1. FERNANDA GUSMÃO

2215 Words
Fernanda Gusmão — Nanda, filha, onde você está? O café vai esfriar! — minha mãe grita da cozinha minúscula que ficava localizada nos fundos da casa — Já vou mãe! Estou só terminando de me maquiar. — grito de volta dando o último retoque na minha maquiagem, que precisava estar perfeita, pois hoje tenho uma entrevista de emprego na empresa Castelamari, a maior da América Latina, no ramo de cosmética e perfumes, a qual meu amigo Luan trabalha, e graças à ele consegui essa entrevista e espero que tudo dê certo, porque estou desempregada à mais de seis meses e preciso urgentemente conseguir uma oportunidade de emprego, para ter como arcar com as despesas de casa ou então as coisas poderão se complicar ainda mais por aqui. Me chamo Fernanda Gusmão, moro no interior de São Paulo com minha mãe Celina e com meus pets, Filó, uma cadelinha cor de caramelo e o Melado, um gatinho super fofo nas cores marrom e branco. Não tenho irmãos, mas tenho o Luan, que supre toda essa ausência muito bem. Já o meu pai, um dia foi comprar margarina e nunca mais voltou, bom foi assim que minha mãe contou, era mais fácil ela dizer isso, do que dizer ele não nos amava e por isso se pirulitou. Com o passar do tempo minha mãe começou a ter graves problemas de saúde, principalmente nas articulações, ela tem trombose e infelizmebte não conseguia mais trabalhar. Com muito custo se aposentou, mas o que ela ganhava, m*l dava para suprir as necessidades dela mesma e por isso, desde os meus doze anos eu trabalho. Assim ajudava em casa e não deixaria que nada faltasse para nós duas. Mas, como eu disse, fui demitida há seis meses da lanchonete que eu trabalhava e preciso urgente de um emprego, ou caso contrário tudo o que eu mais temia poderia acontecer, minha mãe e eu poderíamos passar grandes apertos nessa casa. E isso, seria o mesmo que a morte para mim. Somos pobres, mas graças à Deus nunca faltou o pão de cada dia em nossa mesa e sou muito grata à Ele por isso. Pois sei que se estamos aqui até hoje, é porque Ele assim permitiu. E por isso tenho esperança que conseguirei um emprego muito mais rápido do que imagino. Hoje com vinte e dois anos, não posso me dar ao luxo de ficar sem trabalhar, mas só espero que meu próximo patrão seja um homem correto, porque o meu penúltimo chefe era um velho tarado e asqueroso. Eu trabalhava como garçonete e ele pagava bem mais que o cargo oferecia, com certeza não era por causa do brilho dos meus olhos. Mas, isso eu só descobri no dia em que ele tentou me violentar. Sinto asco só de lembrar daquele nojento, colocando aquela mão suja nos meus s***s e os apertando com força. Na hora dei um grito, que acho que toda cidade ouviu, e para não deixar por menos, ainda enfiei uma faca em sua perna esquerda, acertando em cheio em uma veia que deixou ele paralisado na hora. Eu saí ilesa, mas deu r**m pra ele, pois teve que vender a lanchonete pra conseguir pagar a fiança e não cair no sistema com o título de estuprador. Desde então, não consigo achar nada que preste, e a maioria dos lugares que fui, se fosse pelos homens, já estava contratada, mas quando as esposas, noivas ou namoradas olhavam para mim, sempre davam uma desculpa qualquer e me dispensavam na hora. Eu sou morena clara, cabelos castanhos lisos em cima e cacheado nas pontas, olhos cor de mel, tenho 1,68m de altura, peso sessenta quilos bem distribuídos, pernas grossas, bumbum médio redondo, e um belo par de s***s que chamam atenção por onde passo. Resumindo, sou uma verdadeira destrói casamentos, pois essa é a única explicação que tenho para todas as portas na cara que tenho recebido nesses últimos seis meses. Termino de me arrumar e enfim desço para tomar café. — Que demora filha, assim vai se atrasar para a entrevista que o Luan conseguiu para você. — Minha mãe diz me entregando uma xícara com café pingado e um pratinho com queijo quente — Preciso me arrumar bem, mamãe, quem sabe dessa vez não consigo o emprego. — falo e logo em seguida dou uma mordida no pão — Deus te ouça minha filha e que você consiga logo um emprego. Porque a nossa situação pode ficar