03°

1113 Words
No outro dia: Deixo a dona Gabriela na cama, cubro ela e deposito um beijo na sua testa, sigo para o meu quarto e já começo a arrumar a minha bolsa para amanhã. Segundou amanhã, e o plano é sempre o mesmo, deixar a Gabi na escolinha e partiu trabalho, eu tenho uma loja de roupas no shopping, pique aquelas lojas de skatistas. Abri com dezoito anos, com a pensão que ganhava do meu pai falecido. Meu dia-a-dia até que não é tão corrido, deixo a Gabi na escolinha, vou trabalhar passo o dia no salão atendendo o povo, horário de almoço subo para casa, aí volto para o trabalho, de tarde eu saio do salão e vou buscar a minha boneca na escolinha dela, aí chego em casa e é a maior paz, gosto assim. Escuto o barulho do meu celular vibrando na mesinha, já pego o mesmo vendo ser só notificação das meninas, eita que elas estão doidas atrás de algum rolê, pai amado, não se aquietam por nada nesse mundo. Whatsapp Barbie Girl's Pati: bora minha gente Pati: tá rolando pagode hoje Pati: aqui no bar da dona Solange Pati: geral aqui Pati: quem consta? - Gabi tá dormindo - E amanhã trabalho - Me esqueçam! Dani: estou indo Dani: na verdade Dani: estamos indo Dani: vou buscar a tiriça mãe e o nosso mini anjinho - Gabriela está dormindo Dani: isso nem é hora de estar dormindo Dani: e a minha afilhada adora um fervozin Dani: te arruma que eu já estou saindo de casa Whatsapp É cada coisa viu?! Por sorte, dona Gabriela já dormiu banhada, almoçou quase agora na verdade, almoçou e dormiu, aí a mamãe aqui achou que ia ter uma folga, mas pelo visto o universo tem outros planos para mim. Vou até o quarto da Gabi e separo um vestidinho e um shortinho para ela vestir, pego ela no colo e a visto no maior cuidado do mundo, para não acordar o meu neném, amse ela acordar agora fica no maior mau humor do mundo, puxou a mãe, sou assim também, todo mundo eu acho. Enfim, deixo ela no berço e já passo para o banheiro, tomo o meu banho, saio com a toalha no corpo e já vou para o meu quarto, passo os meus produtos corporais, visto uma calcinha qualquer, um body preto com detalhes de renda, um short jeans rasgadinho e um all star preto.    Passo perfume, desodorante e arrumo o meu cabelo o deixando solto, pasos um reboco básico e estou pronta, agora é só arrumar o item indispensável da mãe, a bolsa, sair com Gabriela e não levar a bolsa dela, é pedir para passar perrengue na rua. Dani: já tá pronta?- pergunta entrando no meu quarto, invasão mesmo Eu: falta só a bolsa, mas aproveita que tu já tá aí e leva a toalha para o banheiro de volta- falo entregando a minha toalha para ela. E ela vai, sem falar um aí, gosto assim, obediente demais. A Daniela cresceu comigo e com o Metralha, nós dois juntos, correndo e tacando o terror aqui na Rocinha, sempre fomos muito unidos, os três irmãos, tanto que eles dois que são os padrinhos da minha baby, me apoiaram do início ao fim da minha gestação, sempre ali presentes, enchugaram as minhas lágrimas, seguraram as minhas mãos, me ajudaram em tudo, desde a entender que estava grávida e aceitar o fato, até a montar o quartinho, organizar o chá revelação, a parir a Gabriela, que quase me arregaça inteira para nascer. Já a dona Priscila, ela entrou para o nosso grupinho quando chegou aqui no morro, com quinze aninhos na cara só, nós conhecemos na escola, aquela coisa de aluna nova e tal, se aproximou primeiro de mim e da Dani, aí apresentamos ela para o Metralha. Os dois já tiveram um lance que ficou no passado, mas esse lance gerou o nosso pequeno anjo Gael Lucca, que está morando com Deus nesse momento, a Pri sofreu um aborto espontâneo no sexto mês de gestação. Foi um sofrimento só para todo mundo, ficamos todos desolados, foi uma dor que eu nem consigo descrever, me imaginei no lugar deles dois, perdendo a minha Gabriela, não, Deus me livre, me dá um negócio r**m só de imaginar, me dói na alma pensar nisso. Uma mãe não deve nunca enterrar o seu filho, a lei da vida não é essa, um filho deve sim enterrar os seus pais, mas uma mãe nunca deve enterrar o seu filho, eu sei lá, se um dia acontecer qualquer coisa na minha baby, eu fico louco, eu morro junto, gosto nem de pensar nessas coisas. Dani: Gabizinha já está pronta- fala entrando com a minha filha no colo- como está linda essa minha menina- fala toda babona- parece até uma princesa- fala e eu abro um sorrisão confirmando com a cabeça Eu: parece não meu bem, ela é uma princesa, a minha princesa- falo e ela confirma com a cabeça Dani: a nossa princesa meu amor- fala e eu dou risada pendurando a bolsa no ombro Eu: deixa eu pegar ela- falo e ela n**a com a cabeça Dani: eu levo, pode deixar- fala e eu dou de ombros. Saímos de casa juntas, eu tranquei a porta e já descemos batendo altos papos da vida, o bar da dona Solange é duas ruas a baixo da minha, na famosa rua do baile, aqui tem alguns pontos para baile, mas os dois príncipais é na quadra fechada, que tem mais para cima, e a rua do bar da Sol. Eu odeio quando os bailes são aqui, o som alto não deixa ninguém dormir direto, gente transando na rua da minha casa, o cheiro de mijo que fica na porta de casa no outro dia, as camisinhas jogadas no chão, um horror só. Mas o que eu posso fazer? Reclamar? Eu não, nem perco mais o meu tempo, sei que não vai mudar em nada mesmo, então nem gasto mais a minha saliva com isso, porquê quando a Gabi nasceu, eu morro de reclamar com o Metralha e não mudou em nada, então agora que se f**a. Pri: e ela veio mesmo- fala levantando para me cumprimentar Eu: tanto quiseram, que me tiraram de casa com a minha filha- falo e elas dão risada Pri: já já ela acorda também- fala e eu confirmo com a cabeça Eu: mas até acho bom ela descansar agora, a noite ela dorme mais fácil, e o bom é que pode cair o mundo em cima dessa menina que ela não acorda- falo e elas dão risada confirmando com a cabeça.
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