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2222 Words
Sai da sala onde o médico me deu a notícia, pra ser sincera nem sei como consegui chegar até a sala ao lado, de tanto que eu chorava e de quanto meu peito doía, eu realmente não sabia como ia lidar com isso, agora eu não tenho mais ninguém, e o inferno tende só a aumentar na minha vida, vivendo com aquela p***a daquele homem. Entrei na sala ao lado, já tinha cheiro de morte, muitas flores, modelo de caixão e coroa de flores, era horrível de se ver. Quando fui entrando mais ainda na sala, um rapaz sentado se levantou, no terno dele tinha uma plaquinha com o nome de Leandro, ele me deu a mão, e a sua primeira palavra foi: — Leandro: Meus sentimentos, senhora Isadora. - Disse ele se sentando de novo, ajeitando o terno e se preparando para falar comigo. Me sentei também, estava me concentrando para conseguir parar de chorar, até que eu consegui. Depois de respirar fundo várias vezes, e ser necessário até a moça que estava na mesa ao lado pegar um copo de água para mim. — Leandro: Olha, eu vou tentar ser breve, pois sei que a senhora não está com muita cabeça para pensar. Aliás, teria alguma outra pessoa que poderia assumir essa parte? — Isadora: Claro que não, se tivesse eu não estaria aqui. Infelizmente é só eu, porque o lixo do marido dela está la em casa jogado no sofá, todo imundo e bêbado. — Leandro: Certo, então vamos dar sequência. Priemeiro vamos dar início com o atestado de óbito. Esse é o primeiro documento necessário para que você possa dar sequência ao sepultamento e será expedido pelo próprio hospital, inclusive eu já fiz a solicitação e já deve estar quase pronto. — Isadora: Tá, e depois? - Perguntei para ele. — Leandro: Depois disso, preciso apenas que assine alguns papéis como a única parente da senhora Sandra aqui presente e em seguida já podemos dar início à preparação do corpo, seguindo o plano oferecido pela aposentadoria dela. — Isadora: Sério que o plano dela cobre todo o funeral, caixão e tudo mais? - Perguntei a ele com um tom um pouco entusiasmado. Vi na cara dele que ele ficou surpreso com a minha reação, mas aposto que jamais passou pela cabeça dele as condições que eu vivo, e que não tinha dinheiro nem para vir até o hospital resolver essas paradas se caso não tivesse conseguido emprestado. — Leandro: Sim Isadora, na aposentadoria da sua mãe, de forma automática já era descontado o plano funerário. Assim fica muito mais fácil para os familiares quando o improvável acontecer. — Isadora: Não era tão improvável assim quando uma pessoa é internada com câncer terminal né? - Respondi para ele. Ele ficou meio sem jeito, e eu cada vez mais sem paciência. Até que eu me levantei e disse: — Isadora: Leandro, agradeço muito pelo seu atendimento, mas só me diz o que preciso fazer, onde preciso assinar para que eu possa ir para minha casa trocar de roupa? — Leandro: Mas a senhora precisa escolher os tipos de flores, o modelo do caixão, coisas desse tipo. - Disse ele um pouco inconformado com a minha reação. — Isadora: Pois então coloque tudo do mais barato, exatamente tudo, e se precisar enterrar sem caixão, faça isso, porque se precisar pagar 10 reais de diferença, eu não vou ter. Não tenho p***a de dinheiro nenhum. - E me fui empurrando a cadeira para sair da sala. — Leandro: Espera só um momento, assina esses papéis por favor, e se dirija o quanto antes para o velório municipal com a troca de roupa que desejar colocar na sua mãe. O necrotério onde o corpo será preparad fica bem ao lado, no final das escadas. — Isadora: Ok, estarei lá. Muito obrigada Leandro. - E fui saindo da sala. Sai do hospital, fui para o ponto de ônibus que era bem em frente, e por sorte minha isso, porque o meu tênis estava acabando com os meus pés, simplesmente por ser antigo e eu não ter dinheiro para comprar um novo. Que vida de merda essa minha, p**a que pariu! Busão chegou rápido, paguei a passagem, passei pela catraca e fui para o fundo do