CAPÍTULO DOIS-2

2403 Words
“Por quem mais?” Perguntou Argon. Thor apressou-se em alcançá-lo, seguindo-o pelo bosque, deixando atrás a clareira. “Mas por que eu? Como sabia que eu estaria aqui? O que quer de mim?” “São perguntas demais.” Disse Argon. “Você satura o ar. Em lugar disso, você deveria ouvir.” Thor o seguia, quando eles continuaram através do denso bosque, fazendo o melhor que podia para permanecer em silêncio. “Você veio em busca de sua ovelha perdida.” Argon falou. “Um esforço nobre. Mas você perdeu seu tempo. Ela não sobreviverá.” Os olhos de Thor se arregalaram. “Como sabe isso?” “Eu conheço mundos que você jamais conhecerá garoto. Pelo menos não ainda.” Thor se perguntava muitas coisas enquanto caminhava para acompanhá-lo. “No entanto, você não escuta. Essa é sua natureza. Teimoso. Como sua mãe. Você continuará buscando sua ovelha, determinado a regatá-la.” Thor enrubesceu, já que Argon tinha lido os seus pensamentos. “Você é um garoto entusiasta.” Ele acrescentou. “Com uma v*****e de ferro. Muito valente. Qualidades positivas. Mas um dia elas poderão ser a sua ruína.” Argon começou a caminhar até uma ladeira musgosa, seguido por Thor. “Você quer se juntar a Legião do rei.” Disse Argon. “Sim!” Thor respondeu, animadamente. “Eu tenho alguma chance? O senhor pode fazer com que isso aconteça?” Argon riu com um som profundo e ecoante que enviou um arrepio pela espinha de Thor. “Eu posso fazer com que tudo e nada aconteça. Seu destino já estava escrito. Porém depende de você escolhê-lo.” Thor não compreendia. Eles chegaram ao topo da ladeira, onde Argon parou e encarou-o. Thor ficou apenas a alguns passos de distância e a energia de Argon queimava através dele. “Seu destino é um destino importante.” Ele disse. “Não o abandone.” Thor arregalou os olhos. Seu destino? Importante? Ele sentiu encher-se de orgulho. “Eu não entendo, o senhor fala por enigmas. Por favor, conte-me mais.” Argon desapareceu. Thor ficou de queixo caído. Ele olhava para cada um dos caminhos, ouvindo, perguntando-se. Tinha ele imaginado tudo? Havia sido uma ilusão? Thor voltou-se e examinou o bosque; desde sua posição vantajosa, de cima da ladeira, ele podia enxergar mais longe que antes. Quando ele olhou, detectou movimento à distância. Ele ouviu um barulho e estava seguro de que era sua ovelha. Ele caminhava com dificuldade na ladeira musgosa e apressou-se em direção do som, de volta ao bosque. Enquanto ele seguia, não podia interpretar seu encontro com Argon. m*l podia conceber que isso havia acontecido. O que o Druida do rei estava fazendo ali, naquele lugar? Ele tinha esperado por ele. Mas por quê? E o que ele quis dizer sobre o seu destino? Quanto mais Thor tentava desvendar isso, menos ele entendia. Argon havia lhe avisado para não continuar, ao mesmo tempo em que o incitou a fazer isso. Agora, ao prosseguir Thor tinha um forte pressentimento, era como se algo importante estivesse para acontecer. Ele virou uma curva e parou em seco na trilha, ao deparar com a vista diante dele. Todos os seus piores pesadelos foram confirmados em um único momento. Estava de cabelo em pé, percebeu que ele tinha cometido um erro grave a entrar tão profundamente em Darkwood. Em frente dele, a escassos trinta passos de distância, estava um Sybold. Vigoroso, musculoso, de pé sobre as quatro patas, quase do tamanho de um cavalo, era o animal mais temido de Darkwood, talvez até de todo o reino. Thor nunca tinha visto um, Mas tinha ouvido as lendas. Se parecia a um leão, mas era maior, mais largo, sua pele era de uma cor escarlate profundo e seus olhos de um amarelo brilhante. Dizia a lenda que sua cor carmesim provinha do sangue de crianças inocentes. Thor tinha ouvido falar de alguns avistamentos dessa fera, toda a sua vida e mesmo assim, se pensava que eram duvidosos. Talvez fosse porque ninguém nunca realmente tinha sobrevivido a um encontro. Alguns consideravam Sybold como o deus dos bosques, ou um presságio. Sobre qual era o presságio, Thor não tinha a menor ideia. Ele deu cuidadosamente um passo atrás. O Sybold, suas mandíbulas enormes entreabertas, seus caninos gotejando saliva, devolveu o olhar com seus olhos amarelos. Em sua boca estava a ovelha perdida de Thor: balindo, pendurada de cabeça para baixo, a metade de seu corpo atravessada pelos caninos. Já quase morta. O Sybold parecia deleitar-se em m***r, tomando seu tempo; parecia ter prazer em torturá-la. Thor não pôde resistir aos gritos. A ovelha se retorcia indefesa e ele se sentia responsável. O primeiro impulso de Thor foi