— Tio, acalme-se. Ela não está aqui.
Os olhos de Eduardo o encararam como duas bolas de fogo.
— Então, onde é que ela está?
— Ela saiu cedo, pois tinha uma sessão de fotos na praia.
— Me explique porque você está quase pelado no apartamento da minha filha. Não é como se você não tivesse um lugar para passar a noite já que tem a mansão dos seus pais e todos os hotéis da família. É melhor me dizer a verdade, garoto, ou vai pagar caro. Por que você está aqui? — Eduardo exigiu.
— Querido... — Camila tocou o braço do marido, mas ele só tinha olhos para Roman.
Eduardo observava com atenção as marcas vermelhas nos ombros, braços e costas de Roman. Ele tinha certeza de que Luciana tinha feito aquilo. Assim como a mãe, ela podia ser uma tigresa na cama.
— Dormi aqui ontem à noite. — Roman disse bravamente.
— Mesmo? Então você está dormindo com ela? Pelo amor de Deus, Roman, vocês dois são primos.
— Nós não somos primos. — Roman disse com firmeza. — Você e o meu pai não são primos de sangue.
— De sangue ou não, ainda somos parentes! Vocês dois cresceram como primos e nada pode mudar isso. —Eduardo disse com raiva. — Mas eu ainda não recebi uma confirmação, você está ou não dormindo com a minha filha?
— E se eu estiver? O que você vai fazer? Nos separar?
Um duro golpe na mandíbula de Roman lhe jogou no chão.
— Oh meu Deus! Eduardo, pare! — Camila gritou.
Eduardo deu-lhe outro golpe e logo o rapaz estava sangrando.
— Vamos, lute comigo! — Eduardo gritou.
— Não, eu não vou tio, eu respeito você. — Roman respondeu, tocando sua boca sangrando, e então se levantou.
— Hã! Você está falando sobre respeito agora? Você não respeita a mim nem a minha filha. Você não poderia estar dormindo com ela. Seu pai sabe disso?
— Não. Mas ele sabe como eu me sinto sobre a Luciana.
— f**a-me! — rosnou Eduardo. — Eu vou ter que quebra-lo também?
***
Luciana começou a lembrar da noite que tiveram enquanto voltava ao seu apartamento. Ela e Roman tinham começado a dormir juntos apenas na noite passada, apesar de já se sentirem atraídos um pelo outro havia muito tempo. Eles guardaram o desejo que sentiam a todo custo, apenas para não magoar seus familiares por causa da falsa ligação como primos. Mas é claro, que chegou uma hora em que não puderam mais se controlar. Se pelo menos papai não fosse tão antiquado...
Tudo começou anos atrás quando Luciana perguntou se Roman gostaria de acompanhá-la a uma festa de um dos seus amigos de elite na Califórnia, onde o escritório de negócios dele ficava. Ela ficou sem graça de aparecer na festa sozinha, pois, por mais bonita que fosse, não tinha muito jeito com os rapazes, graças a superproteção do seu pai. Ela estudou em um internato para meninas regido por freiras durante toda a vida acadêmica e por isso, nunca havia namorado ninguém.
Mas a verdadeira razão era também porque Luciana queria apenas um homem, e esse homem era Roman. Era inútil tentar algo com qualquer cara que ela conhecesse, por exemplo, durante as férias, porque toda vez que conhecia alguém, acabava comparando-o com o primo. Toda vez que estava com ele, ela se sentia como uma princesa, pois ele a tratava assim. Ele a fazia se sentir feliz e especial.
Eles tinham acabado de sair da festa e entrado na Lamborghini de Roman quando ela lhe confessou que nunca tinha sido beijada.
— Isso é sério? — Roman perguntou, rindo.
— Não ria de mim, Roman.
— Não, eu não estou. É que eu nunca imaginaria isso. Você é tão bonita... é simplesmente impossível de acreditar que ninguém nunca te beijou.
— É ridículo, tendo em vista que eu já tenho dezoito anos, mas é verdade. — ela disse tristemente. — Afinal, você conhece o papai.
Roman riu. Ela olhou para ele com a cara feia.
— Você está realmente rindo de mim, Roman. Isso não é engraçado.