ônibus, e ainda bem que estava vazio essa porcaria. Me sentei e comecei a chorar, incontrolavelmente. Eu nunca tinha me sentido tão perdida como agora, e já tinha completa certeza de que a minha vida ia virar um verdadeiro inferno agora sem a minha mãe, não que já não era, mas eu tinha esperanças de que ela sairia daquele hospital e voltaria para casa. Quem sabe até enxergasse que aquele lixo de homem não presta, ou pelo menos enxergasse tudo o que ele fazia comigo. Mas agora acabou tudo de vez. Estava chegando no ponto perto da minha casa, enxuguei as lágrimas, puxei a corda e desci. Fui direto falar com o Sr. Antônio, e só pela minha cara ele já percebeu tudo. — Sr. Antônio: É o que eu estou pensando minha filha? — Isadora: Sim, ela não resistiu Sr. Antônio, os médicos disse que ela já estava dependente dos aparelhos, e que teve uma parada cardíaca. — Sr. Antônio: Sinto muito viu minha querida, vou fechar o bar agora para te ajudar nessa, o movimento está bem fraco hoje mesmo. Tenho um carro véio, mas pelo menos consigo te levar pra não ficar gastando com busão. — Isadora: Muito obrigada mesmo viu, o senhor é muito incrível. Agora vou lá acordar aquela p***a daquele homem, pra ver se ele pelo menos vai no velório e no enterro. Jaja chamo o senhor aqui, porque preciso levar a roupa pra colocarem nela. - Disse para ele já saindo do mercadinho e indo para a minha casa. Comecei a pensar comigo mesma, se eu quisesse ser tão filha da p**a como ele é comigo, podia muito bem me arrumar e sair, e deixar ele lá todo imundo jogado no sofá, sem nem saber que a minha mãe morreu. Se é que ele se importaria com isso. Mas o que me impede de fazer isso é não saber o que ele faria comigo quando soubesse. Então melhor acordar essa praga. Entrei na sala e ele acordou antes mesmo de eu chamar, porque fiz questão de bater a p***a da porta com força. Ainda é dia, não ta na hora de marmanjo ficar dormindo. — Carlos: O que tá acontecendo menina? Porque ta batendo essa bosta dessa porta? Bom que quebra e já fica sem merda nenhuma. — Isadora: Carlos faz o favor de não conversar nada comigo não. — Carlos: Porque você já tá chorando de novo? Menina mimada do c*****o, sempre teve tudo e só sabe chorar. - Disse ele já erguendo a voz e se levantando do sofá. Ele ainda estava bêbado. Nem dormir tem adiantado pra ver passa o efeito dessas pinga maldita que ele bebe. Fora as drogas que eu nem sei o que é que ele ta usando. — Isadora: Carlos, se você não se recuperar agora, ir tomar um banho e tentar virar gente, você vai perder os últimos momentos com a minha mãe. Ela está morta! - Disse para ele virando as costas e saindo. — Carlos: Como assim morta? Porque você não me disse sua filha da p**a? Quer me avisar só agora? Aposto que ia fazer tudo pelas minhas costas só pra eu não conseguir me despedir dela, é sua cara fazer isso menina maldita. Eu apenas não dei ouvido a ele. Eu estava apenas tentando me concentrar no que eu preciso fazer. Pegar a roupa dela, tomar um banho rápido e ir para a casa do Sr. Antônio para ele poder me levar. E quer saber de uma coisa? Se esse arrombado quiser ir, ele que se vire. Eu vou sozinha. Tomei um banho super rápido, coloquei a mesma calç preta que eu já estava, uma blusa de manga também preta, e o tênis que eu também já estava usando. Apesar de estar machucando, era o único que eu tinha. Peguei a roupa da minha mãe, escolhi a primeira que vi na frente, era um vestido florido de manguinha, a última roupa que ela comprou, pro natal do ano retrasado, e que aliás era a mais nova que ela tinha. Sai de casa antes que o Carlos visse, mas consegui ouvir o barulho do chuveiro, sinal que ele tava tomando banho. Chamei o Sr. Antônio e ele já estava pronto, só ia ele e eu no carro, ele também era uma pessoa sozinha, assim como eu seria agora. A esposa dele já tinha falecido há alguns anos, e ele nunca teve filho, porque ela tinha problema nos ovários, acho que e é por isso que ele se preocupa tanto comigo, é como