cap 01 nunca vou me acostumar
Naiara . . .
Ajoelhei meu joelho no chão e clamei
a Deus... Pedi pela minha comunidade,
também pedi para proteger minha
família e a todos os inocentes que
estão aí fora pedindo a misericórdia de
Deus. Três horas direto de confronto,
tá intenso, tá brabo! Amo morar no
complexo da maré, amo mesmo! mas
viver sabendo que não estou segura
dentro da minha própria casa é difícil,
saber que posso morrer a qualquer
instante por bala perdida é assustador.
Abracei minha mãezinha que chorava
sentada no chão da sala. Logo meu
irmão Ruan se juntou a nós.
Naiara: Tudo vai ficar bem mãe! Deus
é por nós, ele vai nos guardar.
Renata: Eu não aguento mais filha.. já
estou vellha demais para aguentar isso
tudo. - fungou. - Sei que Deus não dá
fardos que não possamos carregar ma
tem sido tão difícil.
Naiara: Não vou menti, também
estou cansada! - Murmurei baiXO.
Ruan: A pior coisa do mundo é
ver vocês sofrendo, cara. Eu quero
entrar para essa vida, quero muito!
Eu conseguiria tirar vocês daqui, me
mataria de trabalhar mas conseguiria.
Renata: Não diga isso Ruan! Imagina
o que teu pai vai pensar?! Aperta o
meu coração quando você cita essa
hipótese. Não há nada mais digno que
um trabalho limpo, do que receber
seu dinheiro todo final do mês por
sinônimo do seu esforço! Não dê esse
desgosto para sua mãæ, não faça isso!
Você me orgulha muito
mais estudando e garantindo o seu
futuro. Não ligo por ser pobre, aliás,
não sou pobre! Pobre é quem acha
que dinheiro é tudo! Que isso trás a
felicidade.- Nos albraçou. - A família
que eu tenho me torna rica, rica de
amor, de gratidão! Vocês são tudo para
mim e dinheiro não me faz falta.
Derramei algumas lágrimas e apertei
mamãe contra mim. Essa mulher
e meu pai são as pessoas mais
importantes da minha vida.
Eu posso dizer com toda convicção
do mundo que eles sim mataram
e morreram por mim e pelo Ruan,
fizeramo que podiam e o que não
podiam fazer, se desdobraram só para
nos verem felizes. Devemos a vida a
eles dois.
Ouvimos a porta se abrir e papai
chegou, todo suado, com sua bolsae
bíblia na mão.
Renata: Meu amor! Graças a Deus você
está aqui, estava preocupada. - Mamãe
sorriu.
Gilberto: Culto foi bênção! Senti
saudades de vocês três. - Sorriu
abertamente. - Quero participar desse
abraço aí!
Naiara: Vem papai.
Ele se juntou a nós e esse foi O nosso
final de tarde, em família. Os tiros
cessaram e papai chegou com b0as
notícias... Finalmente havia sido
promovido. Compramos pizza para
Comemorar.
Depois de me empanturrar de tanto
comer, tomei um banho longo, vesti
minha lingerie, meu pijama e fui
dormir, estava exausta.
Acordei com o meu despertador
tocando. Me espreguicei e agradeci a
Deus por mais um dia de vida, tinha
esse costume e parece que tudo ao
meu redor se adaptou a isso, é incrível,
se eu não agradeço, meu dia desanda
completamente. Fico sem foco para as
coisas e chego em casa desanimada,
então faço questão de agradecer a
Deus apenas por estar aqui respirando.
Peguei minha calça jeanse minha
blusa do colégio estadual, uma lingerie
preta e meu tênis. Tomei meu banho
e me vesti. Prendi meu cabelo em umn
rabo de cavalo, passei rímel, batom e
por último passei meu perfume.
Arrumei minha mochilae desci as
escadas, minha barriga roncou só de
sentir o cheirinho de bolo de milho
vindo da cozinha.
Naiara: Esse cheirinho já é um ótimo
bom dia para mim. - Mamãe riue
beijou minha testa.
Renata: É filhinha esfomeada que eu
fui ter viu... - Fiz beiço.
Naiara: Não está satisfeita com a filha
que teve? - Minha mãe me lançou um
olhar mnatador. - Brincadeirinha mãe,
te amo muito sabia? Tá linda hoje em,
tinha que ser minha mãe.
Renata: Odeio quando me faz
rir quando estou com raiva. -
Gargalhamos.
Naiara: Cadê o papai?
Renata: Foi para igreja! Disse que tem
que arrumar as coisas para a vigília
que vai acontecer de noite. - Sorriu. -
Falar nisso, vamos?
Papai era pastor na igreja assembléia
de Deus do complexo da Maré. Ele
Começou como um simples obreiro e
foi subindo de cargo até se tornar um
verdadeiro pastor.
Sinto muito orgulho da forma que
papai se dedica e está disposto a viver
da obra de Deus. Entã0 por iss0, a
maioria do tempo ele está lá.
É trabalho para igreja, igreja para o
trabalho.
Naiara: Poxa nmãe... Vou deixar para
ir no domingo mesmo, chego 17:15 do
Colégio e chego morta, sem condições
de ficar no culto bocejando, acho falta
de respeito.
Renata: Coisa linda da mamãe! Meu
orgulho. - Apertou minha bochecha e
eu revirei os olhos.
Naiara: Eu vou indo, mas antes me dá
m pedaço desse bolo para eu levar.
Esperei minha mãe por o bolo no
pote e saí de casa. Minhas pernas
vacilaram assim que eu vi um grupo
de traficantes parados na esquina.
