Beatrice Collalto - Sendo obeservada.

1402 Words
Beatrice Collalto Chego na cozinha e encontro apenas o Breno. Nossos pais já saíram para trabalhar faz horas. — Oi! Fratello! Já tomou café? — Oi, Beatrice. Já. Só estava te esperando para... — Está sentindo dor? — Pergunto preocupada. — Sim. Mas não se preocupe, a mãe vai comprar meu remédio hoje. — Acabou ontem? — Ele assentiu. — Vou fazer aquele chá para você. Vai amenizar a dor. — Não precisa, fratella. Vai se atrasar para sua excursão. — Vou nada. Estou adiantada. Sabe que sou pontual. Então sempre chego antes do horário em todos os meus compromissos. Faço o chá para ele e depois sento para tomar meu suco de laranja e comer um pedaço de bolo que a mãe fez. Dona Giorgia é uma cozinheira de mão cheia e me ensinou tudo que sei fazer na cozinha. Sei que ela estaria ganhando mais e trabalhando menos se ainda fosse cozinheira, mais com a doença do Breno ela começou a faltar muito e foi demitida do restaurante que trabalhava. Agora faz faxinas como diarista. Porque assim se precisar faltar algum dia é só repor depois. Ajudo o Breno a chegar no sofá. Coloco uma garrafa de água, frutas e biscoitos perto dele para que ele ande o mínimo possível. — Irmão, vai ficar bem sozinho? — Vou. Qualquer coisa grito dona Antônia, nossa vizinha. Vai tranquila irmã. Só me dá o controle do videogame. — Claro! Entrego para ele e depois beijo sua bochecha. Pego minha bolsa com meus documentos e meu celular velhinho, só serve para fazer ligações e mandar SMS. E mesmo assim agradeço por tê-lo. Pois o Breno nem isso tem. Assim que saio ouço meu irmão gritar. — Você está linda! Cuidado com os gaviões! Chego na frente da escola e vejo minhas amigas encostadas no muro. Chiara e Perla são minhas únicas amigas. Elas namoram sério já, os namorados delas são homens mais velhos, sorte delas que os pais permitiram. Porque senhor Francesco nunca permitiria que eu namorasse, ainda mais um homem mais velho. Claro que já fiquei com alguns meninos. Na verdade, foram quatro ao todo. Mas nunca passei de beijos. E todos eles se afastaram de mim por isso. Por não deixar eles tocarem no meu corpo. Nunca deixei porque não senti vontade de ter eles me tocando. No dia que senti essa vontade vou deixar, sim. Não tenho como meta de vida casar virgem. Tenho é muito medo de me entregar a um cafajeste qualquer e sofrer depois ou engravidar. Na minha idade e na condição financeira da minha família isso seria terrível. — Oi amigas! — Oi Beatrice! Você está linda. — Obrigada Chiara. Você também. Vai arrasar corações em Roma. — Nem fala isso que o ciumento nem queria que eu fosse. — O meu também amiga. E Beatrice você tá linda mesmo. E é solteira. Pode aproveitar bastante o passeio. — Perla faz uma cara de safad@ e gargalhamos. ... A viagem foi ótima. Nos divertimos muito cantando o caminho todo. Nossa turma é muito unida. Mesmo os meninos que são ex da Chiara e Perla. E os dois que já dei uns beijos. Ainda pela manhã fomos conhecer vários pontos turísticos da cidade, almoçamos e descansamos no Bioparco di Roma. É um lugar lindo, a natureza exuberante. A tarde seguimos para a visita ao Coliseu. Que realmente merece todo reconhecimento que tem no mundo. É incrível estar ali. Conseguir viajar na minha mente e parecia que estava nos tempos da Roma antiga. Quando encerramos a visita já era fim de tarde. Ficamos paradas num cruzamento de trânsito aguardando o resto do pessoal. Nós três não parávamos de conversar e sorrir. De repente senti aquela sensação como se estivesse sendo observada. E ela foi aumentando. Fique apreensiva e institivamente coloquei todo meu cabelo para o lado direito do meu rosto. É algo que faço quando estou nervosa ou ansiosa. Eu tenho um pequeno sinal de nascença no pescoço do lado esquerdo. Parece com uma pequena folha. Como a sensação de estar sendo observada não diminuiu eu olho em volta para tentar identificar quem está me