Sumiço

1398 Words
Estar com Yuri é ótimo. Nossos momentos juntos são perfeitos. Descobri que ele sabe cozinhar muito bem, sabe costurar, plantar... O único problema mesmo é a preguiça. Além disso, ele tem jogos ótimos de console. A empresa do seu amigo cria jogos, por isso ele tem vários que ainda nem foram lançados. Ficamos tão animados com um jogo que o Iwata deu para ele que passamos a madrugada jogando. Zen Iwata é um homem muito sério e reservado, mas posso perceber o quanto gosta de Yuri. São diferentes em todos os sentidos e acho que isso deixa a amizade deles muito mais especial. Adoro vê-los juntos. No momento, estou sozinha no parque com Luci. Ele estava com saudade de nadar num lago e aqui tem um bem grande. Estendo um pano no chão e me deito sobre ele. "O poste de luz está vindo" Luci me avisa. Não entendo a birra dele com o Iwata. Abro os olhos e vejo o senhor Iwata me encarando. — Boa tarde. — Levanto. — O que faz aqui? — Yuri me pediu para te entregar isso... — Ele me dá a chave da casa de Yuri. — Por quê? Yuri saiu? — Pensei que pudesse saber de algo. Ele estava agitado, apreenssivo. Saiu e me pediu para entregar a chave. — Obrigada. — Tenho que trabalhar. Com licença. — Ele vai embora... Voltamos para casa e faz horas que mandei uma mensagem perguntando para Yuri quando iria chegar e não obtive resposta. — Onde ele está? — Bufo e desligo a televisão. Ouço o meu celular tocar e me levanto do sofá para pegá-lo na mesa. É um número que eu não conheço. Atendo a ligação. — Alô! Quem é? — Sou eu, Iwata. Yuri voltou para casa? — Ainda não. É normal ele sair assim? — Não. Ele não responde minhas mensagens e não atende as minhas chamadas. Já tentou ligar para ele? — Só mandei mensagem. — Ligue você. Talvez ele atenda. — Vou ligar. Ele desliga a chamada e eu ligo para o Yuri. Ligo uma, duas, três vezes e ele não atende... Já são 23 horas da noite e o Yuri ainda não chegou em casa. Só pode ter acontecido algo e eu não posso fazer nada. — Ligue novamente — sussurra Rutiel. Olho para os lados tentando encontrá-lo no quarto, mas ele não está aqui. — Obrigada, Ruti. — Sorrio. Ligo para Yuri e dessa vez sou atendida. Ele diz: — Como você está? — Eu? Eu estou ótima, senhor Yuri Natsuki. — Coloco uma mão na cintura e bufo. — Como VOCÊ está? — Estou na praia. Aquela que passamos perto para comprar frutos-do-mar. Sua voz é cansada, triste. — Eu vou aí. Me espera? — Sim. Desligo a chamada e ligo para o Iwata. — Dandara, ele chegou? — Liguei para ele. Vou encontrá-lo na praia do bairro ao lado. — Não vá sozinha. Eu vou aí te buscar. — Tudo bem. Desligo a chamada e olho para Luci. "Não me olhe com essa carinha triste. Seu primo está vivo", diz. — Só isso não basta para mim. — Suspiro e me sento no chão. — Ele não está bem. Luci se deita no meu colo e o acaricio. "Então o faça ficar bem. Você consegue fazer qualquer um ficar bem." Dou um sorriso triste. Espero que eu realmente consiga. Ouço a campainha tocar. Luci sai do meu colo e nós dois saímos do quarto. Ao abrir a porta da casa, vejo Iwata. Está de terno ainda. Deve ter acabado de sair do trabalho. — Vamos. — Ele me dá as costas e anda até o seu carro. Saio de casa com Luci e entro no carro me sentando no banco ao lado do motorista. Luci se senta no meu colo e eu fecho a porta. Iwata encara a minha capivara. — Pode retirar esse animal, por favor? — Luci não consegue ficar longe de mim. Ele estreita os olhos. — É sério? — Não estou mentindo. — Certo. — Ele começa a dirigir. Coloco o cinto de segurança e respiro fundo. Lembro do sorriso de Yuri, das competições de vídeo game e da comida gostosa. Desde que cheguei, não o vi ficar triste. Isso foi muito