Cap 3

1440 Words
Ísis Aquela gravidez não foi fácil, a minha menina a toda hora me lembrava que merecia mais atenção do que o irmão, parecia até que o ciúme já tinha se instalado na minha casa antes mesmo dela nascer A maioria das mulheres, quando tem alguma alteração de pressão na gravidez, é mais para a pressão alta do que baixa, muito mais, eles chamam isso de eclâmpsia, que é quando a mãe tem essa alteração na pressão, para alta, depois que passa da vigésima semana de gestação, levando a inúmeras complicações e até à morte da criança, mas eu, como sempre, tinha que ser diferente, a minha pressão abaixava demais, tanto que depois do sétimo mês, fui proibida pelo Felipe de sair de casa, aquele ali morria de medo até de uma brisa passar por mim de um jeito diferente O orgulho que sinto por ele é inexplicável, eu sabia que ele seria o melhor pai que eu podia imaginar, só não achei que a minha imaginação não chegaria nem perto do que ele se propôs a ser. Orgulhoso, amoroso, dedicado, atencioso e...ciumento Quando o Dominic nasceu, me lembro bem, fui até a casa da Janete para poder passar uma tarde com ela e levei o meu menino, lógico, eu nunca me desgrudava dele. Meu Deus, eu tinha hora certa para ir embora, ele iria me buscar, mas chegou umas meia hora antes do combinado, com o Dom ainda dormido A expressão que ele fez ao ver que o menino estava dormindo tranquilo no colo dela deu medo até a minha sétima geração, no mesmo instante ele correu para pegar a criança e passar o tempo embalando e ninando porque, com o susto, meu pequeno tinha acordado e desatado a chorar Aquele homem gigante ninando o meu pequenino...era tão pequenininho diante daquela proteção toda...mas com a Liz foi ainda pior e olha que ela acabou de nascer. Se ele estivesse em casa, ninguém tinha o direito de chegar perto da minha barriga, tanto que ele simplesmente dava um jeito de deixar a sua cabeça nela e ficava ali por tempos, passando suas mãos grandes e monopolizando o momento, até mesmo o Dom tinha que esperar para ter a atenção do pai Isso foi motivo de tantas brigas, mas tantas brigas...JL dizendo que a menina deveria sentir o tio, a Kéka aos berros tentando acalmar o Henrique porque o menino queria ficar próxima à prima, minha mãe se magoando porque nem ela podia ficar a todo momento me mimando Acho que foi Deus que percebeu o que estava acontecendo e decidiu intervir com esse negócio de pressão, assim, todo mundo teria o seu momentinho cuidando de mim e da Liz Montanha – Fioti do céu, eu tô é fudido, já viu o olho de jabuticaba da guria Ísis? Igualzinho a tu, té vendo as lambada que vô ganhar da vida Ísis – Lambada? Não entendi Montanha – Tu acha que neguim num vai querer dá os perdido pra cima de mim miúda? Caindo na lábia de garoto s*******o, tu acha mesmo? Tô até vendo, essa aí vai para quarteirão igual a mãe Ísis – Ai Fê, não exagera (risos) Ele estava parado e encostado na parede que ficava de frente à cama de hospital, conversando comigo ao mesmo tempo que o teto chamava a enorme atenção dele, mas quando eu disse isso, ele veio ao meu encontro, se sentou e acariciou o meu rosto Ele gostava muito de fazer esse gesto e eu ainda mais de receber. O grande Montanha era muito mais do que as pessoas diziam, muito mais do que o cara sem compaixão, que vai até o fim quando o assunto é defender aqueles que ama, sem se importar a quem tem que fazer sofrer para poder se vingar Eu sempre achei que era só isso que faltava na vida dele, formar uma família porque ele não tinha mais aquela aonde ele foi formado e estava completamente certa, parecia que tudo aquilo tinha trazido mais sentido pra vida dele Não digo que para as pessoas lá fora ele tinha mudado, porque não foi isso que aconteceu, mas do nosso lado sim, mudou completamente, ele era um simples homem que fazia de tudo para agradar os amados, e como eu amo tudo isso Depois de dois dias a gente