Não faço ideia do que acabou de acontecer com o novo vizinho, nunca me senti desta maneira por outra pessoa e a maneira como ele me olhava, parecia desvendar todo o meu interior. Por isso, precisei literalmente fugir daquele grandalhão lindo e agora que estou no aconchego do meu lar, sigo direto para o banheiro e tomo um banho relaxante para assim colocar os pensamentos no lugar.
Após alguns minutos na banheira já estou devidamente limpa e mais calma, então, saio enrolada na toalha, visto um pijama confortável e deito-me para descansar um pouco. Toda a agitação deste dia deixou-me cansada, então, deito-me debaixo do edredom macio e rapidamente entrego-me ao sono profundo.
Acordo meio-perdida em meio a escuridão e assusto-me que já esteja tão tarde, ergo-me e sigo para o banheiro, tomo uma ducha rápida e depois vou para a cozinha onde preparo algo para comer. Estou faminta e o meu estômago ronca alto devido ao tempo que passou sem receber alimento, então, preparo uma massa à bolonhesa por ser mais rápido e quando está tudo pronto, a luz se apaga ao meu redor.
O breu absoluto se faz presente e não consigo ver um palmo diante do meu nariz, estendo as mãos e sigo tateando os móveis para não trombar em nada até chegar ao meu quarto. Pego o celular, ligo a lanterna, em seguida vou para a área de serviço onde encontro algumas velas e as acendo, pois a bateria do meu celular não irá durar muito.
Assim que a parca luz que irradia da pequena labareda aparece, a posiciono sobre a bancada da cozinha e acendo mais algumas em outros pontos estratégicos do cômodo. Já finalizava a minha empreitada de iluminação quando uma batida na porta atrai a minha atenção. Imagino que seja o meu novo vizinho que não faço ideia do que possa querer, mas que em poucas horas já me incomodou mais do que qualquer um desde que me mudei para este prédio.
— Boa noite, Chiara. – Ele fala com a voz que parece mais rouca assim que abro a porta.
— Boa noite, Ruslan. - Os seus cabelos estão molhados e percebo que acabou de sair do banho.
— Desculpe incomodar mais uma vez, mas estava prestes a colocar o celular para carregar e assim pedir o meu jantar quando a energia acabou. Fui até a portaria pedir ajuda ao senhor Grayson, mas ele estava rodeado de outros moradores que reclamavam da falta de energia e não pôde ajudar-me, então, como não conheço nada por aqui, pensei que poderia indicar-me um restaurante próximo para que eu possa ir. – O cheiro que emana desse homem é delicioso e tem um efeito estranho em mim.
Sinto o meu rosto corar pelo efeito que a sua presença causa, por isso, puxo o ar para os pulmões numa falha tentativa de me recompor e respondo em seguida.
— Entre, irei lhe passar os números de alguns restaurantes que gosto. – Me viro e faço o caminho até a cozinha onde deixei o celular.
— Obrigado. – Não sei como ele se aproximou tão rápido, mas a voz grave nas minhas costas deixa-me toda arrepiada.
Sigo em silêncio até o meu aparelho e busco a informação que o homem precisa, mas logo percebo que convidar um estranho para entrar no meu apartamento não foi a minha melhor decisão.
Estou com um pijama fino que marca todo o meu corpo e para piorar a situação não uso nada por baixo enquanto o recém-chegado usa uma calça de moletom cinza e uma regada branca que deixa à mostra alguns dos diversos desenhos que estampam a sua pele.
Mesmo com a pouca iluminação, percebo os olhos do meu vizinho percorrerem todo o meu corpo e instantaneamente sinto um calor diferente incendiar o meio das minhas pernas. Solto um pigarro e desconcertada falo a primeira coisa que vem na minha mente.
— Acabei de preparar uma massa, aceita um pouco? – Falo rápido e com a respiração entrecortada.
Arrependo-me do que falo no instante em que as palavras saem sem freio da minha boa, pois ele irá pensar que sou uma oferecida.
— Se não for incomodar, aceito sim. Estou faminto, fiquei o dia todo preso com as coisas da mudança e não comi nada. – Ele responde rápido.