observando. Não vejo ninguém. Mas vejo um carro preto lindo passar lentamente em minha frente. Encaro o vidro da porta traseira como se pudesse ver quem está lá dentro. O que não é possível, pois o vidro é escuro. Sinto que, quem quer que seja que está naquele carro me observa. Acompanho com meu olhar até o carro sumir da minha linha de visão. Pelo carro ser muito chique, chegava a brilhar e ter mais três carros parecidos o seguindo sei que era alguém muito rico. Tem que ser para andar com seguranças assim. Sorrio com o pensamento que queria que a pessoa tivesse abaixado o vidro como nos filmes que já assisti e tivesse revelado seu rosto para mim. Seria engraçado se fosse um velho e eu fantasiando aqui o amor da minha vida. Os outros chegam e seguimos viagem de volta para nossa cidade. Fico pensando naquela sensação e resolvo expulsar esses pensamentos. Interajo com as meninas e assim que chegamos elas me acompanham até em casa e depois vão embora. Como a escola é perto viemos andando. — Oi Breno! Brenooo! Corro até meu irmão que está deitado com o braço nos olhos chorando. — Onde doí irmão? O que... que aconteceu? Fala comigo! — Começo a chorar e abraço ele bem forte. — Está doendo muito irmã. Preciso que a mãe chegue logo com o remédio. — Ela vai chegar. — Tento sorrir para ele. — Vou pegar umas compressas de água quente, vai ajudar. Sigo para cozinha em lágrimas. Preciso achar um jeito de ajudar mais em casa. Ou pelo menos comprar os remédios do Breno antes que acabe. Não suporto vê-lo sofrer. Depois de um tempo a nossa mãe chega e ela conseguiu comprar apenas uma caixa do remédio, Breno precisa de duas por mês. — Filho, meu amor. Não se preocupe seu pai vai comprar a outra caixa ainda essa semana. Ela abraça o Breno e me olha, vejo dúvida em seu olhar. Nesses momentos odeio não poder ajudar mais. Quero muito fazer logo 18 anos e começar a trabalhar. Se for preciso adio meu sonho de fazer faculdade, o mais importante é a saúde do Breno. ... Meu pai chegou bem tarde. Ele estava visivelmente cansado. Breno já estava dormindo e minha mãe acabara de ir para o quarto. — Oi filha. Ainda acordada? Como foi o passeio? — Foi ótimo pai. Lá tudo é lindo. — É mesmo. Sempre que passo pelas ruas de Roma fico admirado. Ainda acho que viveríamos melhor se tivéssemos nos mudado. — Talvez. Vou esquentar seu jantar. Vá lavar as mãos. Anos atrás meu pai estava decidido a vender tudo aqui e íamos nos mudar para capital. Ele até já estava vendo comprador para nossa casa, que foi herança dos pais dele. Ele ia vender até o caminhão baú. Mas misteriosamente ele começou a ter prejuízos no trabalho. Trocou de emprego várias vezes em meses e as dívidas se acumularam. Foi aí que o amigo dele, que é meu padrinho conseguiu esse emprego para ele fazer entregas. Mas teve que regularizar os documentos do caminhão. E só aí foi um grande empréstimo que ele pegou com meu padrinho. Até hoje acho que ainda está pagando. E as vezes algumas cargas estragam e ele fica no prejuízo, não recebe nada. Ainda bem que meu padrinho não desconta dele todo valor da carga. Só metade. Enfim, sempre que as coisas se complicam ele volta a pensar que devia ter insistido e nos mudado para Roma. Eu começo a achar que realmente teria sido melhor. — Pai, agora vou dormir. O dia foi cansativo. — Vá dormir minha filha. Te amo! — Também te amo pai. Ah! E tudo vai ficar bem. — Vai sim filha! Ele segura minha mão e deposita um beijo. Me troco e faço minha higiene, deito e demoro alguns minutos para adormecer. Acordo com o coração acelerado após sonhar com aquele carro. Eu estava andando por ruas que nunca vi e era seguida de perto pelo carro. Ciente que não conseguiria fugir para sempre, eu parava e a porta de trás do carro se abria. Mas antes de alguém descer eu acordei. — Nossa que sonho estranho! Fiquei mesmo com aquele carro no pensamento, que até sonhei.

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