Capítulo 19

1795 Words
— VOCÊ TÁ INCRÍVEL — é Marcos quem me diz, pegando em uma de minhas mãos e me fazendo girar. Rio. Marjorie e Isabel nos deixaram há algum tempo, enquanto eu permaneci aqui conversando após lhe parabenizar. — E você até que não está r**m — devolvo, parando a sua frente e fitando suas írises. — Até que não estou r**m? — Ele arqueia uma de suas sobrancelhas. — É o melhor que consegue fazer? — Por hoje, é sim. Marcos está com uma camiseta de botões branca aberta e seu peito nu está coberto por glitter, o que de repente o tornou extremamente atraente ou talvez seja apenas o álcool correndo por meu organismo. Uma tosse forçada quebra o silêncio, atraindo meu olhar para os dois homens parados atrás de Marcos. Suas vestimentas não são muito diferentes e eu me pego sorrindo; por acaso eu morri e estou no paraíso? — Ah, esses são meus amigos, Carlos e Adrien. Carlos tem o cabelo escuro ondulado, pele parda repleta de tatuagens e olhos acastanhados. Está usando uma calça bege e uma camiseta branca com listras na mesma tonalidade que a calça, entrando em contraste com seu colar e anéis pretos. Desvio o olhar para Adrien e uma sensação de reconhecimento me invade instantaneamente. Seus cabelos são louros e seus olhos são claros, seu corpo também é coberto de tatuagens e sua pele é clara. Está usando uma calça e uma camiseta aberta preta, sendo o glitter a única coisa a trazer um pouco de cor em seu visual. Carlos dá um passo para frente, estendendo sua mão em minha direção e sou levada por seus olhos castanhos e brilhantes. Encaixo meus dedos acima dos seus. Ele leva seus lábios ao dorso de minha mão e me olha nos olhos ao dizer com malícia e um sorriso ladino: — É um prazer conhecê-la… Seu tom de voz dá a******a para que eu me apresente, já que o irresponsável do meu amigo esqueceu de fazê-lo, então é o que faço assim que ele volta a sua postura anterior, estando um pouco mais afastado de mim: — O prazer é todo meu, me chamo... — Maitê! — Me assusto quando a voz de Isabel se sobressai e ela toca meu ombro, fazendo-me saltar e afastar-me do moreno, levando a mão ao peito. — Eu te assustei? Desculpa. Você não vem dançar? — Ela observa os três homens atrás de mim e retorna o olhar para mim. — Não acredito que estou sendo trocada por homem. — Seu tom soa eufórico, assim como é a reação de todo seu corpo. Sequer tenho tempo de raciocinar ou respondê-la, ela empurra um copo de bebida contra minha mão e sou obrigada a captura-lo. — Bebe, você tá muito sóbria.  Levo o copo de bebida até minha boca e sinto o álcool descer rasgando pela minha garganta, faço uma careta e olho-a indignada. — Quanto de álcool tem nisso? Ela revira os olhos, pegando na minha mão. — Vem, vamos. — E me arrasta para a pista de dança, onde Marjorie está aos beijos com uma mulher loira. Por essa eu realmente não esperava. Desvio o olhar e sinto meu corpo começar a se mexer na batida da música involuntariamente. Leva poucos minutos para que eu esteja totalmente envolvida, o coração acelerado, o suor escorrendo pela minha pele e o álcool fervilhando em meu organismo conforme Isabel me oferece novos copos; dessa vez, ela me entrega uma garrafa de draft. Aceito sem retrucar, virando o líquido e sentindo o sabor adocicado preencher meu paladar. Avisto Carlos ao longe, de braços cruzados, me observando. A música pop dá lugar a "Cheia de Marra" do MC Livinho e meu olhar fixa ao dele. Dançar nunca foi um problema para mim, mas não havia dançado músicas brasileiras até esse momento. Sequer havia escutado um funk como esse que está tocando, porém é a hora certa pra eu me envolver mais na cultura brasileira.  Desvio meu olhar de Carlos por alguns segundos apenas para observar Isabel, que dança bastante envolvida com a música que toca. Observo seus movimentos que são sensuais e viro meu rosto, que automaticamente captura o olhar de Carlos que está sobre mim. Abro um sorriso mínimo para que ele não perceba e começo a me movimentar devagar, para pegar o ritmo da música. Minhas mãos passeiam por meu corpo a cada batida e meu quadril se movimenta sensualmente, danço sem tirar meu olhar de Carlos que também tem seu olhar em mim, me secando em todos os sentidos. Adrien, ao seu lado, também me encara e é quase impossível não o olhar uma vez ou outra enquanto danço. Enquanto meu corpo está em movimento, sinto Isabel se aproximar de mim, fazendo com que eu perca o olhar do moreno. As mãos de Isabel envolvem minha cintura e sua boca chega até meu ouvido: — Estou sacando o que está fazendo, danadinha, mas vamos fazer isso direito, uh? — propõe apertando minha cintura e não dá tempo para que eu possa lhe responder, pois seu corpo começa a se movimentar junto ao meu. Tenho minha perna direita no meio das pernas de Bel e meus braços em seu pescoço, enquanto os seus estão rodeados em minha cintura. Vou rebolando meu quadril ao seu comando, nossas peles se tocam e nossos corpos também, estamos