Aceno em concordância, viro-me e adentro a cozinha para pegar os pratos, talheres e taças para pôr a mesa. O meu vizinho segue-me de perto sem a menor cerimônia e pega os objetos da minha mão para ajudar na arrumação.
— Espero que goste de espaguete à bolonhesa. – Digo para quebrar o silêncio constrangedor que se instaurou.
— Tenho certeza de que irei gostar muito. – Ele para no meio da cozinha para me responder e depois emenda.
— Tenho um vinho que combina perfeitamente com massas, espere um minuto que irei pegar. – Penso em dizer que não tenho o hábito de beber nada alcoólico, mas não tenho tempo, pois ele sai rapidamente.
Fico alguns segundos parada e com os olhos fixos na direção em que o homem seguiu, penso no que devo dizer sobre a bebida quando ele retornar, mas chego à conclusão de que não há nenhum m*l em experimentar um pouco de vinho.
Volto os meus pensamentos para a realidade e lembro-me dos meus trajes, então, sigo até o quarto onde visto um roupão fofinho por cima do pijama e quando já estou mais composta, retorno para a cozinha e finalizo a arrumação da mesa.
Ruzlan retorna alguns minutos depois com uma garrafa de vinho tinto, um saca rolha e nos serve como um profissional. Ele entrega-me uma taça e quando sinto o sabor concentrado e forte da uva, forço-me para controlar a careta que quer aparecer e denunciar o meu desagrado.
Acomodamo-nos e penso em inúmeros temas para iniciar uma conversa, mas não encontro nada interessante para dizer e mantenho-me em silêncio enquanto sirvo os nossos pratos.
— Nossa! Isso aqui está ótimo. – Ele diz após colocar a primeira garfada na boca.
— Obrigada, mas não precisa exagerar, sei que os meus dotes culinários são bem limitados e o que faço é apenas para não morrer de fome. – Falo a verdade, pois sei fazer apenas o básico.
— Não sou do tipo que distribui palavras gentis para agradar uma pessoa. – Ele fecha o semblante ao responder-me e fico apreensiva com a rapidez com que tudo se torna tenso com esse homem.
O jantar segue em meio a conversas amenas sobre o prédio, o porteiro enxerido e as dicas que ele pediu sobre os restaurantes. Fico muito surpresa que a impressão inicial do vinho mudou completamente enquanto o bebericava em meio as garfadas e percebi que a bebida realmente orna bastante com essa massa que fiz. Ao finalizarmos a refeição o meu novo vizinho se levanta e segue para a pia onde começa a lavar as louças sujas.
— Deixe isso aí Ruslan, não precisa se incomodar, amanhã limpo tudo. – Tento persuadi-lo a parar, pois estou constrangida de ter esse homem requintado na minha cozinha.
— É o mínimo que posso fazer depois da sua gentileza em me oferecer uma refeição. – Ele continua a lavar tudo, então, me rendo e coloco-me ao seu lado para ajudá-lo.
Pego os itens já limpos e começo a secá-los, em seguida, guardo tudo nos seus devidos lugares. Coloco o último prato no armário e viro-me para o meu vizinho que já finalizou a sua tarefa e está escorado na bancada com os braços cruzados sobre o peito me encarando de forma intensa.
Os nossos olhos ficam fixos um no outro por um tempo que não sei determinar e a sensação que tenho é de que esse homem tem um imã no próprio corpo, pois me perco na ideia de sentir os seus músculos e passar os meus dedos em cada detalhe das suas tatuagens que o deixam insanamente delicioso.
— Por incrível que pareça, você conseguiu surpreender-me. Chiara. Devo dizer que isso é raro de acontecer. – O russo fala num tom baixo e rouco sem desviar o olhar.
— E isso é r**m? – Pergunto sem quebrar o contato visual.
— Isso é você que terá que me dizer. – A minha respiração está rasa e sinto que posso ter um treco a qualquer momento.
Não sei se é a minha imaginação fértil, mas acredito que esse homem maravilhoso está flertando comigo, mas como sou totalmente crua nesse assunto, faço o que sei de melhor: fujo.