— Não é disso que eu estou rindo, Lu. É que... será que o seu pai não percebe que a sua boca foi feita para ser beijada? Se eu não fosse seu primo, eu mesmo te beijaria agora. Deixaria seus lábios inchados, pois eles são tão rosados e parecem tão deliciosos...
Roman calou a boca antes que revelasse mais do que deveria. Ele tinha que se lembrar de que ela era sua prima, e que seu tio era um homem difícil e muito protetor. Ele a manteve em um colégio de meninas apenas para deixá-la protegida dos homens à sua volta. Roman sorriu com o pensamento de que seria uma boa lição para Eduardo Villa-Lobos se sua querida Luciana se revelasse lésbica. Mas descartou o pensamento logo, pois não queria de nenhuma forma no mundo, que ela não o achasse atraente como homem. Ainda que só em seus pensamentos.
— Está falando sério, Roman?
— É claro que estou.
Luciana mordeu os lábios de uma forma inocente que deixou Roman vidrado.
— Você me acha atraente mesmo sendo sua prima?
— Não se subestime, Luciana. Você é uma mulher muito atraente. Qualquer homem cairia de quatro por você.
— Então por que ninguém nunca fez isso?
— Acho que todo mundo tem medo do seu pai. Fico pensando o que ele faria se soubesse que eu gosto de você. — Roman disse baixinho, na intenção de não fazer Luciana ouvir, mas ela ouviu.
— Você gosta?
Roman sorriu, tímido. — Infelizmente, sim.
Ele não tinha por que negar, afinal a relação deles nunca sairia daquilo que era.
— Oh Roman, eu gosto de você também.
— O quê? Você não pode. Somos primos. — ele deu a ela um olhar de advertência.
Luciana fez beicinho e, posteriormente, sorriu perversamente sem que ele visse. Quando chegaram à suíte em que estava hospedada, ela voltou a tocar no assunto.
— Roman, você acha correto termos sido criados como se fôssemos primos, se na verdade não somos? — Luciana perguntou ao servir um pouco de uísque a Roman.
— Não acho certo, de verdade. — ele bebeu um gole com cuidado, sentindo o líquido esquentar seu interior. — Mas foi assim que fomos criados a vida toda, e agora não há nada que possa ser feito.
— Mas você disse que gosta de mim. — ela sentou-se perto dele.
— É , Luciana. — Respondeu Roman com cautela. — Mas...
— Nada de mas. Eu também gosto de você, então o que acha que podemos fazer a respeito disso?
Roman sorriu. Ela tinha coragem por perguntar isso. Se seu tio Eduardo ao menos sonhasse que eles estavam tendo esse tipo de conversa, acabaria com a sua raça.
— Nada. Um dia, você vai encontrar alguém que amará verdadeiramente, e então se esquecerá de mim.
— Eu não acredito nisso. Não acho que possa esquecer de você. Nem me lembro quando comecei a gostar de você, mas agora... acho impossível deixar de gostar.
Roman ficou sério.
— Sabe Luciana, estou achando essa conversa muito estranha. Sim, eu disse e admito que gosto de você, mas seu pai nunca vai aceitar isso.
Luciana entristeceu-se. Ela sabia o tamanho da cabeça dura do seu pai. Sabia que ele era teimoso e até mesmo nos melhores dias, jamais aceitaria sua paixão por Roman. Mas então ela pensou direito. Ela já tinha dezoito anos. Era legalmente adulta para votar, ir presa, sair da casa dos pais, beber... então por que não era adulta para amar? Se seu pai a amava como ela sabia que amava, teria que aceitar suas escolhas mesmo que fossem contrárias às dele. Já estava mais do que na hora de ela começar a agir como adulta.
— Eu não estou me importando com o meu pai, nesse momento, Roman. — ela disse, tirando o copo de uísque das mãos dele. — Eu nunca fui beijada porque sempre quis que você fosse o primeiro para mim.
— Luciana...
Ela colocou os dedos na boca dele para conter seu protesto. Em seguida lançou-se contra ele e o beijou. Roman ficou tão alarmado e surpreso que não correspondeu de imediato, mas quando tomou consciência de que era Luciana quem o estava incitando, colocou as mãos na sua cintura e a puxou para o seu colo.
