CAPÍTULO 21
Os Homens são Estranhos
Narrado por Mia
— Ora, ora, se não é a minha amiga desaparecida — Jenny diz toda sorridente.
Estou na cafetaria do hospital e a Jenny entra e vem se sentar junto a mim.
— Que exagero, só tive fora dois dias, eu também folgo sabes?
Uma exagerada esta minha amiga.
— Tinhas assim tantas saudades, desta tua melhor amiga, é? — pergunto brincando com ela.
— Por acaso, até tinha. — Ela diz sorrindo — Mas e novidades!
Eu faço uma careta.
— Que queres saber exatamente?
— Se o doido do Damien voltou a procurar-te! — ela pergunta baixando um pouco a voz.
— Não, e sinceramente isso preocupa-me. — agora que ela fala nisso, fico a pensar.
— E porque isso te preocupa? — ela fala admirada.
— Porque eu conheço o Damien, ele não é de desistir assim tão fácil não. — Falo preocupada.
— Tu tens saudades dele, Mia? — ela pergunta curiosa.
Eu fico a pensar na pergunta dela.
— Tenho saudades de quando nós éramos um casal normal, — digo um pouco triste — apesar de tudo eu amei o Damien, ele no início era um sonho, tinha tudo o que eu queria e necessitava para mim e para a nossa relação. Mas os ciúmes e as cenas mirabolantes que ele arranjava, já não era nada de um casal normal.
— E se ele mudasse? — ela pergunta de repente.
— Pessoas assim não mudam, Jenny, pelo contrário, pioram com o tempo. O sentimento de posse torna tudo impossível.
Jenny encosta-se às costas na cadeira.
— Aposto que desde que o deixaste, nunca mais deste uso ao que tens dentro da calcinha! — ela diz aquilo com uma naturalidade, que parece que está a dizer que eu não almocei hoje, por Deus.
— Jenny!! — chamo ela um pouco mais alto do que deveria.
— Que foi?? Até parece que estou a dizer uma mentira. — Ela fala encolhendo os ombros.
Reviro os olhos, não sei porque ainda me surpreendo, com essa louca da minha amiga.
— E o gostoso do café? E do casamento! Mia, que pedaço de mau caminho é aquele bofe dos infernos! — ela diz toda alegre.
— Por acaso, até fui jantar com ele no primeiro dia da minha folga. — Falo sorrindo para a deixar toda surpresa.
— Estás a brincar! E não me contaste nada? — ela diz ficando amuada.
— Estou a contar agora, doida, eu hein. E também não há muito para contar, fomos jantar, apenas isso. — Falo um pouco dececionada.
Ela levanta a sua sobrancelha e sorri de lado.
— E porque dizes isso dessa maneira tão desiludida?
— Ah, Jenny, vai catar macacos, vai! — digo sem jeito.
— Ahahah, tu querias que o gostoso dos olhos azuis, te agarrasse com força contra a parede, e te desse umas valentes palmadas nessa tua b***a magrela, ahahahah.
Ela ri, e eu não consigo ficar indiferente ao rir contagiante dela. Maluca, kkk.
— Bem, sinceramente pelo que a minha irmã contou…
E conto a conversa que a minha irmã teve comigo acerca do Elijah.
— Ele deve ter tido um desgosto amoroso no passado. — Ela fala toda confiante.
— E porque dizes isso? — pergunto curiosa.
— Sei lá, os homens são estranhos, normalmente quando são assim uns cafajestes, é porque os sentimentos deles foram profundamente magoados.
Olho para ela com espanto.
— Já pensaste ir para a ala psiquiátrica?? Acho que te davas lá bem, como psiquiatra. — Eu falo brincando com ela.
— Eu?? Ah não, e depois quem tomava conta de ti nas urgências?
— Tu é que precisas que tomem conta de ti, doida.
Surpresa Com o Meu Convite
Narrado por Elijah
Tenho tido tanto trabalho no hotel, que chego a casa, como qualquer coisa e deito-me, adormecendo logo de seguida, e assim aquele assunto, ainda não tive oportunidade de tratar dele.
O tempo não pára, Elijah, penso com os meus botões.
O nosso jantar foi há quatro noites atrás, e nem eu nem ela dissemos nada um ao outro.
Resolvo ligar para ela, o telemóvel dá sinal de toque, mas ela não atende.
