Ceci - Não mamãe, todo dia é a senhora, hoje é a vez do tio contar uma. Né tio?
Eduardo - Mais eu não sei nenhuma história de princesa.
Ceci - A mamãe sempre conta uma história diferente, pode ser qualquer história.
Eduardo - Certo, vamos pra cama.
É só a Cecília sorrir que o cara inseguro some, surgindo outro que quer agradar totalmente essa criança.
Vou até o quarto com os dois e ajudo arrumar os urso e a Ceci na cama.
Eduardo - A história se passa a selva.
Ceci - O que é selva?
Eduardo - Um lugar onde tem muito mato.
Ceci - Mais por que?
- Cecília a história é pra dormir. (digo)
Eduardo sorri, eu conheço a minha pequena história nova, assunto novo, as perguntas seriam infinitas.
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A minha rotina matinal sempre foi a mesma, só que agora tenho mais uma companhia além da minha ursinha.
Eduardo já está acordado antes mesmo de eu levantar, está na cozinha passando o café. Quando eu entro no quarto da Ceci para pegar roupas, para colocar na bolsa dela, noto que a cama está bem arrumada e todas as cobertas estão dobradas.
Vou até a cozinha ele me dirige um bom dia um tanto tímido, me olhou por poucos segundos e se sentou a mesa. Quando estamos apenas nós dois tudo costuma ser um pouco silencioso demais pra mim.
Ceci - Bom dia tio, eu dormir na parte que a zebra se apaixona pela girafa. Eles foram felizes para sempre? (diz indo como um foguete para cima dele)
- Calma mocinha, você acabou de acordar e já está assim?
Ceci - Só queria saber, mamãe.
Eduardo - Eles são amigos, e permaneceram assim.
Ceci - Poxaaa, então não teve o felizes para sempre?
Eduardo - Teve porque mesmo eles sendo grandes amigos ele continuaram juntos.
Ceci - Aaaah!
Assim que ouço a buzina apresso minha pequena e a coloco dentro da pirua.
Logo em seguida me troquei e fui para o trabalho, talvez só talvez a minha confiança no Eduardo tenha aumentado, porque dessa vez eu deixei a chave do portão de casa com ele. Chego na loja mais que animada, o salário pode ser pouco mais a animação é garantida por causa da equipe maravilhosa que trabalho e dos meus chefes qua m*l aparecem aqui.
Pouco tempo depois do meu horário de almoço o Kinho apareceu e com ele uma sacola enorme de roupas eu simplesmente o abracei de uma forma agradecida e um tanto apertado. Esse homem é simplesmente o irmão mais velho que eu não tenho, eu me sinto tão grata pelo carinho que ele tem por mim e por minha ursinha.
Já no final do meu expediente tive um problema no caixa, eu estou me sentindo péssima pois meu salário já não é lá essas coisas e descontar qualquer valor vai me ferrar muito, ainda mais agora que tem mais uma boca para comer.
Graças a Deus foi apenas uma nota que o Erick emitiu errado para o cliente e não teve falta, o único problema é que acabei perdendo meia hora aqui nessa brincadeirinha de tentar achar esse erro.
Saio correndo da loja e vou direto pra casa, a perua escolar já deve ter passado, ainda estou na esperança de que eles estão lá me esperando. Viro a esquina e não vejo ninguém no meu portão, o desespero já começa querer me consumir pois já está escurecendo e não sei onde está minha pequena. Chego no portão toda esbaforida e sufocada pela minha própria respiração.
- Eduardo! Eduardo! (grito batendo no portão desesperada) - Eduardooo! Eduardo!
Ele abre o portão com a maior cara de assustado, acho que os meus gritos devem ter lhe causado isso porém ele não está mais assustado que eu, por ter cometido essa falha com a minha filha. Eu entro como um furacão a porta está fechada porém destrancada.
- A Ceci…
Eduardo - Ela está lá dentro, ela chegou com a perua e ficaram um tempo aí no portão, eu pensei que você fosse chegar e como não chegou eu abri o portão e ela me viu, a tia da perua disse que eles precisavam levar outra criança que também atrasou, então falei pra deixar ela comigo. A Cecília me disse que você não gosta que entre em casa da rua sem tomar banho, então eu fiquei aqui fora pra ela tomar o banho dela sossegada, sem falar que ela disse que sabe se virar.
Eu permaneci parada ouvindo tudo o que ele acabara de me falar, meu nervosismo foi passando, quando percebi ele estava me olhando enquanto me conta tudo o que aconteceu.
