São Paulo - SP
Junho de 2024
Aos olhos de Nina
Naquela noite eu sonhei com ele, mais uma vez.
O seu corpo forte sobre o meu, a pressão agitada dos quadris se chocando, o seu s*exo duro abrindo espaço para se enterrar dentro de mim.
Eu ainda lembro de como as minhas pernas tremiam e do calor que começou a nascer no final da minha barriga e que explodiu se transformando no líquido que escorreu por entre as minhas pernas.
Ao menos aquela última parte foi real e eu fui capaz de ter um orgasmo com um sonho.
Quando acordei, o meio das minhas pernas estava totalmente molhado.
E além de úmida, a minha i.n.t.i.m.i.d.a.d.e ainda pulsava de desejo.
Frustrada, fui até o banheiro - que por sorte, fica localizado dentro do meu quarto, assim não corro risco de topar com a minha mãe no corredor-.
Fui imediatamente para o chuveiro, um banho frio me ajudaria a colocar a cabeça no lugar.
Tinha aula em poucos minutos, e como de costume, Gabriela vinha me buscar de motorista.
Foi só o tempo de me vestir para chegar a mensagem no meu celular.
Dei um beijo na minha mãe ao passar pela sala, ela já estava sentada na mesa com o notebook aberto, trabalhando.
— Não vai tomar café?
— A Gabi chegou, vamos tomar café na padaria.
— Nina, o que já conversamos? O meu salário de funcionária pública não consegue pagar café da manhã na padaria todos os dias. Você só estuda nessa faculdade porque seu pai e eu economizamos a vida inteira para esse momento. Todo o nosso dinheiro foi para comprar esse apartamento e para a sua educação.
— Em breve eu vou começar a trabalhar, mãe. Vai sair a lista dos selecionados para o estágio de internacionalista e eu tenho certeza que vou passar.
— Você precisa economizar para o seu futuro, filha. Hoje você tem dezenove anos, mas amanhã tem trinta, quarenta…
Mais uma mensagem chegou, era a Gabi me apressando.
— Eu preciso ir, mãe. Te amo.— disse, praticamente correndo para a porta.
Por sorte o elevador estava no andar em que ficava o nosso apartamento, o que não me fez perder muito tempo com isso.
Me olhei no espelho enquanto descia os andares. Quando chegaria o momento em que não precisaria contar os centavos para tomar um café da manhã em uma padaria?
Quando poderia sair para fazer compras sem me preocupar em faltar para o meu futuro?
Por mais que eu amasse muito a Gabi, confesso que a invejava por ter a vida que eu sempre quis.
A Gabi já tinha o futuro garantido, já eu, precisava correr atrás de incertezas todos os dias.
Assim que eu entrei no carro fui recebida pelo abraço dela.
— E aí? Ansiosa para o resultado do estágio?
— Muito, minha vida depende disso. E você?
— Eu sinto que se não passar, vou ter falhado com meu pai.
O pai da Gabi…
Há muitos anos frequentava meus pensamentos, até mesmo em sonhos. A medida que fui crescendo, foram ficando cada vez mais e*róticos.
Logo lembrei do sonho que tive pela manhã. Aquele corpo forte e bronzeado, os cabelos loiros e suados, os olhos verdes fixos nos meus.
— Nina?— Gabi me cutucou.
Olhei para ela.
Gabi tinha herdado os olhos verdes do pai e os cabelos tão loiros quanto.
No entanto, não era mais bonita do que eu. Todos os olhares e atenções se voltavam para mim quando saíamos.
Meus cabelos são escuros como a noite que destacam meus olhos cor de âmbar. Nariz fino, lábios carnudos, corpo cheios de curva.
A beleza da Gabi era angelical, já a minha era sedutora.
— Você não precisa desse teste, Gabi. A Grimaldi’s é do seu pai.
— Mas eu quero, eu preciso. Não quero trabalhar na fábrica por ser filha do dono, quero mostrar competência.
— Eu tenho muito orgulho de você por pensar assim.— Beijei o ombro dela.
Gabi me abraçou.
— E eu de você. Mas o que foi? Estou te achando meio para baixo.
