Toca do Coelho

3719 Words
1   Dedos ansiosos dedilhavam a mesa azul de cristal; unhas compridas batendo contra a safira. Os dias pareciam cada vez mais frios, entretanto, a Lua se despedia mais cedo. O Sol tomava conta. A rainha parou o seu batuque, os lábios tremeram “o Sol tomava conta”, pensou, perdendo o fôlego.   Os portões do castelo foram abertos, rangendo as dobradiças velhas. Duas amazonas passaram, passos rápidos. Os saltos das botas batendo no piso de safira. Chegaram ao pé dos degraus do altar do trono e se ajoelharam. A rainha levantou-se, olhando-as com ansiedade.   — Acharam o Protetor da Rosa? — perguntou a rainha, os olhos azuis arregalados.   — Infelizmente, não, minha rainha — respondeu a amazona ajoelhada mais adiante. — Mas nós passamos pelo Sul e descobrimos que o povo de Rosa n***a sumiu. Não sabemos ao certo o que aconteceu, majestade.   — Suspeitamos — começou a segunda amazona, erguendo o rosto —, suspeitamos que o Reino de Ônix caiu.   A rainha perdeu o foco, cambaleando para o trono e não disse nada por quase um minuto. Voltou o seu olhar distraído para as amazonas.   — Certeza de que eles não estão vindo para cá?   — Certeza, minha rainha. Vasculhamos os arredores, não encontramos nada — a primeira amazona olhou para a colega mais atrás e fez sinal de positivo com a cabeça. — Apenas por uma coisa, uma ameaça...   A segunda amazona se levantou. A rainha endireitou a postura e prendeu o olhar nos movimentos cautelosos dela, que retirava com cuidado uma coisa estranha embrulhada em couro fino. A primeira amazona ficou ao seu lado, assistindo tensa o desembrulhar.   As pontas do couro fino caíram. Os olhos da rainha estavam prestes a cair, arranhou os braços do trono feitos de prata. A rainha pôs-se de pé, cautelosa, não tirando os olhos da coisa nas mãos da amazona.   — Leve isso para longe e destruam antes que se manifeste pela terra — ordenou a Rainha.   — Antes disso, minha rainha — começou a primeira amazona —, gostaria de dizer que foi isso o que encontramos em Ônix.   — Se nem Ônix conseguiu lidar com isso... — dizia a rainha antes de perder as palavras — levem e destruam, tenham certeza de que essa praga não chegará ao nosso reino.   As amazonas assentiram e fizeram uma breve reverência. A segunda amazona embrulhou a coisa novamente. Deram as costas e quando a segunda amazona saiu, a rainha falou.   — Procurem do outro lado — simples e direto. A amazona assentiu e deixou o castelo.   A rainha caiu sentada no trono, as mãos tremiam e a sua mente não parava de pensar. O Sol tomava conta, problema suficiente. Agora, Rosa n***a — Reino de Ônix — caiu, já estava caído, mas cavou mais fundo e se perdeu no limbo, deixando uma lembrança; tremeu ao lembrar da praga enrolada no couro fino. E também, 10 anos se passaram e o Protetor da Rosa continua perdido. “Se Rubi o encontrar primeiro...”, saltou do trono, apertando as mãos frias. Bateu cinco vezes na safira para isolar o pensamento.   2   Foi a sexta vez saindo do consultório. Um problema, cinco médicos diferentes. Saiu, batendo a porta, passou reto por Brooke e foi embora.   Brooke correu atrás dele para alcança-lo. As outras pessoas desviavam de Talin como se ele fosse uma desgraça. Talvez elas tenham razão, Talin estava afundando, sabia bem. Agarrou seus ombros e fez os passos do amigo perdido pararem.   — E agora? — a voz quebrada de Talin perfurou seu coração.   — Vamos marcar outro médico...   — Eles não resolvem nada — interrompeu Talin, segurando as lágrimas. — Meus exames estão normais. No raio x não deu nada também, então... por quê?   Talin fungou e passou a mão nos olhos. Os lábios estavam tremendo e a respiração estava pesada e quente. Brooke o abraçou no meio da rua, tentando não chorar com ele; olhou para a manga do moletom preto, sabendo que em baixo do tecido havia uma ferida quase em carne viva na região do pulso. “Deve doer muito”, chorou Brooke, apertando os lábios.   — Dói. Dói feito as trevas — resmungou Talin, mordendo os dentes de raiva e de agonia.   Talin foi para casa de Brooke. Encontraram mais 4 amigos que se levantaram para cumprimentá-lo. Talin deu um breve aceno de cabeça e se sentou no sofá, as unhas arranhando e beliscando a manga do moletom.   