complicada, só o dinheiro da minha aposentadoria não vai ser suficiente para nós duas e ainda arcar com a dívida da casa. — minha mãe fala entristecida e volta para a pia, terminando de lavar a louça do café da manhã — Não se preocupe mamãe, vamos dar um jeito. A senhora vai ver. Deus é mais! — falo a olhando e rapidamente terminando de tomar meu café Minutos depois me levanto e vou até ela, lhe dando um abraço e um beijo no rosto. Ela sorri, mas no fundo sei que está preocupada e que também se sente culpada por não poder mais trabalhar. Já a peguei chorando no canto do quarto várias vezes e ver triste quem sempre fez de tudo para me oferecer o melhor, acaba comigo. Mas não posso esmorecer, somos só nós duas, uma pela outra sempre e por ela continuarei lutando dia após dia, na tentativa de oferecer sempre o melhor. Me despeço da minha mãe e sigo meu caminho para a entrevista. Vou caminhando até o ponto de ônibus e demorou quinze minutos para que o ônibus 354 chegasse. Subi e segui meu caminho até o centro da cidade. Ao chegar, fui direto para a estação de metrô e em menos de cinquenta minutos já estava em frente à empresa Castelamari. Olho para o prédio e era gigantesco, até onde consegui contar eram uns vinte e cinco andares, todos eles com vidros espelhados. Ao entrar fui recebida pelo segurança, que me anunciou, me entregou um crachá de visitante e disse o andar que eu deveria ir. Luan estava de folga hoje, então tudo seria por minha conta e risco. E que Deus me ajude. Chego no andar indicado pelo segurança e ao sair do elevador me deparo com uma sala luxuosa, repleta de detalhes em dourado e preto, as mesmas cores da marca de cosméticos. E na parede, bem à minha frente, havia uma placa enorme com o nome da empresa. Fico boquiaberta observando todo aquele luxo e levo um susto quando ouço: — Veio pela vaga de assistente do departamento pessoal? Uma senhora aparentemente com a idade da minha mãe, vestindo um conjunto de saia e blazer preto, usando óculos de grau e com um semblante sério, me analisa. Timidamente eu me aproximo e falo: — Sim. Eu me chamo Fernanda Gusmão e fui indicada pelo Luan Ferraz. — falo com um sorriso fraco e estendendo a mão direita, mas a mulher não retribui o cumprimento, continua com seu olhar de reprovação, em seguida ajeita os óculos e com um desdém diz: — Já sei quem você é, o segurança me comunicou. Aguarde um momento, que irei ver se poderão te receber. — Tudo bem. Obrigada! Falo timidamente e a mulher sequer responde. Apenas se afasta da tela do computador e segue em passos largos para uma sala, que com certeza pertencia a pessoa que iria me entrevistar. Nesse momento eu era só nervosismo. Minhas mãos estavam geladas, nunca fui de sentir calor, mas naquele momento eu estava quase pingando de tanta ansiedade. Alguns minutos depois a mulher retorna para a recepção, senta em sua cadeira acolchoada, me lança um olhar sério e diz: — Sinto muito, mas a vaga já foi preenchida. Sendo assim, pode se retirar. Fico indignada com a sua frieza e por praticamente ter sido enxotada como se tivesse uma doença contagiosa. "Quem essa mulher pensa que é para me tratar desse jeito?" "Posso ser pobre, sim, mas tenho minha dignidade. E perante Deus somos todos iguais, mas se ela não sabe disso, deixarei bastante claro e será agora." Penso a olhando de cima a baixo, da mesma maneira que ela fez comigo desde o princípio, cruzo os braços e falo: — Quê? Como assim, a vaga já foi preenchida? Não tem nenhuma candidata aqui nessa recepção, além de mim. A senhora sequer me olhou desde que cheguei, e com certeza deve ter fingido que iria me anunciar e ao entrar naquela sala deve ter gargalhado da minha cara, enquanto procurava essa desculpinha esfarrapada para me dar. Solto tudo de uma vez, sempre fui atrevida e nunca levei desaforo para casa, e não seria agora que isso iria mudar. Estava sim dentro de uma multinacional, mas como eu disse antes, ninguém é melhor do que o outro e jamais devemos tratar nosso semelhante com desprezo, seja ele quem for. Continuo com os braços cruzados a encarando, a mulher sequer retira os olhos da tela