O que acontece no cinema...

1312 Words
Derek e Cora foram uns dos primeiros a entrar na sala de cinema. Por sorte haviam muitos lugares livres para escolher a vontade. Ele preferia sentar-se na fila mais alta e ter uma visão mais ampla da grande tela. Infelizmente sua irmã preferia sentar-se no meio, mais próxima e mais envolvida pelo som. Então escolheram confortáveis poltronas na fila que ficava exatamente no meio e se acomodaram com os grandes baldes de pipoca e refrigerante. Normalmente Derek Hale não era o tipo de cara que perde tempo indo ao cinema com a irmãzinha, mas as férias de Cora estavam chegando ao fim. Em dois dias a garota voltaria para Londres, onde morava com Laura. E nas duas semanas que ela passara na América, Derek conseguira driblar todos os programas que a irmã marcara para ambos. Agora não podia fugir mais... Só precisava ser otimista. Quais as chances de algo dar errado? O filme não era grande coisa: algo sobre super-heróis, com super-poderes, criado pela Marvel ou DC... não tinha certeza. O cast incluía o nome de bons atores e a direção ficara a cargo de um grande diretor. Melhor que as comédias românticas exibidas nas outras salas. E a animação infantil. Pouco a pouco a sala foi enchendo até não sobrar nenhum lugar vago. As luzes principais se apagaram ao inicio dos trailers. Quando o filme começou a ser exibido tudo caiu na penumbra e ficou silencioso. Ou quase... – Santo Deus, eu tava doido para ver esse filme – o quase sussurro soou exatamente atrás de Derek, que franziu as sobrancelhas – pena que perdemos a estreia! O rapaz resistiu a virar-se para ver quem tinha falado aquilo. Olhou para Cora, porém a menina parecia entretida com o que assistia. – Olha lá, cara! É o Super Onda! Sabia que eles quase cortaram ele no roteiro inicial? Era para focar mais na Liga dos Poderosos da primeira geração. E nessa geração não tinha o Super Onda. Cara, como eles poderiam cortar o Super... – Hã, hã – Derek fingiu que limpava a garganta e teve o efeito que desejava. A pessoa atrás de si parou de falar. Por alguns minutos o filme passou em perfeita paz. Aqui e ali ouvia-se o som de saquinhos de biscoitos amassados e latinhas de refrigerante sendo abertas. Mas a pseudo paz não durou muito... – Essa cena – a voz juvenil ecoou tentando inutilmente ser sussurrada – é do arco dois dos quadrinhos, no universo alternativo que o Garra Azul não morre. Como a cena foi muito impactante eles resolveram aproveitar – a última parte saiu estranha, como se o rapaz estivesse com a boca cheia de pipoca. Derek franziu as sobrancelhas e trocou um olhar com Cora. A menina parecia estar se divertindo com a situação e nem um pouco incomodada com o tagarela atrás deles. Sorriu para o irmão mais velho, comendo da própria pipoca. – Ah... presta atenção nessa parte, Scotty. Aqui que você vai entender o final. Depois vai ter uma cena secreta com a Dama das Feras e a Lava Flamejante fazendo um tipo de fusão que... – HÃ HÃ – Derek voltou a resmungar irritado. Como assim ninguém mais se incomodava com aquele ser humano tagarelando o filme todo? Ou melhor, falando sem parar por quase todos os dez minutos de exibição?! Se continuasse assim por todas as duas horas e meia, Derek não ia aguentar! Talvez fizesse tempo demais que estivera em uma sala de cinema desde a última vez, pois pelo que se lembrava as pessoas costumavam respeitar e ficar de boca fechada para não atrapalhar os outros! Talvez a escolha de filme tivesse sido a errada, deduziu ao olhar em volta e notar que basicamente todos ao redor eram adolescentes. Alguns cochichavam entre si, mas não chegava a ser audível como o moleque que matraqueava logo na fileira de trás. Que azar! – Eu totalmente odiei a atriz que escolheram para fazer a Debbra. Não custava nada tingir o cabelo dela