dar a volta e correr, porém ele sabia que isso seria inútil. Essa b***a poderia ultrapassar qualquer coisa. Correr iria apenas provocá-la. E ele não podia permitir que sua ovelha morresse assim. Ele ficou congelado de medo e sabia que de algum modo tinha de entrar em ação. Seus reflexos se apoderaram dele. Ele lentamente se inclinou e da bolsa dele, extraiu uma pedra, colocando-a em sua atiradeira. Com a mão trêmula a enrolou, deu um passo adiante e atirou. A pedra navegou pelo ar e alcançou seu objetivo. Um tiro perfeito. Atingiu a ovelha em seu globo ocular, indo direto para seu cérebro. A ovelha se desvaneceu. Morta. Thor tinha poupado o animal de seu sofrimento. O Sybold olhava enfurecido porque Thor havia matado seu brinquedo. Ele lentamente abriu suas imensas mandíbulas e soltou a ovelha, que caiu com um baque no chão da floresta. Então o Sybold pôs seus olhos em Thor. Ele rugiu, era um profundo e maligno som que procedia da sua barriga. Quando se dirigiu para atacá-lo, Thor, com o coração batendo forte, colocou outra pedra em seu estilingue, retrocedeu e se preparou para disparar mais uma vez. O Sybold irrompeu a correr, movendo-se mais rápido do que qualquer coisa Thor já tinha visto em sua vida. Thor deu um passo à frente e atirou a pedra, rogando para que ela acertasse, sabendo que não teria tempo de atirar outra antes que a fera o alcançasse. A pedra atingiu o olho direito da fera, estraçalhando-o. Foi um tremendo lançamento, do tipo que deixaria um animal menor abatido. Mas esse não era nenhum animal menor. A fera era imparável. Urrava pelo dano sofrido, Mas nunca sequer abrandou. Mesmo sem um olho, mesmo com a pedra alojada em seu cérebro, continuou a investir despreocupadamente contra Thor. Não havia nada que Thor pudesse fazer. Um momento depois, a fera estava sobre ele. Acabou com suas enormes garras golpeando seu ombro. Thor gritava. Era como se três facas estivessem cortando sua carne ao mesmo tempo, o sangue quente jorrava dela imediatamente. A b***a o derrubou no chão, apoiando suas quatro patas sobre ele. Seu peso era imenso, era como ter um elefante sobre seu peito. Thor sentia que sua caixa torácica se esmagaria. A b***a jogou sua cabeça para trás, abriu bem as mandíbulas enormes, exibindo seus caninos e começou a baixá-los em direção à garganta de Thor. Quando ela fez isso, Thor estendeu a mão e agarrou seu pescoço; era como agarrar um sólido músculo. Thor m*l podia aguentar. Seus braços começaram a tremer quando as presas desceram ainda mais. Ele sentiu o hálito quente da fera em sua cara. Sentiu a saliva gotejando pelo seu pescoço. Um barulho veio de dentro do peito do animal, queimando as orelhas do Thor. Ele sabia que morreria. Thor fechou os olhos. Por favor, Deus. Dá-me forças. Permite-me lutar contra esta criatura. Por favor. Eu te imploro. Eu farei qualquer coisa que me pedires. Eu estarei sempre em dívida. E então algo aconteceu. Thor sentiu um calor tremendo brotar de dentro de seu corpo, correndo em suas veias como um campo de energia fluindo através dele. Ele abriu os olhos e viu algo que o surpreendeu: das palmas de suas mãos emanava uma luz amarela e com elas ele empurrou para trás a garganta da fera, inacreditavelmente, ele foi capaz de igualar sua força e mantê-la à margem. Thor continuou a empurrar até que ele na verdade estava empurrando a fera para trás. Sua força crescia e ele sentiu a energia disparar como uma bala de canhão — instantes mais tarde, a b***a saiu voando para trás, Thor, tinha enviado-a a uma distância de uns trinta metros. Ela caiu de costas. Thor sentou-se, ainda não compreendia o que tinha acontecido... A b***a recuperou-se e ficou de pé. Então, em um acesso de ira, arremeteu novamente — Mas dessa vez, Thor se sentia diferente. A energia fluía através dele; sentiu-se mais poderoso do que ele jamais tinha sido. Quando a fera saltou no ar, Thor agachou-se, agarrou-a pela barriga e jogou-a pelos ares, deixando seu próprio ímpeto propulsá-la. A fera voou através do bosque, colidiu com uma árvore e desabou no chão. Thor olhava, espantado. Ele tinha acabado de arremessar um Sybold? A fera piscou duas vezes, então olhou para Thor, levantou-se e investiu novamente. Dessa vez, quando a b***a atacou, Thor agarrou-a pela garganta. Ambos caíram no chão, a b***a em cima de Thor. Mas Thor rolou e ficou em cima dela. Thor a sujeitou, esganando-a com ambas as mãos; a b***a continuou tentando levantar a cabeça e cravar suas presas nele. Mas falhou. Thor, sentindo uma nova força, aferrou suas mãos e não a deixou