O ciúme é um tipo de sentimento que acomete inúmeros seres humanos. Ocorre quando há distorção do sentimento de zelo e cuidado para com uma determinada pessoa.
— Hum...
Ciúme é "a reação complexa a uma ameaça perceptível a uma r*****o valiosa ou à sua qualidade."
— Hummm...
Insatisfeito com as respostas que encontrara às suas buscas, Daiki fechou a aba do navegador no celular, voltando a tela anterior que exibia um site de partituras e o jogou sobre o colchão. Ajeitou o violão sobre o colo e colocou os dedos sobre as cordas, pronto para dedilhar algumas notas quando bateram a porta.
Ficou ainda mais sério, sem responder ao chamado.
Não podia acreditar que sua mãe tivera a petulância, a ousadia, a coragem de deixá-lo uma semana de castigo! Ele, Aomine Daiki, tendo que ir de casa para a escola e da escola para casa, assim que o treino de basquete acabasse.
Tudo porque chegara tarde da casa de Kagami na segunda-feira. Não seria um grande problema, se não tivesse violado o toque de recolher e sido parado por um policial. Ser menor de idade era uma d***a!
Sua mãe ficara nada feliz com a ligação da polícia, pedira mil desculpas ao oficial e prometera que tomaria providências sobre o ocorrido. E ali estava ele, desde então, quase entrando em coma de tanto tédio, com tempo o bastante para pensar em coisas que não queria pensar.
A porta se abriu sem novas batidas, porém quem entrou não foi a mãe de Daiki, e sim uma garota de longos cabelos e s***s enormes. Momoi Satsuki.
— Olá, Dai-chan!
— Ah, era você.
— Que tom de voz é esse? — ela disse entrando no quarto e olhando ao redor, surpreendida — Você arrumou esse lugar?!
— Pensei que fosse a minha mãe. E não, eu não arrumei o quarto. Consegui alguém que arrumasse pra mim.
— Ee...? — ela foi sentar-se sobre o colchão, obrigando Aomine a encolher as pernas — Poderia ser o Curry-chan? — perguntou levando o indicador aos lábios e ganhando um ar pensativo.
— Curry-chan? — fez uma careta.
— Aa. Dai-chan sempre diz que encontrou alguém para passar seu caderno a limpo, cozinhar curry e agora arrumar o quarto. Essa pessoa misteriosa é o Curry-chan — sorriu até baixar os olhos e apontar o violão — Faz muito tempo que não o ouço tocar!
Esticou a mão veloz e pegou o celular de Aomine, espiando a tela. Franziu as sobrancelhas quando leu o título da partitura musical.
— Imitation Of Life? — questionou — Desde quando Dai-chan gosta de R.E.M.?
— Por que acha que eu gosto de música de v***o? Essa música estava em destaque na home do site. Só acessei pra ver como eram os arranjos — estendeu a mão exigindo seu celular de volta.
— Por que entrou na defensiva, Daiki? Eu só fiz uma pergunta.
Aomine estreitou os olhos para a amiga.
— Por que acha que eu entrei na defensiva? — soou a*******e, mas um pouco desconfiado.
Momoi riu divertida, acertando um tapinha no joelho do garoto.
— Você na defensiva é tão perceptível quanto você na Zona. Quando começa a devolver as perguntas é porque ergueu o escudo!
Daiki não respondeu. Não tinha argumentos. Era a segunda vez que ouvia aquilo. Kagami já o tinha acusado de não responder tudo como deveria. Ao invés disso jogava as perguntas de volta para a pessoa.
— Toca pra mim, Dai-chan? Onegai.
— Não — colocou o violão no chão deixando claro que não atenderia o pedido. Em partes porque estava enferrujado. E em partes por estar mesmo dedilhando uma música daquela banda piegas. Mas Satsuki não precisava saber daquilo.
— Que c***l! — a garota reclamou. Daiki apenas levou o dedinho à orelha e coçou, ajeitando-se na cama — Então vamos conversar?
— Conversar sobre o que? Você não devia arrumar uma amiga para fofocar com ela? Não estou a fim de...
— Quero saber quem é o Curry-chan! Nenhuma outra amiga pode dizer isso, só você! Por que não me conta tudo, Daiki? Estou tão curiosa...