Raios, deve estar a trabalhar, ou então não me quer atender.
E esse pensamento me deixa inquieto.
Deixo o telemóvel para lá e tento dormir.
Mas não consigo e acabo por ligar a TV.
Uma hora depois ele toca desesperado onde eu o deixei.
Olho para o ecrã e sorrio.
— Oi, Mia! — falo m*l atendo.
— Oi, Elijah, não podia atender, estava a trabalhar. — Ela diz, com aquela voz sensual que ela tem.
— Não faz m*l. — digo apenas, céus, pareço um retardado que não sei falar com uma mulher.
— Mas, está tudo bem? — ela pergunta, depois do meu silêncio absurdo, afff.
— Ah sim, está! — aclaro a voz — Queria perguntar-te uma coisa.
Por fim, sai alguma coisa de jeito da minha boca.
— Sim, estou a ouvir!
— Amanhã será que nos podemos encontrar? — pergunto de uma vez, para não me arrepender.
— Sim, mas a que horas? — ela pergunta surpresa — Eu saio de manhã, às oito da manhã.
— E depois entras a que horas de novo?
— Às oito da noite.
— Achas que nos podíamos encontrar um pouco antes de entrares? — eu pergunto.
Percebo que ela está surpresa com o meu convite.
— Ãhh, sim pode ser! — ela fala, não muito segura.
— Não te vou fazer nada! — falo rindo — Só preciso de conversar contigo sobre um assunto.
— Ok, sem problema. — Ela fala um pouco mais calma.
— Vai ter comigo ao Kerry Park, pode ser? — pergunto um pouco ansioso.
— Pode sim, por volta das quatro e da tarde, está bem para ti? — Ela pergunta, e eu digo que sim e desligamos.
Fico ali a pensar como eu vou abordar o assunto, como ela vai reagir ao que vou dizer a ela.
Respiro fundo, desligo a TV e finalmente consigo adormecer.
Tu Não Tens Saudades?
Narrado por Mia
O meu telemóvel vibra em cima da minha mesa, está no silêncio, olho para o ecrã a ver quem é.
Elijah.
Não atendo, o meu paciente acaba de entrar na minha sala.
Entretanto chega uma urgência, e é um corre corre para cá e para lá.
Quando finalmente paro, olho de novo para a chamada dele.
Depois do nosso jantar, que foi há quatro noites atrás, que ele não disse mais nada, e eu achei que também nada devia dizer, vai que ele pensa que eu sou uma tarada?? Kkk.
Devolvo a chamada, e fico para lá de curiosa com o que ele me quer falar.
Ele pediu para ir ter com ele ao Kerry Park. Kerry Park é um pequeno parque público e mirante na encosta sul da Queen Anne Hill. Tem vista para o centro de Seattle e está localizado ao longo da West Highland Drive, entre a 2nd Avenue West e a 3rd Avenue West. É um parque muito bonito.
Estou aqui pensativa quando o meu telemóvel toca nas minhas mãos me assustando, merda, tá louca.
Olho para quem me liga e não posso acreditar.
Damien.
Ainda penso em não atender, mas atendo.
— Damien! — falo apenas.
— Mia, pensei que nem fosses atender. — Ele diz com uma voz triste.
— Pensei nisso, mas aqui estou eu, o que queres? — falo seca, para ele não ter ideias.
Ele parece não saber como falar e gagueja.
— Damien, para de gaguejar homem e fala.
— Queria saber se tu por acaso, não queres pegar um cineminha comigo! — ele convida.
— Damien, não acho boa ideia, eu não quero que tu tenhas esperanças de uma coisa que não vai acontecer.
— Nós não sabemos o futuro, Mia, eu prometo que me comporto.
— Tu sempre prometes e isso só dura no máximo uma semana. — Eu digo segura.
— Tu não tens saudades minhas? De nós os dois? Da maneira como nos tocamos? Da maneira como nos beijamos. Da maneira em como eu te deixo louca quando passo a minha língua por ti? — ele fala sussurrando, me deixando excitada só de pensar nisso.
Fecho os olhos e recordo esses bons momentos.
Sou tirada das recordações, ao ser chamada com urgência por outra doutora.
— Dra. Mia, Dra. Mia, venha rápido por favor. — Ela me chama.
— Damien, agora não posso falar, tenho uma urgência.
E desligo sem sequer me despedir.