do computador, apenas bufa e com desdém diz: — Não me faça perder tempo mocinha e se retire daqui imediatamente. Ou prefere que chame o segurança para te ajudar? Bufei de ódio, revirei os olhos, mas nada disse. Com certeza estavam me monitorando pelas câmeras e o dono deve ser casado, e a mulher já me jogou para escanteio antes mesmo de me conhecer. Olho pela última vez para a mulher grosseira, que me olha de um jeito irônico e debochado, como se estivesse adorando me ver daquele jeito. "Meu Deus, mais uma porta fechada, até quando isso?" Penso deixando escapar uma lágrima no canto do olho direito, mas limpo rapidamente antes que àquela mulher percebesse e se sentisse vitoriosa ao me ver destruída. Sai do prédio como um foguete. Eu queria fugir e desaparecer, mas não poderia fazer isso, não era justo, a minha mãe precisava de mim. Então eu tinha ser forte, por ela, por nós. Continuei caminhando sem destino, até que avistei uma praça, me sentei no banco pra descansar um pouco e em cima do mesmo encontrei um jornal todo amassado. Abri e lá havia o seguinte anuncio: "Procura-se acompanhante..." Só consegui ler esse trecho, porquê o restante estava rasgado. — Droga! Que falta de sorte! — esbravejo com raiva e sinto uma gota de orvalho cair no meu rosto, estávamos na estação do inverno e o frio já estava a todo vapor Continuo olhando aquele anúncio e a única coisa que dava pra ver era o endereço. Olho bem e não acredito no que vejo. "Não pode ser, isso deve ser alguma brincadeira do destino." "Acabei de sair desse lugar praticamente enxotada e agora o Senhor me envia esse papel? É alguma piada?' Olho para o céu e balanço a cabeça em negação. "Eu não vou lá. Não vou ser humilhada outra vez por aquela nojenta." — falo mentalmente, mas quando estava prestes a jogar o jornal no lixo uma borboleta esverdeada pousa no meu ombro, olho para ela e penso: "Deve ser um bom sinal. Não custa tentar ir até lá pra ver, quem sabe dessa vez tenho mais sorte. Mas vou fazer isso amanhã, porque agora está tarde e minha mãe deve estar preocupada." Peguei o jornal, coloquei dentro da minha bolsa e fui direto para casa. Ao chegar, encontro meu amigo Luan me esperando com um sorriso largo no rosto. Eu o amo de paixão, fomos criados praticamente juntos, temos um ano de diferença de idade, mas nunca rolou nada entre a gente. Confesso que de vez enquando o peguei me olhando, principalmente para o meu decote, ou quando eu andava pela casa de calcinha e sutiã quando estávamos só ele e eu. Nunca vi problema nisso, pois sempre o enxerguei como um irmão, mas confesso que eu adorava provoca-lo. Minha mãe dizia que ele não arrumava namorada por minha causa, e vice versa, que ainda iríamos nos casar. Eu sempre gargalhava daquilo, mas confesso que o Lu me excitava, quando ele ficava sem camisa, aquele corpo esbelto, forte, aqueles olhos cor de mel, era difícil segurar. Mas, por algum motivo, ainda não rolou nada. O cumprimentei, disse que não rolou a vaga de assistente, ele fucou um pouco triste, disse que iria tentar me ajudar, mas pedi para ele deixar isso quieto, pois o que eu menos desejava era que ele tivesse problemas no trabalho por minha culpa. Entramos em casa e nós três conversamos muito, porém decidi não falar do anúncio, até porque não queria deixa-los preocupados, pois poderia ser tudo, mas estou torcendo que seja apenas acompanhante de algum idoso ou doente. Porém, não sei o que vou fazer se não der certo, meu dinheiro da recisão e do seguro desemprego praticamente estão no fim, e já temos quatro prestações da casa atrasadas. E se a gente perder aquela casa, não teremos pra onde ir e aí sim ficaremos num beco sem saída. Nós jantamos, em seguida minha mãe foi descansar, porque estava com muitas dores no corpo. Luan e eu ficamos arrumando a cozinha, e depois ficamos até tarde assistindo a série Arrow na Netflix. Já era quase meia noite quando nos despedimos e logo depois fui dormir, ansiosa para que amanhã seja melhor do que hoje. Fiz uma breve oração e dormi em paz, pensando: "Seja o que Deus quiser." [...]
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