livrar-se. Ele deixou o curso de energia seguir através dele. E logo, surpreendentemente, ele sentiu-se mais forte do que a fera. Ele estava estrangulando o Sybold até a morte. Finalmente, a b***a se extinguiu. Thor não a largou antes que passasse mais um minuto. Ele levantou-se lentamente, sem fôlego, olhando para baixo, olhos arregalados, sustentando seu braço ferido. O que havia acabado de acontecer? Teria ele, Thor, realmente matado um Sybold? Ele sentiu que era um sinal, desse dia e de todos os dias vindouros. Ele sentiu que algo memorável tinha acontecido. Ele tinha acabado de m***r a fera mais famosa e temível de seu Reino. Sozinho. Desarmado. Não parecia verdade. Ninguém iria acreditar nele. Ele sentiu o mundo girar enquanto se perguntava que classe de poder havia tomado conta dele, o que isso significava; quem ele realmente era... As únicas pessoas conhecidas que possuíam um poder assim eram os Druidas. Mas seu pai e sua mãe não eram Druidas, Então ele não poderia ser um. Ou poderia? Sentindo a presença de alguém atrás dele, Thor virou-se e viu Argon ali parado, olhando para o animal. “Como chegou aqui?”Thor perguntou, espantado... Argon ignorou-o. “Você presenciou o que aconteceu?” Thor perguntou ainda descrente. “Eu não sei como consegui fazer isso.” “Mas você sabe.” Argon respondeu. “Bem no fundo, você sabe. Você é diferente dos outros.” “Foi como... uma onda de energia.” Disse Thor. “Como uma força que eu não sabia que tinha.” “O campo de energia.” Disse Argon. “Um dia você irá conhecê-lo muito bem. Você até mesmo poderá aprender a controlá-lo.” Thor apertou o ombro; a dor era insuportável... Ele olhou para baixo e viu sua mão, coberta de sangue. Ele se sentia um pouco tonto, preocupado com o que aconteceria se ele não conseguisse ajuda. Argon deu três passos para frente, estendeu a mão, agarrou a mão livre de Thor e colocou-a firmemente na ferida. Ele a manteve ali, inclinou-se para trás e fechou os olhos. Thor sentiu uma cálida sensação percorrer seu braço. Dentro de segundos, o sangue pegajoso da sua mão se secou e ele sentiu que sua dor começava a desaparecer. Ele olhou para baixo e não compreendia isso: ele estava curado... Tudo o que restava eram três cicatrizes no lugar que havia sido cortado pelas garras — mas elas estavam fechadas e parecia que já tinham muitos dias. Não havia mais sangue. Thor olhou para Argon com total espanto. “Como fez isso?” Ele perguntou. Argon sorriu. “Eu não fiz. Você fez. Eu apenas guiei o seu poder.” “Mas eu não tenho o poder de curar.” Thor respondeu perplexo. “Não tem?” Argon replicou. “Eu não entendo. Nada disso faz sentido.” Thor disse cada vez mais impaciente... “Por favor, diga-me.” Argon desviou o olhar. “Algumas coisas você deverá aprender ao longo do tempo.” Thor pensou em algo. “Isso significa que eu posso se unir à Legião do rei?” Ele perguntou, animadamente. “Certamente, se eu posso m***r um Sybold, então eu posso me sair bem junto com os outros meninos.” “Certamente você pode.” Ele respondeu. “Mas eles escolheram meus irmãos — eles não me escolheram...” “Seus irmãos não poderiam ter matado esta fera.” Thor olhou em volta, pensando. “Mas eles já me rejeitaram... Como posso me juntar a eles?” “Desde quando um guerreiro precisa de convite?” Argon perguntou. Suas palavras mergulharam bem no íntimo de Thor. Thor sentiu seu corpo aquecer-se. “Você está dizendo que eu deveria simplesmente aparecer? “Sem ser convidado?” Argon sorriu. “Você cria o seu destino. Os outros não o fazem.” Thor piscou — e um momento depois, Argon já se havia ido. Outra vez. Thor girou ao redor, olhando em todas as direções, mas não havia nenhum vestígio dele. “Por aqui!” ouviu-se uma voz. Thor se virou e viu uma enorme rocha diante dele. Ele sentiu que a voz vinha de lá em cima e imediatamente escalou a pedra gigantesca. Ele subiu até o topo e ficou confuso ao não ver nenhum sinal de Argon. Porém, desde essa posição vantajosa, ele era capaz de ver por cima das copas das árvores de Darkwood. Ele via onde terminava Darkwood, viu o segundo sol de um verde escuro e mais além, a estrada que levava até a corte do rei. “Esse é o seu caminho.” Disse a voz. “Se você se atrever.” Thor virou-se, mas não viu nada. Era só uma voz ecoando. Mas ele sabia que Argon estava, em algum lugar, incitando-o. E sentia, bem no fundo, que ele estava certo. Sem hesitar por mais um momento, Thor desceu da rocha e tomou o rumo do bosque, em direção à estrada distante. Ele corria para o seu destino.
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