— Luciana, você está completamente louca. — ele disse ao se afastar um pouco para tomar fôlego. Depois sorriu. — Que bom que eu não sou o mais são de todos os homens.
Agora foi ele quem tomou o controle da situação, beijando de forma violenta como sonhou tantas vezes desde que tomou consciência do que era desejo por uma mulher. Roman a beijava com amor e com luxúria. Seus lábios não eram a única coisa que ele queria provar, ele queria provar seu corpo todo. Então beijou o rosto dela, o pescoço, a curva dos s***s e sentiu tanto prazer com isso que estava prestes a levá-la para a cama.
Luciana não ficou atrás em seu desejo. Tudo o que ela mais queria era deixar o dogma de filhinha do papai para trás. Ela já tinha conseguido que Roman a beijasse, agora queria ir para a cama com ele.
— Luciana, por favor, me peça para parar.
— Eu nunca poderia pedir isso. Quero você, Roman.
Roman gemeu quando ela arranhou seu peitoral e o incitou com os olhos a fazer aquilo que ele queria fazer. Mas então uma ligação inesperada acabou com o momento. Luciana considerou deixar a ligação cair na caixa postal, mas no último momento resolveu atender, pois se fosse seu pai e ela não atendesse, ele sairia da suíte onde estava com sua mãe e viria até seu quarto.
— Luciana, você já está no hotel? — Era a sua mãe, graças a Deus.
— Sim, mamãe. — ela respondeu ofegante.
— Que bom, meu amor. Roman ainda está com você?
— Sim, ele ainda está aqui. Eu lhe ofereci uma bebida por ser tão gentil.
— Que ótimo, filha. Seu primo é um rapaz de ouro. Um grande beijo para os dois.
— Outro para você, mãe. E para o papai.
Luciana desligou o celular e olhou para Roman. Ele tinha se levantado durante a ligação e estava andando para lá e para cá.
— Você está bem? — Perguntou Luciana.
— Eu não estou bem. Nós não podemos mais fazer isso Luciana, é errado. Ainda bem que sua mãe ligou ou você estaria nua agora. Meu Deus, o que meu pai diria? Pior, o que seu pai diria?
— Roman...
— Devemos esquecer o que aconteceu aqui hoje.
— Eu acho que nunca poderei esquecer esse beijo. Foi o meu primeiro.
— Luciana, eu não vou esquecê-lo também. Seu sabor e seus sons vão me assombrar para sempre. Mas isso não é fácil para mim. — Roman sentou-se e esfregou o rosto com as duas mãos. — Acho que não deveríamos nos ver por um tempo.
Em seguida, ele se levantou e foi embora. Roman sentia-se renovado e destruído ao mesmo tempo por causa daquele beijo. Por que fui tão burro? Nossos pais nunca vão aceitar isso. Ele tinha conseguido se controlar por tanto tempo, poderia muito bem continuar desse jeito. Mas por que ele foi cair em tentação? Pensando nisso, Roman foi para o seu apartamento e demorou muito a dormir, pois não tirava a lembrança de Luciana da sua mente.
Ela também demorou. Mas não por ficar pensando e sim porque não parou de chorar desde que Roman saiu pela porta. Ela sabia que tinha feito uma besteira. Ela não poderia ter colocado o primo naquela situação. Ele deveria estar se sentido culpado agora quando ela era a única culpada. Mas como ela poderia resistir à proximidade dele? Ele era tudo aquilo que ela queria para si e agora ficaria longe por um bom tempo por causa da malfadada noite.
Como ela queria que as coisas entre os dois fossem diferentes.
Luciana e Roman ficaram muito tempo sem se ver, apenas em ocasiões em que a família toda estava presente. Mas sempre que ficavam um tempo sozinhos, o desejo mútuo falava mais forte que tudo. Foram quatro episódios em que eles repetiram a noite do primeiro beijo de Luciana. Apenas na noite passada, três anos depois, é que eles não puderam de fato resistir à proximidade um do outro. A distância só fez com que o desejo e o amor crescessem ainda mais. Luciana sabia que estava pronta para se entregar completamente a ele. Roman sabia que não poderia dizer não a ela como tinha feito todas as outras vezes. Eles só não contavam que Eduardo Villa-Lobos fosse descobrir tudo tão cedo.