se eu fosse a filha que ele nunca teve. No carro eu fiquei em silêncio e o Sr. Antônio também, a unica coisa que falei pra ele é onde a gente tinha que ir, e ele disse que ja sabia, porque lembrava quando tinha sido com a mulher dele. Por sorte não era muito longe, e chegamos bem rápido. Sr.Antônio estacionou o carro, e eu fui entrando, subindo aquelas escadarias enorme, até chegar lá em cima com a bendita roupa pra eles colocarem na minha mãe. Veio uma moça um pouco grossa e apenas disse: — Moça: Só deixar a roupa e sair, ou precisa de mais alguma coisa? — Isadora: Só isso mesmo. — Moça: O velório começa daqui umas três ou quatro horas, te ligaremos quando o corpo for liberado. Nem respondi, apenas fui saindo de lá, descendo todas aquelas escadas. Me vi sem chão mais uma vez, onde é que eu ia parar vivendo com aquele monstro? Olha só a minha situação, pra conseguir trazer a merda da roupa pra minha mãe que está morta poder usar eu preciso pedir favor pra alguém. Aliás, até pra comer ultimamente eu tenho que pedir pros outros, isso não é vida não! Se fosse eu no lugar da minha mãe acho que seria bem melhor, pelo menos o sofrimento ia acabar de uma vez por todas. - Falei bem baixinho para mim mesma. Cheguei mais perto do Sr. Antônio, e ele conseguiu ouvir o que eu tinha dito, e me respondeu: — Sr. Antônio: Minha filha, fique firme. Você ainda vai vencer muito na vida, eu tenho fé em Deus nisso. Apenas balancei a cabeça confirmando o que ele tinha dito. Disse para ele também que iria demorar, e que ele podia ir pra casa, e voltar depois se quisesse, que eu ficaria já na capela esperando dar o horário. — Sr. Antônio: Ok filha, eu só vou para casa porque daqui a pouco preciso tomar o meu remédio de diabete, mas a noite eu volto tabom? - Disse ele entrando de volta no carro, dando partida e saindo. E então eu peguei a minha bolsinha de lado que estava usando, prendi o meu cabelo com um r**o de cavalo um pouco bagunçado e fui para a capela. Estava morrendo de fome, e quando cheguei lá vi que tinha bolachinha e chá para tomar. Ainda bem. Peguei algumas, na verdade enchi a minha mão e sentei na poltrona que tinha. Bem confortável por sinal, se bobear até melhor do que a minha própria cama. As horas passaram super rápido, e quando vi o corpo já estava chegando, isso por volta de quase cinco horas da tarde. O velório iria durar até o outro dia, as oitro da manhã. Não sei pra que tanto tempo, até porque só iria ficar ali eu e aquele lixo. Isso se ele conseguir dinheiro pra pegar o busão pra vir até aqui. Colocaram a minha mãe na sala, ligaram o ar condicionado bem gelado para ajudar a manter o corpo, vierama até mim três rapazes de terno, e uma moça com uma roupa parecida com de aeromoça, bem social. E eu jogada no sofá, levantei para ouvir eles. — XX: Sentimos muito senhora Isadora, que Deus esteja contigo e com a alma de sua mãe. - Disse a moça que estava com eles e me entregou um lencinho para que eu pudesse usar. Apenas agradeci e me levantei para ir até a sala. Cheguei lá, minha mãe com o vestido florido, estava muito serena, apesar de bem amarelada por conta do câncer que alastrou em todo o seu corpo. Mas acima de tudo, eu conseguia ver que ela estava em paz, e que todo o sofrimento já tinha chegado ao fim, pelo menos para ela. Sentei ali do lado, em uma cadeira que arrastei para ficar mais perto do caixão. E ficamos ali, só eu e ela. Do jeito que sempre fomos durante toda essa vida, até que aquele lixo chegou em nossas vidas. E pensando nele, lá vinha ele entrando por aquela porta. Com uma cara de quem ia matar a primeira pessoa que aparecesse em frente a ele, e eu apenas me virei de costas, fingindo que ele não estava ali. Gente e agora? O que vocês acharam desse capítulo? O que vocês acham que vai acontecer? Vocês já me seguem no i********:? Ainda não? Poxa, então corre lá e me sigam Aut.GabiReis Adicionem o meu livro na biblioteca clicando no ❤
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