Não conseguia mover meu corpo, não conseguia enxergar o que estava me cercando e o que se passava diante a mim,apenas ouvia a água caindo contra o piso gélido onde me encontrava sentada,assim como as paredes nas quais tinha minhas costas apoiadas. Não fazia sentido, não havia uma explicação para o que estava sentindo,pois até semanas atrás,estava bem e saudável. Estava sendo algo surreal desencadear uma série de sintomas como os que venho tendo.
Todo suor de meu corpo estava indo embora juntamente a água fria,a cor de minha pele estava clara,a palidez era algo que predominava. Não tenho um espelho à minha frente,mas tenho a certeza de que não há cor sequer em meus lábios que liberam gemidos sôfregos,gemidos nos quais saem mais como um sussurro contido. O celular, do lado de fora daquele box,tocava insistentemente sobre a pia,sinal de que alguém estaria me procurando,e essa pessoa era uma que pensava poder me controlar. Luke era um amador que, mesmo fazendo coisas que muitos nunca fizeram, não passa de um fodido arrogante.
Horas se passaram comigo naquele chão sendo molhada pelas gotas da água que escorriam diretamente para o ralo,mas em certo momento,ainda com a fraqueza me atingindo como uma rasteira brutal,me forcei a apoiar naquela parede e me pôr de pé tomando direção a saída daquele banheira e adentrando aquele quarto de hotel. Com muito sacrifício,me vesti com as roupas nas quais usava na noite anterior, apanhei meus pertences - inclusive o celular no banheiro - e me retirei daquele quarto onde me serviu como uma forma de escape.
Desconhecer meu futuro é algo que jamais me importou, pois sempre acreditei que mais um dia de vida que que tivesse seria como um bônus,nunca tive a certeza de que poderia construir uma história muito bem estruturada,nunca cheguei a idealizar coisas que poderiam vir a acontecer em anos a frente. Acho que o fato de viver uma vida monótona devido minhas escolhas do passado,as idealizações e sonhos deixaram de fazer parte de mim,pois tudo que escolhi fazer me traria e me trouxe consequências severas. Sinceramente, é inacreditável me ver viva,me ver nesse mundo e sociedade tóxica.
Querer é uma coisa,realizar é outra muito diferente. Porém, observando todos aqueles que conheço e tive convívio,ambos construindo uma vida promissora ou criando sua família,me fez muitas vezes considerar a ideia de ser alguém melhor,de mudar minhas escolhas e fazer o bem. Gostaria de ter um bom emprego,uma casa que pudesse chamar de lar, gostaria de construir a minha própria família. Mas,como minha mente é psicopata e não consegui mudar de tática, me vejo tendo esse sonho impossível. Meu destino é ferir, machucar e destruir aqueles que me machucaram,o que viesse depois seria um lucro no qual não faria diferença. Sonhos são apenas isso: sonhos! Gosto de viver na realidade.
Poderia ir para minha casa,poderia descobrir o que Luke estava querendo ao me ligar,porém optei por visitar aqueles que estavam sob meu poder, aqueles que tentava machucar,mas não conseguia. Com meu carro estacionado em frente àquele galpão,criei forças para sair do veículo e adentrar aquelas estruturas. Estava cada vez mais fraca e a palidez era algo evidente,porém não deixaria que morressem de fome. Tirando o cadeado da porta,a abri adentrando o local iluminado por luzes com sensor de movimento e algumas que clareavam a visão de meus prisioneiros.
— Trouxe algo para vocês comerem — murmurou entregando uma sacola para Logan e outra para Ricardo. Digson se encontrava desacordado devido alguns ferimentos causados por mim.
Me sentindo cansada o bastante para ficar de pé,puxo uma cadeira do canto daquele local e me sento sentindo minhas pernas e cada músculo de meu corpo,arderem como brasas acesas. A queimação em meu peito e abdômen eram superficiais em relação às outras dores que estava tendo. Sentindo um nó em minha garganta, viro-me para o lado me permitindo cuspir mais um pouco de sangue. Estava sendo difícil dizer o que estava acontecendo comigo,mas não me importava.
Erguendo meu olhar para Logan e Ricardo,pude enxergar uma feição desconhecida em seus rostos,porém tinha a certeza de que estavam se questionando o que estava acontecendo comigo e o porquê de estar pálida feito uma folha de papel e estar cuspindo sangue. Sentindo meu peito arder como brasa, suspirei contraindo todos os músculos de meu corpo ao soltar um gemido baixinho.
— Malia...— Ricardo chamou no mesmo instante em que me curvei para frente enquanto abraçava meu abdômen.
Era uma dor sem explicação,algo que não deveria fazer parte da minha vida. Sentindo o suor escorrer pelo meu rosto e meus batimentos cardíacos se aceleram,me levantei daquela cadeira tomando direção a saída daquele galpão,mas ao pensar em abrir a porta,minhas forças se esgotaram e meu corpo se colidiu contra aquele chão. Não ouvia nada e muito menos conseguia enxergar,meu corpo estava pesando uma tonelada e minha respiração estava cada vez mais acelerada. Sentindo a falta de ar me atingir,consegui mover minhas mãos até meu peito e abrir a blusa na qual estava usando,era dolorosa aquela situação,porém não conseguia pensar em nada que pudesse justificar aquelas sensações e sentimentos.
[…]
Ainda estava naquele chão,estava fraca e dolorida,porém não o bastante para que me impedisse de sair dali e voltar para minha casa,meu corpo latejava e minha cabeça parecia que explodiria a qualquer momento,não sabia explicar o acontecido,mas tinha a certeza de que minha saúde estava terrivelmente debilitada. Forçando minha visão, encarei as três pessoas acorrentadas, enxerguei a feição preocupada de Ricardo e Logan,o que me deixava cada vez mais hesitante em lhes machucar.
Por que não posso deixar tudo isso? Por que não consigo deixá-los seguir suas próprias vidas e viver o que tanto planejaram para seus futuros? Por que não consigo deixá-los serem felizes? Talvez,se estivesse seguindo meu coração e não dando tanta razão para minha mente, tudo pudesse ser mais simples de se resolver,tudo poderia ser somente um passado traumático que deixou cicatrizes incuráveis e profundas. Não conseguia pensar desta forma,pois sou alguém que não perdoa facilmente,sou alguém que não consegui enxergar apenas um abandono, alguém que enxerga uma traição. Mesmo que desejasse seguir outros rumos e planos, jamais conseguiria, pois essas pessoas são parte de meu passado.
Não, não os vejo como culpados por tudo que fiz em minha vida, não os enxergo como culpados por ser quem sou, apenas consigo certa traição, consigo compreender a forma fria que me abandonaram em uma penitenciária,a forma que se afastaram sem uma mera despedida e esclarecimento do porque não poderiam me ajudar. Ambos não são culpados por nada do que fiz e que escolhi,mas são culpados por terem me abandonado no momento em que mais precisei e pensei que seriam a minha família,no momento em que imaginei ambos estando ali para me apoiarem. Não foi assim e jamais seria. Então a culpa não era deles, mas fizeram parecer que lhes pertencia.
— Você precisa procurar um médico para te examinar, Malia — Logan aconselhou ao me ver sentar naquele chão.
— A única coisa que preciso, é concluir a merda do meu objetivo,o restante será um bônus — rosno sem me preocupar com a emoção presente em sua fala.
Estava com os nervos à flor da pele,minha mente estava uma verdadeira confusão e ouvir o aconselhamento de alguém seria a última coisa que gostaria. Perante essa situação,deixei uma fraqueza a disposição deles,um ponto fraco onde, se desejarem,poderiam usar contra mim e se protegerem, porém, não daria essa vantagem a eles,usaria meu último suspiro para garantir que minha vontade e objetivo sejam cumpridos.
— Quer saber... Morra! Mesmo fazendo essa merda conosco,ainda nos preocupamos e desejamos seu bem,mas se quer ser a p***a de uma justiceira iludida com a mentira, f**a-se com suas consequências e merdas — impaciente, Logan proferiu irritado e cansado.
Era isso que estava querendo desde o início,essa versão que desejei desde que o coloquei nesse lugar. Logan era diferente de todos, então não me admirava lhe ver perder o controle de suas ações. Ricardo,ao contrário do outro, continuava me encarando sem dizer sequer uma palavra , também agradecia por isso,pois o conhecendo tenho certeza de que falaria algo que me irritasse.
Com um suspiro,apoio minhas costas naquela porta e apanho meu celular que começa a vibrar em meu bolso: Luke me ligava insistentemente, certamente seria de grande importância para si e desnecessário para mim.
— Disse mil vezes! Pare de me ligar como se fosse meu dono! — o censurei o atender a ligação.
— Pro inferno com suas reclamações! Você trabalha pra mim e me deve satisfação — rebateu nervoso — preciso de você na minha casa, descobrimos algo muito importante e que lhe diz respeito.
— E a que se refere? Pois não estou disposta a ouvir você reclamar ou falar coisa qualquer — pude ouvir sua respiração pesada e irritada.
— É sobre seu querido pai! Acho que sua "mamãe" não lhe contou toda verdade. Venha para minha casa e esqueça qualquer merda que esteja fazendo — sem permitir uma negativa da minha parte, Luke encerrou a ligação.
De imediato,meus olhos tomaram direção a Ricardo e o questionei silenciosamente,porém ele não compreendeu e jamais poderia,pois sequer sabia quem era a pessoa no celular comigo. Esse homem saberia me dizer o que Luke descubriu,pois quando envolve sua esposa infiel e Erick,esse i****a tinha conhecimento de todos os segredos que ambos guardavam. Não estava ansiosa para saber que segredo é esse,porém não poderia ser hipócrita ao dizer que ficaria completamente tranquila com essa situação.
— O que a sua esposa infiel e seu novo amiguinho estão escondendo? Que merda eles estão omitindo? — questionei guardando o aparelho em meu bolso.
— Não sei do que está falando — Ele estava mentindo. Ricardo sempre desviava o olhar quando mentia, não foi diferente nesse momento.
— Ou você abre essa boca,ou cortarei seus dedos — lhe ameacei seriamente.
— Não sei do que está falando,e se quiser me matar ou cortar cada parte de meu corpo, vá em frente! Não me importo com suas ameaças — uma afronta corajosa,porém i****a,pois assim que conseguisse me por de pé, não pouparia esforços para acabar com essa porcaria. Estou cansada de me ver nessa situação.