CAPÍTULO 2
UMA AUTÊNTICA VERGONHA
Narrado por Vitória
"Não te prendas a ninguém, se te soltarem vais cair"
Acordo com os tímidos raios de sol que teimam em invadir o meu espaço.
Estou deitada numa cama grande e fofinha, mas ao recordar a noite anterior, sinto o meu coração sangrar de dor, sangrar de desilusão.
Depois do pai do Patrick o levar lá para fora, eu não o voltei a ver.
Passado um pouco, o pai dele voltou a entrar no salão, mas nada do Patrick.
O pai dele disse que ele pegou no carro e saiu.
Desgraçado, nem teve a decência de saber como eu estou, depois de o apanhar a comer a minha irmã ali de b***a de fora no jardim.
Vou ter pesadelos para o resto da minha vida.
Ele sabe bem que eu estou de rastos, mas ele não quis saber e foi embora. Mas onde está o meu namorado e noivo atencioso? Aquele que sempre se preocupa comigo?
Foi sugado para outro planeta, só pode.
Acabei por dormir aqui mesmo, na casa dos pais dele, num dos quartos de hóspedes.
A sua carinhosa mãe, não me deixou ir embora no estado em que eu estava.
Eu acabei por aceitar, não tinha forças sequer para me mexer e nem sabia para onde ir.
Voltar para a casa dos meus pais nem pensar, isso estava fora de cogitação. Não conseguiria olhar sequer nas caras de p*u deles.
Levanto-me e visto uma roupa que vejo ali em cima de um pequeno sofá, impecavelmente dobrada.
É um vestido azul claro. Decerto é da mãe daquele i****a.
Ao vestir percebo que está um pouco, mas não muito, largo. Mas devido à situação, está até muito bom.
Saio do quarto e desço ao andar de baixo e ao entrar na sala do café da manhã, vejo apenas o pai e a mãe do Patrick, mas nada dele.
A mãe dele levanta-se de imediato e me pede para me sentar à mesa e tomar o pequeno almoço com eles.
— Anda cá, Vitória, come qualquer coisa.
— Eu já fiquei tempo demais, eu preciso ir. — lhe digo.
— Mas minha querida, ninguém pode sair sem comer alguma coisa.
Eu sento-me então no lugar que ela me indica.
Não tenho fome, não consigo comer nada quando estou nervosa.
— Vitória, — o pai do Patrick chama a minha atenção — tu e o Patrick precisam de conversar. O que aconteceu ontem é muito mau para os negócios, saiu em algumas manchetes da manhã. Uma autêntica vergonha.
— O único culpado por toda esta situação são apenas duas pessoas, o seu filho e a minha irmã — falo triste e revoltada.
Eu aqui desolada e ele preocupado com o que saiu na merda das revistas?
— É verdade, tens toda a razão, mas não deixa de ser um problema, um enorme problema. E por isso, estava aqui a pensar se não podias esquecer isso e dizer que não foi bem assim que aconteceu.
Eu olho para ele, não querendo acreditar no que ele me está a pedir.
— Foi o seu filho que lhe pediu para me dizer isso? — pergunto abismada com a tamanha falta de consideração para comigo.
Ele não responde, porque ouvimos barulho na porta e ele entra.
Patrick claramente acaba de chegar a casa, sabe-se lá de onde, porque ele ainda tem o fato de casamento vestido.
— O meu pai tem toda a razão, podíamos dizer que tu tiveste um surto psicótico por causa de todo o trabalho que dá organizar um casamento, mas que não viste nada do que gritaste aos sete ventos que viste.
Ele fala aquilo despreocupadamente e senta-se ao meu lado na mesa.
Eu levanto-me de imediato me afastando, não quero sequer estar perto dele.
— Mas afinal quem és tu? Onde está o Patrick que eu sempre conheci?
— Sempre não, namoramos dois anos.
Eu sinto todo o meu sangue ferver e começo a andar para a porta.
— Patrick!! — a mãe dele o chama visivelmente desagradada com a sua atitude, mas ele nem parece a ter ouvido.
— Temos que falar o mais rápido possível com os convidados, para desmentir o que tu viste. — ele fala aquilo como se fosse o pedido mais normal do mundo.
Eu paro na porta e me viro para trás.
— Pois fica sabendo, seu i****a, que eu não vou desmentir nada, tu me traíste na nossa própria festa de casamento, com a minha irmã e agora vocês os dois, — olho para ele e para o seu pai — têm o descaramento de me pedir uma coisa dessas?? E já agora, onde tu tiveste toda a noite que nem tiveste a decência de saber como eu estava, depois do que tu fizeste? Foste a correr para os braços da minha irmã, ou para os braços de outra?
Ele não responde.
— Tu és um ordinário nojento.
E saio dali sem sequer olhar para trás.
UMA ÓTIMA IDEIA
Narrado por Vitória
"A ponte mais difícil de atravessar é aquela que separa as palavras dos atos"
Saio dali sem rumo, mas por muito que eu não queira tenho que ir à minha casa. Não tenho nada comigo, nem o que trago vestido é meu.
Apanho um táxi e depressa chego na minha casa.
Peço para ele esperar um pouco que vou buscar o dinheiro para lhe pagar.
Entro em casa e não vejo nem ouço ninguém.
Melhor assim.
Pego o dinheiro e vou pagar ao taxista.
Volto para dentro e vou para o meu quarto.
Olho para a minha mala de viagem, ali pronta num canto.
Hoje íamos de lua de mel para Miami, eu amo o sol, embora aqui seja um bom clima, mas gostava de conhecer Miami.
Desabo a chorar, deito para fora todas as frustrações. Fico ali nem sei quanto tempo, apenas a chorar, a lamentar a minha má sorte.
A minha irmã sempre foi uma cobra, nunca fomos umas irmãs chegadas, é estranho, mas ela sempre me deu patadas e eu sempre tentei me aproximar dela, mas ela dizia sempre que eu não era digna de me dar com ninguém. Que era um lixo.
Nunca entendi o porquê disso.
O porquê de todos eles me tratarem tão m*l.
Nunca me senti nem amada, nem acarinhada por ninguém aqui nesta casa. Sempre foram rudes, grossos e antipáticos comigo.
Olho para cima da cómoda e vejo as passagens de avião ali.
Fui eu que as fui buscar na véspera do casamento.
Olho alternadamente para as duas passagens e para a minha mala feita e pronta para viajar, e de repente tenho uma ideia, aliás, uma ótima ideia.
Levanto-me, seco as minhas lágrimas e vou trocar de roupa.
Depois de estar pronta, pego nas duas passagens e as guardo na minha bolsa, chamo um carro de aplicativo, pego na minha mala de viagem e saio do meu quarto.
Ao passar na sala vejo ali a minha mãe.
— Que fazes aqui? Nem sabia que aqui estavas — ela diz indiferente.
— Não te preocupes mãe, já estou de saída — a informo.
— E o teu marido? Onde ele está?
Eu paro perto da porta da rua e viro apenas o meu rosto para ela.
— Pergunta à tua querida filha, ela deve saber melhor do que eu onde ele está - respondo seca.
Abro a porta batendo a mesma com força.
Entro no carro de aplicativo que já ali está à minha espera e que me leva ao meu destino, Aeroporto Internacional de Austin-Bergstrom.