Todos nós paramos bruscamente diante dos dois lobos.
- ... estamos ferrados... - Sarah sussurra dentre os soluços que emitia junto com as lágrimas de desespero que escorriam em sua bochecha.
- Daniel eu...- abro a boca para falar mas um rosnado me faz estremecer.
- a culpa foi minha! - Luka se pronuncia tomando a frente de nós.
Vejo de longe, ainda em forma lupina, Heitor revirar os olhos. Daniel apenas olha para todos nós, e faz um sinal negativo com a cabeça, mostrando decepção.
Eles não voltarão a confiar em mim.
(...)
Em silêncio, somos acompanhados até o castelo. Certamente, meus irmãos iriam contar tudo para os pais dos meus amigos...
Será que ainda poderíamos nos ver...?
- meu pai vai me matar - Luka sussurra perto do meu ouvido enquanto andávamos a caminho do castelo.
- o seu não é o único - Dinah comenta tentando esconder o nervosismo em sua voz.
- devemos contar para eles o que vimos? - Sarah pergunta assustada.
- nem sabemos o que era... não será necessário irritar o alfa ainda mais deveria ser só um urso - Luka diz.
- um urso...? Está de brincadeira...? - Dinah fala alto.
Heitor apenas olha para trás, lançando um rosnado, já Daniel, apenas continua andando calmo.
(...)
Assim que chegamos no castelo, meus irmãos saem da forma Lupina, já vestidos.
Um feitiço que foi solicitado para que nenhum lobo perdesse as roupas no meio da transformação,muito justo por sinal.
- quero os quatro, na sala do trono em 40 minutos! - Daniel olha para nós autoritário, antes de sair acompanhado por Heitor, que não esboça nenhuma reação.
(...)
- estamos ferrados, ferrados, ferrados! - Sarah diz em desespero entrando no
meu quarto.
- Sarah! Fique calma! - Luka a repreende.
-e agora?...- Dinah diz decepcionada sentando ao meu lado.
- eu não sei... conto com Heitor para diminuir... seja lá qual for o nosso castigo - explico - ele é menos severo que o Daniel - completo.
- eu conto com a ajuda da Deusa...- Luka diz se jogando em um canto do quarto cheio de almofadas.
- ótimo, vamos logo acabar com isso - Sarah diz levantando e passando a mão pelo cabelo.
- acho que deveríamos nos trocar, estamos sujos de lama - digo olhando para o meu vestido, que se encontrava sujo de terra.
- nos encontramos na sala do trono - Dinah diz sem ânimo.
Todos se despedem e então seguem para os seus respectivos quartos.
(...)
Depois de um longo banho, olho em volta, e procuro a minha toalha, que não se encontrava no mesmo cômodo que eu. Sabe... as vezes uma dama de companhia fazia falta, eu tinha uma, mas o fato de ter alguém me seguindo o tempo todo, esperando por mais alguma ordem ou pedido, me deixava de certa forma, agoniada.
Então, disse a Daniel que não precisava. Certamente, que depois de um discurso falando sobre a importância de uma dama de companhia era crucial para a irmã do alfa, eu o convenci de que não precisava.
Isso é tão enjoativo.
(...)
Depois que recuperei a minha toalha, que se encontrava em nada mais e nada menos que em cima da minha grande cama, me preparo para encontrar meus amigos e meus irmãos na sala do trono. Acho que as minhas ancestrais não tem noção da minha gratidão por lutarem tanto para que as mulheres lobas não precisassem mais usar aqueles vestidos até o chão, pesados e desconfortáveis. É claro, não é permitido nada vulgar, afinal, sou irmã do supremo.
Daniel, por sua vez, aprecia muito o estilo dos nossos ancestrais, nunca o vi sequer uma vez, sem aquele terno, a não ser, é claro nos dias em que vai a piscina.
Coloco um vestido azul escuro com um decote simples e ponho um salto não tão alto da mesma cor. Solto meus cabelos e faço uma maquiagem bem leve como a de costume. Pronto, agora vamos aos sermões dos meus irmãos.
(...)
- o que vocês fizeram é muito sério! Poderiam ter morrido! - Daniel diz se levantando bruscamente do trono.
O silêncio ecoava naquela grande sala, mas ainda, dava para sentir o cheiro do nervosismo de cada um.
- eu...- abro a boca para falar mas sou interrompida por Heitor.
- fique calada! - ele diz rígido - estou decepcionado com você - completa.