Todos estavam com armas grandes e
aparentemente pesadas. A maioria de
boné e sem camisa.
Ai vocês me perguntam "Naiara,
porquê esse medo todo? Não está
acostumada com isso tudo?" Acontece
que isso é uma coisa na qual ninguém
se acostuma, apenas aprende a
conviver. O medo é o mesmo,
independente de quanto tempo moro
aqui ou não.
Tive que passar no meio deles e
aguentar as piadinhas em relação ao
meu corpo.
Soldado: Ë novinha, faz o favor de
usar uma calça mais apertada da
próxima vez. - Revirei os olhos e
continuei o meu caminho.
Peguei m ônibus que parava em
frente a minha escola. Demorei menos
de vinte minutos para chegar até lá.
Graças a Deus o trânsito estava livre
e pela primeira vez consegui chegar
cedo. Entrei na escola e cumprimentei
algumas pessoas.
Perlla: Amigaaa. - Gritou pulando em
cima de mim.
Naiara: Sai de cima de mim sua
maluca! Tá todo mundo olhando.
Perlla: Eu quero que todo mundo se
foda. - Deu dedo do meio para algumas
pessoas que olhavam nós duas.
Naiara: Pai, perdoe essa pecadora, ela
não sabe o que diz. - Ela gargalhou.
Perlla: Bom saber que tu pensa isso
da sua prima. - Dei de ombros e ela me
deu um tapa.
Naiara: Como tá a vida, maluca? Você
abandona hein, mó tempão que não
vai lá em casa.
Perlla: Vou lá no final de semana,
precisa sentir saudade da gostosa
aqui não pô! - Mandou beijo no ar. -
Ea vida está ótima, to dando para o
Nem como nunca. - Balancei a cabeça
negativamente.
Naiara: Tú é doida Perlla, de verdade!
Tem um futuro todo pela frente e fica
se envolvendo com o dono da Maré!
Perlla: Ah se fosse fácil assim... -
Engoliu seco.
***
Me despedi da Perlla e fui embora.
Antes de ir para casa comprei m açaí
de 500ml, gosto muito! Se pudesse eu
comeria todos os dias, tenho até que
me controlar ás vezes. Virou vício.
Continuei subindo o morro distraída
com o meu açaí que estava bom para
caramba.
Desconhecido: Qual foi novinha! -
Ouvi falarem perto de mim e dei um
pulo derrubando meu açaí no chão.
Naiara: Misericórdia! Que susto. - Eu
disse com minha mão sobre o peito,
o homem que já aparentava ter seus
cinquenta anos encaroU o meu corpo
e mordeu os lábios. Senti meus pelos
todos se arrepiarem.
Desconhecido: Tá afim de ir para um
lugar mais reservado não? - Engoli
seco.
Naiara: Não. Tenho que ir para casa,
minha mãe está me esperando. - Forcei
um sorriso. Ele não se contentou com
minha resposta e me empurrou na
parede.
Desconhecido: Só um beijinho mina!
Rápido, ninguém vai saber não pô,
confia no pai aqui. - Beijou o meu
queixo. Tentei me debater mas ele
era mais forte que eu. Gritei sOcorro,
berrei, mas ninguém me ouvia. - Grita
mais vagabunda, ninguém vai te ouvir
mesmo desgraçada!!!!!
As lágrimas já desciam dos meus
olhos. Ele me beijava a força, eu usava
minhas mãos tentandoo empurrar
mas em uma tentativa falha. Ele
apertou minha b***a e roçou sua
intimidade em mim. Senti nojo, muito
nojo.
X: Que p***a é essa que está
acontecendo aqui ô GG? - Meu corpo
se relaxou assim que ouvi uma vOz
diferente, o alívio me invadiu por
completa.
GG: Essa mina tá fazendo um ** doce
do c*****o! Até parece que não quer.-
Ele disse e Perigo, o subcomandante do
morro o enforcou na parede.
Perigo: Tu tá ligado que estuprador
aqui não tem vez não! Tu sabe muito
bem que mina que quer não faz cu
doce. - o enforcou mais forte. - Eu
quero ouvir da tua boca, ô comédia, ela
queria?Me fala p***a!Ela queria ficar
com tu? - GG negou e Perigo sorriu.
Perigo: Era só isso que eu queria saber
mermo, vai parao inferno, velho
desgraçado. - Tirou sua fuzil das costas
e descarregou na corpo do tal de GG,
acabou até coma munição da fuzil.
Meus olhos se encheram de lágrimas e
meu corpo ficou trêmulo. Abri e
fechei minha boca milhares de vezes,
mas eu SÓ conseguia manter os meus
olhos naquele homem que já não
tinha mais vida e na poça de sangue
que o cercava. Me julguem, podem
me julgar..mas uma vida é uma vida!
Independente do que fez ou deixou de
fazer. Todos merecem uma segunda
chance e não é matando alguém que
acabamos com isso.
Naiara: Você, você o matou.. - Solucei
e Perigo se manteve sério, sem esboçar
um pingo de reação. - Isso não é certo,
eu não esperava por isso, meu Deus..
Perigo: Esperava o que? Que eu
chamasse os canas para prender? - Riu
irônico. - Se eu soubesse tinha deixado
ele te estuprar...nego ta reclamando
até quando ajudo, vou parar com
isso, papo reto! - Ele já ia saindo mas
segurei em seu braço.
Naiara: Desculpa, não pensei por esse
lado, obrigada por me defender. - Ele
assentiu.
Perigo: É O meu dever. - disse saindo
do meu campo de visão. . .