Hoje é o meu primeiro dia trabalhando na Astréa! Acordei cedo demais com ansiedade e agora estou me revirando na cama para tentar dormir, mas sei que não vou conseguir. Será que é cedo demais para me arrumar? Será que já devo me preparar? Será que vai me dar dor de barriga? Tenho certeza que vai, por isso decidi ir me arrumar logo.
Peguei um ônibus me sentindo um pouco estranha, não sei se estou passando mal de nervoso, dor de barriga ou ansiedade. Acho que é medo. Medo de algo novo, medo de dar errado, medo de ir mal e fazer besteiras. Essa era uma chance que eu não poderia perder, eu não poderia dar margem para o erro.
Meu celular tremeu e eu sabia que as meninas já estavam vibrando por mim.
Ju: está aonde?
Mandi: estou ansiosa, aaaaaa
Eu: eu to passando mal eu juro
Acho que vai me dar dor de barriga 😭😭
Ju: você sempre fica assim, Liv, meu deus KKKKK
Mandi: tem que ficar calma
Ju: está chegando já?
Eu: sim, desço no próximo ponto
Eu realmente tenho as melhores amigas do mundo! Desci do ônibus e dei de cara com elas, duas rosas e um girassol e um copo de chá gelado. Elas sabiam que se eu tomasse café a dor de barriga viria mais fácil e eu só pude agradecer a elas por lembrarem disso. Estou empolgada, feliz e com medo, então o café seria um grande aliado para tudo ficar difícil hoje.
Me despedi das meninas e corri para me apresentar ao RH pois parece que vão me fazer um tour e mostrar com quem vou ficar nesses primeiros dias para aprender e entender mais sobre o cargo e funções. Aparentemente vamos ter uma reunião com o Sr. Volpini amanhã ou depois de amanhã para alinhar alguns pontos para o próximo lançamento.
— Senhorita Olívia, esse é o Arthur. Ele será o seu coworker aqui na Astréa — ambos sorriram bem simpáticos — uma observação importante para você... ele é bem chato, então se ficar entediada pode vir conversar comigo
— É mentira, eu sou o melhor amigo dela então é impossível ela me achar chato — disse ele, rindo
— Muito prazer, Arthur. Fique tranquilo, eu sou chata também — falei, os fazendo rir
Marcela era a minha coordenadora e eu estava com tanto medo de ser uma pessoa ruim, mas ela tem sido a mais simpática desde a entrevista e pelo visto tem um senso de humor ótimo. Quem a olha por fora certamente acha que ela é uma mulher fechada e séria. Com certeza sua paleta de cores são tons frios pois combinam com sua pele pálida e cabelos pretos. Seu corpo parecia bem atlético e fiquei com vergonha quando olhei minhas pernas finas.
Arthur por outro lado já tem cara de quem era aquele amigo da turma toda na escola, sabe? O gente boa que anda com as meninas e é amigo dos garotos. Seu cabelo era castanho claro com alguns cachos que caiam em seu rosto e com certeza isso era o seu maior charme. E ele tinha um sorriso bonito. Fiquei agradecida por estar aqui com uma pessoa nessa vibe, assim consigo ficar mais tranquila.
— Cuide bem dela, Arthur. Vou para a reunião com o Volpini. Espero que essa reunião não demore porque estou com fome — ela falou, anunciando sua saída
Como será deve ser esse sr. Volpini? Espero que seja uma boa pessoa. Por favor!
— Quer saber primeiro sobre suas funções dessa semana ou sobre cada pessoa daqui? — Arhur logo falou
— Minhas funções, com certeza — falei
— Vamos falar das pessoas primeiro. Vamos fingir que estamos indo pegar um café e vou falando de todo mundo.
— Eu tinha escolha? — falei, rindo
Passamos por duas mulheres em reunião em uma sala de vidro, ambas estavam visualizando ou criando um banner de alguma campanha que ainda não sei qual e soube que o nome da mais velha é Rita e a mais nova é Laura. Laura namora com o John, do setor de finanças e eles vão casar em poucos meses. Rita tem dois filhos gêmeos de 5 anos e até hoje não sabem se são crianças ou gatos.
Não consegui ver muitas pessoas pois Arthur disse que eles estavam em uma reunião, mas descobri que tem um grupinho que é chato e se acha melhor do que os outros e que eu devo me manter longe deles. Por sorte, vou trabalhar com Arthur.
