Capítulo dezoito: A moldura.

1927 Words
— Fique quieta enquanto eu procuro por uma vela. — Nia permaneceu sem reação. Após o cômodo ser iluminado pela luz de uma vela, pude notar a sua curiosidade. Afinal aquilo era uma constante. — É aqui que você mora? — Sim. A minha família possui essa cabana há várias gerações. — E vives sozinho? — pergunta passando a mão esquerda no braço direito, o que ela queria saber é se eu era casado. — Sim. — Talvez seja por isso que é todo m*l humorado. Uma companhia lhe faz falta. — diz e eu sorrio sínico. Retiro o meu sobretudo, a camisola ficando apenas com a camisa de mangas curtas, me agacho e acendo a lareira. Sentia ela me secando, admirando as minhas tatuagens. — Está gostando da vista? — Egocêntrico! — murmura entre dentes. Meneou a cabeça de seguida pigarreando. — Trazes-me para sua casa e nem me convidas a sentar. — Sente. — ela senta, e eu permaneço agachado olhando para lareira. — É verdade a história sobre haver corvos em Fodshan? — Sim, pelo menos até os meus primeiros anos. Depois por uma razão misteriosa eles deixaram de aparecer, eu próprio já tive um corvo de estimação. Era meu melhor amigo. — Es um homem deveras estranho. — Os meus pais diziam a mesma coisa. — Por isso que usas sempre roupas negras e a fixação com a máscara? — Sim... não... é complicado. — Teste-me, já não há mais nada que eu não tenha visto... ou ouvido. — fala suspirando, o que aconteceu a deixava perturbada. — O que aconteceu? — Voltaste a fazê-lo! — A fazer o quê? — A esquivar de dar-me respostas. — era incrível em como começava a sentir-me bastante à vontade em conversar com ela. — Se me contares o que aconteceu, eu tentarei fazer-te entender do porquê andar mascarado.... — me levanto. — Gostava mesmo é de poder ver suas feições, eu nunca sei como estás... — Ainda não fizeste nada que merecesse esse previlégio! Conte o que aconteceu e eu vejo, se mereces ou não ver-me. — ela pisca os olhos forçadamente suspirando logo depois. — Desde que os meus patrões viajaram, tem acontecido coisas estranhas na mansão. — Quão estranhas têm sido essas coisas? — pergunto, esperando que esses acontecimentos tenham haver com os crimes de Thomas. — Do tipo bem estranhas! Você não acreditaria em mim... eu própria tô duvidando. — me aproximo dela e reparo que estava trêmula. — Você sabia que há uma história bizarra por de trás das terras da família Wrigth? — sabia, no período que estive em Londres, descobri alguns segredos obscuros da minha família envolvendo coisas pesadas, magia n***a que se me contassem anos atrás, teria achado o maior dos absurdos. Porém eu tinha atingido um nível de compreensão que pessoas comuns não costumavam atingir. Parte das coisas que descobri, explicam o facto de eu e Thomas sermos tão diferentes e o porquê dos meus pais terem deixado claro a sua preferência dentre os dois. Vi também os registros de todos os bens pertencentes a minha família, não fazia ideia do porquê não lembrava do nome que a minha família deu a essa propriedade, talvez por ninguém dessa cidade o mencionar nem mesmo os empregados, pareciam estar todos com uma amnésia coletiva a descrevendo como "A propriedade" mas desde os primórdios, foi chamada de Raven Eyes. — Não. — minto. — Então, havia uma mulher, uma camponesa chamava-se Constance, os pais eram os donos originais da propriedade... da-de Raven Eyes. Mas antes eram só terras. — diz se atrapalhando. — Ela estava apaixonada pelo primeiro Wrigth a tornar-se Duque. Ninguém sabe o que aconteceu ao certo, os tempos eram diferentes e bastava um boato para que famílias inteiras fosses assassinadas, no dia do seu casamento Constance foi morta com a família. Seus corpos foram separados das cabeças. Sabe-se que os corpos foram enterrados nessa floresta, mas ninguém sabe onde estão as cabeças. — O que isso tem haver com a mi.. a família Wrigth? — Tem que ontem, Nora e eu vimos o fantasma de Constance... em Raven Eyes! — ok, eu ver fantasmas era normal, pessoas que foram usadas como experimentos em St. Mary verem fantasmas era normal, pessoas normais verem fantasmas não era normal. — Você não acredita em mim. — Acredito. — acreditava, mas não queria que ela se metesse em investigadora tentando descobrir a verdade sobre esse assunto. Era muito perigoso, mais perigoso que eu, que Jasper e até mesmo que Thomas. — E você se colocou no meio da floresta, sabendo que há um fantasma antigo cercando Raven Eyes? — vejo confusão se formar no seu rosto. — Eu-Eu... estava entediada, Maddie foi passar o verão com o tio avô em Cumberland, não está ninguém em casa se não eu e Nora. E ela como todo o resto do mundo, não suporta a minha presença. — Quando terminar de chover, vou levar-te de volta à mansão. — Não é como se eu tivesse medo dessas coisas, mas obrigada. — Devias ter. — sussurro inaudível. — Me dê o seu casaco. — ela franze o sobrolho e aperta as mãos em sinal de proteção. Solto um pigarreio. — Se quisesse abusar de ti, já o teria feito! Não seria abuso de todo. — me sento do seu lado não muito próximo. — Tu dar-te-ias a mim, sem eu pedir... Na verdade, eu dar-te-ia o que você tanto deseja. — conseguia sentir o seu íntimo se contrair, estava magoada mas também estava excitada. — Droga! Você sabe o que acontece comigo quando fica nesse turbilhão de emoções e sensações? — pergunto