Brooke suspirou ao ver os olhares confusos dos amigos.   — Pega a caixa de medicamentos para mim, por favor — sussurrou Brooke para Jamie. Se ajoelhou na frente de Talin e puxou sua mão para si. Levantou a manga até o cotovelo e fez uma careta (todos fizeram. Cass até saiu de perto). Jamie voltou e entregou a caixa.   — Está muito r**m? — a voz de Talin tremeu. Ele mesmo olhava para o teto.   Brooke não disse nada, apenas começou a tirar as ataduras manchadas de sangue e grudadas com um pouco de pus. Arthur teve ânsias ao ver a ferida descoberta e se afastou também. O machucado estava aberto, em carne viva praticamente; começando a infeccionar. Jamie cobriu a boca com o punho e desviou o olhar.   — Isso está péssimo! — exclamou Caven, horrorizado, passando as mãos pelo rosto.   Talin deu uma olhada e fez uma careta. Podia jurar que se coçasse mais um pouco, um pouco que seja, daria para ver seus ossos. Suor frio escorregou da testa. “Como o médico não me mandou para o hospital com a ordem de amputar meu antebraço?”   — Sem pânico, Talin — disse Brooke, forçando sua voz. Disse “sem pânico”, mas ele estava em pânico —, vai ficar tudo bem. Respire fundo — pediu, pegando um vidro de álcool. Talin virou o rosto e mordeu o indicador.   Brooke virou o álcool sobre a ferida. Talin bateu o pé no chão e fincou as unhas da mão direita no antebraço esquerdo. Caven que estava olhando de perto começou a gritar baixinho, arranhando o rosto, os olhos arregalados como se assistisse a um filme de horror.   O machucado queimava, queimando toda a extensão e profundidade. Talin respirava rápido, jogou a cabeça para trás e tentou controlar sua respiração e coração. Brooke engoliu em seco, pegou um guardanapo e secou o excesso que escorreu.   — Me desculpa — chorou Brooke, fungando. — Vai passar, vamos dar um jeito — pegou uma pomada e começou a aplicar com muita delicadeza, sentindo o coração ser esmagado toda vez que Talin puxava um pouco a mão ou respirava mais fundo. Quando terminou, ficou olhando e desatou em lágrimas.   Talin se sentia um pouco fraco, olhando para Brooke com os olhos úmidos. Caven colocou a mão no ombro dele e o levantou do chão.   — Deixa que a atadura eu enrolo — disse, deixando Brooke sentado no sofá.   Caven deu muitas voltas com a atadura. “Quero ver soltar”, ele disse quando terminou. Brooke secara as lágrimas e fora para a cozinha preparar o jantar. Talin ficou quieto no sofá, olhando para o pulso enfaixado e morrendo de vontade de chorar. Cass e Jamie ficaram com ele, tentando levar sua mente para longe da dor excruciante que devia estar sentindo. Arthur nunca achou isso normal e atazanava a vida de Brooke com isso.   — Já tem um mês — começou. — Um mês e ninguém sabe o que é. Ainda acho que deve ser psicológico.   — Psicológico? — repetiu Brooke, como se fosse uma piada — Desde quando isso parece psicológico?   — Pense bem, onde ele poderia ter pegado essa alergia?   — Não sei, talvez..., talvez... — Brooke pensava, pensava muito, mas nada vinha a mente.   — Está vendo? Se nos exames não dá nada. Então ele não tem nada — disse Arthur, cruzando os braços. — Estou me sentindo um b****a por ter que dizer isso, mas só pode ser coisa da cabeça dele.   Brooke bateu o pano que segurava na mesa, espanando algumas migalhas e formigas. Arthur se assustou um pouco, olhando para a sala e franzindo as sobrancelhas.   — Você o conhece, Talin sempre foi tranquilo. Como ele poderia... — Brooke parou de falar, notando a mudança de expressão de Arthur.   — Aonde ele vai? — perguntou Arthur, inclinando o corpo para ver melhor a sala.   Brooke largou as coisas de cozinha e correu para fora, vendo Talin sair pela porta da frente. Arregalou os olhos e foi atrás dele, mas foi barrado pelos amigos.   — O que estão fazendo? — perguntou Brooke, empurrando Caven — Deixando-o sair nesse estado...   — Brooke, relaxa! — pediu Jamie, segurando-o pelos ombros — Ele só vai na farmácia e vai voltar.   — Mas...   — Ele é um homem adulto, Brooke — disse Jamie. — Ele sabe se cuidar.   