Hugo Raffael Mariano
Nem posso acreditar que esses malditos espanhóis voltaram a nos atacar. E o pior é que eles foram astutos e atrevidos. Nos atacaram em nossa casa.
— Vamos para sede da máfia? Valentim! — Chamo pelo meu irmão que está encarando os malditos.
— Sim. Nicolas, já saíram do galpão? — Ele pergunta no comunicador.
— Já estamos de saída. Não se preocupem. Já inicie o protocolo cinzas, como nossa localização foi comprometida, vamos mudar as rotas e isolar esta área por alguns meses. Vamos levar os portugueses. Como desejam prosseguir com eles “Consiglieres”?
Valentim me olha e assenti.
— Vamos considerá-los suspeitos até investigarmos. Mas não os trataremos como inimigos. Ainda.
Sorrio com a fala do Valentim.
— Alessandro, pode levantar tudo sobre o soldado que está com vocês. Vou enviar as digitais dos dois que capturamos. Queremos as fichas completas rapidamente. Precisamos apresentar todos os fatos pela manhã ao Dom Ângelo.
Comunico e sei que meu pai já está acompanhando tudo.
Assentimos mutuamente e seguimos em rotas novas para a sede da máfia. Os arcanjos Lucca e Raffael gesticulam positivamente para nós. Acho que eles aprovaram nossa atuação.
Valentim é o mestre da tecnologia dentre os herdeiros. Ele aprendeu de tudo com o arcanjo Alessandro e o conselheiro e ex arcanjo Vottório. E depois aprimorou e muito seus conhecimentos.
Eu sou o especialista em negociação, medicina, biologia e tudo que envolva química. Além de ser um soldado altamente treinado com um QI elevado.
Sou o mais reservado e analítico dos três. E o mais diferente fisicamente também. A cor dos meus olhos é de um azul mais escuro do que os dos meus irmãos, que herdaram olhos idênticos ao da nossa mãe. Azul gélidos. Alguns traços físicos nos diferem bastante também. Tanto que é simples me identificar. Já o Lorenzo e Valentim até eu já os confundi quando ainda éramos crianças.
Hoje sei que o Valentim é o mais estourado e brincalhão. Lorenzo mesmo quando está se divertindo tem uma expressão mais séria. Além de ter um olhar mais compassivo quando está conosco.
Em resumo somos muitos parecidos com o nosso pai. Cabelos idênticos, altura (sou o mais alto de todos por 2 centímetros a mais), porte atlético, temos rostos parecidos, mesmo eu tendo as maiores diferenças dentre os 4. Minha fisionomia herdou alguns traços mais suaves da Dama Valentina.
Lorenzo e Valentim não tem tatuagens. Eu tenho duas, uma no ombro que é o brasão da família Mariano, um M envolvido por asas e espadas. E um anjo nas costas no lado esquerdo.
No quesito mulheres, sou o mais reservado, tenho meus motivos. Sei que meus irmãos não entendem e acham esquisito. Não sou gay e eles sabem disso. Mas desde que os espanhóis nos atacaram pela primeira vez, quando ainda erámos apenas meninos, algumas coisas me marcaram e condicionaram o meu comportamento.
Lembrança on:
Nós tínhamos 8 anos, nossa mãe estava grávida da Angelina de apenas alguns meses, mas sua barriga já estava grande. Nosso pai viajou com a maior parte dos arcanjos para um compromisso da máfia.
Estávamos seguros com as afrodites, os arcanjos Ruan, Gianluca, Valentim e todos os soldados da mansão.
Porém, Lorenzo e eu queríamos ir ao shopping comprar com nossa mãe presentes para nossa irmã.
Após muito insistirmos conseguimos convencer a nossa mãe. O Dom Ângelo autorizou e um esquema de segurança foi traçado.
Passamos horas no shopping, tudo foi muito divertido, compramos muitas coisas e os soldados foram levar as sacolas até os carros. Ficamos com os arcanjos e afrodites. E nesse momento eles receberam alertas nos comunicadores. Estávamos sobre ataque eminente. Cada uma das afrodites fez proteção corpo a corpo com um de nós. Os arcanjos assumiram o protocolo Vitta. As comunicações caíram por alguns minutos e tínhamos que sair imediatamente do shopping. As escadas seriam muito arriscadas e no elevador não poderíamos seguir todos juntos.
— Meus filhos vão comigo. Não vou me separar deles, arcanjos. Sei que esse é o protocolo. Mas nem mesmo o Ângelo me convenceria de me separar deles. — Nossa mãe falava determinada.
— Vamos com nossa mãe. — Lorenzo falou com determinação.
— Nós vamos proteger a nossa mãe e irmã. — Valentim disse com raiva.
— Juntos seremos alvos mais valiosos. Mas seremos mais fortes. — Explanei.
Apesar de novos, sabíamos que nosso pai junto aos arcanjos criou vários “protocolos” para serem usados nessas situações e em tudo que nos envolva. Contudo não conhecemos a maioria deles ainda. Mas se nossa mãe não aceitou se separar de nós com certeza iríamos apoiar a sua decisão.
— Vou com vocês no elevador, Ana e Michele nos acompanhem. — Gianlucca ordenou e nos separamos assim no elevador.
Assim que chegamos à garagem subterrânea os arcanjos, a Vittória e a Samara saíram para averiguar o perímetro o elevador que estávamos se fechou e começou a subir. Ouvimos os gritos dos arcanjos. Ele estava sendo controlado remotamente. Pois não respondia aos comandos quando apertávamos os botões.
Paramos na garagem da cobertura. Logo que a porta se abriu todos nós nos olhamos. E hesitamos em sair. Mas aconteceu um apagão e não tínhamos outra alternativa ou ficaríamos presos no elevador.
Saímos e as afrodites Ana e Michele nos conduziram até um ponto seguro atrás de alguns carros afastados das portas de entrada dos elevadores.
— Dama, estamos no escuro. Não sabemos o que está acontecendo. Mas o protocolo manda que separemos o futuro Dom de...
— Não. Não irei a lugar algum. Mãe, não vamos nos separar. Ordene que elas nos deem armas. Nós já sabemos usá-las e vamos lhe proteger. — Lorenzo implorava a nossa mãe, mas mantinha a voz firme.
Eu observava atento e Valentim também. Ouvimos tiros. Isso não nos assustava. As luzes de emergência se acenderam. O celular da nossa mãe começou a tocar e ela atendeu.
— Ângelo, o que vamos fazer?
Um silêncio apavorador se fez.
— Não posso fazer isso Ângelo Mariano. Eu não saberei viver depois disso.
— Mãe o que o papai disse? — Pergunto ao ver o seu olhar aflito.
— Ele pediu para lutarmos custe o que custar e lembrar as minhas amigas que aqui elas... — A Dama Valentina chorou. E entendi.
Nossas tias teriam que se sacrificar por nós se fosse necessário. Afinal aqui elas eram a nossa proteção.
— Pai, nós vamos proteger a mamãe e Angelina. Espero que todos os soldados da máfia Mariano já estejam a caminho e prontos para guerra. Ninguém tocará na minha mãe enquanto eu viver.
Lorenzo era a versão criança do nosso pai nesse momento. Ele nasceu para ser o DOM. Não há dúvidas quanto a isso.
Já sabíamos do ataque que matou as nossas avós. É claro que nesse momento meu pai estava disposto a tudo para que nós não perdêssemos nossa mãe e nem ele perdesse a nós ou a ela.