- vejo que minhas ordens não foram claras, que não tenho o respeito que um alfa deveria ter - Daniel diz se sentando no trono novamente.
- alfa - Luka recebe o olhar matador de Daniel, o que o faz tremer - ... s-supremo a-alfa... a idéia foi minha! - eu o interrompo.
- só queríamos visitar um jardim em que brincávamos quando éramos crianças!...- digo quase sem voz- não era longe...- completo.
- vimos um vampiro! - Sarah praticamente vomita as palavras na nossa frente.
- Sarah...! - Dinah exclama em tom de reprovação.
- não sabemos ainda, podia ser outro animal! - Luka explica tentando manter a calma.
- eu irei avisar a última vez, quero vocês quatro longe da floresta - ele levanta chegando perto de todos nós - ou o castigo será severo para cada um - ele completa já de olhos vermelhos.
Ele está furioso...
- e-entendemos supremo - Dinah diz abaixando a cabeça.
- se acontecer de novo, eu mesmo me certificarei de que os pais de cada um de vocês, sejam mandados para diferentes territórios de outros alfas, e vocês nunca mais irão se ver! - Heitor diz autoritário - ...vocês são membros deste castelo, e não admito rebeldes... - ele pausa - ...principalmente, você... - completa olhando para mim.
- sumam da minha frente! - Daniel diz massageando as têmporas.
Assentimos positivamente e nos retiramos. Quando estou prestes a sair do cômodo, escuto um trecho da conversa.
- convoque todos os alfas, eu quero os lideres do mundo sobrenatural neste castelo até amanhã a noite - Daniel diz a provavelmente, Heitor.
(...)
- quem está preparado para ouvir sermão dos pais levanta a mão! - Luka diz virando para nós com as duas mãos para o alto.
É neste momento que eu me sinto pesada.
- Luka...! - Sarah murmura.
- Sah... não foi por m*l! - ele se aproxima.
- tudo bem...- sorrio de leve.
- vou para os meus aposentos, meu pai já deve estar lá para falar no meu ouvido - Dinah diz descontraindo e se despedindo de todos.
(...)
Meu pai? Ele morreu ano passado, de causas naturais, dizem os médicos. Ainda sinto a falta dele, éramos felizes. Parece que quando ele se foi, ele levou uma parte de cada um junto. As coisas mudaram.
E de repente o corredor que pertence ao seu escritório, que agora é de Daniel, é a parte que eu mais evito neste castelo.
São tantas lembranças...
(...)
Toc toc toc
- entre...- digo sem ânimo deitada de barriga para cima na minha cama.
- Safira...? - Heitor entra no quarto, com um semblante mais sereno.
Viro minha cabeça sem vontade para a sua direção, e é inevitável não soltar um rosnado.
- só vim para conversar - ele levanta as mãos em sinal de rendição.
- é mesmo? - digo irônica.
- o que vocês viram naquela floresta? - ele pergunta curioso sentando na ponta da minha cama.
- eu não sei ao certo... - sento e abraço uma almofada - não sei se era um vampiro, poderia ser apenas pelo medo, acabamos vindo algo que não existia...- explico.
- ou talvez não - ele levanta e passa a mão pelos cabelos em sinal de nervosismo.
- o que está insinuando...? - pergunto curiosa.
- creio que uma possível guerra chegue aos muros deste castelo, irmã - ele vira pra mim sério - ...talvez aquelas bestas estejam em algum lugar, se ordenando para nos atacar... - completa.
- mas... estamos em maior número - me levanto assustada.
- esteja preparada para tudo, inclusive, para possíveis mortes... - ele explica passando a mão pela minha bochecha.
- o que faremos? - pergunto firme.
- você, vai ficar longe daquela floresta, e vai ficar no seu quarto quietinha amanhã a noite - ele diz olhando para mim.
- mas... por quê? - pergunto curiosa.
- teremos uma reunião com os mais importantes membros de alcatéia e do mundo sobrenatural - diz ele.
- uau...- suspiro.
- e você vai ficar bonitinha aqui, quietinha no seu quarto - explica ele em tom de ordem.
- Heitor....- choramingo.
- nada de "Heitor"- ele imita a minha voz - não provoque nosso irmão, Sah... estamos tentando administrar esta situação da melhor forma possível - completa.
- ahhhh tá bom! - suspiro desapontada.
- boa menina! - ele bagunça o meu cabelo e se retira do quarto.
Eu preciso entrar nessa reunião.