O casamento deles

1725 Words
Elaine : — Dez anos antes — Aquela época do ano finalmente havia chegado . O Natal . A época mais mágica do ano todo . Todos os natais os Clifford's e os Lewis íam juntos para Serre Chevalier ou Tignes nos Alpes franceses para esquiar . Sempre ficávamos no mesmo resort . Eu adorava esquiar , mas , patinar no gelo ainda era meu esporte favorito na neve . Naquele ano fomos para Tignes , e logo após fazermos o check-in no resort , papai , mamãe , o senhor e a senhora Clifford se sentaram em uma bonita mesa de madeira , nos observando . Marcone , Ian , Roan e eu , nos divertiamos esquiando , enquanto eles degustavam deliciosas e fumegantes canecas de chocolate quente . Eu adorava os Alpes franceses . O friozinho gostoso e aquelas casas bonitas , as estações de esqui , o branco da neve se estendendo até onde os nossos olhos não alcançavam mais . Mas , entre todas as maravilhas dos Alpes franceses , o mais lindo para mim eram os lagos congelados . Pois eu sempre podia patinar neles . — Marcone , vamos , por favor ! — sacudi seu braço implorando . — Eu não quero ir ! — ele disse se soltando da minha mão — Não sua babá Elaine ! — Por favor , só desta vez ! — pedi — Não pode fazer isso por mim ? Hum ? — Se queria tanto patinar no gelo , por que não trouxe aquela criada que sempre te acompanha ? — ele questionou frustrado . — Você é mesmo um tonto . Não sabia que a Josephine está grávida ? — perguntei ansiosa — Por favor irmão . — segurei sua mão carinhosamente — Eu faço tudo o que quiser por um mês inteiro . — Tudo ? — ele perguntou interessado — Não vai se arrepender depois ? — Não ! — sorri para ele . Pelo visto eu estava frita — Palavra de escoteiro ! — Ok ! — Isso ! — comemorei — Vou pegar meus patins . Subi para o quarto quase correndo , peguei os patins , meu casaco quentinho , meu cachecol , vesti a touca que cobria minhas orelhas , e então desci . Mas meus planos foram frustrados . — Marcone , o que é isso ? — perguntei confusa — Por que ele está aqui ? — Porque ele vai com a gente ! — Marcone disse abraçando o Ian pelo pescoço . — Mas , era só você ! — resmunguei baixinho no ouvido dele — Eu não gosto do Ian . — Se quiser ir patinar , é assim . Se não ... — Ok , ok ! — concordei . Deixamos o chalé os três juntos . — Tem certeza que quer mesmo patinar , Elaine ? — Marcone perguntou enquanto eu calçava meus patins — O gelo não parece estar tão firme assim . — Bobagem ! — sorri para ele — Olhe só para esse lago . Gelo por todos os lados . Óbvio que está firme ! — Se alguma coisa acontecer a você , o papai e a mamãe vão ... — Não se preocupe . — dei um beijo em seu rosto — Nada vai acontecer . — Sua irmã é mais corajosa que você , Marcone ! — ouvi o chato do Ian falar . Me aproximei do lago e comecei a patinar . A brisa fria tocava meu rosto em uma carícia gelada e deliciosa . Eu adorava isso . — Seja rápida Elaine ! — Marcone gritou — Precisamos voltar logo ! Ergui o meu polegar e o indicador para ele fazendo um sinal de ok . Continuei patinando enquanto os dois travavam uma conversa animada . Então um som fez meu coração disparar . O som do gelo se partindo . — Marcone !!!! — gritei desesperada para o meu irmão enquanto encarava imóvel o gelo quebrando . — O que houve ? — ele perguntou confuso . — O gelo está ... — antes que eu pudesse completar a frase o gelo cedeu abaixo dos meus pés me tragando para dentro do lago gelado . Em segundos fui atingida por um frio intenso . Era como se mil facas atravessassem meu corpo . O ar estava se esvaindo dos meus pulmões rapidamente enquanto eu me debatia tentando encontrar a saída . O ar acabou , senti meus olhos se fechando e meu corpo sendo levado para o fundo , e então tudo ficou escuro . — Ela está viva ? — a voz desesperada de Marcone era apenas um sussurro — Ela não morreu não é mesmo ? — Se controla Marcone ! — Ian gritou . O que era aquilo , por eu ouvia suas vozes como um sussurro e não conseguia ver nada além do escuro . Eu havia morrido ? De repente , senti algo macio tocar meus lábios , sugando-os . Então , a água subiu pela minha garganta e tossindo eu a joguei para fora . — Graças a Deus ! — Marcone disse do meu lado esquerdo . Abri