em sintonia, dançando perfeitamente unidas uma à outra, e sinto o calor preencher meu corpo. Adrenalina e excitação por estar provocando alguém, talvez. Ela pede que eu rebole para frente e assim eu obedeço. Nossos corpos dançam até o chão e me pergunto como consegui a proeza de ter esse equilíbrio. A música acaba quando ainda estamos abaixadas próximo ao chão, Isabel se afasta e me dá sua mão como ajuda para que eu pudesse levantar   — Para uma estrangeira você até que rebolou essa raba muito bem. — Sinto um tapa estalado em minha nádega direita dado pela morena. — Ah, acho que você teve muita inspiração para isso, não é?! Isabel fala ao meu pé do ouvido e quando vou lhe responder, ela sai sem me dar tempo para isso. Fico parada no meio da pista e sinto suor descer por minha nuca, trazendo-me a realidade da canseira, e meus pés me guiam até o bar. — Me traga uma bebida com muito, muito, gelo, por favor. — Molho meus lábios que estão secos e me sento no banquinho alto que há ali, me posicionando de frente para observar a festa, enquanto aguardo. Jogo minha perna direita por cima da esquerda, cruzando-as para não correr o risco de alguém ver minha calcinha com esses tecidos com pouco tamanho em meu corpo. — Aqui, Maitê. — O bartender me entrega um copo de bebida com um canudo. Trago-o para frente do meu corpo e observo o drinque da vez. É uma bebida de morango, noto isso pela fruta colocada na boca da taça. Levo o canudo até meus lábios e sugo, sentindo o líquido gelado e adocicado descer pela minha garganta. Gostosinho até. Brinco com o canudo na taça enquanto espero minha energia voltar ao meu corpo, pois somente com aquela dança, a minha vontade de ficar sentada durante o resto da festa veio. E além do mais, Isabel e Marjorie não ficariam nada contentes por isso, e não quero decepcioná-las, aliás, é o dia do Marcos. — Muito calor, não é? — Uma voz masculina soa ao meu lado e, sem saber exatamente quem é, respondo: — Oh, sim. Bastante! E viro meu corpo para encarar a pessoa que está falando comigo, e me surpreendo ao notar que é Adrien, um dos amigos do Marcos que me observou dançar e que eu lhe mandei alguns olhares nada inocentes enquanto o fazia para provocar seu amigo, Carlos. Que droga! — A sua dança… foi de matar qualquer um, e pelo o que eu me lembre, Marcos disse que você não é daqui do Brasil, é da Costa Rica. Onde aprendeu a dançar músicas brasileiras assim? — Ele se senta no banco ao meu lado, na mesma posição em que eu estava anteriormente antes de me virar para olhá-lo. — Me traga um martini, por gentileza. — Então quer dizer que Marcos andou falando sobre mim, é isso? Giro meu pescoço e encaro Marcos na pista de dança, e como soubesse que eu lhe encarava, seu olhar cruza o meu. Ergo uma sobrancelha para meu amigo e ele me olha confuso, voltando em seguida a dançar animadamente grudado em uma garota. — Você não respondeu minha pergunta. — E nem você a minha. — Touché. Garota com a resposta na ponta da língua. — Adrien estala sua língua no céu de sua boca ocasionando um barulho irritante. Ele pega sua bebida e toma um gole dela. — Ele só comentou por alto — tenta se justificar. — E você gravou bem o que ele disse, que interessante. — Brinco com o canudo entre meus lábios enquanto tenho meu olhar dirigido ao seu. — Tenho sangue brasileiro. Saber dançar músicas brasileiras não pode vir somente de pessoas que moram a vida toda aqui, estou certa? — Oh, mais que certa. Mas você fala tão bem o português para alguém que chegou, há o quê, um mês mais ou menos no Brasil? — Você andou pesquisando sobre mim, senhor? Devo por acaso me preocupar? Ele dá uma risada como se eu tivesse perguntado algo muito engraçado e coloca sua bebida no balcão atrás de nós. — Não, perdão — fala, enquanto se recompõe da risada que dera nos segundos anteriores. — Foi Marcos que disse, somente isso. Levanta as mãos para o alto como se estivesse se rendendo. — Marcos, né? Sua desculpa será usar o meu amigo para suas explicações? — Meu tom é brincalhão. Dou uma sugada grande no canudo da minha taça e após engolir o líquido saboroso, coloco a bebida sobre o balcão, para deixar minhas mãos livres por alguns minutos. — Meu pai é o sangue brasileiro que eu tenho e ele sempre fez questão de me ensinar o português, assim como a cultura do Brasil. Acho que ele sempre soube que no fim eu viria para cá — respondo finalmente sua curiosidade.  É, meu pai sempre soube. Completo a frase em meus pensamentos. Ele balança a cabeça mostrando que havia entendido e vira sua bebida de uma vez só, colocando-se de pé e deixando o copo sobre o balcão. — Então acho que ele não ficaria muito contente em saber que você não está aproveitando a noite da forma certa. — Arqueio uma de minhas sobrancelhas, confusa, mas quando ele estende a mão em minha direção, finalmente entendo: — Eu posso torná-la muito mais divertida, aceita?
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