Capítulo vinte e sete: Aqui é o seu lugar

2029 Words
Ao abandonar seus lábios, ela me fita intensamente. Se tivesse de a descrever como uma característica, Nihara seria literalmente a curiosidade, Apanhei-a me olhando como se estivesse na dúvida de que realmente estivesse ali, com ela. Deixei de controlar as palavras que saiam da minha boca, acabei por confessar que sentira sua falta, que nunca a faria m*l e ela estaria mais segura se não soubesse a verdade. Percebendo que nenhuma dessas frases a faria dissuadir, dei a ela a oportunidade de perguntar-me o que queria saber. — Antes de sanar qualquer curiosidade minha, me diz. Porque na sua cabana tinha roupas da mãe de Thomas? — pergunta, não querendo arriscar que eu mudasse de ideias. Ela era inteligente, e pelo pouco que a conhecia, se a mentisse agora, nunca mais voltaria a confiar em mim. — A resposta será assim tão má? Pareces estar tendo um diálogo com você mesmo! — Lembras de ter dito que a cabana pertence a minha família há várias gerações? — Sim. — Também mencionaste que eu não era um coitado... — Sim... — responde agora um pouco temerosa. — E não sou! As roupas que vestiu, eram da minha mãe, ou seja... — Tu és irmão do demônio... — conclui triste. Estava me preparando para o seu julgamento. — Tu és o irmão louco de Thomas? O que meteu-se com magia n***a e foi internado por alegadamente ter morto a namorada? — diz enquanto processa toda essa informação, continuava trêmula, mas não parecia ter medo de mim como todo mundo temia depois de ouvirem que eu era um assassino. Ela tinha medo de mim, mas não era por isso. Espere... ela disse "alegadamente" isso quer dizer que não acredita que eu seja um assassino. — Sim. Eu sou o louco da família... — Como você foi capaz de esconder isso de mim por tanto tempo? Eu confiei em ti. — diz magoada... definitivamente não compreendia as mulheres, até bem pouco tempo ela parecia estar lidando muito bem com essa informação. — Nia... — É Nihara pra si! Desde o momento que você me usou como trampolim para tentar fazer não sei o quê nessa casa, perdeu o direito e a consideração de diminuir o meu nome! EU... eu deixei você tocar em mim! — eleva um pouco a voz e eu seguro nas suas mãos, ela se solta e começa a socar o meu peito com raiva. — Você não pode ser... — começa por dizer mas é impedida de continuar pois está soluçando com o choro. — Pare. — peço segurando suas mãos com a minha direita e com a esquerda a puxo contra mim apoiando sua cabeça no meu peito. — Se acalme por favor! Desse jeito irá se machucar... — falo brando. Ela estava magoada comigo. Não queria magoá-la. Ela tenta novamente me afastar de si, mas eu prendo o seu corpo no meu. Quando se é espancado e torturado por longos anos, você perceberá que a sua mente instintivamente terá vontade de repelir todas as tentativas de qualquer toque mais íntimo. Com Nihara isso nunca acontecia, eu sentia que ela seria incapaz de me causar dor. Não conscientemente pelo menos, por isso estar com ela em meus braços é sempre inédito, é como se aqui fosse o seu lugar. — Respirei fundo e fechei os meus olhos. Estávamos os dois com as respirações desregulares e afoitos. — Por favor me solte. — Nihara pede. Eu não podia soltá-la, não queria... — Me perdoe. — não reconheço essas palavras como sendo minhas, mas saíram dos meus lábio. — Eu sempre fui sozinho, nem mesmo nos meus pais eu pude confiar! Todas as pessoas que eu confiei acabaram por trair-me. Não poderia confiar em mais ninguém... Inexplicavelmente confio em ti. — mais honesto que isso não seria, havia perdido o controlo das palavras que dizia. Ela exercia um estranho poder sobre mim. Ainda de olhos fechados, a sinto se apertar mais em mim. Abraçando-me tão forte como se temesse por mim, e o seu choro se intensificou. Era mulher que