3   O sol caía do céu, levando seus tons quentes enquanto a noite trazia os tons frios. Lá longe, entre as casas e prédios, o roxo se misturava com o laranja forte. A lua chegando tímida para tomar o seu lugar entre as estrelas. Talin andava lentamente com as mãos enfiadas no bolso, sentindo a brisa fresca bater no rosto e no pulso que pulsava como um coração acelerado.   Não foi para a farmácia, apenas seguiu o caminho contrário dela (nem mesmo saiu do bairro). Ficou sentado no único banco da área onde as crianças ficavam, mas não havia criança alguma brincando no balanço ou no escorregador, nem mesmo na gangorra. Estava vazio.   Na verdade, ali talvez sempre fosse ser vazio. À esquerda, um pequeno buraco, muito fácil de confundir com tocas de coelhos. Quando crianças, Talin e Brooke eram aterrorizados com a história de que havia um bicho morando naquela caverna. Diziam que o monstro tomava a forma de um coelho e puxava crianças para dentro da toca. Uma mera história para as crianças se manterem longe do perigo de cair e voltar para casa antes que anoiteça. Pelo menos era para ser assim. Um casal de vizinhos perdeu o filho de 26 anos, ela disse que o filho costumava ficar sentado no banco perto da entrada da “Toca do Coelho”.   Talin e Brooke tinham 16 anos e conheciam o filho deles desde pequenos. Talin lembrava de como brincavam de pega-pega, esconde-esconde, entre outras brincadeiras. O filho dos vizinhos sempre começava como o coelho da toca no pega-pega. Os policiais não acreditaram nessa história de bicho-papão, mas Talin e Brooke nunca mais chegaram perto do lugar.   — O que eu estou fazendo aqui? — Talin soltou um risinho, deitou a cabeça no banco, ainda olhando para o buraco — Daniel, o coelho te pegou mesmo ou você sempre foi o coelho?   Nenhuma resposta, mas confessa que seu coração acelerou com medo de ouvir a voz de Daniel saindo da toca. Fechou os olhos, suspirando e pensando que voltaria para casa antes que Brooke o encontrasse ali.   Estava quase dormindo quando ouviu um barulho ecoando longe dali, ecoando debaixo da terra. Talin abriu os olhos e apontou a lanterna para a Toca do Coelho, mas não havia nada lá. Seu coração quase saiu pela boca agora, meio trêmulo, começou a rir baixinho. Se levantou para ir embora e ouviu galhos se partindo. Colocar para gravar pareceu uma boa ideia. Mais galhos começaram a quebrar, chegando mais perto. Talin deu passos para trás, prestes a correr quando foi agarrado por alguém que vinha da sua esquerda. Soltou o celular e seu grito se perdeu nos ventos noturnos.   4   Brooke corroeu durante meia hora, andando de um lado para o outro na frente da porta. Jamie e Caven terminaram o jantar após a refeição ser abandonada pela metade. Cass, sentado no sofazinho quase de frente para porta, começou a ficar preocupado e ansioso. Arthur tentava não o ouvir fazendo barulho, tentava focar no filme, mas só ouvia os passos de Brooke ecoando dentro da cabeça.   Arthur socou o sofá e se levantou, assustando Cass ao seu lado. Brooke pegara as chaves e destrancava a porta quando Arthur o puxou para longe.   — Você tem que parar com isso — disse Arthur, trancando a porta novamente. — Não é normal esse tipo de preocupação. Quando ele tiver quarenta anos terá que te dar alguma satisfação?   Brooke piscou os olhos arregalados, tremendo com os punhos cerrados.   — Se preocupar com os amigos é anormal? — avançou os passos e pegou a chave da mão de Arthur — Está na minha casa. E Talin é nosso amigo, deveria saber que ele não tem o costume de sumir.   — Ele só foi na farmácia, Brooke — Arthur se colocou na sua frente, bloqueando seu caminho até a porta. Brooke tirou o celular e o mostrou ligando para Talin. Caiu na caixa postal.   — Ele não é assim, Arthur, você sabe disso — Brooke tentou manter a voz firme, mas ela se quebrou na última parte. — Me ajudem a encontra-lo.   Arthur olhou para os outros, que concordaram em silêncio, suspirou e saiu da frente. Cass e Jamie foram genuínos, mas Caven com certeza só queria acabar com o conflito.   Saíram de casa e o vento gelado os recebeu, fazendo seus narizes ficarem vermelhos e ardendo. Chegaram na farmácia quase roxos de frio. Os funcionários até se assustaram, achando estarem perdidos no final da noite de inverno.   — Estamos bem, obrigado — respondeu Cass, sorrindo. — Na verdade, estamos procurando alguém. Um rapaz quase da altura dele — apontou para Caven —, vestindo moletom e o pulso está enfaixado.   