Capítulo 06

1301 Words
Catherine nunca pensou que teria tanto medo de Isabel como na manhã seguinte, quando o dia começou. Além de uma ressaca infernal e um gosto azedo na boca, ela acordou silenciosa, embora no fundo desejasse se arrastar de volta para a cama e não sair de casa. Ela tomou um banho frio e um café bem forte, recusando comer qualquer coisa porque estava enjoada demais para colocar algo no estômago. No entanto, os acontecimentos da noite anterior ainda estavam muito frescos em sua memória, e enquanto ela observava Isabel andando pela cozinha e preparando sua própria refeição matinal saudável, a Alfa sabia que precisava abrir o jogo. Porém, antes daquilo, ela verificou ao redor para ter a certeza de que não havia qualquer objeto que pudesse matá-la ou arrancar seu amiguinho fora, (Isabel era misteriosa e imprevisível, afinal), até perceber que tudo ali poderia matá-la, principalmente o suporte de facas que estava muito próximo, no balcão e que Isabel também segurava uma faca de folha afiada para cortar uma banda de abacate. Tomando um grande gole de café, a mais alta das duas achou melhor esperar para iniciar aquela conversa outra hora, quando Isabel não estivesse representando tanto risco à sua integridade física. Então assim que beijou Isabel e Alícia, Catherine decidiu ir trabalhar como fazia todas as manhãs. A demissão de Cíntia estava planejada, mas ela não queria que a bomba estourasse na sua mão. Principalmente não depois de uma festa, onde todos haviam ficado meio bêbados, irresponsáveis e idiotas. Ela saiu do elevador sem muita disposição para ler o jornal do dia, procurando entrar na própria sala o quanto antes e evitando cumprimentar qualquer um até que seu humor estivesse melhor. Catherine tirou o paletó e o pendurou numa arara, como fazia sempre que chegava, deixou o jornal de lado e se sentou, sentindo a cabeça latejando um pouco. Sem muito ânimo, a loira pegou uma caneta e uma folha de papel, onde começou a escrever à mão, a carta de demissão de Cíntia, até que o objeto de seu tormento surgiu na porta do escritório, quase como se adivinhasse o que estava prestes a acontecer. A assistente deu uma batida de leve na moldura e Catherine levantou a cabeça. ━ Bom dia. Hora r**m? - ela perguntou ao ver como a Alfa parecia aborrecida. A careta dela confirmava aquilo. Cobrindo a folha de papel com o braço, Catherine balançou a cabeça, negando. Ela procurou disfarçar o que estava fazendo. ━ Não, pode falar. ━ O departamento criativo quer saber se você terminou o layout para a apresentação de Ciências da semana que vem. A Alfa olhou para ela e por um momento se perguntou como a assistente conseguia agir com tanta naturalidade depois do ocorrido. ━ Ainda não. Informe que vou entregar até o fim do dia. A garota balançou a cabeça e deu as costas, mas logo decidiu voltar, como se tivesse esquecido de completar. ━ O Kenny gosta muito de flertar com as moças, né? Catherine levantou uma sobrancelha. ━ Não sei te responder isso. – Ela murmurou simplesmente, até decidir tomar um pouco de fôlego e continuar. ━ Cíntia, você poderia entrar e fechar a porta, por favor? Guardando a folha de papel em uma gaveta, a Alfa aguardou que ela fizesse o que tinha acabado de pedir. ━ Quer conversar? - a assistente perguntou, percebendo que daquela vez os olhos de Catherine não tinham o mesmo brilho afetuoso de sempre. ━ Sim. – A Alfa limpou a garganta. ━ O que houve ontem não vai se repetir. Eu sou comprometida e não posso dar o que você deseja. A jovem assistente não pareceu impactada pela advertência, se mantendo neutra - quase indiferente às palavras de Catherine, ela apenas concordou com a cabeça. ━ Deseja mais alguma coisa, Senhora Thompson? Um café, talvez? A Alfa franziu o cenho, comprimindo os lábios de forma carrancuda. Cíntia era uma incógnita irritante, ou talvez tivesse várias personalidades, Catherine