Capítulo doze: Quem é você?

1788 Words
Deveria estar acostumada ser tratada assim mas não estou, a única que parece se solidarizar comigo é Ella... e Maddie que não entendia nada, ela também não ia percebe como essa coisa de segregação funciona. Eu não saberia explicar pra ela, ninguém me explicou, eu cresci sabendo que seria a vida toda maltratada por conta da minha cor e que deveria baixar a cabeça. Por mais amor que tenha recebido de Madre Lilian e Madre Aurora, elas sempre deixaram claro que deveria me humilhar pra não ser notada... eu sei que elas só estavam tentando me proteger, mas eu sou muito mais que só uma mulher n***a, eu sou um ser humano e como tal queria que me respeitassem. Fui me deitar, não consegui sequer tocar no jantar. Fechei os olhos tentando fazer que aquilo tudo desaparecesse, mas invés disso, na memória vem a tarde mais horrível que podia ter. Subi no carro achando que ao menos lá poderia respirar sem ouvir um "Volte pra selva macaco". Viro pro lado esquerdo encontro Jasper todo seboso me despindo com os olhos como se eu fosse mercadoria em saldo. — Sempre soube que por detrás dessas suas roupas bregas existia uma safadinha. Com que então, tens se encontrado na casa grande com os seus amantes!? — respirei fundo fingindo que sequer estivesse aqui.— Não estás a ouvir? Hey... — estica o braço tenta tocar no meu rosto eu esquivo. — Por favor, evite tocar ou falar pra mim. — peço. Ele volta a erguer as mãos tentando fazendo o mesmo eu paro a sua mão no ar. — Mantenha as suas mãos longe de mim! — vocifero. — E o que você vai fazer? Não passas de uma negrinha, ninguém virá em seu socorro, ninguém aqui suporta a sua presença. Estaria fazendo um favor a todos se sumisse contigo. — tento forçar a minha mente a fazer o meu corpo reagir mas não consigo, um grito de dor fica preso na minha garganta, a única coisa que faço é descer do carro e sentar na calçada. O grito que ficou preso na minha garganta a tarde toda queria sair, mas se gritasse aqui acordaria todo mundo. Peguei um casaco de malha fui ficar no alpendre, talvez o ar fresco da noite fosse fazer-me bem, mas não estavam resultando. Desci as escadas e dou de caras com Jasper. — Desculpa, não sabia que ainda estarias acordado. — tinha o tronco nu, as bermudas estavas descaídas mostrando um V um tanto assustador, quando subi o olhar encontrei seus olhos num vermelho vivo, quase babando. Dei meia volta, ia voltar pra dentro de casa quando sinto meu braço preso por ele, tento me desfazer empregando alguma força, obviamente não foi o suficiente para o fazer parar, ele me agarra e me abraça eu de costas. Quanto mais eu lutava mais ele me apertava contra si, comecei a entrar em desespero, ele virou-me e tomou os meus lábios, mordi-o com força, antes de soltar-me bateu tão forte no meu rosto, que tive a impressão de ver meu corpo dividido em dois de tal que foi a dor. Fui correndo de volta pra casa, nas escadas ele apanha uma das minhas pernas me puxa pra trás, caio de cara nos degraus — Vou morrer. — Penso. No primeiro pé que agarrou, ao puxar a sapatilha sai, mas consegue me puxar pelo outro até ao chão ficando por cima de mim. — Por favor, pare... — suplico. — Hoje vou f***r essa x**a preta até não mais! — afasta as minhas pernas com as suas. Nem que eu morresse, ele não ia abusar de mim. Com o joelho consigo dar um golpe no meio das suas pernas deixando ele se contorcendo de dor. Levanto-me, ele volta a me agarrar pelo casaco. Me desfaço dele e começo a correr em direção contrária à casa. Nem mesmo a escuridão da noite conseguiu fazer-me desistir de me afastar daquele lugar, não sabia onde estava indo, não importava, eu só queria estar o mais longe possível daquela casa, só queria que aquela dor passasse, chorei, gritei alto, cai, levantei-me e nem mesmo assim... não conseguia me acalmar. Um relâmpago acompanhado com ventos fortes me faz assustar, dei conta agora que não sabia onde estava, nem frio mais sentia, só aquela dor dilacerar a minha alma. Me sinto devastada e a única coisa que queria era morrer, meus olhos ficam pesados e pontos negros aparecem na minha visão, meu corpo treme e antes de cair sou amparada por uns braços incrivelmente fortes, eram quentes e o meu corpo pareceu esquentar com eles. — Shiiii calma, você está bem. — permaneço com os olhos fechados. — Está a tornar-se um hábito eu encontrá-la no meio da escuridão. — definitivamente eu não estava com delírios, o volume abafado e sensual no meu ouvido fez-me arrepiar, abro os olhos assustada, fazendo o impossível para ver quem é, o rosto coberto não permite, mas reconheceria aqueles olhos em qualquer dimensão. Minhas mãos estão geladas e as pernas bambas. Carregou-me até uma das árvores e sentou-se comigo no seu colo. — Que bom que parou de chorar. — a voz era dura agora, senti um pouco de aborrecimento no seu tom. Não me importava quem ele era, me sentia mais segura nos seus braços que lá naquela casa. — O que aconteceu? Quem machucou você dessa forma? — pergunta com clara raiva na voz. — Quem é você? — perguntei meio que involuntariamente, seus olhos tomam um tom mais escuro, não podia ver o resto das suas feições, mas sentia que está com raiva. — Você não quer saber quem eu sou. — a voz é calma mas o olhar cheio de ira. Doeu quando senti o seu polegar no meu lábio que eu até então, desconhecia estar sangrando. (…) Richard… A minha estadia na vila não tinha sido de todo inútil. Na verdade, acabou por ser bem proveitosa, tinha conseguido informações sobre o regresso de Thomasg, a ida a Yvelines não passava de uma farsa, ele estava em Londres e Carolinne com a família. Os dois nunca chegaram a ir a uma segunda lua de mel. Muito pelo contrário. Thomas tinha ido a Grã Bretanha devolver Carolinne, que segundo o meu irmão se tinha tornado infértil, mesmo tendo uma filha com ela, alegou que a mesma não era feliz, não deixava de ser verdade. Porém ele só estava se livrando de Carolinne porque provavelmente ela havia descoberto sobre o seu caracter duvidoso e doentio. Sentia muito pela Maddie, não fazia parte dos meus planos fazer m*l a ela ou a sua mãe. Segundo o meu informante, cabo da polícia local, durante a ausência de Thomas, o número de desaparecidos havia diminuído. Confirmando também as minhas suspeitas sobre como ele não havia deixado os hábitos antigos. A sua perversidade em dissecar animais havia evoluído para seres humanos, não era novidade, sabia que ele com o andar dos anos ia desejar mais, muito mais... conhecia a sensação, estava familiarizado com ela. A polícia local andava a investigar os desaparecimentos mas não estavam dando a atenção merecida, afinal Thomas é mecenas desse fim de mundo. Controlava a maior parte da indústria, incluindo o restaurante em que a tutora da própria filha foi impedida de entrar. Obviamente ele pagava uma boa pensão à polícia para que fechassem os olhos aos desaparecimentos. Ele não era e******o, as pessoas desaparecidas eram na sua maioria sem tetos, pessoas que não tinham onde cair mortas. Apertei os punhos com força, atônito pela imagem que assolou minha mente, ele continuava fazendo m*l e seguia sem nenhuma punição. Tantas pessoas pessoas envolvidas com ele e só havia uma que não tinha família. Não consegui fugir do hospício e manter-me furtivo durante todo esse tempo pelos meus lindos olhos, devia-se ao facto de possuir a sensibilidade demasiado apurada, o que nos dias actuais chamam de sensitivo. Naquele momento, a minha intuição como uma ponta afiada trespassando o meu peito, remetia naquela mulher: Estava completamente sozinha, agora que Carolinne não voltaria; Pela forma como as pessoas aqui a tratavam, se Thomas sumisse com ela ninguém ia dar pelo seu desaparecimento; Ninguém ia procurar por ela ou chorar por sua morte, com exceção de Maddie. Minha respiração parecia que ia fugir a qualquer momento, a visão dela ser machucada, me perturbava de uma forma horrível, era quase como sentir meu coração ser arrancado do peito. — Merda!! — vocifero, tinha os punhos tão apertados que só me apetecia socar alguém. — Merda! Merda! — Não bastava ter de a proteger de mim, agora também teria de protegê-la da ira daqueles que a consideram uma intrusa nessa cidade e principalmente tinha de a proteger de Thomas. — f**a-se! — Destruiria o mundo interior se alguém se atrevesse a encostar um dedo nela... Cada dia , se tornava mais arriscado passar pelos portões da propriedade de Thomas sem que ninguém desse por mim. Não perguntem-me porque motivos voltei, nem eu próprio saberia explicar. Apenas precisava ver se mais ninguém a tinha machucado. Ter crescido nesse fim de mundo deve ter sido um inferno pra essa mulher, se eu fui julgado e condenado por ser diferente, imaginem o que deve ter sido pra ela sendo uma mulher negra... O que ela mais deve carregar são marcas. Nesse instante, o ar ficou pesado, permaneci com a cabeça baixa durante alguns segundos, ainda não a tinha visto mas já a sentia, ergo o olhar e vejo ela correr, desesperadamente. Ouvi seus gritos há alguns metros de distância, corri ao seu encontro, um medo se fez morar, julguei que ela estava sendo molestada, meu espanto foi tal quando a encontrei desorientada, angustiada como se estivesse morrendo e parecia querer me levar junto. A merda da ligação invisível! Afetava de tal forma a minha mente e o coração que eu não conseguia definir qual dos dois ouvir. Quase desacordada, ela cai nos meus braços fazendo eu perder o compasso das batidas do meu coração. Nia não era delicada, ou frágil, nem de longe se parecia com Amanda, essa última era como uma flor cujas pétalas se abrem aos poucos mostrando a sua beleza, que no fim acabou por se revelar uma flor carnívora, daquelas que a gente deve se manter bem distante. Nada na personalidade de Nia indicava abnegação ou submissão, e eu gostava de mulheres delicadas, entretanto, tê-la em meus braços dessa forma despertava em mim um espírito animal em que a única coisa que parecia racional era levá-la daqui, tranca-lá na cabana onde estava escondido e passar a noite socando forte a sua b****a, ao mesmo tempo que ela parecia inocente ela era quente como inferno e era isso que me assustava.
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