A moça pensou um pouco e negou com a cabeça.   — Lamento, não vi ninguém assim hoje.   Brooke veio correndo, olhando para a moça com os olhos arregalados, duas órbitas azuis que mais pareciam a Terra. Olhou para os amigos como em busca de que alguém dissesse ser mentira, infelizmente não era. Saiu da farmácia, ligando para Talin e recebendo a mesma mensagem de que caiu na caixa, deixe um recado. Prestes a se perder, Jamie o abraçou.   — Vamos acha-lo, Brooke. Vamos acha-lo antes do sol nascer — sussurrou, sentindo a pessoa em seus braços estremecer.   Arthur desfez a vista grossa. Talin nunca sumiria sem dizer para onde iria; foi esse comportamento de contar tudo que fez Brooke desenvolver essa preocupação excessiva, Arthur tinha certeza.   Caven cruzou os braços atrás da cabeça e suspirou, olhando para as estrelas.   — Talin deve estar no décimo sono na casa dele, hum? — sugeriu, olhando para Arthur.   — Não tenho certeza, duvido que deixaria Brooke sem um rastro para seguir atrás dele — suspirou Arthur, chutando algumas pedras no caminho.   Caven concordou e começou a ligar também. Passaram pela porta de Talin sem cogitar em entrar, pois, sabiam que ele não estava lá. Conforme andavam, Brooke diminuía a velocidade dos passos. Quanto mais avançava, mais perto da Toca do Coelho ficavam.   Prestes a quase parar os passos, a uns cinco metros da temida toca, Cass mandou todo mundo ficar quieto. Através dos ventos cortantes e folhas colidindo, bem atrás de todos esses barulhos, uma música do Imagine Dragons — “Birds”. Se olharam e seguiram o sinal, Brooke foi atrás, com passos lentos.   Caven chegou correndo na Toca do Coelho, arfando quando pegou o celular do chão e o virou para ver a tela, nenhum trincado. Sortudo, zombou Caven. Estava gravando, olhou os arredores e não notou nada digno de filmar. Arthur chegou depois, tomando o celular e franzindo as sobrancelhas ao ver que o vídeo estava indo para vinte e cinco minutos de gravação.   — Acharam alguma coisa? — perguntou Jamie de longe, procurando pelo dono do celular — Onde está Talin?   Cass também deu uma olhada em volta e estalou a língua.   — O celular dele está aqui, mas ele não? — indagou Cass, suspirando; o ar quente condensou no ar gelado.   — Está gravando. O vídeo tem quase vinte e cinco minutos já — respondeu Arthur, mostrando a tela.   — Vamos dar uma olhada e torcer para tirar alguma coisa disso — disse Cass, andando até eles atrás de Jamie. Viu Brooke parado, encarando o buraco no chão com olhos vazios. — Brooke?   Brooke o olhou, recuperando um pouco de foco, balançou a cabeça e tentou sorrir.   — Estou indo — respondeu, andando e hesitando nos passos.   Se inclinaram sobre Arthur. O vídeo começava com barulhos de galhos quebrando e folhas balançando. De início, não entenderam o porquê de Talin estar tão assustado com barulhos como aqueles, mas então notaram que os sons eram altos demais para um simples rato ou pássaro, até para a ventania de fim de tarde. Perceberam que Talin pensou em correr, a respiração estava acelerada e levaram um susto quando Talin gritou e o celular caiu, rolando. Depois de alguns segundos, viram uma mulher vestida de azul e usando uma máscara de prata de coruja que tapava a metade toda do rosto, até os olhos. A estranha pegou o celular e o virou e desvirou, olhando como se nunca tivesse visto nada igual. Ela largou o celular e pulou por cima da câmera, sumindo do vídeo. Daí em diante nada aconteceu na gravação.   Brooke perdeu seu medo de repente. Se ajoelhando e enfiando a cabeça dentro do buraco no chão.   — Talin, consegue me ouvir? — gritava e seu eco levava a voz embora —Talin!   Jamie e Cass o agarraram pelas roupas e o puxaram para fora. Caven se agachou, tirou o celular do bolso e ligou a lanterna. Não dava para ver nada lá dentro. Jogou uma pedra que demorou um pouco para atingir o chão; o que Caven achou curioso, pois a pedra bateu e rolou, rolou até seu barulho sumir.   — Ei, Brooke, por acaso a Toca do Coelho, que, na verdade tá mais para a Toca da Coruja, é uma espécie de escorregador do m*l? — perguntou Caven, tentando soar sério. Brooke piscou os olhos, queimando-o com o olhar.   — Como vou saber? Ninguém foi tão criativo para contar como é lá dentro. E que brincadeira é esse de escorregador? — respondeu Brooke, ignorando a menção da coruja.   — Bom, me pareceu muito que a pedra se divertiu no caminho até sabe onde essa... “Toca” dá — respondeu Caven, se levantando. Olhou para Arthur e fez referência para que ele fosse primeiro.   Arthur olhou dele para o buraco e depois para ele de novo, fazendo uma careta.   — Nem pensar, amigo — disse, falando de maneira exagerada, esticando os cantos dos lábios.   — Não vou ir primeiro — choramingou Caven, fazendo uma expressão de dar dó —, fiz a maior parte do serviço. Outro tem que ir.   — Eu acho que quem deveria ir é Brooke, ele que está desesperado atrás de Talin — sugeriu Arthur, limpando a garganta e desviando o olhar.   — Por que estamos pensando em descer? — Jamie se perguntou, em meio aos pensamentos em voz alta.   — Dá licença — pediu Cass, empurrando os outros até chegar na beira da Toca do Coelho (ou da Coruja) e se sentar colocando as pernas para dentro do buraco.   Arthur e Caven o seguraram pelos ombros com os olhos arregalados.   — O que está fazendo? — sussurrou Arthur, tentando puxa-lo de volta — Não percebe que é uma péssima ideia?   — Talin foi levado para cá...   — Não sabemos se foi exatamente por aí — interrompeu Jamie. — Quero dizer, o que poderia ter aí embaixo?   — Certeza que não sabem? — perguntou Cass, olhando as expressões curiosas dos amigos — Olhem para o chão, o que vocês veem?   A grama estava amassada e algumas foram arrancadas do chão como se alguém tivesse sido arrastado. Caven tapou a boca, indignado que não percebera as marcas no chão que levavam para a Toca do Coelho. Cass pensou um pouco e se decidiu.   — Estou indo — disse antes de se empurrar para o breu.   Os amigos gritaram. Arthur foi atrás sem pensar. Caven tentou segura-lo e acabou indo junto. Brooke e Jamie assistiram a cena e se entreolharam. Jamie fazia que não com a cabeça, mas Brooke pediu desculpas e escorregou atrás dos amigos. Jamie ficou sozinho, soprando as mãos geladas enquanto decidia se iria ou não.   Que d***a!, gritou mentalmente e pulou no buraco.   5   Cass chegou, rolando pelo gramado. O escorrega foi bem curto, na verdade. Não deu para ver nada na tal Toca do Coelho. O chão todo feito de pedras, algumas pontiagudas, o espetou em vários lugares durante a descida. Pensou em Talin sendo arrastado com o pulso daquele jeito.   Ouviu os gritos de Arthur e Caven ficando mais altos. Logo, os dois saíram rolando por cima do outro, arrancando gramas e flores. Brooke chegou perfeitamente, sem sair rolando pelos gramados. Cass e Brooke foram ajudar Arthur e Caven a se sentar.   — E Jamie? — perguntou Cass. Brooke olhou para a saída e não respondeu nada.   Jamie chegou tão rígido que as leis de Newton o fizeram ficar de pé e a se esborrachar de cara no chão em seguida.   — Está aí — respondeu Brooke, entre o riso e o desespero.   Arthur conseguiu se sentar, empurrando a perna de Caven para longe. Caven o bateu no ombro e olhou em volta como se tivesse acabado de acordar.   — Pra mais alguém a Toca do Coelho tá girando? — resmungou Caven, coçando os olhos.   Arthur olhou do mesmo jeito e fez uma careta quando a claridade da lua o acertou nos olhos.   — Para mim tá girando também. Cara, eu acho que bebemos alguma coisa — disse Arthur, segurando a cabeça para não cair.   Brooke olhou em volta depois de verificar que Jamie estava bem. Mas... a Toca do Coelho parece com o nosso mundo, pensou confuso. Só... há tantas rosas. Um campo cheio de belas rosas. E uma pessoa bem mo meio das flores... Brooke piscou e cerrou os olhos.   — Ei, é Talin! — gritou Caven, tentando ficar de pé, mas caiu devido à tontura.   Talin? Brooke quase fechou os olhos. Sim, era Talin. No entanto, os olhares de todos caíram sobre seu pulso. Arregalaram os olhos. Caven e Arthur até pensaram em estar vendo coisas. Brooke deu um passo à frente, os lábios e a voz tremendo.   — Talin, o que aconteceu?

Great novels start here

Download by scanning the QR code to get countless free stories and daily updated books

Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD