Hoje é um daqueles dias que eu posso dormir até mais tarde, mais como sempre minha mãe começa a gritar bem cedo por aqui, me levantei olhei pra fora do quarto, meu irmão dormia tranquilamente no quarto dele, e provavelmente minha mãe estava na cozinha fechei a porta e voltei a me deitar, não sei como a Raiana não acordou com todo esse barulho.
- Tata, abre a porta Tata. - pronto agora ninguém mais dorme mesmo, minha irmã tem 5 anos, e adora passar o tempo comigo, me levantei e fui abrir a porta.
- O que foi? eu queria dormir mais.
- Deixa eu ficar com você ?
- Vem, deita comigo, só fica quietinha que a Rai tá dormindo.
- Ela veio com vocês ontem a noite ? - fechei a porta novamente, e ela ia falando bem baixinho enquanto nos deitavamos.
-Sim, ela veio comigo ontem, você vai dormir né ? se não eu te coloco pra fora do quarto. - ela riu baixinho.
- Eu vou dormir Tata. - me deitei abraçando ela, e dormimos por mais 1 hora e meia, levantamos, e fomos ao banheiro escovar os dentes, e depois tomar café da manhã.
-Bom dia meninas. - minha mãe dizia com um sorriso no rosto.
- Bom dia. - eu sempre acordo de mau humor aos finais de semana, poderia ter dormido mais, só que nunca consigo, porque só falta minha mãe querer arrastar os móveis todo domingo.
-Bom dia tia. - a Raiana disse com um sorriso.
- Mãe me deixa ligar o computador um pouco? - perguntei ainda na esperança dela deixar, mesmo sabendo lá no fundo que a resposta seria não.
- Agora não é hora, você sabe.
- Aff, eu precisava do computador.
- Precisava pra que? já te disse que não vai ficar na frente desse computador por horas igual você faz na sua avó, aqui as coisas são diferentes. - comecei a respirar fundo, já estava me irritando, eu odiava tantas regras assim.
- Não tia, é que temos que fazer uma pesquisa pra escola. - a Rai começou a falar e eu até estranhei.
- Mas vocês não são da mesma sala.
- É uma pesquisa pra fazer um aluno do primeiro ano e um alugo do segundo ano, trabalho de sociologia. - minha mãe olhou bem pra ela, e depois pra mim.
- Você não me deixa explicar, na vem com dez pedras nas mãos me julgando.
- Então vão lá fazer esse trabalho logo, que daqui a pouco seus avós chegam, e aí não quero ninguém no computador.
Acabamos de tomar café, e fomos pro quarto do meu irmão, onde ficava o computador, ele já estava lá fora andando de skate, temos 3 anos de diferença, ele é um pouco rebelde, talvez por não ter conhecido nosso pai, na realidade nem eu me lembro bem, tinha só 3 anos quando ele morreu, e meu irmão 45 dias, mas essa história fica pra uma outra hora.
-Oque vamos fazer se minha mãe quiser ver o trabalho ?
- Tem umas folhas na minha bolsa sobre um trabalho de sociologia, ela não sabe qual o assunto do trabalho mesmo, vai ligando o computador ai que eu vou pegar. - ela foi no meu quarto pegar as folhas e o estojo, enquanto eu ligava o computador, e tinha todo aquele negócio de discar a internet, era uma coisa demorada, e em comparação com a internet de hoje em dia parecia que estávamos recebendo o sinal pelo correio.
Loguei no meu MSN, olhei todos online e nada do tal Guilherme.
- Aí Raí, eu desisto de falar com esse menino, eu acho que nunca vou conseguir pegar ele online.
- Laura, se for pra vocês conversarem vocês vão conversar, tudo tem seu tempo.- olhamos algumas coisas no MSN, depois no Orkut, e assim que atualizou tinha saído o dia e horário da próxima teens, eu ja fiquei doida querendo ir.
- Você vai ir né Raí?
- Se meu pai deixar é claro que eu vou.
- você nem precisa se preocupar, seu pai deixa você fazer o que você quiser.
- também não é pra tanto, mas ele é bem bonzinho.
O tempo foi passando, ficamos ouvindo uma música pelo Youtube, e conversando quando o carro dos meus avós chegaram minha mãe já gritou pra eu desligar o computador, e assim eu fiz.
A Raiana foi embora, o pai dela era bem legal, mas no almoço de domingo ela tinha que estar com ele.
O dia passou rápido, minha família sempre fazia um almoço aos domingos, reuníamos todos, no final da tarde consegui mais alguns minutos no computador e assim que eu loguei no MSN tive a surpresa, o Guilherme havia saído faziam 3 minutos, foi naquele momento que eu desisti de conversar com ele, e segui o conselho da Raí, vou deixar isso pra lá, se for pra gente conversar um dia vai acontecer.
Continuei olhando o Orkut, e já pensando em como já fazer pra minha mãe deixar eu ir na próxima teens que iria ser no final do mês, como todos os domingos assistimos um pouco de televisão, e eu fui pro meu quarto, arrumar meu material pra segunda feira.
Os dias foram se passando, e eu havia realmente desistido de ficar insistindo em conversar com o Guilherme, estava chegando o dia da teens, e eu ainda não havia pedido pra minha mãe, não tinha ido pra escola aquele dia, então como eu sei que ela gosta, limpei toda a casa, fiz almoço, e esperei ela chegar.
- Oi mãe. - disse do sofá de onde eu estava assim que ela entrou pela porta.
- Oi filha - ela olhou em volta e sorriu. - o que você vai-me pedir agora Laura?
- Como você pode dizer isso mãe? só porque eu limpei a casa você acha que eu quero alguma coisa.
- Eu te conheço, você nasceu de mim, fala o que você quer. - eu ri.
- É que essa semana tem outra festa daquela, e eu quero ir. - ela olhou pra mim.
- Eu vou ver com o Rogério, eu não tenho dinheiro para te dar essa semana.
- Mãe só precisa do dinheiro do convite, eu não vou comprar nada lá.
- Mesmo assim, eu não tenho, pede para ele, se ele deixar e te dar o dinheiro você vai.
Rogério é meu padrasto, a minha mãe começou a namorar com ele quando eu tinha 8 anos, aí ela logo engravidou da minha irmã, e eles estão juntos até hoje.
Esperei ele chegar do trabalho, enquanto isso fui buscar a minha irmã na baba, que é no quarteirão da frente da casa, voltei e eles já estavam a preparar o jantar, como não sou boba nem nada, peguei a minha prova de física e entreguei para eles antes de pedir o dinheiro do convite.
- Parabéns, que continue assim. - ele disse e entregou a prova pra minha mãe, que sorriu e devolveu pra mim.
- Eu vou poder ir ? - os dois riram.
- Você vai poder ir porque está merecendo, ajudando a sua mãe em casa, e tirando boas notas na escola, se isso mudar, você vai perder suas regalias e não vai mais sair. - ele disse sério, e eu fiquei prestando bem atenção, ele tirou o dinheiro da carteira e entregou-me 30,00.
- O convite é só 15,00. - eu disse entregando de volta pra ele.
- Pode levar o resto para você comprar um refrigerante, ou uma água.
- Obrigada. - eu sorri e sai, mesmo tendo uma relação boa, a gente às vezes não se dá muito bem, acho que é porque eu cresci com muita conversa na minha cabeça, sobre ele ocupar o lugar do meu pai, e tantas outras coisas, mais isso nunca vai acontecer.