conhecia que mais chorava. — Porquê eu? — sussurra. — Porquê não você? — Você vai me matar? — Não sou assassino Nihara. — Não é o que o seu irmão e a polícia dizem. — diz fungando o nariz. — Você acredita no que eles dizem? — Não. Antes de conhecer-te, eu já me recusava aceitar que um homem com um futuro tão brilhante pudesse destruir a própria vida matando a mulher que amava. Para mim, era mais fácil acreditar que tinhas se metido com magia n***a. O que começa fazendo sentido, tu tens as roupas negras e aquele corvo que vive te seguindo por onde quer que vás... — foi impossível não rir com sua última frase. Seu corpo fraquejou e eu voltei aperta-lá forte em meus braços. — Não me sinto muito bem. — Eu sei. — estava novamente aflita com as cólicas, presumo que o facto dela ter descoberto que eu e Thomas éramos irmãos tenha contribuído para o seu mau estar no geral. Ajudei-a a se deitar, tirei mais mantas do armário e tapei-a. Sentia-me impotente por não poder fazer nada pelas dores que estava sentindo. — Obrigada. — Nia agradece, eu ando em direção ao banheiro prestes a ir embora, ao passar pela porta voltei a olhar para ela encolhida. — Edward... — Sim. — Por favor, não me deixe sozinha. — não podia ficar com ela, não tardava nada o dia ia nascer e se já era difícil passar por todos seguranças durante a noite, seria muito mais difícil sair depois que o sol nascer. — Por favor... — volta a pedir cedendo espaço na sua cama minúscula. Depois disso, nem que o mundo acabasse eu a deixaria sozinha. Tirei o meu sobretudo, as botas e deitei-me no espaço cedido. Nihara deita a cabeça no meu peito e eu abraço-a. — Ainda dói muito? — minha pergunta a pegou de surpresa, ela apenas balança a cabeça negando. — Não dói quando você me abraça. — murmura, eu dou um beijo no topo da sua cabeça. Era segunda vez que dormia com ela, e parecia ser a coisa mais natural que fazia. Fodshan, (Cheshire) Setembro 1978 Edward tossicou soltando um leve gemido de dor, abri os olhos, estávamos exatamente como havíamos nos deitado. A minha cabeça repousando no peito largo e forte, levantei ligeiramente, mirando para o rosto assimétrico com o sobrolho sempre unido até mesmo a dormir, a barba aparada se enquadrando perfeitamente no seu rosto. O seu cheiro másculo inunda o meu olfato embriagando os meus sentidos. — Oh meu Deus! Como um ser humano podia ser tão perigosamente bonito? — Era problemático, sombrio e tinha todas aquelas acusações... Não queria que ele voltasse a sumir, mas ao mesmo tempo gostava de não tê-lo conhecido. Era uma mistura de aceitação e contradição, gostava do facto dele ser tão calmo, comedido e inspirar-me segurança, mas também tinha medo, um medo inexplicável como se de alguma forma ele fosse me quebrar ... — Recomponha-se! —meu cérebro ordena. Não sei o que farei com o facto de Thomas ser irmão de Edward... Tenho necessariamente de fazer algo? — E que tal fazer exatamente o que você já tem feito? Isso seria Absolutamente Nada!! — Não é um assunto que me diga respeito... Senti meu coração bater freneticamente em reboliço. Quer eu queira, quer não, já me sinto envolvida com os dois. Com Thomas por conta da ligação que tenho com Maddie, e Edward... Bem, é o Edward! — Em algum momento você terá de definir ou assumir o que sente por ele. — Minha garganta se fecha, meus olhos quase saem de órbita mas consigo impedir meu corpo de se mover pois o único instinto que tenho agora é de fugir. Volto a distrair-me com seus traços. Em pensar que inconscientemente eu sempre o defendi... Com os dedos trêmulos, toquei ligeiramente suas faces, passando uma mão pelos cabelos, Edward se remexe me apertando na cintura com suas mãos impedindo assim, que saísse de cima dele. Abriu os olhos. — Deus! — aquela visão, fez-me literalmente salivar. Nunca o vira