e ela n**a com a cabeça. — Os seus sentimentos são como ruídos pra mim, como se existisse um arco-íris ao seu redor com uma aura mágica falando pra mim o que você sente, o que você quer... É irritante! — era tudo verdade, menos o irritante. — E eu preocupada com a sua solidão... A verdade é que ninguém deve suportar você. — levanta bruscamente, havia um ímpeto nas suas palavras que me afetou de alguma forma. — Tu não sabes o que dizes! — também me levanto e estico a mão pedindo pelo casaco, era de malha branca com algumas cerejas vermelhas e estava molhado. Meio hesitante ela tira o casaco e estende para mim voltando a cobrir os braços com as mãos. Os trajes que usava não eram de todo sedutores. Vou ao quarto e pego uma manta, no regresso encontro-a com uma moldura na mão. Era uma foto minha com a minha mãe e Thomas quando nasceu. — O que está fazendo? — ela se assusta e eu vejo a fotografia cair das suas mãos em câmera lenta e se estilhaçar no chão. Serrei os punhos, era a única foto que tinha da minha mãe. Ela podia não ter me amado, mas era minha mãe, e ela tinha acabado de quebrar a moldura. (…) — Desculpa... Desculpa... — peço, Edward da dois passos em direção a mim, eu apanho a fotografia mas ele toma das minhas mãos. — Já fizeste o suficiente! — a voz firme e dura me causa medo e arrepios, era impossível vê-lo por trás da máscara, mas qualquer pessoa que estivesse próximo sentiria o ódio que vinha dele. Olhava para fotografia nas suas mãos e podia jurar que vi uma lágrima cair. — Desculpa, eu posso mandar concertar. — Pare! — vocifera. — Desculpa. — falo me sentindo o pior dos seres humanos, tomo a fotografia das suas mãos e nessa de eu puxar para um lado e ele para o outro a mesma se rasga em duas partes. O meu Deus! O que eu fui fazer. — Edward desculpa, por favor... eu-eu... me desculpe. — ele olha para o pedaço nas suas mãos e esmaga, era o lado que tinha uma mulher loira e um bebê pois o do menino estava comigo. Coloco a mão no peito sentindo toda a sua tristeza. Eu iria me arrepender por aquilo pelo resto da minha vida. — Desculpa... desculpa. — p***a! Eu pedi que parasse! — sinto minhas lágrimas se formarem, e vejo o seu olhar cheio de ira. Tê-lo a olhar assim pra mim é arrepiante e perturbador, absolutamente estática praguejei-o internamente, Maldito sejas, se tem tanta raiva porque não vai olhar assim pra pessoa que o fez tão m*l ao ponto de ser obrigado a andar mascarado! — Você acha que ando assim porque quero? — volta a gritar e já não consigo controlar as minhas lágrimas, me encolhendo o máximo que posso com medo dele me machucar e aperto a metade da foto no meu peito em proteção. Aquele gesto não passa despercebido a ele que volta a tentar tirar-me a foto da mão e eu mantenho-a apertada no meu peito acabo caindo com a b***a no tapete felpudo que havia no centro da sala. Edward começa a andar as voltas na sala. — Que homem problemático. — parecia um criminosos com o corpo coberto por tatuagens e a máscara n***a. Aqueles detalhes deviam servir de incentivo para manter-me longe dele mas ao contrário, só fazia-me ficar mais interessada em descobrir quem ele era. — Desculpa. — murmuro derrotada, lamentava de verdade por ter quebrado a moldura, e só estava protegendo o outro lado da fotografia para que ele não esmagasse como fez com o outro. Cruzou os braços ressaltando os músculos. — Da para calares a p***a da boca? Não consigo pensar com você se desculpando o tempo todo. Isso lhe faz parecer i****a. — Não tem direito de falar assim para mim! — me levanto, tirando coragem não sei de onde. Edward ri e murmura. — Tenho todo direito desde que a coloquei dentro da minha casa! Nunca lhe disseram que não deve mexer nas coisas dos outros? — Eu... Er... — A p***a da sua curiosidade! Gosta de brincar com o perigo, está louca para saber quem eu sou e por isso fica investigando... — os olhos dele queimavam de raiva, baixei a cabeça sentindo uma enorme tristeza. — Já tive vontade de saber quem é. Agora... vejo que não passa de uma pessoa amargurada... Não quero nada se não... se não me manter longe... longe... — não consigo continuar, minha garganta está demasiado fechada e o choro é inevitável. Edward vocifera, soca a parede e volta andar em direção a mim. A cada passo que dá em minha direção sentia meu íntimo se retrair, com medo do que ele podia fazer... É louco, foge enquanto podes. — Nia... — tenta tocar em mim e eu esquivo. — Desculpa... O meu temperamento é instável e não consigo controlar a raiva quando me enervo... Desculpa. — Eu disse que é louco! Parecia lamentar de verdade. Limpei as minhas lágrimas e funguei o nariz. — Tudo bem... Eu não devia ter mexido nas suas coisas. — falo e ele permanece quieto. — Tu não queres me conhecer... — diz aleatoriamente. — Não fará diferença alguma na sua vida se souber quem sou, irei causar-te mais problemas dos que já tens, não sou alguém que você queira ter por perto. — Não foi por curiosidade, eu vi a moldura e achei a foto linda. Os três pareciam muito felizes, principalmente ele. — mostro para ele o garotinho moreno com os olhos iguais aos dele. — Ele tem um brilho no olhar e parecia que nada era mais importante que aquele momento entre os três... — Foi um dos dias mais felizes da minha vida...
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD