"Eis a receita para um romance policia: o detetive nunca deve saber mais do que o leitor."
Agatha Christie
Elizete tirava os copos da bandeja e os colocava dentro da pia. Mesmo com a torneira aberta, ela podia ouvir os gritos do patrão e dono daquela imensa e luxuosa cobertura, num bairro nobre do Rio de Janeiro. Trabalhava para a mesma família há mais de vinte anos e já tinha se acostumado com os gritos que eram dirigidos ao filho do patrão, o “jovem desmiolado” da família.
“Desde pequeno metido em confusão, também, sempre mimado! Nunca ouviu um não, teve todas as vontades realizadas…”
Pensava Elizete, balançando a cabeça devagar, em desagrado. Fechou a torneira e ouviu algumas palavras:
— Escute aqui, moleque, você vai acabar matando a sua mãe!
Elizete balançou a cabeça novamente, com um muxoxo. Achava difícil que aborrecimentos com o filho pudessem “m***r” a patroa. A senhora estava ocupada demais pensando em si mesma para se preocupar com qualquer outro ser humano…
De súbito, a voz do patrão se tornara mais grave:
— Você não entende, meu filho, que uma pessoa morreu? Será que não sente remorso, Rodrigo?
— Ah, pai... Fala sério! Já falei que não fui eu! Os caras perderam o controle, mas a v***a provocou tudo, ela que começou. Pensei que aquele o****o ia levar a culpa, mas uma v***a daquelas não vai fazer falta para ninguém e…
— Cala a boca, garoto! Não vê o problema que você me arranjou? Vai arrastar o meu nome na lama por causa desses maus elementos com quem você se envolve! Aliás, não vai, não vou permitir! Mas ouça bem, moleque, é a última vez que limpo seu traseiro, está me ouvindo? Da próxima…
Naquele momento, Elizete se retirou para a rua, era hora de levar o cachorro da patroa para passear.