Capítulo 25

1775 Words
A BRINCADEIRA GEROU risadas e muitos divertimentos, senti-me criança novamente. Brincadeiras como esta que Adrien passou para os seus alunos, não era comum para mim ter, na idade deles. Desde muito cedo tive uma educação rígida, e minha mãe sempre ficava muito no meu pé para não brincar muito ou eu cresceria burra e não ajudaria ela na empresa, então em todas as brincadeiras que aconteciam em minha escola, estava lá eu, criança, inventando alguma dor ou desculpa para não participar. A diversão chegou ao fim com os dois grupos vencedores, e as crianças gritam de felicidade por isso. Adrien retira de sua bolsa um saco de bombom e a criançada parece se animar mais ainda ao vê-lo. Umas formiguinhas. — O grupo azul empatou com a gente por pura sorte, não é criançada? — Adrien brinca, enquanto sai de trás da mesa, ficando na frente dela. — Sim! Grita o grupo vermelho. — Nananinanão. Empatamos porque todos os dois grupos são inteligentes, não é?! — Eles concordam novamente em gritos.  Adrien abre o saco de bombom e aponta a cabeça para trás da mesa, ordenando com o olhar que eu pegasse o outro saco que estava ali e abrisse para ajudá-lo a distribuir. Faço-o e peço que as crianças se sentem, cada uma em seu lugar.  Enquanto Adrien caminha pelas fileiras do lado esquerdo, eu vou para o lado direito distribuindo os doces. Paro na última criança, Ana Beatriz, e lhe entrego o bombom, e antes que eu saia do corredor de sua fileira, ela segura minha mão. Olho-a confusa com receio de ela estar sentindo algo. — Tá tudo bem, Bia? — Tá sim, tia Ma. Só queria dizer que eu gostei muito de conhecer a senhora, quero que fique com a gente por muito tempo. Meus olhos ardem por suas palavras calorosas e abaixo dando um beijo sobre sua cabeça. — Eu também, meu amor. — Levanto minha cabeça e passo as mãos em seus cabelos, antes de continuar meu caminho até o professor Adrien que encara a cena. Chego ao seu lado e entrego-lhe o saco com o restante dos doces. — Parabéns, crianças, mas como tudo que é bom dura pouco... — Ele dá a volta e vai para sua mesa, puxa a cadeira e se senta. Um som de descontentamento das crianças se faz presente e observo todas com b***s nos lábios, mas, ainda sim, felizes pela aula. — Vocês farão uma atividade e assim que terminarem iremos ao lanche, tudo bem? Façam com calma e atenção, a comida do refeitório não vai fugir e temos quarenta minutos até lá, combinado? — Combinado, tio Adrien — dizem em uníssono. — Pode entregar para eles, por favor? — Me entrega umas folhas que continham as atividades. Apenas pego e viro meu corpo indo em direção às crianças novamente, só que dessa vez, para entregar as atividades. Eram tarefas fáceis ao meu ver, apenas para descobrirem quantas sílabas havia nas palavras abaixo e quais eram os verbos das frases. Entrego uma folha para cada aluno e deposito o restante sobre a mesa de Adrien. Há uma mesa ao seu lado e uma cadeira, como ele já sabia que teria uma estagiária, provavelmente deve ter pedido para que alguém deixasse na sala, antes mesmo de saber que eu seria sua assistente. Antes que eu pudesse me sentar, ele me chama. Travo e viro meu corpo devagar na sua direção. Ele estava sério e tinha papéis em suas mãos. — Professora González, pode me ajudar a corrigir essas atividades das outras turmas do terceiro ano, enquanto eles não terminam? Ele mostra as atividades que estava falando e vejo que são as mesmas que as crianças estão fazendo nesse momento.  — Claro, professor Alencar. — Assim que minha voz sai, ele divide as tarefas e me entrega metade delas. Pego-as e volto a ir para o meu lugar. Puxo a cadeira silenciosamente para não atrapalhar as crianças e me sento. Coloco as folhas sobre a mesa e de uma a uma, começo a corrigir. [...] — Aqui, tia Ma. — Carla é a primeira aluna a finalizar e vem na minha direção entregar sua atividade. Os minutos haviam se passado voando, e depois de Carla não demorou para que os demais alunos lhe acompanhassem na entrega das folhas. Eu já havia terminado a correção das demais turmas e entregado para Adrien, e com os minutos sobrados, passei de fileira em fileira, tirando dúvidas de algumas crianças que me chamaram. — Criançada, podem ir fazendo fila para o lanche. Com organização e sem bagunça — o homem de cabelos louros fala e as crianças correm para fora da sala, se organizando com cuidado. Vejo eles fazerem a fila do menor para o maior na maior alegria para comer. Caminho ajudando os últimos a saírem da sala, quando seu olhar azul se encontra com o meu. — Você não precisa ir com eles até o refeitório, pois em seguida haverá o intervalo. Pode ir para a sala dos professores comer alguma coisa, que eu consigo sozinho agora.  — Ok. Posso levar as atividades que eles acabaram de fazer para eu corrigir? — pergunto, pois não haveria muita coisa para eu fazer enquanto o intervalo deles não se encerra. Ele assente e sai com as crianças em fila. Observo eles sumirem do meu campo de visão e ao olhar para trás, a professora loira me encara com curiosidade. Reviro os olhos pois foi impossível não fazê-lo e entro para a sala, pegando as folhas das atividades para corrigir, meu caderno e minha caneta. Ajeito a cadeira em que eu estava sentada frente a mesa e saio da sala, caminhando rumo a sala dos professores. Para um primeiro dia, hoje está bastante agitado. [...] A aula já acabou, os alunos deixaram a sala e nesse momento estamos apenas Adrien e eu. O clima é constrangedor, um silêncio absurdo paira na ambiente e tenho a sensação de que o ar foi comprimido, de forma que até respirar está sendo difícil.  Pego a minha bolsa, colocando a alça sobre o ombro, e quando dou o primeiro passo sou impedida por sua voz grave reverberando por toda a classe: — Senhorita González — ergo meu olhar em sua direção e sinto o oxigênio faltar em meu organismo —, talvez eu não tenha deixado claro, mas você se saiu muito bem hoje e fico feliz em poder trabalhar com você. Solto o ar quando analiso suas palavras. Não é uma bronca, nem algo que possa deixar o clima pior do que já está, pelo contrário. — Ah, hoje foi muito divertido — concordo, sentindo meu celular vibrar no bolso, puxando-o e observo o aparelho. É o nome de Mia que está piscando na tela, atendo a ligação antes que caia. Ergo meu olhar novamente para o homem com um sorriso fraco nos lábios. — Até amanhã, Sr. Alencar, foi um prazer lhe conhecer. O termo "conhecer" não parece lhe incomodar, mesmo que "rever" seja o certo. Sinto como se aquele homem que eu beijei não fosse o que está na minha frente agora. Enquanto ele era muito mais ousado, provocativo, intenso e aberto, esse é fechado e extremamente profissional. Não deixou que as crianças percebessem em momento algum que houve algo entre nós e quase me convenceu de que realmente não houve. Quase. — Até amanhã, Srta. González. Saio praticamente correndo da sala, levando meu celular até a orelha e escutando a risada desenfreada da minha melhor amiga do outro lado do mundo. — Não é engraçado como eu nem preciso estar ao seu lado para saber que você saiu correndo? — Não — semicerro os olhos, caminhando para fora da instituição de ensino —, isso não é nem um pouco engraçado. O que você quer, hein? Para minha sorte, quando a ventania de São Paulo me abraça e a coloração do pôr-do-sol contorna minha pele, um táxi está passando próximo a mim. — Sua amiga e sua irmã me chamaram para uma festa do pijama hoje. E eu vou. O quê?  Arqueio uma de minhas sobrancelhas e aceno para o táxi que para a minha frente. Abro a porta e adentro o automóvel, sentando-me no banco acochoado e colocando o cinto de segurança. — Boa tarde, senhor. — Sorrio simpática para o motorista e lhe falo o endereço. — Ficou maluca, Mia, como você vem para o Brasil assim de última hora? Dessa vez, eu estou falando em espanhol e o homem me olha pelo espelho do carro sem entender absolutamente nada, ainda que os idiomas sejam extremamente parecidos. — Eu não vou para o Brasil, bobinha, será online. Ah, agora está tudo explicado.  Mia acompanha minha viagem para a casa de Pilar conversando comigo. Ela me conta que as meninas descobriram suas redes sociais a partir das minhas fotos com ela nas minhas, também diz que elas parecem muito legais e que está ansiosa para conhece-las melhor. Enquanto eu só consigo pensar no caos e desordem que vai ser esse trio junto. Agradeço o motorista e pago a corrida, caminhando para o enorme prédio a dentro. Abro a porta de casa e o silêncio é predominante no lugar, pergunto-me se elas ainda não chegaram, mas isso não faria sentido algum já que Mia pediu que eu viesse para cá. Então subo para o quarto de Marjorie, uma melodia baixa soa pelo corredor e percebo pela linha abaixo de sua porta que as luzes neon estão ligadas; nesse momento, permanecendo no tom azul. Giro a maçaneta da porta, adentrando o cômodo e sendo recebida por um rock seco. — Finalmente você chegou — sou recebida por Isabel que segura uma garrafa de álcool em suas mãos. Ela passa o braço ao redor de meus ombros, trazendo-me para dentro do quarto e fechando a porta. — Olha, as festas de pijama nos filmes parecem bem diferentes disso aqui — comento, contrariada. Eu m*l me recuperei da última resseca, ao menos Adrien não está aqui para que eu me jogue em seus braços. Suspiro. Por que os brasileiros tem que ser tão festeiros? — É, elas também são bem mais chatas do que aparentam. Nós precisavamos inovar — diz Marjorie, entregando-me uma Skol Beats e jogando-se em um sofá. — Senta aí, você tá com cara de quem viu um fantasma. — Ou o ex, o que é bem pior. — Olho para Isabel, insinuando que ela não estava de todo errada. Ela arregala os olhos. — Mentira, como assim? Abro a latinha e me jogo ao lado de Marjorie. Que comece a noite e, por favor, não acabe tão cedo.
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