repentino. — Yuri falou o porquê de não ter voltado para casa? — Iwata pergunta. — Não. Ele parecia triste. Sabe o que pode ter o deixado assim? — Não. — Ele reveza o olhar entre mim e a estrada, mas não fala nada. — Vocês são amigos desde quando? — Deve ter uns 4 anos... Se me permite perguntar, como está sendo morar com Yuri? — Ótimo. Ele me trata muito bem. — Percebi que ele está mais feliz que o de costume. Anteontem estava fazendo caminhada matinal. Isso é muito incomum, mas bom. — Vejo ele dar um leve sorriso quase imperceptível. Quero continuar fazendo Yuri feliz. Vou zelar pelo que restou da minha família. Não é justo que o meu primo fique triste quando ele só sabe me fazer sorrir e contagiar a todos com o seu jeito divertido. — Apesar de ser filha de Masaki Natsuki, eu vejo que você não tem nenhum traço da personalidade dele. — Ele para o carro no sinal vermelho e agora só olha para mim. — Continue assim, por favor. Tenha em excesso o que o seu pai nunca teve e nunca terá: bondade. — Iwata volta a olhar para frente. O sinal fica azul e ele volta a dirigir... Chegamos à praia e agora estamos andando por ela a procura de Yuri. O vento bagunça nossos cabelos e a brisa gélida arrepia meus pelos. O mar está agitado, então não há ninguém na água. — Ali! — Iwata aponta para uma pessoa sentada no chão, próxima ao mar. Corremos até lá. É Yuri. Ele se levanta. Olha para nós dois com tristeza e abaixa a cabeça. — O que aconteceu? — pergunta Iwata. — Não quero falar sobre. — O que aconteceu? — ele pergunta de forma mais dura. Foi por esse tipo de pergunta insistente que eu preferi mentir para Yuri e não contar o que houve no Brasil. — O importante é que agora estamos com ele. — Sorrio e o abraço. — Por favor, não faça isso de novo. — Não vou. Desculpa — Ele funda a cabeça no meu pescoço e me abraça com força. — Desculpa. Ouço ele fungar e sinto ele molhar meu pescoço. Está chorando. Sem conseguir me conter, também começo a chorar. Desfazemos o abraço. Nós dois limpamos nossas lágrimas, mas não paramos de chorar. — Por que está chorando, sua b***a? — Ele dá um risinho. — Eu estou bem. — Chorar faz bem à saúde. Ele olha para Iwata. — Me desculpa? Iwata não o responde. Simplesmente o abraça... Voltamos para casa e Yuri foi logo se deitar para dormir. — Devo voltar para casa. — Iwata anda até a porta da frente e calça os seus sapatos. — Em duas semanas terá um evento esportivo no parque para a diversão do público. Convença o Yuri a ir com você. — Esporte? Calor? Isso só pode significar uma coisa para mim: terá homens sem camisa. Isso é terrível. — Será bom para ele. Vá, por favor. — Tá. — Forço um sorriso. Farei isso pelo Yuri. — Mais uma coisa: acho que ele se divertirá se nós três participarmos. Então vá com roupa apropriada. Boa noite. — Boa noite. Ele sai e fecha a porta. Os três?... Iwata de regata mostrando seus músculos? As veias do braço saltando? Ele balançando seus cabelos ao vento? Derramando água no corpo? A regata marcando o seu abdômen? Ajoelho-me no chão e coloco a mão no coração. — Pai nosso que estás no céu, santificado seja o vosso nome... Eu esqueci o resto. Vou tentar outra coisa: pirulito que bate-bate, pirulito que já bateu... "Parece que você nunca vai deixar de ser s****a", Luci resmunga. Olho para o lado e o vejo me encarando. — É difícil deixar os maus hábitos. — Choramingo. — Mas um dia ainda serei uma moça recatada. Rutiel vai ter orgulho de mim. Fecho os olhos e me imagino vestida de anjo. De repente acabo me imaginando como um anjo caído e rodeada por homens maravilhosos. Controlar meus pensamentos impuros é uma tarefa terrivelmente difícil.
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