2.

921 Words
Eu sabia que chamaria a atenção de todos quando passei pelas portas do salão de festas da família Camacho naquela noite fria. Afinal, os Cavalcantis nunca respondiam aos convites das festas deles. Um ambiente propício para negócios duvidosos e péssimas decisões. Eu não me impressionei com a abundância e o luxo ao meu redor, era pouco perto das nossas próprias festas. Senti dezenas de olhares em mim quando entreguei o meu casaco de pele branco ao mordomo na porta, que não falou comigo e eu não me importei com isso. Eu estava ali com um objetivo em mente e quanto menos interações melhor. Eu sustentei o olhar de diversas pessoas ao meu redor, líderes de famílias menos poderosas que a minha ou que a Camacho. Pessoas que sabiam que eu era a herdeira prometida ao filho do Dom, e que muito em breve, deveria me sentar no trono imaginário do comando da família Cavalcanti, e ser submissa e servente ao meu futuro esposo. - Eu não pensei que poderia ficar mais apaixonado por você. - A voz familiar me atingiu. Disfarcei a surpresa quando Eduardo Cavalcanti me estendeu o braço. Herdeiro do império do Dom, o homem mais insuportável, lindo e sanguinário que já pisou na terra. - Lore, você está deslumbrante. - Eu forcei um sorriso. - Que surpresa… agradável. - Tentei manter a voz baixa, para manter as aparências. Ele seria o meu marido, e o acordo era simples, manter o império Cavalcanti fora das mãos de qualquer outra família. - O meu pai comentou que você viria aqui essa noite, e eu não poderia te deixar sozinha, desfilando a sua beleza, por aí, beleza essa que me pertence. - Ignorei o revirar do meu estômago com as palavras dele. - E vejo que foi uma decisão sábia da minha parte. - Ele me observou, se atentando ao decote do meu vestido sereia vermelho. Me movi, mais rápido do que ele poderia reagir, segurei o braço dele e sai do campo direto de visão dele. - Vamos aproveitar a festa. - Falei e ele me conduziu até o bar que ficava no fundo do salão, enquanto sorrimos e acenamos para os conhecidos em silêncio. Depois de nos servir as bebidas, o barman fez a gentileza de se afastar. Ele levantou o copo de bourbon para brindar na minha taça de vinho. - A uma missão de sucesso. - Ele falou baixo o suficiente para apenas eu ouvir. - A paz mundial. - Eu respondi, apenas para contrariá-lo. Ele soube faz pouco tempo o tipo de trabalho que eu fazia para o pai dele, e desde então passou a me provocar com comentários fora de hora. - Eu quero saber quem é o alvo? - Ele perguntou perto do meu ouvido. Eu me limitei a sorrir. Eu sabia que qualquer missão dada pelo Dom deveria ser mantida em segredo, bem como não deveria ser questionada por mim, então eu sabia que aquilo era um teste de lealdade. - Enquanto você não for Dom de verdade, eu não te devo informações. - Falei sorrindo, tentando manter a energia submissa aos olhos dos outros. Alguns grupos de pessoas conversavam ao nosso redor, observando a nossa interação. O noivado ainda não era oficial, mas não era segredo. Todos os presentes sabiam que acabaríamos no altar, prometendo lealdade um ao outro e a Máfia Cavalcanti. - Minha querida princesa, você é muito provocante. Quero saber quando começaremos a nos divertir com essa situação. - Todas as vezes ele usava o mesmo truque. Me provocando para tentar conseguir de mim, algo que eu nunca tinha dado a ninguém. Eu me entregaria a ele, mais cedo ou mais tarde, mas durante a minha vida, com as minhas missões e os meus treinamentos eu nunca tive espaço para pensar em praz3r. E não seria agora, diante da minha missão mais desafiadora e importante que eu pensaria nisso. - Eu gosto de me divertir sozinha. Agora, se não se importa, preciso estudar o ambiente… - Caminhei na direção do salão, deixando o meu futuro marido com um sorriso de desdém nos lábios. Eu não deixaria que nada me tirasse a atenção naquela noite. O objetivo era simples. Me mostrar para o mundo, ser reparada pelo meu alvo, deixá-lo se aproximar apenas para dar fim a vida dele. Simples, rápido e limpo. Levaria apenas algumas semanas, para que eu me aproximasse dele o suficiente para que ninguém apontasse para os Cavalcantis quando a hora chegasse. A minha missão que se tornou a minha ferramenta de vingança se desenhou na minha frente e eu ignorei a pontada de dúvida que atingiu o meu coração. Saudade de uma infância compartilhada, o primeiro amor, a alegria das pedrinhas na janela… Enterrei os pensamentos fundo na minha mente. Emoções como aquelas não eram para mim, a assassinada da Máfia. Sentimentos eram fraquezas e eu não me permitiria sentir nada nem parecido. Percebi onde eu estava quando um vento frio atingiu os meus braços nus. O jardim da mansão Camacho se iluminava na minha frente, provocando mais ainda as lembranças que eu ainda lutava para enterrar. Respirei o ar gelado e senti a minha pele arrepiar em reação ao frio. - Vejo que não sou o único a fugir essa noite. - Olhei assustada para o lado. Eu não ouvi ele se aproximar, perdida nos meus próprios pensamentos e lembranças. Ele sorria para mim, encostado em uma árvore, com a gravata borboleta solta e um ar brincalhão nos olhos. O meu alvo. Frederico Camacho.
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