de loiro... imagina isso, cara, o orçamento de milhões e eles não tem tinta pro cabelo. E o... Derek virou-se lentamente e lançou o olhar mais mortal possível para as pessoas da fileira de trás. Imediatamente às suas costas estava um rapaz com um balde enorme de pipoca e um copo gigantesco de refrigerante, que parou de falar e arregalou os olhos castanhos de leve. Ao lado dele estava um outro adolescente -provavelmente o tal de Scotty- com a mão sobre o joelho de uma garota de cabelos escuros ondulados. O casalzinho parecia divertir-se com a cena. Então Derek encarou de olhos estreitados enquanto o tagarela parecia desconfortável e desviava os olhos para a tela, tentando fugir da mirada reprovadora. Achando que intimidara o bastante, ele ajeitou-se na cadeira e concentrou-se no filme por quase dez longos e abençoados minutos. Até a primeira cena de ação propriamente dita. Superpoderes e rajadas de energia começaram a ser disparados entre mocinhos e vilões. Pareceu emoção demais para o garoto manter o silêncio. – Essa foi a primeira cena que eles filmaram com toda a Liga dos Poderosos! O ator que faz o Catástrofe chegou a torcer o pulso. Sabia que a cena saiu direto da edição de Ouro do Chrono King? Foi um crossover. Eu tenho a edição. Deve valer uns oitocentos dólares agora. Acredita nisso...? Derek percebeu que não adiantava contar até dez para se acalmar. Ele tinha chegado até o cinquenta e ainda queria esganar aquele pirralho. – Shiiiiii – sibilou com seu humor caindo perigosamente. – Fala sério, Scotty. Tem cada pessoa amarga nessa vida que adora atrapalhar a diversão dos outros – murmurou de modo que Derek pudesse escutar, antes de dar um longo -e ruidoso- gole no refrigerante. A sobrancelha de Derek tremeu quando ele escutou aquilo, principalmente quando ele ouviu uma risadinha que devia ser do outro adolescente. Não tão discretamente olhou de um lado para o outro. A maior parte da platéia continuava compenetrada no filme, inclusive Cora. Um ou dois o olharam de volta, talvez começando a se interessar no drama paralelo que se desenrolava dentro da sala. E dava mostras de ficar mais interessante que o próprio filme. Respirando fundo Derek Hale considerou que talvez estivesse desatualizado demais e fosse antiquado demais. Qual o propósito de se estressar por algo que deveria aproveitar e diverti-lo? Relaxou e cruzou as mãos, deixando o balde de pipocas esquecido no braço da poltrona. Sentia-se pouco disposto a dar um show maior do que o garoto já estava dando. Mas sua boa vontade foi posta a prova novamente. – Isso não é canon – a voz sussurrada foi perfeitamente audível para Derek, que cerrou os lábios – Nos quadrinhos a Agulha n***a sai gravemente ferida, e enquanto ela se recupera fica mais intima do Águia de Ouro. Dai que a história segue para o crossover com... Foi a gota d'água. Derek achou que já tinha dado todas as chances possíveis para aquele peste. O que era para ser um momento de diversão com sua irmã tornava-se um tormento. Ele nunca fora a mais paciente das pessoas. Com irritação fora de escala ele virou-se para a fila de trás, mantendo no rosto a expressão mais fechada que conseguiu fazer. – HÃHÃ! Os dois garotos se entreolharam e o tal de Scotty disfarçou um sorriso, inclinou-se para o lado do tagarela e cochichou: – Cara... acho que ele tá rosnando pra você. O garoto de grandes olhos castanhos deu de ombros. – Não tenho medo de sourwolf – debochou tentando parecer corajoso. O problema foi que ele estava com a boca cheia de pipocas e ao dizer aquilo uma escapou e voou até bater na testa de Derek. Okay. O “sourwolf” pareceu com um dos protagonistas do filme: ele transformou-se por completo, passando de lobo azedo para um verdadeiro vulcão em erupção...
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