquilamente no céu dessa cidade. Não sou conhecedora de armas, não tenho um conhecimento aprofundado, mas sei quando pode ser perigoso e pode fazer um estrago no corpo da vítima.
— Você enlouqueceu,garota! Faça o seu trabalho — o cara designado a garantir que o serviço fosse feito, segurou em um de meus braços e murmurou entre dentes.
— Não! Ele está com a família, está com uma criança que poderá crescer traumatizada por ver a morte de seu possível pai — neguei me livrando de seu toque.
O vendo suspirar irritado,lhe assistir a montar sua arma, ajustar sua mira e disparar contra aquele homem que deveria ser meu alvo e ser morto por mim. Foi inevitável não ouvir os gritos assustados das pessoas correndo para longe,os gritos daquela criança e da mulher que julguei ser sua mãe. Foi inevitável não me sentir abalada com o que aquele homem fez, mas que deveria ter sido feito por minhas próprias mãos.
Sentindo seus toques grosseiros e bruto,lhe encarei incrédula com tamanha frieza que encontrei em seus olhos azuis como o oceano, olhos esses que jamais demonstraria a pessoa que habitava aquele corpo.
— Escuta bem o que vou dizer! Estou tentando te ajudar, você saiu antes de entrar mas decidiu voltar. Então faça o que lhe foi pedido; se precisar matar,mate. Lhe avisei como as coisas eram,tentei lhe fazer desistir enquanto tinha tempo,mas você não quis então faça o seu trabalho e mantenha a p***a da sua família viva — praticamente gritou contra mim.
— Eu não consigo! — murmurei sentindo meus olhos arderem.
— p***a! Acorda e abra os olhos, garota! Você poderá ficar somente de um lado; ou esse em que estamos,ou naquele — apontou para a praça onde se encontrava sua vítima sem vida — ou segura a merda de uma arma e dispara quando necessário,ou morra como um animal no abate. A escolha é sua!
Por mais assustada que estivesse, aquele homem estava certo,estava coberto de razão. Então,sob seu olhar apenas assenti disfarçando a umidade em meus olhos e o tremor em meu corpo. Faria de tudo para proteger aqueles que tivessem o mesmo sangue que corre em minhas veias,por mais que todos tivessem me machucado.
[…]
Abrindo meus olhos que se encontravam pesados,me reergui daquele chão,lavei minha ferida e o restante de meu corpo, então desliguei aquela água fria. Do lado de fora do box,procurei por curativos novos os encontrando na maleta de primeiros socorros. Sentando-me sobre a tampa da privada,dei início a limpeza daquele ferimento que sangrava molhando a toalha que se encontrava em minha cintura,e olhando para as características daquele ferimento, diria estar infeccionado e que se não cuidasse,poderia me causar inúmeros problemas e uma morte lenta e dolorosa.
— Filho da p**a! Corno desgraçado,juro que pagará caro por defender aquela v***a e ter atirado em mim — sentindo a ardência ao estar limpando a ferida, não deixo de praguejar e ameaçar aquele bastardo.
Levei longos minutos para concluir aquilo, então quando terminei, senti meu corpo fraco e dolorido. E mais uma vez deixei outra bagunça naquele banheiro após ingerir os medicamentos para dor e também para infecção, seguindo para meu quarto portanto no corpo somente um roupão em cor preta,me deitei em minha cama soltando um suspiro e um arfar pesado. Aguentaria aquilo tudo até estar bem o bastante para voltar com meus planos, suportaria aquele tempo necessário para retomar tudo o que planejei para finalmente poder suspirar aliviada.