Apollo
Cheguei no estágio e estava mais silencioso que o normal, me sentei no meu cubículo e comecei a trabalhar, o dia parecia maravilhoso, calmo, sem nada que tirasse a minha atenção dos processos.
Marisa minha supervisora apareceu segurando muitas pastas.
— Apolo querido, preciso que você vá até a casa da doutora Priscila e leve esses processos para ela, a mulher está tão doente que não consegue nem falar no telefone, mas quer estudar o processo que ela vai apresentar depois de amanhã, e você tem que levar essas coisas para ela.
-Ela está doente? Com que?
— Não sei, mas acho que e algo entre a gripe suína, doença da vaca louca e covid, eu não sei, sugiro que vá de máscaras e use álcool gel e não coma nada do que ela te oferecer
A mulher olhava para mim com total desprezo, era surpreendente como o fato de ser estagiário nos transformava em a escória do mundo.
A gente pode ir na casa da advogada translocada doente, somos o capacho mesmo, nesse caso eu sou o capacho.
Peguei as pastas e o endereço e fui até lá.
Demorei trinta minutos para chegar no lugar, era longe... Estilo tão, tão distante, o escritório era em Copacabana e a casa da Priscila era algo entre Santa Teresa e Bangu.
Entrei no táxi e dei o endereço ao taxista, que olhou para mim com cara de assustado
— O senhor sabe para onde esta indo?
— Não faço a menor ideia
A empresa pagava a empresa de táxi faturado, então o taxista deu tantas voltas que ele podia cantar com a Daniela Mercury
"Vou dar a volta no mundo, eu vou
Vou ver o mundo girar"
Uma hora e vinte depois eu estava na frente de um prédio olhando para o taxímetro pensando: Ainda bem que quem vai pagar essa corrida não sou eu.
Cheguei na portaria tinha um porteiro sentado, baixinho, gordo, com o nariz três vezes maior que o meu polegar.
— Ei, você vai para onde?
— Vou no 502
— No apartamento de quem
— Da doutora Priscila
— Hum, da baixinha, gordinha e desengonçada?
— Essa mesma
O homem ligou para la para cima e minutos depois ele disse?
— Ela mandou subi
O elevador era velho, muito velho, daqueles que você tem que fechar uma porta de grades para a porta do elevador fechar.
Desci do elevador vivo e fui ate a porta da casa dela, quando bela abri a porta eu me assustei.
Priscila que ja era uma bagunça nesse momento era o meu pior pesadelo, ou pior o que tinha atrás da Priscila era meu maior desespero, comecei a tremer.
Priscila estava com o cabelo para cima o nariz vermelho de óculos com um pijama com a estampa de big bana Theory escrito BAZINGA, pantufas de dragões de GOT e um roupão de veludo com capuz, e o símbolo da lufa-lufa.
E atrás dela o verdadeiro caos, o apartamento de Priscila era uma mistura de embalagens vazias, roupas jogadas, caixas e muitos, muitos livros jogado para todos os cantos, sem falar que a louça na pia estava maior que o EGO de Hades e olha que não fácil ter um EGO do mesmo tamanho.
Priscila fala fanhosa:
— Oi ABollo, Zentra pode Zentar.
Eu olhava para aquele lugar pensando. O que bela falou?
— Entra fique a vontade, ZENTRA
— Sentar? Onde?
A mulher vai até o sofá e tira uma pilha de roupa dizendo - Que ódio com o nariz assim eu não sei se a roupa está limpa ou suja
Ela pega uma meia cheia olha para mim e continua falando com voz agonizante e carente - Cheira pra mim, ve se ta limpa
As palavras saem da minha boca sem eu perceber - NUNCA
El a ri sozinha e diz : Deixa, não se lava roupa suja se lava roupa fedida, se não esta fedendo da para vestir. - Ela joga a roupa suja em cima da cama
Nesse momento meu cérebro grita dentro de mim - Coloca todas essas roupas para lavar agora!
Mas resporei fundo e me sentei no sofá grudento
— Quer um café bonitão.
— Não, não quero nada obrigada
Ela se sentou do meu lado e começamos a trabalhar, duas horas depois a tosse dela estava três vezes pior, eu medi sua temperatura a mulher estava com quase 39
Me levantei, liguei para o médico da família, o homem chegou e cuidou de Priscila e lhe deu um remedio super forte e bela apagou, eu fiz o que o meu TOC mandou, eu faxinei o apartamento dela, olha eu não sabia que a vida gerava vida dentro da geladeira, Você acredita que tinha um tomate que tinha brotado e ja estava dando tomatinho?
Nem vou dizer para vocês o que eu achei dentro da panela de arroz.
Fiz uma faxina daquelas de limpar o fogão com acido, quando terminei de lavar o banheiro eu me sentia o superman,
depois fiz questão de organizar o armário da mulher por tamanho e cor, fiz o mesmo com os livros da estante, por autor e ordem de publicação, fui no mercado e fiz compras, ninguém sobrevive só de água, quando terminei a limpeza fiz uma sopa para bela, e lhe dei os remedios.
Sai de la o apartamento com o meu espirito livre, e aquele lugar precisava de uma organização, mas eu não estava preparado para o dia seguite.