- Obrigada, aconteceu um pequeno problema no meu trabalho por isso me atrasei, e obrigada por respeitar a minha filha.
Ele apenas acenou com a cabeça e voltou a sentar no degrau que tem na porta da área de serviço, e eu logo me apressei pra ver minha pequena.
- Meu amooor.
Ceci - Estou aqui mamãe.
Ela está tentando prender o cabelo, já toda banhada e vestida. Puxo ela e lhe dou abraço bem apertado.
- Está tudo bem, meu amor?
Ceci - Tudo, o tio Edu me pegou hoje, ele está lá fora esperando eu terminar de tomar banho.
- Certo, a mamãe vai tomar um banho e já volto, tá bom?
Ceci - Tá, vou lá pra fora esperar com o tio.
Ela sai correndo e foi nesse momento que eu me lembrei das sacolas.
- Eduardooo, entra aqui preciso te mostrar umas coisas.
Ele entra e se senta no sofá, como disse a minha casa é pequena e na sala só há um sofá e uma pequena estante apenas, não tenho tv e agradeço pois fui criada sem e faço da mesma forma com a minha filha, a curiosidade dela vem dos livros e de genes mesmo, porque eu me lembro que eu era igualzinha.
- Olha, consegui essas roupas pra você. E tem esses sapatos também.
Eduardo - Já disse que você não precisa se preocupar Amanda.
- E eu já disse que não é incômodo, depois que tomar seu banho pode colocar uma roupa limpa, se quiser até pode ir agora enquanto eu adianto o jantar.
Eduardo - Eu já fiz, pensei que você fosse chegar cansada então eu quis ajudar.
- Você fez? Você sabe cozinhar?
Eduardo - Acho que sim, espero que goste.
Ceci - O senhor faz bolo tio? De chocolate?
- Você sabe que doces só pode no fim de semana mocinha.
Ceci - Não custa tentar.
Eduardo - Vai la pegar seus brinquedos o tio vai tomar um banho e depois vou la brincar com você. Obrigado Amanda (diz me agradecendo)
Ele pega a sacola da minha mão e me dá um abraço, a sua reação foi tão inesperada por mim, que eu levei um certo tempo para poder assimilar, mais retribui com o máximo que eu consegui.
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Depois de todos de banho tomado, nos sentamos para apreciar o frango a parmegiana, com um delicioso arroz branquinho e soltinho, confesso que nem o meu sai desse jeito.
Uau! Seja lá o que ele fosse no passado ele manda muito bem na cozinha, não consegui conter os elogios e ele apenas sorria em agradecimento.
Um lindo sorriso por sinal, não devo criar sentimentos, afinal ele está perdido e ainda pode ser casado e já ter uma família.
Eu me pego o encarando por minutos enquanto a Ceci nos conta sobre o seu dia na escola e das coisas que aprendeu. Ele percebeu e acabou me encarando também e sorriu, eu também acabei sorrindo e foi um sorriso que eu não dava a muito tempo. Até ouvir alguém bater na portão.
Ceci - Tio Kinho! (diz pulando em seus braços assim que o vê passar na porta)
Me espanto quando abri o portão e o vejo Kinho e a Karla parados em frente da minha casa, não que eles não venham aqui porém em dia de semana é muito raro deles aparecerem. A não ser que tenha acontecido algo muito grave.
Karla - Preciso falar o porque estamos aqui? (diz assim que dei passagem pra eles entrarem)
Não, não precisa o Kinho me pareceu muito calmo hoje quando me entregou as sacolas, sem nenhum sermão ou algo parecido.
Ele encarou a Karla de um jeito que a mesma nem se quer ligou, eu amo esses dois.
Estão com duas caixas de pizza, minha zoiudinha vai amar.
Karla - Agora é só o tio Kinho? Eu não sou mais a queridinha da Princesa Maria Cecília Primeiro?
Ceci - A senhora é tia Ka, a mais linda.
Agora entendem porque eu amo esses dois?!
Tem um ditado que diz: “Quem trata bem os meus filhos a minha boca adoça”. É sobre esses dois, confio neles de olhos fechados para cuidarem do meu pequeno tesouro.
Kinho entrou e logo deu de cara com o Eduardo que ainda permanece sentado, porém agora está de cabeça baixa.
- Eduardo, venha conhecer meus amigos.
Eduardo - Se você quiser eu posso esperar lá fora.
- Não! Que absurdo é esse? Tá doido? Vem!
Ele se levanta tímido e olha para o Kinho
Eduardo - Eduardo! (se apresentou apertando a mão do Kinho)
Kinho - Maicon!
Karla - Eu sou Karla, é um prazer te conhecer.
