A caminhada até lá foi silenciosa. Julietta sentiu por muitos momentos que Romeu ainda queria falar algo. Ela suspirou impaciente, se arrependendo do que iria falar.
- O que está lhe afligindo?
- Eu… não gosto de lugares fechados. – Ele respondeu a ela afrouxando o nó da gravata. Romeu estava suando frio. Claustrofóbico? Pensou Julietta. Ela tinha a mania de ficar tentando ler as pessoas.
- Estamos quase chegando. – Ela falou tentando o deixar confortável.
- Buono. – Romeu apenas murmurou, ainda não se sentindo muito bem.
Alguns passos mais à frente é Romeu quem quebra o silêncio.
- Salvatore é mesmo seu pai?
- Sì. – Ela responde, mas corta o assunto ali mesmo.
- Toda a sua família é… daqui? - Ele perguntou não deixando o assunto morrer. Curioso.
- É, basicamente. Menos a tia Gina. – Ela responde no automático, entrando no túnel à direita.
- Ela é… dona de casa? - Romeu tentou adivinhar.
- Não. Ela é monge budista. – Julietta diz normalmente, abrindo a porta de sua sala e entrando, deixando para trás um Romeu extremamente surpreso, mas que se mantém em silêncio.
*
20 horas.
Assim que passaram por uma porta grande de carvalho escuro, no fim de um longo e solitário corredor, Julietta entrou indo até sua mesa. Ao se virar, viu Romeu impressionado com o ambiente. A sala era realmente enorme. Uma mistura de oficina de equipamentos, sala de treinamento e escritório, com uma arquitetura renascentista e um pouco medieval. Com muitos móveis em madeira escura, cadeiras e poltronas em couro escuro e sem nenhuma janela.
- Lorenzo! – Ela gritou para dentro do ambiente, tirando seu casaco e o deixando sobre a cadeira. Ninguém a respondeu.
- Acho que não tem ninguém. - Romeu diz a ela dando os ombros. Julietta revira os olhos. - Voltamos outra hora?
Vou descontar do salário dele. Ela pensa suspirando para tentar se acalmar.
- Bom... já que estamos aqui Mr. Aquino, pode me contar como aconteceu os assassinatos? – Julietta pergunta voltando a focar na missão. Ela não ia desperdiçar seu precioso tempo.
- Romeu. Pode me chamar de Romeu. - Ele explicou a ele, com gentileza. - Mas... você não vai ler os arquivos, senhorita? – Ele fala apontando para os papéis atrás de Julietta.
- Não gosto de papéis. – Ela responde o cortando.
- Oh... va bene. – Romeu fala se dando por vencido e indo até o sofá que ficava no meio do ambiente, como se fosse uma pequena sala de espera. - Posso?
- Sí. – Ela diz, deixando que ele sente. Julietta senta na cadeira atrás de sua mesa.
- Dois deles estavam juntos, faziam uma entrega. Sofreram uma emboscada e morreram baleados. - Romeu faz uma pausa, possivelmente relembrando os conhecidos.
- E o outro?
- Sofreu um acidente de carro e morreu com a explosão. - Finalizou Romeu baixando o olhar. - Encontramos a carta perto do carro em chamas.
- Eles tinham algo em comum?
- Tirando o fato que eles trabalhavam para mim? - Romeu fala com sarcasmo, voltando a olhar para Julietta.
- É. – Ela diz séria.
- Não sei...
- Tem alguma foto deles?
- Tem nos arquivos. – Romeu responde olhando para a mesa.
Julietta passa a língua por dentro da boca, tentando evitar um palavrão. Espertinho. A conversa é interrompida por Lorenzo entrando na sala.
- Ah, Olá. - Ele fala baixinho meio surpreso e meio decepcionado em ver que não estava sozinho. Lorenzo estava com um monte de papéis em uma mão e um copo de café na outra. Tinha altura mediana, era magro, pele pálida, cabelos escuros e lisos até a altura dos olhos. Usava óculos de grau e sempre andava vestindo roupas sociais com um colete.
- Já estava na hora de aparecer. Estava quase indo ligar para Guarda Suíça*. – Julietta fala a Lorenzo o provocando.
- Ha Ha. Muito engraçado. – Ele responde bem sério, indo até a segunda mesa que havia na sala.
Julietta levanta e vai atrás de Lorenzo. Romeu também levanta, tentando entender o que estava acontecendo, mas ele opta por ficar próximo ao sofá.
- Romeu, esse é Lorenzo Assis, ele fabrica todo meu equipamento, veículos e me ajuda com os sistemas de segurança. Além de ser meu fiel secretário. – Julietta diz apresentando Lorenzo. - Mas muitas das vezes ele deixa seu ego crescer a níveis alarmantes, o que prejudica sua produtividade.
Lorenzo dá um sorriso forçado a Julietta.
- Grazie mille por destruir meu nome em menos de dois minutos. - Lorenzo fala se aproximando de Julietta.
- Disponha. – Ela o responde com um sorriso e uma piscadinha, sentindo Romeu segurar um riso.
Por mais que Julietta e Lorenzo às vezes trocassem algumas farpas, ele era o melhor amigo dela, eles cresceram juntos e Julietta nunca deixaria nada de r**m acontecer a ele, por mais que ele soubesse se virar sozinho.
- Lorenzo esse é...
- Eu sei quem ele é. - Lorenzo a corta. - Muito prazer em conhecê-lo Mr. Aquino.
Romeu o cumprimenta, mas Julietta interrompe o momento feliz deles.