os olhos sentindo a claridade me cegar por alguns segundos . — Bem vinda de volta ! — a voz de Ian sôou do meu lado direito . Virei a cabeça olhando em sua direção , ele me encarava com um semblante aliviado . — Por que está todo molhado ? — perguntei . Ele sorriu em resposta . Ele sempre foi tão bonito assim ? Por que ele estava brilhando ? Meu coração começou a disparar . — Deve ser grata a ele ! — Marcone falou — Foi ele quem pulou no lago para te salvar , e também foi ele quem te trouxe de volta . — Você ... — encarei Ian e toquei meus lábios com a ponta dos dedos — Fez respiração boca a boca em mim ? — Sim ! — ele respondeu — E massagem cardíaca também . " Mas , aquele era o meu primeiro beijo ! " Pensei . — Dois anos antes — — Você está tão linda , querida ! — papai me elogiou estendendo o braço para mim . — Obrigada papai ! — agradeci segurando seu braço . O som da marcha nupcial começou a tocar . Juntos , caminhamos sob o tapete vermelho até o altar . Meu coração estava disparado enquanto eu caminhava em sua direção . Ian aguardava no altar , impecável como sempre . Ele estava lindo , vestindo um terno branco , um lírio azul em sua lapela , e uma gravata na mesma cor da flor . Papai ergueu meu véu , beijou minha testa e entregou minha mão a ele e se foi . O padre iniciou a cerimônia . Fizemos nossos votos , trocamos as alianças e ao som de aplausos trocamos um beijo rápido . Após a cerimônia , meus pais ofereceram uma festa de casamento na mansão Lewis . Decolamos logo após a jantar em uma viajem de núpcias para Veneza na Itália . Era por volta das onze da manhã quando fizemos o check-in no hotel onde ficaríamos hospedados naquela semana . — Você quer tomar banho primeiro ? — ele perguntou — Ou eu posso ir ? — Ok ! — concordei — Tudo bem ? Eu estava extremamente nervosa enquanto ele tomava banho . Me sentei aos pés da cama, juntei as mãos e as coloquei no colo e aguardei até que ele terminasse . Demorou cerca de dez minutos até que ele deixasse o banheiro , já vestido em roupas formais . — Você vai sair ? — perguntei me levantando . — É , eu vou sim ! — ele respondeu — Mas acho que nós precisamos conversar antes . — Tudo bem ! — concordei . — Olha , Elaine , nós dois fomos empurrados para esse casamento indesejado ! — ele disse — Mas vamos tentar conviver da melhor forma possível . E vamos nos divorciar em seis meses . — Divórcio ? — perguntei em choque — Não vamos nos divorciar , não podemos . Não existem divórcios em minha família ! — Bem , nós seremos os primeiros então ! — ele disse pegando a carteira e colocando no bolso — Não tenho a menor intenção de ficar com você . — Ian , não pode fazer isso ! — falei — Nós já somos dois adultos , nos casamos de verdade . Casamento não é uma brincadeirinha de criança . — Advinha só , eu não pedi por esse casamento ! — ele cuspiu as palavras — Eu fui obrigado a entrar nessa para que ambas as nossas famílias se beneficiassem do prestígio uma da outra . Eu não gosto de você , nem sequer sinto a mínima atração por você . E sabe o que mais , princesinha de porcelana ? Não há possibilidade alguma de eu gostaria de você um dia . Senti meu coração se partindo em dezenas de pedacinhos ao ouví-lo dizer aquelas palavras . — Não me espere acordada ! — ele disse . Sem dizer mais nada ele saiu , batendo com força a porta do quarto . Naquele dia ele não voltou para o hotel . Nem na manhã seguinte . Quase toda aquela semana de núpcias m*l trocamos duas ou três palavras . Meu conto de fadas havia se transformado em um pesadelo . — Dois anos depois — Os olhos dele pesavam sobre o papel a sua frente . A caneta girava entre seus dedos enquanto eu o observava com atenção . — Não vai assinar ? — perguntei interessada . — Por que ? — ele ergueu os olhos me encarando — Está com pressa ? — Sim . — respondi — Eu estou com pressa . — Para que ? — ele questionou erguendo uma das sobrancelhas — Para ficar finalmente solteira . — Ah não , para isso quem tem pressa é você ! — falei com um sorriso de escárnio nos lábios — Eu estou com pressa para ir atrás da minha felicidade . E digamos que eu nunca tive tanta pressa assim na minha vida toda .
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