— Não tem nada o que dizer — deu de ombros — É assunto de homens.
— Me pergunto como convenceu essa pessoa a ficar fazendo suas vontades. Se funcionou com você talvez eu possa usar a tática com o Tetsu-chan.
— Não quero falar sobre— resmungou.
— Divide comigo, Daiki! Onegai.
— Não enche.
— Não vai compartilhar comigo? Você é tão ciumento assim?
Aomine ficou tenso. Como infernos o assunto que estivera cutucando sua nuca nos últimos dias surgira naquela conversa assim tão repentinamente?
— Por que acha que eu sou ciumento?
Momoi bateu palmas duas vezes.
— O grande Aomine sama entra na defensiva! Suas barreiras são maiores que o Mura-chan — riu baixinho, deliciada.
Ouvir-se sendo chamado por “sama” trouxe um sentimento esquisito a Daiki. Ou melhor, uma mistura esquisita de sentimentos. Saudade, nostalgia, ausência. Irritação.
— Ciúmes é coisa de gente insegura — resmungou enquanto mexia a perna para empurrar a cabeça da amiga com o pé, de leve — Eu nunca sentiria ciumes de outro cara. Não sou gay, Satsuki. Você me conhece bem.
A garota conseguiu desviar e mostrou-lhe a língua. Então cruzou as mãos sobre o colo e analisou o outro, fascinada com tudo o que ouvira. Impressionante o quanto ele revelara com tão poucas palavras.
— Ne,Daiki, não são apenas as pessoas inseguras que sentem ciumes — explicou. Diante do olhar incrédulo que recebeu, continuou — Quando você gosta muito de alguma coisa ou de alguém, você deseja o melhor, quer ter sempre por perto, porque tem medo que estrague ou machuque. E ter ciumes não envolve só os sentimentos românticos. Existe ciumes de irmãos, ciumes de amigos. Você pode ter ciumes das suas coisas e não querer emprestar. Isso não quer dizer que está apaixonado por elas, baka.
— Posso ter muitos defeitos, mas não sou ciumento — ele insistiu. Pouco se importava com essas besteiras. Menos ainda em r*****o a Kagami. Jamais sentiria ciumes dele com o Midorima ou com quem quer que fosse. Se irritara daquela vez só por culpa do basquete, nada mais.
— Talvez não tivesse encontrado alguém com quem se importasse tanto a ponto de sentir ciumes. Fico feliz se for isso, e com um pouco de ciumes também, que goste assim de um amigo. Estou tão acostumada a ser apenas nós dois.
—... — Aomine apenas olhou para a garota, incerto sobre o que dizer.
— Mas Tetsu-chan é a pessoa com quem quero ter um futuro. Quando estiver com ele vou ter que me afastar um pouco de você. É bom que tenha um outro amigo precioso, para ficar de olho em você.
— Kagami não é um amigo. É apenas um e*****o.
Satsuki arregalou os olhos.
— EE?! Kagami? Kagami Taiga, da Seirin? Ele que é o Curry-chan?!
Aomine se estapeou mentalmente, apesar de que nada em sua face revelava o desconforto. Uma máscara de indiferença.
— Naruhodo... — ela sussurrou.
— Faz sentido? Porque você acha que... — interrompeu a pergunta ao compreender que estava entrando na defensiva novamente. Chocado, compreendeu que muito do que se relacionava ao ruivo o deixava daquele jeito.
— Seu castigo acaba segunda-feira, não é?
— É...
— Yoshi! Então segunda-feira eu vou com você comer curry.
— O quê?! De jeito nenhum!
— Não quer compartilhar seu amigo comigo, Daiki?
— Tsc — deu de ombros — Faça como quiser.
Momoi sorriu, feliz. Sua curiosidade sobre o misterioso Curry-chan se multiplicara por mil, ao descobrir sua verdadeira identidade.
Kagami Taiga, o jogador que entrara na Zona e tirara Aomine de seu lugar de conforto. Que o obrigara a rever sua postura e suas ações. O único que o fizera voltar a treinar. E que agora conquistara uma porcentagem significativa da atenção de Daiki.
Aquilo era intrigante...