- O que tem para mim? – Ela pergunta a Lorenzo.
- Fui atualizado do caso por seu pai. Depois fiz uns ajustes a suas armas e já as coloquei no seu carro. Também aproveitei e atualizei o GPS e o rastreador. Por isso eu demorei. - Lorenzo explica a ela, entregando a chave do jeep.
- Grazie. – Ela falou com um breve sorriso pegando as chaves.
Romeu, que já estava um pouco impaciente, os interrompe:
- Aquila Nera... – Ele fala chamando a atenção dela. Julietta vira e olha para ele, calma e serena.
- Pode me chamar de Julietta. – Ela disse a ela, por alguns segundos, se esquecendo do real motivo de tudo aquilo. Romeu concorda e continua:
- Isso vai demorar muito?
- Não muito, porque?
- Preciso ir a uma reunião. Da máfia. – Ele explica enquanto tirava seu relógio de bolso para verificar a hora.
- Pode ir se quiser. Encontro você depois. – Ela apenas fala, voltando-se para Lorenzo.
- Você agora é minha segurança. Precisa ir comigo. – Romeu responde a ela em alto e bom som.
Merda. Julietta pensa consigo mesma, fechando os olhos. Lorenzo percebeu a cara de ódio dela, mas nada falou. Julietta respirou fundo.
- Va bene. Já vamos. – Ela acabou falando, se dando por vendida.
Lorenzo acaba sua explicação, e assim, Julietta e Romeu partem para o estacionamento. Romeu já estava se encaminhando para o lado do motorista, quando Julietta se colocou entre ele e a porta:
- O que está fazendo? – Ela pergunta curiosa.
- Vou dirigir.
- Não, não vai. Está no meu território Mr. Aquino. E esse é meu carro. Eu dirijo. – Ela diz abrindo a porta e entrando no jeep. Quando fecha a porta, ela vê que mesmo perplexo com a atitude dela, Romeu seguiu para o lado do passageiro.
Julietta os levou de volta às ruas com um pouco de velocidade. Já passava das dez horas da noite.
- Não pode ir um pouco mais devagar? - Romeu falou algum tempo depois. Ele parecia um pouco assustado, estava segurando com força no banco. - Gostaria de chegar vivo, de preferência.
- Gosto de correr. – Ela diz sua voz gentil. O velocímetro do painel já marcava 120 km/h - Não se preocupe Mr. Aquino, nunca sofri nenhum acidente. Mas se batermos, só nós vamos morrer. Não levaremos ninguém conosco.
- E acabaremos em um lugar bem quente... – Ele conclui ainda mais preocupado.
- Bom, fale por você. – Julietta respondeu com segurança. - E então, para onde vamos?
- Para o Panteão*.
- Porque vocês mudaram o lugar da reunião?
Romeu ficou branco e olhou para ela com muita surpresa.
- N-não mudaram. Sempre foi lá. – Ele tenta desconversar e mentir com dificuldade.
- Ah, per l’amor di Dio! – Julietta fala batendo as mãos no volante. – Vocês mafiosos mentem muito m*l!
- O que quer dizer com isso? - Romeu a questiona, se fazendo de desentendido.
- As reuniões de vocês são sempre no Palácio Barberini* e eu acho que mudaram, por medo de serem descobertos. Acertei?
Romeu olhou para ela incrédulo.
- Como sabe disso, Sherlock? – Ele pergunta chocado.
- Eu sou, acima de tudo, uma espiã. Sei de muitas coisas. E sim, gosto de ler as aventuras do Mr. Holmes. – Ela fala com um sorriso de canto. - Sei que na última noite você dormiu poucas horas. Que seu terno é Armani*. Que você sempre arruma seu cabelo para o lado direito e por algum motivo, hoje não arrumou, talvez seja porque está pensando muito em resolver esse caso e está se esquecendo de cuidar da própria aparência e que agora você está ficando bravo comigo. – Julietta responde, lançando um rápido olhar sobre Romeu, que não responde nada. É, ela acertou.
Julietta continua dirigindo, agora com o silêncio que caiu dentro do carro, até que chegam ao Panteão.
- Julietta, há algumas coisas que preciso que você sabia antes da reunião. – Romeu murmurou logo após sair do carro e fechar a porta. - Mulheres não são bem-vindas por lá.
- É, eu já desconfiava disso. – Ela falou enquanto pegava sua máscara e fechava sua porta. - Não se preocupe. Sei me defender.
- Eu sei. Eu temo é por eles. – Romeu diz sério, a fazendo dar uma leve risada. - Mais uma coisa, antes que você pense que eu só a chamei para essa reunião porque queria sua companhia é muito mais que isso. Na máfia ninguém se apresenta sozinho. Há sempre um segurança. Um precaução. - Romeu explica colando as mãos no bolso.
- E deixe-me adivinhar, vim com você porque os caras que morreram eram seus seguranças e agora você não confia em mais ninguém, não é? – Ela pergunta parando na frente dele. Romeu não a responde e ela aceita sem silêncio como um sim. - Certo. Andiamo.
*
*Nota: Guarda Suíça é a responsável pela segurança do Papa no Vaticano.
O Panteão é um templo dedicado aos deuses romanos.
O Palácio Barberini atualmente acolhe a Galeria Nacional de Arte Antiga de Roma.
Giorgio Armani é um dos mais conceituados estilistas italianos. Fundou a sua companhia, a Giorgio Armani S.p.A., em 1974, e já foi o designer de moda independente mais bem-sucedido do mundo.