— Minha mãe. Ela disse que não temos condições de bancar café da manhã na padaria todos os dias. Mesmo quando passar no estágio, tenho que economizar dinheiro para o futuro.
— Não se preocupa. Sempre que formos, posso pagar para nós duas.
— Não, Gabi, não posso aceitar.
— Claro que pode. Somos melhores amigas desde crianças, não temos cerimônia. Eu não aceito um não.
— Tudo bem, mas só hoje. Amanhã você toma café da manhã na minha casa.
— Combinado.— Gabi concordou e me abraçou novamente.
Antes mesmo de entrar na sala, fomos conferir a lista dos aprovados. Tanto a Gabi quanto eu estávamos lá, aptas para o estágio. Aquele dia tinha começado muito bem.
Depois da aula, fomos para a casa da Gabi, todos os dias estudamos juntas.
Eu sempre era convidada para o almoço, e sempre esperava pelo momento de encontrar com ele. Jamais me notaria, sempre me viu como uma criança, mas sonhar não custava.
Mas hoje, Alex não apareceu.
— Acho que duas horas por dia é o suficiente para estudarmos. Foi assim que conseguimos alcançar a aprovação do vestibular e do estágio.— disse Gabi.
Eu apenas aquiesci em concordância.
— O que foi? Está tão quieta.
— To pensando no seu aniversário lá na casa de campo. Eu não tenho nada para vestir.
— Eu tenho alguns vestidos que não ficaram bons em mim por ser magrela demais, mas tenho certeza que ficarão perfeitos em você.
— Vamos ver? E você não é magrela, é linda como uma Barbie.
Eu nem pude esperar, não tive como conter minha ansiedade. Assim que chegamos no quarto da Gabi, antes de nos acomodarmos a mesa para estudar, fomos direto para o closet. Experimentei alguns vestidos, mas teve um que parecia ter sido feito para mim.
Ele era verde, com as costas n*ua. Justo na cintura e nos s*eios, solto no quadril. Ainda assim, ressaltava a curva do traseiro e tinha uma f*enda que mostrava uma das coxas grossas.
— Eu nunca te vi tão linda.— Elogiou Gabi.
— E eu não sei como te agradecer por tudo o que você faz por mim.
Fui até a Gabi para abraçá-la, estava realmente feliz.
— Vamos mostrar a Helena.— disse Gabi, me puxando pela mão.
Helena era a governanta da casa, era como se fosse uma mãe para a Gabi.
Deixei que ela me conduzisse para fora do quarto, só não contava com a surpresa agradável que me aguardava no corredor.
Lá estava ele, o pai jovem e lindo da Gabi. O homem por quem sou apaixonada desde criança.
Parecia um tanto sério, no entanto, foi a primeira vez que percebi ele me notar.
Seus olhos percorreram rapidamente as curvas do meu corpo, aquilo foi o suficiente para que Alex ficasse desconfortável.
— Pai, pensei que não viesse para o almoço.
— Minha reunião acabou se estendendo. Imagino que vocês já tenham almoçado.
— Sim. Inclusive já vamos começar a estudar, só estávamos provando roupas para decidir o que usarmos no meu aniversário.
— Fiquem a vontade, meninas.— Os olhos do Alex encontraram os meus ao falar.
— Obrigada.— Eu agradeci, com um meio sorriso.
— E parabéns por terem passado no processo seletivo. Semana que vem vocês começarão como estagiárias.
— Não faz ideia de como essa aprovação é importante para mim. E claro, para a Gabi também.— disse.
— Vejo a dedicação de vocês todos os dias. Vocês merecem.
— Te amo, pai.— Gabi pousou um beijo no rosto dele.— Vem, Nina. Estamos indo mostrar o vestido para a Helena.
— Ficou lindo.— Novamente o Alex olhou nos meus olhos.
— Obrigada.— Agradeci, desconcertada.
Fui atrás da Nina na direção das escadas, mas não pude deixar de perceber novamente aquele rápido olhar do Alex para o meu corpo.
Talvez, esse seja o caminho certo para que ele pare de me ver como a amiguinha de sua filha, e passe a me ver como uma mulher que o deseja.