Desde a minha infância, era obrigatório que os filhos do alfa estivessem cientes de seus deveres e obrigações para com sua nação. Meu pai, foi um dos maiores alfas que já governaram nossa alcatéia, depois de sua morte, não tinha o menor sentido que eu continuasse a exercer um papel que evidentemente não era pra mim. "A família deve permanecer forte", era o que minha mãe dizia.
Sinceramente, nunca me senti completamente feliz naquele lugar. Eu era obrigada a manter uma postura impecável, sem deslizes. Já se olhou no espelho, e teve a impressão de que aquela pessoa não era você? Mas o que os outros queriam que você fosse?. Então... era exatamente assim que eu me sentia. Odiava me sentir tão presa, sem poder andar tranquilamente sem algum guarda escondido atrás de uma árvore, ou os sermões da minha mãe de como eu deveria ser como o meu irmão.
Fala sério, isso é deprimente!, demorou para eu perceber que o único motivo de eu ainda estar tentando fazer esse papel, era pelo meu pai.
Acho que depois que eu "fugi" de casa, minha mãe pode até respirar melhor. Na verdade, eu acho que eu era até um peso naquela família. É como se eu fosse uma peça de um quebra-cabeças que não existia.
Meu pai morreu quando eu tinha 16 anos, e até os meus 18 anos eu tentei achar a minha vocação dentro daquela alcatéia. Só pude saber o gosto da liberdade, quando decidi ir embora, eles não iriam precisar de mim mesmo, ainda mais com o "senhor perfeitinho" que era o meu irmão. Meu pai era o único que olhava nos meus olhos, e entendia o que eu realmente sentia.
Se eu não fosse de uma família governante, eu poderia claramente ter uma vida mais calma, quem sabe até trabalhar. Mas como não é o caso, resolvi que seria melhor eu ir.
Demorou algumas semanas até eu me adaptar a vida fora dos muros que rodeavam a alcatéia, mas quando me adaptei... uau, então isso é a liberdade?.
Sabe, o mais engraçado é que quando eu planejei a minha fulga, meu irmão parecia saber o tempo todo. Acreditem ou não, mas eu ainda tomo cuidado para ver se ele não está me seguindo, mesmo que depois de um ano longe.
Eu moro em uma pequena casa, na entrada da floresta que cerca minha atual cidade. Bronvil é uma cidade relativamente calma, tirando o fato de que eu possa encontrar algum guarda da alcatéia em alguma esquina e ele me levar de volta, eu adoro este lugar.
Escolhi uma casa perto da floresta, porque além de eu adorar o barulho do vento balançando as árvores, eu me sinto próxima da minha natureza. Não há humanos aqui, na verdade, os humanos são uma raça extinta a milhares e milhares de anos. Meu pai me contava das guerras terríveis que se arrastaram por anos entre os sobrenaturais e os humanos, e que hoje, só é possível encontrar os seus ossos em buracos profundos das ruínas de seus castelos.
Neste momento, estou na frente de minha modesta penteadeira, me preparando para sair. Eu trabalho no jornal da cidade, quer dizer... eu sou fotógrafa. Não há muito o que se falar de uma cidade com menos de 30 mil habitantes, mas ainda assim, é até que divertido.
#algumas horas depois
Após sair do trabalho, vou para casa na companhia de Ana, uma grande amiga.
- se a bruxa da Olívia ficar me pertubando pra tirar aquelas malditas fotos de novo eu vou fazer ela engolir a minha câmera- Ana fala enfurecida colocando as luvas.
- ela te transforma num sapo- falo rindo arrumando o cachecol em volta do meu pescoço- até amanhã Ana- completo.
Eu morava perto do trabalho, uns 15 minutos andando. Mas de vez em quando eu pegava um atalho pela floresta, afinal, nada melhor do que uma corrida na forma lupina para desestressar.
- até mais, Isa- ela se despede.
Assim que entro em casa, trato logo de tirar as botas cobertas por neve e as jogar no canto da parede. Hoje o dia foi cansativo, tive que fotografar todo o movimento de inauguração de uma galeria de arte e depois de uma batida policial. Depois de trancar a porta, e ligar o aquecedor urgentemente, vou para o banho.
Sentada na borda da banheira, abro a torneira e espero ela encher até a metade, o que não demora muito, então tiro o roupão e entro na água morna coberta de espuma. Aos poucos, sinto meus músculos relaxarem e minha loba interior agradecer imensamente por finalmente estar relaxando depois de um dia tão intenso.
Ainda de olhos fechados, escuto um ruído vindo da sala, mas não dou muita atenção, afinal, é uma casa velha, o barulho se repetiu, dessa vez mais alto, o que me faz levantar logo e vestir meu roupão.
Nos filmes de terror, tem sempre a garota burra que sai atrás do barulho pelada e molhada, e acaba morrendo. Nesse momento, tento focar em todos os meus sentidos de olfato, então de duas uma, ou a casa só fez um barulho mesmo, ou eu não estou sozinha. Sinceramente, eu rezo para que seja a primeira opção.
Depois de sair pela casa, pronta para voar na primeira coisa que aparecesse, eu volto para o banheiro para secar a molhadeira que eu tinha feito e vou para o meu quarto me vestir.
Já vestida, eu vou para frente do espelho e começo a desembaraçar meu cabelo para poder dormir logo.
#3:30 da madrugada
Acordo com o barulho incessante da janela da sala batendo na parece, por sorte a nevasca ja tinha parado. Me levanto sonolenta e vou até a sala fechar quando sinto uma picada no pescoço, e então minhas pernas ficam moles como gelatina.
-shhh... fica quietinha...- uma voz sussura no meu ouvido.