Capítulo dezassete: A cabana.

1978 Words
Amanheceu gelado, com chuva miudinha a cair de um lençol de nuvens baixas e alguns relâmpagos a ecoar ao longe. Atmosfera tenebrosa deixaria qualquer um em pele de galinha, mas eu era demasiado céptica para questões com o sobrenatural, o único que fazia-me tremer de medo era Edward, Edward..minha respiração fica pesada e meu coração parece querer sair pela boca, meu corpo responde com um arqueio. — Dou um tapa mentalmente na minha cara, por simplesmente estar com a calcinha molhada com esses pensamentos pecaminosos com ele. — Por tudo que é mais sagrado, toma vergonha na cara Nihara! Com ausência de todo mundo, não tenho feito nada se não vaguear pela propriedade, ir aos estábulos e ler, sempre tive uma paixão avassaladora por livros, conheci parte do mundo sem sair do lugar somente lendo. Mas precisava ir até a biblioteca da vila, entretanto sem Ella aqui, não tinha autorização de sair. Porquê será que Carolinne nunca ligou para falar comigo? Toda vez que tínhamos notícias deles era por Ella, nem mesmo para falar com Maddie ela ligou. Essas e outras questões têm me perturbado — E se aconteceu alguma coisa com Carol, e o Thomas está escondendo a verdade? Peguei um dos livros antigos e sentei-me no alpendre com uma manta, uma xícara de chá e biscoitos de chocolate que Nora fez mais cedo, devo admitir que ela era uma cozinheira de mão cheia, a melhor que eu conhecia, mas não diria isso à ela. — Não é porque dormi na sua cama que serei obrigada a manter conversas consigo. — ouço atrás de mim, não me dei o trabalho de olhar sequer. Descobri que posso me vingar dela sem fazer nada. — É bom ver que tens esse ar todo durante o dia... Espero que não me voltes a perturbar mais tarde. — Não pretendo ficar nem mais um dia dormindo nesse mausoléu! Sir Thomas e Carolinne voltam hoje de Yvelines. — Sir Thomas e Carolinne... imito mentalmente, fazendo uma voz infantil. — Se fosse você não teria tanta certeza. Ella ligou mais cedo, dizendo que só poderão sair de Londres depois que o clima melhorar, que segundo ela, pode ser amanhã ou daqui há uma semana ou quem sabe um mês! — falo voltando a minha atenção no livro, não vi, mas sei que ela está soltando fogo pelas ventas. — Deves estar se divertindo não é? — Com certeza! — respondo sem muito entusiasmo. — Pois não devias! — diz e senta bem próxima a mim. Giro o pescoço, achando que iria encontrar uma Nora cheia de si soberba como só ela sabia ser, me surpreendo ao notar que está tão ou mais apavorada que estava na noite passada. Reviro os meu olhos já me arrependendo do farei. — O que foi agora? — a merda de ter sentimentos. — Nia. — detestava quando ela diminuía o meu nome, não éramos amigas, ela sempre deixou claro as nossas diferenças e fez questão de criar barreiras, barreiras essas que agora acho tarde para ela tentar quebrar. — Nihara, você não deve saber porque não cresceu aqui, mas essas terras eram de Constance, uma bruxa que foi morta às pressas por seus crimes de adultério e traição no século dezasseis. — Esqueceu-se de mencionar que além de ser acusada por todos esses crimes, Constance foi noiva de um homem muito poderoso na época, tem historiadores que acreditam que o rei tratou de organizar os dias das execuções, de Constance, e de sua família toda. — Isso só são referências Nihara! O rei fez o que devia, ela era bruxa e uma devassa! — fala com rancor se acomodando melhor no banco, puxou parte da minha manta tapando as suas pernas. Mas que lata ela tinha! Como tem coragem de chamar Constance devassa, quando se deita com Thomas mesmo sabendo que é casado? — Já agora não quer o meu livro também? — vejo confusão nos seus olhos. Ela devia tentar sai da bolha em que vivia. — Ela teve a coragem de se deitar com o próprio irmão! Não sei como você pode sair em defesa dessa mulher! Nunca acreditei nessas histórias até ontem, mas essa mulher tem assombrado essas terras. — com as mãos mas têmporas me concentro para não lhe espancar. — Não sei se fazes de propósito, ou és mesmo ingênua! Os tempos eram diferentes, a maioria das acusações contra ela, eram falsas. O seu grande crime foi não ter dado a Carlile Wrigth as terras da sua família, e ele arrumou uma forma de tomar deles à força, daí a pressa em concluírem decapitação dela e toda a sua família. — olho de esguelha para ela, que mantém um semblante curioso agora, provavelmente nunca ouviu a história completa. — E se ela tem assombrado todos os castelos da nobreza, é porque a mataram antes do seu tempo aqui na terra ter terminado. Resumindo, ela foi morta injustamente. — o que eu estou fazendo recitando Madre Aurora? Normalmente ela tem respostas para tudo, mas desta vez, manteve-se em silêncio. Agradeci a Deus por isso. Ficamos as duas caladas olhando o sol se pôr, não havia mais ninguém dentro de casa. As duas arrumadeiras que cuidavam da limpeza, o jardineiro e o moço dos recados todos pertenciam a mesma família e viviam na vila, estavam de saída numa camioneta velha. Os quatro fizeram adeus e nós duas fizemos o mesmo. — Vou preparar o jantar. — Certo. Já não chovia, contudo ainda estava frio, apertei melhor o meu casaco e segui caminhando fazendo o mesmo trajeto que fazia na estrada de terra que dava na entrada da floresta. No caminho, escuto o barulho que parecia ser de um corvo, — Eu e a minha curiosidade de merda! — Procuro entre as árvores até encontrá-lo. estava numa árvore olhando diretamente no meus olhos como se estivesse me encarando, eu faço a mesma coisa fitando-o na mesma intensidade mas acabo desistindo por sentir-me levemente incomodada. Não costumava existir corvos em Fodshan. O que está acontecendo com esse lugar? Sinto um cheiro demasiado envolvente para ser confundido com outro qualquer, o aroma inunda o meu olfato embriagando os meus sentidos... Oh meu Deus! Estou vendo e sentindo coisas. Ele afetou-me da tal maneira que a parte sensata do meu cérebro deixou de funcionar. — Vai se f***r Edward! — vocifero, estava escuro e o medo começava a fazer morada em mim. — Só se levar você junto. — vejo a sombra n***a saindo dos arbustos, com o mesmo figurino tenebroso. Suas palavras tiveram um efeito sobre mim que eu não consigo entender, é quase como um choque térmico de sentimentos, como fogo e gelo ao mesmo tempo. — Eu fico me perguntando, como alguém que cresceu praticamente num convento, tem a boca tão suja? O que diriam as irmãs do colégio interno se a vissem tão... tão libertina? Meu peito se movimenta num ritmo descompassado tentando acompanhar minha respiração que parece estar com dificuldades em levar ar aos meus pulmões. — Como é que ele pode saber sobre o colégio e as madres? — balanço a cabeça de formas a pô-la a funcionar. Com os olhos fixos no homem mascarado, sem conseguir ler nada daquela imensidão azul que eram os seus olhos, o meu constrangimento era cômico. Esse homem tocou em você de formas tão erradas! Devias fugir dele! — Qual é a da máscara? Uma fixação doentia? — digo, contrariando tudo o que o meu subconsciente exigia que eu fizesse. (…) Fodshan, (Cheshire) Agosto A sua pergunta me pegou de surpresa, não esperava encontrá-la tão segura de si, nem mesmo vagueando por arredores de Raven Eyes*. Sendo honesto comigo mesmo, nunca tinha encontrado alguém como ela. Logo já estava sentindo o seu cheiro doce impregnar nas minhas narinas, me vi respirando fundo. — O que está tentando fazer, se embrenhando no meio da floresta? — engole seco. — O seu objetivo é fazer-se morrer? — volto a perguntar e ela ri sem vontade. — Achei que no tempo em que esteve ausente, tivesse aprendido boas maneiras! — Sentiu minha falta? — Nia pigarreia tentando disfarçar o que eu já sabia. Estava igualmente entusiasmado por voltar a estar com ela, mas havia alguma coisa nova nela que eu não estava conseguindo identificar... O que aconteceu na minha ausência? — Porquê sentiria? — me aproximo, não sabendo exatamente o me que movia, mas aquela mudança na sua expressão, no seu semblante carregado de mistério era fascinante e intrigante. — Talvez porque não tem amigos, e no nosso último encontro, você estava bem receptiva... — murmuro olhando diretamente para os seus olhos que têm agora as pupilas dilatadas, no entanto desvia o seu olhar de mim. — Devias tentar descer o seu ego das alturas! — vejo que está se esforçando para manter a sua expressão indiferente, escondendo a raiva que tem de mim. — Você não faz muito sentido, sabia? — Não. — Porque evidentemente, tem um problema com a sua aparência. — É mesmo? — Sim. Do contrário não andaria mascarado o tempo todo! Deves ser como aqueles assassinos em série que têm alguma deformação física e por isso anda vestido desse jeito. O que é estranho pois já provou que tem a auto estima bem elevada. — fala gesticulando, por um milésimo de segundos, achei que fosse mencionar o meu parentesco com Thomas. — Fique descansada, que o meu problema não é físico! — sussurro no seu ouvido, tocando os lábios no lóbulo da sua orelha. Nia se vira rápido fazendo com que nossos lábios se roçassem. — O que está fazendo? — sua voz sai baixa mas carregada de desejo quase implorando para que tomasse seus lábios de uma vez. Estou surpreso mas ao mesmo tempo satisfeito, pois no início só sentia o seu medo me consumir como fogo ardente. Agora sinto seu desejo tomar conta de mim e é avassalador, então molho os meus lábios, ela não tira os olhos dos meus. Deixei de distinguir o seu medo do sentimento de prazer, não sabia se era só a minha vontade se sobrepondo a dela, porém me mantenho impassível a fitando com total indiferença sem ao menos piscar os olhos. — Você consegue ser mesmo irritante! A sua curiosidade ainda te trará a morte. — digo deixando-a desconfortável. Nossos corpos estão demasiado próximos, e tudo o que eu quero é que esse momento não acabe. Sem nenhuma delicadeza, seguro-a pela cintura e tenho as suas mãos espalmadas no meu peito. Tomo os seus lábios num beijo que começou timidamente e se transforma num vulcão de sensações prazerosas. Gostava de poder confia-lá ao ponto de contar toda verdade. — Eu... Você... — tenta formular uma frase depois que a soltei. — Vamos ignorar o facto de estar um corvo a seguir-te? — diz atrapalhada, olho para o corvo que olhava fixamente para nós dois, mas parecia estar mais encantado com ela... Não me admirava de todo, dizer que ela era bonita seria muito raso para tudo o que essa mulher desperta a qualquer ser, seja ele homem ou animal. — Tu sabes que esse lugar se chama Raven Eyes certo? — a sua expressão muda, quase a sinto tremer. — Raven Eyes? — ela repete e eu aceno positivamente. — Mas desde que estou aqui nunca vimos um único corvo! — Devia dizer-lhe que essa propriedade pertence a minha família e que eu cresci correndo nessa floresta. — No passado, essa floresta estava sempre infestada por várias aves, mas as mais predominantes eram os corvos. Por isso os antepassados da família Wright deram o nome Raven Eyes. — a chuva volta a cair com alguma intensidade me fazendo pegar na sua mão e correr com ela até a minha cabana. Abri a porta, segundos depois dando espaço para que ela passasse antes de fechar a porta.
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