durante o dia, a luz solar que adentrava pela janela apanhou o azul dos seus olhos. Pareciam estar cinza, ou eram azuis acinzentados, não conseguia definir com exatidão. Ele possui uma beleza impressionante como se tivesse sido esculpido. Minha boca se abre involuntariamente deslumbrada com sua beleza quase impossível, é hipnotizantes e muito agradável aos olhos. — Uau! — murmuro baixinho, esperando que ele não tenha me ouvido. Os olhos brilhantes pareciam sorrir enquanto assistia quase espreitador o meu embaraço. — Gostou da visão? — pergunta tentando soar engraçado, mas seu rosto contorce e eu percebo que havia alguma coisa o incomodando. Buscando impulso para me levantar, toco o seu peito com a palma da mão e mesmo por cima do tecido preto que era sua camisola, sinto o quão quente ele estava. Com a outra mão toco em sua testa, e está muito quente. — Está ardendo em febre. — Não é nada! Preciso sair daqui. — murmura me afastando do seu corpo, levanta, fraqueja e senta-se. Tento ajudá-lo a levantar mas agora, os dois caímos sentados. Era um homem de um metro e noventa, provavelmente pesando uns oitenta a noventa quilos. Eu também não estava num bom momento. Mas ainda assim, respiro fundo e ajudo ele se levantar novamente. — Deve ter pego um resfriado. O melhor... — Com tudo que passei, um resfriado é como um dia ensolarado no parque... — diz interrompendo minha frase. Esbocei um pequeno sorriso maneando a cabeça. O que ele quereria dizer com aquilo? Era suposto eu saber? — Não acredito que vá para muito longe nessas condições! — dito. Edward reúne todas as forças que possui e me afasta ligeiramente. Calça as botas e pega no sobretudo que eu notara agora estar úmido. — Vai piorar o seu estado andando com roupas úmidas. — seguro nas suas mãos mas ele apressa-se em desfazer-se das minhas. Andou alguns passos em direção a saída, foi com a mão ao peito esfregando, sua respiração estava um tanto aflita mas tentou disfarçar a todo custo. O meu coração começou a bater sem ritmo certo, o que estava sentindo eu acho que sequer tinha nome, fiquei angustiada e senti meus músculos paralisar. Sou incapaz de decifrar com exatidão, mas era como se tivesse paralisado literalmente. Aquilo que ele sentia parecia estar a chegar até mim. — Nia?? — Ella bate na porta, ainda era muito cedo. O que ela queria? — Nia? — volta a chamar Edward se esconde dentro do guarda-roupa, eu corro para cama me tapando com as mantas até a cabeça. — Sim Ella. — murmuro com a voz rouca fechando os olhos. Ella entra com um misto de preocupação e curiosidade. — Ia agora ajudar Nora a arrumar a mesa do café, e lembrei que estava alvoraçada a noite passada. Foi uma noite deveras atribulada para menina, esteve delirando. — murmura enquanto dobrava as roupas espalhadas no quarto, nos pés da cama estava o sobretudo de Edward que ele nunca chegou a vestir, Ella continua falando eu não presto atenção pois tenho meus pés esticados tentando colocar o sobretudo por baixo das mantas. No momento exato em que ela levanta para olhar a confusão que eu fazia nos pés da cama, consigo tapar o sobretudo, solto o grunhido do frio que senti ao tocar na peça. — [...] E não sei qual a sua mania em dormir com as janelas abertas! — murmura indo até ao banheiro garantir que as janelas estão fechadas. — Eu estou bem! — grito ao ouvir o baque surdo dentro do guarda roupa. Ella vem correndo. — Tudo bem menina? Ouvi um barulho, achei que tivesse caído. — Estou bem. Por favor, eu só gostava de ficar descansando mais um pouco. Você acha que o patrão irá se importar se não sair do meu quarto hoje? — Of course not! Desde que não saias da propriedade, ele não irá colocar impedimento em você ficar descansando. Irei trazer o seu desjejum mais tarde.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD