33.

925 Words
O homem não teve tempo de gritar quando acertei a cabeça dele. Ele caiu aos meus pés desacordado e eu entrei novamente nas sombras e esperei. Durante dois minutos eu fiquei completamente imóvel e em silêncio, esperando que mais alguém viesse. Puxei o rádio e dei o comando. - Tem invasores na propriedade. Quero uma busca agora! - Eu esperei. - E preciso de dois homens no hall da propriedade principal. - Observei o homem aos meus pés, e ele era familiar. Um pouco depois, dois homens do Dom entraram no hall e olharam em volta. - O que aconteceu aqui? - Um deles ainda estava de pijama. - Eu vi uma movimentação estranha e consegui impedi-los. Esse está vivo. - Chutei o homem nas costas. Eu me mantive nas sombras. - E quem matou eles? - Eu virei os olhos de frustração. - Sempre as mesmas perguntas. - Eles pareciam incomodados. - Leve ele para o porão, e o prendam na cadeira do Dom, vou buscá-lo para interrogarmos esse homem. Eles não discutiram mais. Eu subi um lance de escadas e esperei. Eu precisaria investigar quem teria coragem de mandar 4 homens treinados invadir a casa da família Cavalcanti. Aquele homem tinha muito o que me contar. Depois que eu tirasse até a última gota de informação dele eu certamente teria que buscar vingança. Ninguém ataca a nossa casa e fica por isso mesmo. - Ninguém, nunca mais, vai tocar em você assim. A lembrança da voz do Fred na minha cabeça me fez estremecer. Isso não era possível. Ele não seria tão imprudente assim, enviando homens para matar alguém que ele achava que tinha me ferido. As marcas na minha costela queimaram. Ele era orgulhoso o suficiente para isso, para ter o comando das coisas. E depois que eu o rejeitei, usando o argumento do meu compromisso com o Dom, ele poderia ter dado a ordem de tirar eles do caminho. Não. Isso era muito loucura, até para a minha mente treinada para analisar diversas possibilidades. Mesmo que ele estivesse envolvido… O rádio me tirou dos meus pensamentos. - Não encontramos ninguém. - Eu respirei fundo e me movi, deixando os pensamentos malucos de antes de lado. Assim que cheguei ao topo das escadas do segundo andar avistei o Eduardo com uma pistola nas mãos. - Pegamos todos. - Eu falei e ele assentiu. - Deixei um vivo para interrogatório. - Vá dormir, eu vou cuidar disso. - Eu parei de frente para ele e cruzei os braços. - Vou chamar o Dom, ele deve conduzir o interrogatório. - Ele sustentou o meu olhar e sorriu. - Não incomode o meu pai, eu mesmo cuido disso. E você deve ficar no seu quarto, para o caso de ter mais invasores. - Eu derrubei todos, você precisa de mim. - A sensação de ser descartada quando ele não me julgava necessária era intragável, eu não permitiria isso. - Insubordinação com o seu futuro marido? - Ele perguntou sorridente. - Continue… Não vejo a hora de te punir de novo. - A minha alma congelou. - Ahhhhh então existe algo que te coloca no cabresto? Mesmo que eu fosse controlada, foi impossível ele não ler na minha expressão o medo que me atingiu. - Ou você gostou do nosso tempo junto no porão? - Eu me senti uma formiga que foi pisoteada por um gigante. - Faça o que eu ordenei, e não terá problemas… Por ora. - Ele caminhou em direção às escadas e eu continuei ali parada, completamente congelada dentro do meu próprio corpo. A imagem do reflexo dele naquele espelho, me açoitando enquanto eu estava completamente exposta dominaram completamente os meus pensamentos e eu não sei quanto tempo fiquei parada ali. Eu deveria ter esfaqueado ele. Eu poderia culpar os homens que invadiram a casa, ninguém saberia… E eu estaria livre dele, do casamento e de uma vida de desgraças. - Ninguém, nunca mais, vai tocar em você assim. Era uma promessa que eu deveria fazer para mim mesma. Sem depender de outros para me salvar. Caminhei de volta para o meu quarto e fui direto para o armário para liberar a Catarina. O armário estava vazio. Ela não seguiu as minhas orientações. - Catarina? - Nenhuma resposta. - Está tudo bem agora, pode sair. - Olhei embaixo da cama e nada. Ela também não estava no banheiro. Ela subiu, deve estar em um dos outros quartos, escondida em algum vão escuro, tremendo de medo por ela e por mim. Abri a primeira porta e depois a segunda. Na terceira eu senti um pânico desconhecido me atingir. E se ela não tivesse conseguido se esconder, e tivesse um quinto invasor? Ele não teria passado por mim, eu garanti que nenhum deles tivesse a chance de chegar nem nas escadas. No quarto cômodo, o quarto do Eduardo, eu procurei de forma mais minuciosa, e nada. Faltavam apenas dois cômodos, o quarto do Dom e o antigo quarto da esposa dele, que já era falecida. Era melhor não acordar o Dom, caso contrário o Eduardo poderia ter uma desculpa para me punir. Abri a porta do quarto da falecida Julieta e o cheiro de mofo me atingiu em cheio no rosto. - Catarina? - A escuridão era completa e eu nunca entrei ali. - Você está aqui? - Silêncio completo. Tateei a parede, em busca do interruptor até que encontrei. A luz do quarto era fraca, mas não o suficiente para esconder a mulher desacordada que estava amarrada na cama no meio do quarto.

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