não conseguia entender. Na verdade, ela pareceu desprezar aquela conversa, num nível absurdo de apatia. ━ Desejo que faça o seu trabalho. A jovem assistente balançou a cabeça e Catherine jurou ter visto uma faísca de fúria brilhando em seu olhar antes dela deixar a sala. Quando foi deixada sozinha, a Alfa suspirou. [...] O resto do dia seguiu sem muitos transtornos, pelo menos foi o que Catherine pensou, embora já tivesse encaminhado a carta ao conselho, pedindo para que solicitassem uma nova temporária e que, se possível transferissem Cíntia para outro setor, já que ela era uma excelente profissional e que não merecia ficar sem um emprego. (Embora tivesse despertado uma paixão platônica.) Felizmente a conversa constrangedora de mais cedo pareceu ter surtido o efeito desejado, porque Cíntia não a procurou para outros assuntos que não fossem relacionados ao trabalho, e Catherine ficou aliviada. Procurando fazer hora extra para adiantar algumas pendências que se acumularam ao longo da semana de Natal, Catherine ficou no escritório até que ele estivesse quase vazio, foi quando Victor apareceu em sua sala. ━ Cat, eu posso ir embora? - ele perguntou enquanto arrumava a alça da bolsa no ombro. Ela estava ocupada com um arquivo, mas respondeu sinceramente. ━ Claro, até amanhã, Victor. Através da vidraça da sala, a Alfa pôde ver Cíntia acompanhar Victor até o elevador, e por um momento se sentiu m*l por tê-la dispensado, imaginando que na manhã seguinte, assim que pisasse de novo naquele prédio, a garota já não estaria mais ali. Bem, aquela postura era inadmissível e Catherine foi gentil em tê-la indicado para outro setor, foi seu pensamento. Todavia, as surpresas ficaram para o fim do dia, quando a Alfa entrou no próprio carro e a porta do passageiro também foi aberta, seguida da figura de Cíntia entrando subitamente e ocupando o banco do carona. ━ Acho que te devo um pedido de desculpas pela festa. – a assistente disse com um pequeno sorriso. Catherine ainda estava atordoada com a aparição, mas deixou um pequeno suspiro escapar. Ela definitivamente não voltaria atrás com sua decisão, não agora. ━ Tudo bem, nós bebemos um pouco. Melhor nós esquecermos isso. A assistente levantou uma sobrancelha. ━ E se eu não quiser esquecer? Catherine balançou a cabeça, negando as palavras da assistente. ━ Nada aconteceu. - No entanto, os olhos da loira imitaram dois pires quando a garota mais jovem abriu o sobretudo, exibindo uma lingerie de renda que deixou a CFO sem voz. ━ Certo, é suficiente. Saia do meu carro. Catherine rangeu, desviando os olhos porque a visão era simplesmente perturbadora. ━ Relaxe, querida. - A garota pediu, quase miando. ━ Eu não estava mais aguentando fingir. Foi tão difícil, sabia? Estava quase ficando louca, tentando me concentrar no trabalho quando na verdade só conseguia pensar em como seria bom c****r você. Aposto que sua esposa não te dá toda atenção que você merece, não é? Estou tão perto de entrar no cio, Cat. Você poderia me ajudar. Foi o estopim. Catherine gritou e puxou o sobretudo, empurrando Cíntia para o lado. ━ CALE A BOCA E SAIA DO MEU CARRO! A garota mais jovem estremeceu, assustada e claramente surpresa. Ela não sabia que Catherine possuía um lado tão furioso e assustador. ━ Meu Deus, calma! - a assistente pediu. ━ Saia. Abrindo a porta, Catherine apontou para fora. Naquele momento a garota menor ficou extremamente ofendida, mas respondeu com veneno na voz. ━ Talvez você seja mesmo uma i****a, Cat. Descendo do carro, ela cuspiu um palavrão e bateu a porta do carro, observando enquanto a Alfa arrancava com o veículo e desaparecia do estacionamento, a deixando ali, sozinha. Com fúria, Catherine dirigiu de volta para casa, enquanto os pensamentos de abrir o jogo para Isabel estavam fervilhando em sua cabeça. ───────────⊱◈◈◈⊰────────────
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