— Você sabe onde vai ser a minha mesa? — perguntei, com um pouco de medo de ser uma mesa perto dessas pessoas entojadas
— Ah, a sua mesa é aqui na minha frente mesmo. Passei 2 anos sem ter uma pessoa fixa aqui, espero que você fique — ele falou, em um tom bem simpático
— Por que saíam? Minha função não é tranquila? — falei, sentindo minha espinha arrepiar de medo
— Nós temos um ambiente bem tranquilo e acolhedor, mas temos muitos trabalhos e temos que lidar com determinadas pessoas que são exigentes ou lidar com pepinos grandes. Nem todos aguentam. Alguns não passaram nem dos 45 dias de experiência. — ele falava e eu só ficava mais desesperada — mas fica tranquila, eu gostei de você então de contar comigo aqui
— Você trabalha aqui há quantos anos? — perguntei
— Eu estudei na mesma faculdade que o sr. Volpini e nos tornamos amigos. Ele me conseguiu um estágio e nunca mais sai, esse ano farei 10 anos aqui — ele falou, sorrindo
— Então por que você não é o coordenador? — perguntei, curiosa
— Porque foi a Marcela que me apresentou o Volpini, opa, o sr. Volpini — nós rimos — ela é muito melhor do que eu, sinceramente.
— Então você fez faculdade com ela e com simplesmente o dono da empresa? — falei, abrindo a boca em choque
— Sim, mas na época ele era apenas o filho do dono que estava começando a se interessar pelo ramo. Há 2 anos o pai dele ficou muito doente e ele precisou cuidar de tudo mesmo. Antes ele era o nosso coordenador de Marketing. Nós somos os mais antigos da equipe aqui, por isso sou gerente de projetos e a Ma é a coordenadora.
— O pai dele morreu? — falei, sentindo o peso daquela frase na pele
— Infelizmente ele morreu tem um ano e meio, foi bem difícil para o Henrique. Quer dizer, o sr Volpini.
— Sinto muito por ele, sei como é perder pessoas importantes assim — falei, dando um golpe longo em meu chá que já não estava mais gelado
— Você tem quantos anos? Tem cara de que acabou a faculdade! Tem alguma experiência na área ou é seu primeiro emprego? — ele perguntou — preciso saber por onde começo
— Eu sou formada tem 7 anos, mas nunca consegui algo na área pois não tive o luxo de aguardar uma boa vaga. Precisei trabalhar para me sustentar já que não tenho mais meus pais — ele me olhou de forma compreensiva e isso fez meus olhos encherem de água — E depois disso as empresas achavam que eu estava muito tempo sem ter uma experiência na área e nunca me aceitavam
— Que bom que Henrique e Marcela te aceitaram — ele falou, sorrindo
— Mas eu não fiz entrevista com ele — falei
— Vou te contar um segredo: nós saímos juntos e conversamos sobre a vida e trabalho. Eu sei que ela falou bem de você. Muito na verdade. Lembro até hoje do dia que ela nos contou que você foi contratada, ela parecia empolgada e certa de que você ficaria e não sairia como os outros. Então sim, ele te aceitou
— Agora estou me sentindo pressionada — falei, rindo e feliz por ouvir que eles gostaram de mim — não vou decepcionar vocês
— Vamos para sua primeira tarefa? — ele falou, levantando do seu lugar para me mostrar algo no computador
Passei a manhã fazendo contato com os assessores dos modelos que vamos gravar e fotografar essa semana para 3 novas campanhas. Achei que seria mais fácil, mas lidar com modelos e atores é um pouco complicado já que acham que o mundo é deles e temos que fazer o que querem e seus assessores não nos ouvem, mas no fim, consegui agendar uma sessão com cada um.
— Vamos almoçar? — Arthur perguntou, após voltar de uma reunião
— Vamos. Onde você quer almoçar? — perguntei
— Temos um refeitório incrível aqui de graça e meu restaurante favorito aqui na rua. Qual você escolhe?
— Eu tenho escolha? — falei o fazendo rir
— Já decidiram? — perguntou Marcela, se aproximando de nós — quero comer algo diferente hoje
— Olívia escolheu o meu restaurante favorito — ele falou, rindo — Henrique vem também?
— Não, está resolvendo um pepino — ela falou, fazendo careta
— Vocês almoçam com o CEO da empresa? — perguntei, ainda incrédula
Como aquele homem poderia ser tão acessível assim? Mesmo sendo amigo deles, eu estava estranhando esse ambiente.
— As vezes almoça conosco, as vezes não almoça e as vezes com algum setor inteiro — Marcela falou
— Estou em choque — falei
O almoço estava muito agradável e a comida muito gostosa. Marcela tinha uma química incrível com Arthur, mas os dois não pareciam ver isso. Eu acho, né.
— Você não pode sair com ele com aquele vestido, Ma — ele falou revirando os olhos — é feio e não valoriza você, eu já falei
— O vestido que você quer vai passar a imagem que eu não quero — ela revirou os olhos de volta — Olívia, qual vestido você prefere?