Rosângela era uma menina comum. Gostava de brincar e passava de ano na escola com facilidade.
Seus pais eram pessoas simples, mas não faltava nada de necessário na sua casa.
Tinha mesa farta e estava sempre bem vestidinha e com brinquedos novos.
Tinha tido um irmão que após um tempo de sofrimento, tinha partido para junto de Deus.
Criada sozinha, talvez por ter perdido o único irmão, era cercada de cuidados.
Até quando brincava na rua com as amiguinhas, sua mãe colocava uma cadeira na calçada e não tirava o olho da menina nem por um minuto.
Foi crescendo e se tornou uma mocinha muito bonita. Era paquerada por vários rapazes, mas a mãe não permitia que namorasse.
Tinha que estudar e se formar.
O sonho da mãe era que se tornasse professora.
Rosângela estudou e se formou com facilidade. Porém, não estava satisfeita com a profissão.
Lecionou por algum tempo, mas não era seu ideal de vida. Tinha como boa filha, se formado no que a mãe escolheu.
Mas seu maior desejo era encontrar um bom rapaz, namorar, noivar, casar e ter muitos filhos.
Começou a namorar Ronaldo, rapaz de boa família e trabalhador.
Namoraram por um ano, noivaram e logo estava no altar recebendo o noivo como marido.
Os primeiros anos de casamento, foram como um sonho. Ronaldo era um marido carinhoso e logo tinha três crianças em casa.
Quando tudo estava correndo da maneira que sempre tinha sonhado, Ronaldo começou a mudar.
Rosângela conversou com a mãe e ela lhe aconselhou paciência, disse que casamento era assim mesmo e com o tempo o amor esfriava e virava amizade e respeito.
Rosângela acreditou na mãe que tinha mais experiência e foi levando, procurando agradar o marido.
Era carinhosa por natureza e se entristecia quando o marido se esquivava dos seus carinhos.
Ronaldo tinha sido seu primeiro e único namorado. Não tinha nenhuma experiência sobre o s**o oposto.
Foi se esforçando para acostumar com a mudança do marido, se entregando cada vez mais a criação dos filhos e nos cuidados com a casa.
Ronaldo começou a ficar impaciente com as crianças. Sempre que estavam brincando por perto, reclamava do barulho e algumas vezes, colocava os filhos de castigo. Trancava as crianças no quarto para assistir seus programas preferidos em silêncio.
Com o tempo, Rosângela começou a evitar que as crianças ficassem na sala, quando o marido estava em casa.
Preparou uma sala para os filhos brincarem. Assim o pai não escutava o barulho das brincadeiras e não castigava as crianças.
Mas cada vez, Ronaldo demorava na volta do trabalho e estava sempre fazendo horas extras nos finais de semana.
Ao mesmo tempo que Rosângela ficava mais feliz com a liberdade dos filhos para as brincadeiras, ou ressentida pela omissão do pai na criação das crianças.
Ronaldo agora nem perguntava mais pelas crianças quando chegava em casa.
Tomava banho e procurava algo para comer, em seguida ou ia ver televisão ou simplesmente deitava e logo estava roncando alto em sono pesado.
Apesar de tudo, Rosângela continuava exercendo todas as suas obrigações de mãe e dona de casa. O marido nunca deixou de encontrar suas roupas lavadas e passadas, a casa arrumada e a comida pronta. Só não sabia que as crianças também estavam bem cuidadas, porque já tinha muitos dias que não ia olhar os filhos.
Apesar de triste, Rosângela não estava preparada para o golpe que receberia em breve.
Continuou a fazer o papel de empregada dentro de sua própria casa, sem reclamar de nada.
Um dia, logo de manhã, enquanto Rosângela cuidava dos afazeres da casa, Ronaldo juntou todas as suas coisas e foi na cozinha aonde ela estava e avisou:
- Estou me mudando. Você fica com os seus filhos que eu vou viver a minha vida com a mulher que amo. De vez em quando, mando um dinheiro pra você para ajudar nas despesas até que você arrume um emprego e vá trabalhar.
Como ele tinha deixado a bagagem na sala, Rosângela pensou que se tratava de uma brincadeira e respondeu:
- Meus filhos, não. Nossos.
Ele virou as costas e se encaminhou para a sala. Só aí Rosângela viu que o assunto era sério.
- Quer dizer que você casa comigo, faz três filhos e agora se acha no direito de abandonar tudo como se não tivesse nada com isso?
- Me apaixonei por outra. Você vai ter que aceitar.
- E o amor que você dizia sentir por mim e pelas crianças.
- Acabou. A casa estava muito barulhenta e eu deixei de sentir prazer em vir pra casa. Aí conheci outra mulher e me apaixonei. Estou indo morar com ela. Eu tenho o direito de ser feliz e aqui não sou mais.
- Mas eu tenho feito tudo para você ter silêncio quando está em casa.
- Mas já era tarde. Eu já estava decidido a ir embora. Só esperei até agora para aprontar o apartamento e me mudar.
- Quer dizer que você estava me fazendo de palhaça a muito tempo. Eu lavando, passando e cozinhando pra você e você já tinha decidido deixar a gente?
- É isso mesmo. Você lavou, passou e cozinhou e eu sustentei você e seus filhos. Agora você não tem mais obrigações comigo e nem eu com você. Até você começar a trabalhar eu estou disposto a te dar uma ajuda, mas depois que você estiver trabalhando você vai se virar sozinha. Eu não vou trabalhar para sustentar duas casas.
- Isso é o que nós vamos ver. As crianças também são suas e você vai sustentar sim!
- Se você pedir pensão eu saio do emprego. Não vou dar nada a essas crianças barulhentas.
Pegou a bagagem e saiu sem olhar pra trás.
Rosângela entrou em desespero e começou a chorar e gritar. Das crianças, Rogério era o mais velho e estava com cinco anos, veio ver porque a mãe estava gritando.
Quando encontrou a mãe sozinha avisou:
- Vou chamar o papai para ver o que você tem!
- Não adianta chamar. Ele foi embora e não quer mais saber de nós.
O menino não entendeu e foi ao quarto atrás do pai.
Viu as portas do armário aberto e notou que estava vazio.
Correu para sala e ligou para a mãe de Rosângela.
- Vovó vem aqui que o meu pai foi embora e a minha mãe está passando m*l.
Rita, a avó perguntou:
- Foi embora como? Foi trabalhar?
- Eu não sei, mas o armário dele está vazio.
Rita entendeu logo que Ronaldo tinha abandonado a família e disse:
- Pega um copo com água e bota açúcar. Dá pra sua mãe que eu estou indo praí com o seu avô.
Eles moravam distante e iam demorar a chegar.
Rogério pegou um copo, encheu de água e colocou o açúcar.
Foi levar pra mãe e disse:
- A vovó mandou você beber isso aqui. Ela vem pra cá com o vovô.
Rosângela bebeu e diante do carinho do filho foi se acalmando.
Passaram mais de meia hora antes que seus pais chegassem na casa, mas já encontraram ela mais calma, agarrada com os filhos como se fossem a sua tábua de salvação.