Em questão de segundos.
18 de dezembro de 2014
— Parabéns aos formandos de 2014! — o reitor termina o discurso, me levanto com os outros alunos eufóricos e jogo a beca para o alto.
Um grande sorriso surge na minha face com a constatação de que conclui mais uma etapa na minha vida, agora sou oficialmente uma enfermeira assim como minha mãe.
Não foi difícil escolher qual carreira eu deveria seguir quando terminei o ensino médio, cresci vendo a minha mãe cuidando dos seus pacientes com calma e dedicação, e assim decidi seguir o seu exemplo, quero cuidar das pessoas quando elas necessitarem e fazer um bom trabalho para a cidade Southward Angel.
Pego a beca caída no chão e me embrenho entre os alunos, quando finalmente consigo me livrar da multidão eu avisto meu pai e minha mãe, ambos estão lado a lado com um sorriso gratificante no rosto me esperando.
— Você está tão linda, minha Elle — meu pai sufoca-me em seu abraço, mas é uma ótima sensação tê-lo me esmagando, faz quase um mês que não o vejo.
— Estou com tanta saudade pai — minha voz embarga com os soluços recém-chegados na minha garganta, porém os contenho. Meu pai está há quase um ano longe de casa, eles decidiram se separar e eu desconfio o motivo, ambos não querem contar para mim, dói lembrar-me dos meus pais alegres, felizes e agora tomando rumos diferentes. As viagens constantes a trabalho do meu pai me impossibilitam de vê-lo com frequência, tenho certeza de que essa é à razão da separação, mas não posso ter certeza, hoje a sua presença foi essencial e ele conseguiu vir, vê-lo aqui hoje foi de extrema importância para mim.
— Eu lhe disse que Elle sente a sua ausência Declan — mamãe o repreende, algumas coisas não mudam, é bom vê-los lado a lado novamente.
— Eu sei Emily, irei melhorar nessa questão — mamãe revira os olhos e tira-me dos braços do meu pai — Parabéns querida, estou orgulhosa, você se tornou uma linda mulher — seguro as mãos de ambos e aperto sentindo o calor delas.
— Vocês são ótimos pais e juntos me transformaram na pessoa que sou hoje, obrigado — eles sorriem ternamente, sinto duas mãos grandes na minha cintura e não preciso me virar para saber quem é, meu bad boy decidiu finalmente vir atrás de mim.
— Sr. Jordan, Sra. Kane, boa tarde — Jason cumprimenta educadamente meus pais e encaro meu namorado, estamos juntos desde o começo desse ano, seus cabelos loiros e olhos verdes me cativaram, ele tem a famosa pinta de bad boy que muitas meninas costumam falar, seu corpo é musculoso, não é algo que chame muito a atenção, mas parece que um homem estudando engenharia atrai as mulheres de qualquer forma.
— Jason, você irá almoçar conosco? — ele assente, Jason se formou hoje juntamente comigo depois de cinco anos estudando engenharia elétrica, ele é uma boa pessoa, contudo às vezes sinto que somos incompatíveis mesmo que ele diga o contrário, Jason gosta de festas em casa de fraternidades, sair para boates e adora uma boa bebida alcoólica, enquanto eu gosto de ficar em casa lendo um livro, assistindo TV ou passando o dia ao lado da minha mãe no hospital para observar ela cuidando dos pacientes.
— Então vamos, fiz frango assado! — meu pai arregala os olhos e lambe os lábios fazendo-me rir, é obvio que ele sente falta da comida da mamãe, e talvez dela também.
***
— O que você planeja fazer agora que se formou Jason? — ouço papai perguntando da sala. No começo do ano, depois da separação eu e mamãe decidimos nos mudar para uma casa menor, encontramos uma casa térrea, no corredor se encontra dois quartos e um banheiro, a sala é no começo do corredor e assim consigo ficar atenta ao interrogatório do meu pai, caso ele faça uma pergunta constrangedora eu consigo chegar a tempo para impedir uma resposta mais constrangedora ainda.
— Provavelmente conseguir um emprego na minha área — ouço-o dizer, olho-me no espelho e retoco o brilho claro na cor salmão, depois de almoçarmos passamos a tarde conversando, mas às 6 da tarde Jason lembra-me da festa de fraternidade, uma despedida dos formandos.
Ao olhar-me no espelho vejo uma garota sexy com um vestido vermelho um pouco acima dos joelhos e saltos da mesma cor, talvez hoje seja o dia que eu deva entregar a minha virgindade, mas muitas vezes eu travo e não consigo seguir adiante.
Suspiro e solto meu cabelo deixando-o formar ondas castanhas nas minhas costas, o brilho, a leve sombra e o blush me deixa mais atraente, com a pele corada, escondendo parcialmente minha pele pálida, a maioria das pessoas devem me comparar a um fantasma, mas a realidade é que evito usar maquiagens, pois deixam minha pele irritada.
Saio do meu quarto e encontro Jason nervoso olhando para papai, os dois se levantam e andam até mim.
— Cuide da minha filha — Jason assente, o seu tique de ficar batendo o pé no chão me mostra o tamanho do seu nervosismo.
— Claro Senhor.
— Agora preciso ir Elle — concordo tristemente, a sua empresa de marcenaria antes pequena agora prestava serviços por todo o estado, o seu negócio cresceu exponencialmente lhe mantendo muito ocupado mais do que eu gostaria, sempre quis que ele tivesse sucesso, pois sei o quanto ele ama construir peças, mas isso o afastou de mim e da mamãe. Meus pais estão separados, todavia não sei até quando minha mãe irá aguentar antes de pedir o divórcio de forma definitiva — Eu voltarei em breve.
— Espero que sim — abraço-o e aspiro o seu perfume tentando memorizar seu cheiro na minha mente, já não sei quando vou vê-lo novamente — Adeus pai — o acompanho até seu carro, ele entra, dá a partida e vai embora, olho para trás e vejo minha mãe observando seu carro desaparecer no final da rua, apesar de toda a decepção ela ainda o amava muito.
Aceno em despedida para ela, Jason abre a porta do seu Hyundai ix-35 2.0 para mim sendo um completo cavalheiro e levemente encosto meus lábios nos seus em um breve roçar.
***
Southward Angel é uma grande cidade, observo as ruas limpas e asfaltadas enquanto Jason dirige, a cada esquina encontro calouros e formandos farreando como sempre.
Assisto os prédios desaparecendo dando lugar a grandes casas de luxo, Jason estaciona o carro frente a uma casa particularmente barulhenta, há uma música tocando e quando passo a ouvir melhor consto que a letra é horrível.
“Vou te levar para a loja de doces”
“Garota eu estou com o maior gosto”
“Eu vou fazer você gastar tudo que tem”
“Vá indo até atingir o ponto”
Reviro os olhos e saio do carro, entrelaçamos nossos dedos e seguimos até a porta aberta dando passagem para qualquer pessoa entrar.
— Pensei que seria em uma fraternidade — essa casa definitivamente não faz parte da faculdade.
— Mudança de planos, é a casa de um amigo — todos os amigos dele são babacas e idiotas, me pergunto internamente por que ainda o acompanho a festas onde não me sinto bem, o pior é que ele nem me avisou sobre a mudança de planos, simplesmente fez o que queria fazer.
Ao entramos meu nariz capta um cheiro enjoativo de bebida e suor. Jason não perde tempo e vai até um barril de onde pega uma cerveja, ele sabe que não gosto de bebidas alcoólicas e sabiamente não oferece.
Seus amigos aparecem magicamente afastando-o de mim e o que me resta é me sentar no sofá e observar a massa de pessoas bêbadas e dançantes.
O tempo passa e a cada segundo me sinto mais desconfortável nesse ambiente, as pessoas bebem muito, as meninas se esfregam nos garotos com suas roupas minúsculas, o cheiro de maconha e outros tipos de ervas são notáveis pela casa e para piorar Jason me deixou sozinha para dar atenção aos seus amigos, sempre é assim.
Minha atenção se fixa em um ponto branco da parede, e fico assim até sentir mãos conhecidas em meus ombros.
Jason pega a minha mão e puxa-me, subimos as escadas e ele abre uma porta, o quarto é extremamente arrumado diferente do primeiro andar, é limpo e agradável.
Antes que eu possa perguntar o que viemos fazer aqui sinto beijos sendo distribuídos pelo meu pescoço, Jason enfia as mãos debaixo do meu vestido muito perto da minha calcinha e a sensação de agonia toma conta de mim.
— Aqui não Jason, quero ir embora, vamos para o seu apartamento — ele nada diz, apenas me encara e me puxa novamente escada abaixo nos levando para fora da casa.
Ao chegarmos ao seu carro ele não abre a porta para mim, sinto-o ansioso e não consigo encontrar um modo de lhe dizer que hoje não será o “GRANDE DIA”, ele está bêbado, não sei o quanto, mas seus atos me dizem que ele ingeriu uma grande quantidade de álcool.
Jason começa a dirigir rápido demais ao mesmo tempo em que sua mão insiste em alisar minha coxa, eu o afasto rapidamente.
— Se concentre na direção e coloque as duas mãos no volante — nesse momento sinto que sou a minha mãe repreendendo meu pai — E diminua a velocidade.
— Pare de ser uma fresca Elle — o tom de revolta na sua voz me faz arregalar os olhos, ele está começando a ficar nervoso e as consequências estão se mostrando na velocidade do carro — Seja humana e deixe de ser apenas hoje a filha perfeita! É tão difícil abrir as pernas?
A onda de mágoa varre o meu coração, contudo o medo é maior que qualquer emoção conflitante dentro de mim nesse momento.
— Jason, eu não entendo por que está me atacando assim, quero que pare o carro, eu estou com medo! — grito, mas tudo que eu consigo ver é diversão em seus olhos.
Uma luz forte me cega, meu coração bate forte ao olhar para frente, agarro o cinto de segurança envolta do meu corpo com as mãos trementes.
— Jason! — meu grito morre em questão de segundos.