Karla como sempre a mais entusiasmada, mesmo com a Ceci no colo ela não deixou de dar um meio abraço no Eduardo.
Karla - Seja bem vindo Eduardo, conte comigo pro o que você precisar. (diz e Kinho fez um barulho com a garganta logo em seguida) - E com o meu namorido também, ele só tem a cara de bravo.
Kinho - Eu sou calmo, é só não mexer com quem eu amo. (diz bem sério encarando o Eduardo)
Nem preciso dizer que o clima ficou um tanto quanto pesado né?!
- Vocês trouxeram pizza, mais estávamos jantando o Eduardo cozinhou hoje, querem se sentar?
Kinho ainda muito sério puxou uma cadeira e se sentou colocando a Ceci em seu colo.
Karla - Uau! Você manda muito bem na cozinha, já trabalhou com isso? (diz elogiando a comida que está realmente divina)
Eduardo - Eu não sei.
Karla - Como assim não sabe?
Eduardo - Bel, eu sofri uma perda de memória, não sei sem onde eu vim, não sei quem eu realmente sou e não sei o que já fui. Só sei que me chamo Eduardo.
Karla - Mais você não tentou ir à polícia, um hospital ou sei lá, pode ter alguém te procurando, sua família, sua esposa?
Quando Karla lhe perguntou isso ele olhou pra mim e me pareceu um tanto desconfortável.
Eduardo - Bom, eu fui a um hospital e depois de me prestarem atendimento, me mandaram para a rua de novo. Também cruzei com alguns policiais e pedi ajuda, disse que havia perdido a memória e eles me escorraçaram, dizendo que a minha falta de memória era por causa das drogas que eu usei.
Katia - Canalhas, sistema de merda desse país. Está aí … algo que precisa ser reformulado, eu te garanto que se você fosse rico, muito cheio da grana mesmo eles iriam lamber suas bolas.
Kinho - n**a! (diz em forma de repreensão)
Karla - Desculpa princesa.
Ceci - Por que eles lamberiam suas bolas, tio?
Kinho - Karla? (diz e a olha)
Karla - Eu fico indignada amor, me desculpa. Princesa esquece o que a tia falou, não pode repetir isso tá bom? Se não a coroa da princesa vai perder um diamante e vai ficar sem brilho.
Ceci - Então a senhora perdeu um diamante?
Karla - Perdi meu amor.
Ceci - Então é só não repetir mais.
Kinho - Então você está sozinho por aí? (pergunta) - Sabe fazer alguma coisa, tem algum documento?
Eduardo - Eu estou sozinho, eu agradeço muito a ajuda que a Amanda está me dando, mas já está na hora de eu caçar o meu rumo, não gosto e não posso abusar da boa vontade dela.
- Nem ouse Eduardo! Se não quiser me ver muito brava, você para com história de voltar para rua. Se quiser eu te ajudo a procurar por sua família, mais para rua você não volta. (digo seria olhando para ele que sentiu cada palavra que falei, pois me olha com seus olhos verdes que cada dia fica mais vivo e límpido)
Karla - Também acho, você não tem cara de quem vive na rua, precisa encontrar a sua família. Mas … oh presta atenção viu não é porque a Amanda é boazinha que eu também sou. Cobrança está aí, vacila quem quer.
Eduardo - Eu … eu respeito muito a Amanda e a princesa Cecília, tenho uma eterna gratidão a elas, pelo o que elas estão fazendo por mim.
Kinho - Acho bom, assim nem preciso falar nada, faço das palavras da minha mulher as minhas.
Depois desse clima tenso a conversa foi ficando mais leve, Kinho acabou percebendo o que eu ajudei o Eduardo, ele é uma boa pessoa. Os dois chegaram a trocar algumas palavras coisa que me deixou muito feliz.
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Enfim é sexta-feira e mais uma semana foi concluída, o salário caiu na conta e graças a Deus os débitos foram todos quitados.
No final do dia o Erick queria me arrastar para um chopp, eu me neguei, disse que ficaria para uma próxima, talvez na sexta que vem já que a minha pequena não estaria em casa. Dessa vez eu consegui chegar entes da perua e pedi mil desculpas por causa do meu atraso no dia anterior.
Ceci - Mãe, hoje o tio pode continuar a história?
- Se ele quiser pode sim.
Assim que entramos a casa está um silêncio só, como sempre desde que ele chegou aqui, a casa está limpa e pelo visto a janta também está pronta.
- Eduardo?
Nenhuma resposta, coloco a Ceci pra tomar banho, pois já sei onde ele pode estar.