voltou para casa e eu via no semblante dele que alguma coisa não estava bem, então decidi ir direto ao ponto Ísis – O que está te incomodando tanto hein? Você não está conseguindo disfarçar... A demora dele em responder me deixou preocupada, seus olhos estavam negros, da mesma forma que eu via quando algo que ele achava que não podia resolver acontecia Montanha – Num quero fica colocando minhoca na tua cabeça não miúda, é coisa minha Ísis – Então a partir de agora é coisa nossa, certo? Montanha – É que...aquele negócio lá de quando o Dom nasceu, sei lá, não consigo parar de pensar Me lembro muito bem do desespero do Felipe quando meu filho nasceu, ao achar que o menino podia ter desenvolvido ou nascido com a mesma doença com que eu nasci, mas essa possibilidade foi logo decartada...logo depois do Felipe ter exigido que o médico solicitasse todos os exames que provavam que o pensamento dele estava errado. Pelo visto a mesma coisa o está incomodando agora que a Liz nasceu Montanha – Eu não sô louco miúda, só cagão mesmo, quando o negócio é com vocês, o cagaço vem com força Ísis – Bom, se te deixar mais tranquilo, a gente faz os exames nela também, só acho que não tem necessidade Montanha – Tu acha? Ísis – Sim, eu sinto que ela é simplesmente perfeita Fe Montanha – Sim, eu também, mas não custa nada confirmar né, vu lá vê com o branquinho Ísis – Montanha sendo Montanha... *** Como imaginado, a garota é perfeita e não só na saúde, em todos os sentidos, pensa numa criança que não dá trabalho, até para chorar eu acho que ela pensa se vai dar trabalho para algum de nós, ela é simplesmente perfeita Acho que fui escolhida a dedo, porque do jeito que o Felipe é, ficaria perdidinho se a menina chorasse por conta de uma cólica Flashback on Ísis – Fê, pega o Dom para mim, ele está chorando – gritei dentro do banheiro mesmo, ainda no meio do meu banho Montanha – p***a pequena, o menino tá catingado aqui, sai logo que ele quer bater um léro contigo Por mais que eu tentava ser rápida no meu banho ou na hora de comer ou em qualquer outra coisa, parecia que meu filho sabia quando eu não estava perto dele, mesmo em sono profundo, as vezes me peguei pensando se não era o cheiro do leite que diminuía quando eu me afastava e ele, como medo de perder a t**a ambulante, porque era isso que eu tinhamer tornado, chorava desesperado Ísis – Vê se ele fez cocô Fê Silêncio... Montanha – Cocô? O menino se desfez em merda aqui Ísis, vem logo carai Ísis – Meu Deus, é só limpar e trocar de fralda E o silêncio pairou novamente, mas dessa vez ficou mais longo, o que me fez acelerar ainda mais a minha vestida e ir ver o que estava acontecendo. Eu simplesmente encontrei o homem que tinha o vulgo de Montanha – por um óbvio motivo – com um prendedor de roupa e mesmo assim, fazendo careta além de ânsia para trocar a fralda de uma criança praticamente recém nascida Ísis – O que você está fazendo? Montanha – Tentando trocar essa bomba atômica aqui. Miúda do céu, o bacuri só toma leite, LEITE, como é que pode conseguir solta essa catinga pelo r**o? Leite não fede assim não Ísis – (Risos) sempre exagerado né Fê, pode deixar que eu termino aqui Montanha – Graças a Deus, depois é só toma banho de novo né pequena, vai que esse fudum pega né Ele saiu igual a um tiro, essa era uma das únicas coisas que ele não conseguia fazer de jeito nenhum e eu achava muita graça Flashback off Quanto ao Dom, ah...ele tem sido o melhor filho do mundo, já está com quase três anos então compreende que minha atenção, em certos momentos, tem que ser apenas da Liz, mas me parece que ele não se importa, seu olhar é tão amoroso, tão amoroso que as vezes me sinto com remorso de ter que deixá-lo para atender a Liz Sempre presente, sempre fazendo carinho na irmã aonde ele consegue, na perna, no braço, Deus me deu os melhores filhos do mundo
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