Os primeiros capítulos contém cenas fortes e pesadas. São só os primeiros pra explicar algumas coisas.
Carolina era uma doce menina. Foi criada por seus amorosos pais. Tinham uma vida tranquila, em uma adorável cidade pequena.
Aquele tipo de vizinhança que todos se conhecem e todos se cumprimentam de manhã cedo antes de sair pro trabalho.
Carolina pegava o ônibus e ia pra escola todo dia. Nos finais de semana ficava em casa com sua mãe. Seu pai costumava fazer viagens por causa do seu trabalho.
Algumas vezes, quando seu pai chegava em casa, sua mãe sempre se acidentava dentro de casa. Ela nunca entendia o motivo.
Ou ela tropeçava no tapete e batia o olho na mesa, ou caia na escada, ou escorregava no box do banheiro.
Sua mãe era mulher muito bonita. Não trabalhava fora. Saia muito pouco de casa. Quando saía. Era somente quando seu pai estava junto.
Ele não gostava que as duas saíssem sozinha de casa.
Seu pai não costumava ficar mais que 3 dias em casa. Ele nunca avisava quando vinha, e nem quando ia viajar novamente.
Ele vinha comprava algumas coisas e ia embora novamente.
Carolina achava incrível que sua mãe era uma mulher forte e não ficava com saudade de seu marido. Carolina pensava que se sua mãe ficasse tanto tempo longe ela ficaria morrendo de saudade e choraria sempre que ela fosse sair.
De seu pai, Carolina não tinha muito do que sentir saudade. Quando ele estava em casa a sua mãe pedia pra ela evitar sair do quarto.
Ela sempre escondia biscoitos nas cômodas. E deixava várias revistar em quadrinhos escondidas pra Carolina não querer sair do quarto.
Conforme Carolina foi crescendo ela foi achando tudo muito estranho.
Carolina começou a questionar porque todo mundo tinha avós, porque todos os pais levavam seus coleguinhas em festinhas da escola, em parquinhos no meio do bairro, menos ela. Ela não participava de nada que tinha no bairro e nem na escola.
Começou a achar estranho os machucados de sua mae, ela ficava tempo o suficiente pra conhecer a casa e saber onde fica o tapete e como não escorregar no box do banheiro, nem ela que era uma criança escorregava.
Sua mãe sempre dava um chocolate quente pra ela tomar antes de dormir quando seu pai estava em casa. Um dia ela decidiu não tomar. Fingiu que tomou e depois jogou tudo fora.
Queria saber porque quando o pai nao estava a sua mãe não fazia isso, e sempre dormia com ela. E repetia as mesmas frases.
“Eu te amo muito”
“Se algo acontecer comigo, continue sendo forte”
“Nunca esqueça o quanto eu te amo filhinha”
“Você é meu coração”
Toda noite, quando sua mãe achava que ela pegava no sono, ela começava a repetir essas frases sem parar.
Quando a noite foi avançando Carolina ficou sentado atrás da porta do quarto, e começou a escutar seu pai brigando com sua mãe.
“Essa casa tá uma sujeira.”
“Você é imprestavel pra cuidar de uma casa”
“Não sei onde estou com a cabeça de deixar você cuidando da Carolina, vai ser uma porc@ como você “
“Devia levar a Carolina comigo, pra ensinar ela como se cuida de uma casa e de um marido”
Carolina não tava entendendo porque ele estava falando aquilo. A casa era perfeitamente limpa. Sua mae limpava tudo todo dia. Até os vidros era limpo todos os dias.
Carolina começou a escutar sua mae chorar, e começou a escutar barulhos estranhos. Abriu cuidadosamente a porta do quarto e tentou ver o que acontecia.
Da porta do seu quarto ela conseguia ver a sala e a cozinha.
Ela viu seu pai batendo em sua mãe.
Sua mãe estava caída no chão, foi puxada pelo cabelo e jogada em cima do sofá, enquanto seu pai batia nela. Ele xingava ela de coisas que Carolina nunca tinha escutado. Porque ele estava fazendo isso, seu pai não era assim.
Era o que Carolina estava pensando.
Ela viu seu pai virar sua mãe de barriga pro sofá, levantar o vestido dela.
“Sua imprest@vel não falei que não te queria de calcinha em casa? Gosta de dificultar minha vida não é ?”
Tirou um canivete do bolso da calça e cortou a calcinha cortando a pele dela também.
Sua mãe que já soluçava baixinho deu um grunhido de dor.
Mesmo com tudo que estava passando ela tentava não acordar sua menina.
Viu seu pai baixar as calças e ainda sem entender viu o que ele fez com sua mãe até sua desmaiar.
Viu sua mãe parar de chorar e parar emitir barulhos.
Viu seu pai dar um chute em sua mãe mesmo desacordada. E depois subir pro quarto como se não tivesse feito nada.
Carolina não conseguiu dormir naquela noite.
Viu o dia amanhecer, mas não saiu do quarto.
Quando era quase 9 da manhã, sua mãe entrou pela porta do quarto.
Carolina tentou parecer normal. Mas quando viu os hematomas ela começou a chorar.
Viu sua mãe com o olho roxo, um corte na boca, um curativo na bochecha. Ela estava mancando também, talvez pelo corte.
— mamãe, porque ele ainda vem ver você?
— quem meu anjo?
— o pai. Eu não gosto dele, eu não gosto do que ele faz com a senhora.
— como assim meu anjo?
Vitória sua mãe levou a mão até os curativos.
— ah isso? Acredita que depois que sai do seu quarto eu me desequilibrei novamente ? Acho que vou ter que ir no médico ver essas minhas tonturas.
Ela tentou rir sem graça, e sem conseguir também.
— mamãe, eu vi o que ele fez com a senhora.
Carolina falou enquanto chorava.
— como assim meu anjo?
Carolina amava quando era chamada de meu anjo por sua mãe.
— ele bateu na senhora, eu vi.
— meu amor. Esquece isso. Seu pai está trabalhando de mais, ele estava cansado. E eu não havia respondido algo pra ele, por isso ficou bravo. Seu pai não é assim meu amor.
— você jura mamãe? Não e ele que sempre bate na senhora ?
— eu juro que não meu amor. Seu pai e homem bom, que cuida da gente. Ele trabalha de mais, só isso.
Carolina foi tomar banho. E colocou uma roupa bonita. Sua mãe havia solicitado que ela colocasse um vestido de festa bem bonito.
Vitória arrumou os cabelos de Carolina.
Esse vestido e esse penteado, sua mãe só fazia no seu aniversário, mas não era a data ainda. Faltava alguns meses para Carolina fazer 11 anos.
Ouviram quando seu pai gritou que era pra descer.
— vamos desçam, os nossos convidados chegaram.
Sebastiao gritou da sala.
— que convidados mamãe?
Carolina falou baixinho pra sua mãe.
— seu pai trouxe uns amigos pra conhecer a gente.
Carolina não sentiu o tom confiante na voz de sua mãe. Ela sempre falava as coisas com firmeza, mas dessa vez ela deu uma falhada.
— minha filha. Me escuta bem. Lembra de todas as brincadeiras de casinha que a mamãe te ensinou a se comporta? Como sentar de vestido, como cumprimentar uma pessoa com um leve referenciar de corpo? O jeito de segurar talheres?
— sim mamãe, eu adorava brincar.
— preciso que vise finja que estamos brincando. Preciso que você se lembre de tudo que a mamãe ensinou com os convidados tudo bem?
— tudo bem mamãe.