Mayla Fischer
Ao entrar no meu quarto, eu fecho a porta sem demora e largo a minha bolsa na cama enquanto me jogo nela. Escondo o meu rosto no travesseiro e pela primeira vez, grito neles na tentativa de expressar a vontade louca de chorar e algumas lágrimas caem. Aperto-os com força, me encolhendo na cama como se um buraco fosse me engolir e me levar para qualquer outro lugar melhor do que aqui.
Aposto que qualquer lugar é melhor do que aqui!
Me levanto a força da cama com o rosto encharcado e organizo a cama como estava. Indo ao banheiro, começo a retirar a minha roupa e inicio o meu banho para poder descer sem me atrasar, porque ele odeia atrasos. Dessa vez, eu opto por molhar os cabelos na água fria para evitar uma enxaqueca e lavo bem o meu rosto.
De banho tomado, vou ao closet procurar o que vestir e para não chamar atenção, eu escolho um vestido longo de mangas caídas na cor azul. Com a toalha em mãos, eu seco os meus cabelos e uso o secador rapidamente, apenas para tirar a visão e muito molhado.
Uso perfume, um pequeno salto nos pés e me vejo no espelho.
Não posso demorar mais que isso!
Saio do quarto em passos leves e cautelosos, mas ao descer as escadas, eu piso mais firme para mostrar que estou descendo. Não quero ser culpada de ouvir o que não devo.
— Com licença, senhor! — Dhorota, a governanta anuncia assim que piso no chão da sala.
Ela se retira e ao me ver, eles dois chegam mais perto e direciono meu olhar ao chão.
— Essa é a minha filha, Mayla. — Meu pai anuncia num humor que nunca vi. — Mayla, esse é o senhor Funcherst. Ele é um amigo e membrö muito importante da organização.
— É um prazer conhecê-lo e seja bem-vindo a mansão Fischer! — Ao elevar um pouco o rosto, vejo um sinal do meu pai para ficar ereta.
— É um prazer também, Mayla! É uma jovem muito bonita. — Seus olhos descem sobre mim e me sinto desconcertada, mas aceno levemente em agradecimento.
Tudo o que quero é sair daqui, porque o clima é muito estranho!
— Venha, vamos almoçar! — Deixo-os passar na frente e vou logo atrás.
Meu pai se senta na sua cadeira de sempre, o homem se senta ao seu lado esquerdo e eu escolho ficar do lado oposto, mas com uma certa distância entre eles. Ainda não me sentei, mas assim que recebo a permissão, me acomodo em completo silêncio.
Eles falam algo que não entendo, como se fosse em códigos e logo os pratos são servidos. Eles se servem de uísque, comem enquanto conversam e me sirvo de suco natural. Começo a comer sem entender o motivo real de eu estar aqui, mas tenho as minhas desconfianças, porém, eles se comportam como se eu não estivesse.
Seria melhor ter ficado no quarto!
— Sua filha parece ser o modelo perfeito da organização! — Confesso que me assusto de imediato pelas palavras e noto uma coisa.
Um modelo? Como assim um modelo?
Eles estão me observando a cada movimento e a sensação é horrenda.
— Sim, ela é! É a melhor aluna da instituição, sabe todas as regras e obrigações, domina muito bem as atividades extras e, toca e pinta muito bem. — Meu pai fala como se me conhecesse, como se soubesse tudo de mim e o pior não é nem isso.
O pior é que eles falam de mim como se eu fosse um objeto.
— Meus parabéns! — Fico paralisada só ouvindo. — Isso é bem raro apesar de ser essencial. Bonita, inteligente e culta. — Ele finaliza a frase e cada palavra, eu sinto o seu olhar mesmo eu não vendo diretamente.
— Agradeça, Mayla! — Meu pai ordena em seguida de uma forma nada mansa.
— Muito obrigada, senhor Funcherst! — Obedeço deixando escapar um tremor na voz.
— Já a apresentou na organização para pretendentes a casamento? — Essa frase traz um gelo ao meu corpo mesmo sabendo que isso está perto.
— Ainda não, mas estou cuidando disso. — Bebo o meu suco como forma de desmanchar o nó na garganta e sinto um tremor no corpo.
Eu preciso sair daqui, correr para bem longe e não quero ouvir mais nada.
— Podem me dar licença? — Pergunto em medo do que posso ouvir se continuar aqui e tento me levantar.
— NÃO! — Meu pai grita em resposta, me fazendo estremecer e prendo até a respiração. — Não terminamos a refeição e já sabe como as coisas funcionam. — Sim, eu sei e me sento novamente ficando imóvel.
— Me desculpe, senhor! — Quero chorar de uma forma inexplicável, mas não posso chorar aqui.
Ele seria capaz de arrastar da pior forma.
— Se a moça quiser sair, não te problemas! — O homem fala de uma forma diferente de antes e acredito que seja para equilibrar a tensão do ambiente.
— Ela vai ficar! — Nessa resposta dele, temo que ele faça algo depois.
O silêncio predomina o local por completo e não consigo comer mais nada, porém, vou bebendo o suco a força. Estou tremendo, com medo de fazer algo de errado mesmo parada aqui e pelo pânico, eu fico olhando fixamente para um ponto fixo à mesa. Com os meus cabelos caídos, consigo esconder um pouco o meu rosto, mas ainda me sinto ser observada.
Quando eles terminam de comer, o meu pai fica de pé e saí com o homem sem dizer nada e por mais que eu saiba que já posso sair, agora eu me sinto sem forças. Não sei o que esperar e temo que ele faça algo quando esse homem for embora.
— Mayla? — Mabel se aproxima e fica ao meu lado. — Respira, está tudo bem agora.
— Não consigo..., me mexer... — Sussurro tentando me levantar, mas não consigo.
— Consegue, sim! — Ela toca o meu braço com cuidado e faz um carinho. — Respira fundo, ele está no escritório e deve beber por lá por um tempo com aquele homem. Nem vai lembrar mais disso depois. — Ela fala agachada ao meu lado e olho bem para ela.
— Você acha? — Ela acena em encorajamento.
— Acho sim! — Solto o ar com força e lentamente, tento ficar de pé.
Agradeço a ela pela ajuda e ando em direção as escadas querendo me esconder no quarto.
Só espero que ele não venha me procurar para me castigar, afinal, eu não falei nada de errado.