DOIS

1637 Words
A neve estava caindo cada vez mais forte quando Thomas chegou ao seu quarto, da janela ele podia ver a moça com quem conversara fazia pouco tempo, Kate. Ela se arrastava pela neve com suas botas e malas afundando, era uma cena engraçada e até linda de se ver. Thomas teve que lutar contra a vontade de sair correndo para ajudá-la, a menina realmente estava precisando de uma mão, mas era arriscado manter proximidade com as alunas, ainda mais quando a nova reitora da Universidade não gostava nem um pouco dele. O conselho poderia achar r**m e acabar mandando-o embora e daí seu futuro estaria arruinado e talvez o de sua filha também. Convenhamos que uma desculpa era tudo que aquela velha precisava para acabar com sua vida e ele não sabia bem o motivo, mas ela estava com uma implicância sem tamanho para o lado dele. A filha de Thomas estudava Psicologia na faculdade de Stanford, era caloura, havia acabado de entrar e como sempre, a menina havia conseguido convencer o pai de que morar nos alojamentos da faculdade seria melhor para o seu desempenho acadêmico. Antes, os dois moravam em uma casa enorme em um condomínio fechado, nem tão próximo de Stanford, Thomas sempre procurou dar o melhor à filha, antes de se tornar um professor em Stanford, trabalhou como médico em alguns hospitais e isso tinha rendido a eles uma boa vida. Thomas amava trabalhar como médico, não que achasse ser r**m ser professor, ele gostava de lecionar e o salário valia mais do que a pena. Como a filha estava decidida a ir para o alojamento da faculdade, Thomas estava pronto a apoiá-la e acabou indo para o alojamento também, colocou a casa para alugar, seria besteira manter uma casa daquele porte morando sozinho. O professor cuidava da filha sozinho desde que ela era apenas um bebê recém-nascido e a mulher de Thomas, Emily, morreu no parto, deixando-os sem ninguém. Na época Thomas ficou desolado, era difícil olhar para a pequenina e sentir culpa pela morte da mulher, mas bastou segurá-la no colo pela primeira vez para ele perceber que tinha um motivo para viver e que precisava protegê-la de tudo e de todos. Deixando as lembranças de lado, Thomas admitiu que tinha algo em Kate que certamente chamava sua atenção, ela era bonita, mas não parecia convencida, sempre que ele a via, o que haviam sido apenas duas vezes e estranhamente pareciam ser mais, Kate estava cabisbaixa, como se não soubesse o quanto era linda, essa postura deixava claro o quanto era tímida, as maçãs de suas bochechas eram vermelhas, mesmo no inverno e tinha algo ainda mais especial nela, uma mulher muito parecida com Emily, sua ex, em termos de aparência apenas uma coisa as diferenciava, enquanto Kate era loira, Emily tinha o cabelo ruivo, exatamente como o da filha que teve com Thomas. Mentalmente ele agradeceu pelas pequenas diferenças, porque, pela falta que sentia de sua mulher, ele não tinha certeza de que conseguiria se manter longe. O desejo de agarrar Kate era forte, mas sabia que aquilo poderia prejudicá-lo, sabia que não era certo por vários motivos. Primeiro por ela ser uma aluna da faculdade, mesmo não sendo aluna dele. Segundo, porque a jovem Kate tinha idade para ser sua filha. Terceiro, porque ele m*l a conhecia, havia visto a menina apenas duas vezes, conversaram por menos de 10 minutos, sem contar a de agora, esse sentimento todo era bem precipitado. Ele não podia sair pela faculdade dando em cima de calouras, isso seria até um golpe para a sua integridade. Estava decidido, sua relação com aquela aluna nunca passaria de um caso estritamente profissional, ele pensou. A verdade, no entanto, era que Thomas não pensava em outra coisa, mesmo que quisesse. Desde a morte de Emily ele havia se fechado para o amor, não precisava mais daquele sentimento que só o tinha feito sofrer. Havia sido um completo i****a no passado, não dando valor a família que tinha e acabou perdendo-a. Fazia 19 anos que ele não se envolvia com alguém, era até difícil de acreditar, alguns amigos tentavam jogar mulheres para cima dele e logo no primeiro beijo ele não sentia nada e não queria continuar com aquilo, parecia que estava traindo a memória da mulher. Ainda em pé próximo a janela, Thomas continuou observando Kate até que saísse do seu campo de visão, ele parecia um adolescente com uma paixão platônica, mas aquilo não era paixão, era desejo e apenas isso. Como não havia nada para fazer de imediato Thomas resolveu tomar um banho quente, ajudaria a esquecer tudo e a se acalmar. Cenas como as que ele havia vivido hoje pareciam coisa de filme. Jogou as roupas em um pequeno cesto e entrou no box, deixando a água quente escorrer pelo seu corpo, com os olhos fechados ele só conseguia pensar em uma coisa, ou melhor uma pessoa. Kate. — m***a! — gritou batendo as mãos com força na parede. Que diabos está acontecendo comigo? — perguntou-se em pensamento. Ele esperava não ter que a ver novamente, ou pelo menos não tantas vezes. A vida de Thomas era algo calmo e monótono e não precisava de nada que mudasse isso e nada que o fizesse agir de maneira inconsequente. De repente o celular de Thomas começou a tocar, mas ele decidiu ignorar, não estava com cabeça para falar com quem quer que fosse naquele momento, mas como o celular não parava de tocar resolveu que iria atender, desligou rapidamente o chuveiro e enrolou-se em uma toalha indo em direção ao quarto. Ele olhou para tela do aparelho e não reconheceu o número, mas mesmo assim resolveu atender, afinal poderia ser algo importante. — Alô? — ele atendeu em um tom interrogativo. — Oi, professor Wolf, é a Kate, eu me dei conta de que não havia lhe agradecido direito por ter me ajudado mais cedo. — A voz dela parecia trêmula. — Desculpa ligar assim, não sabia se você estaria ocupado. — Oi, Kate. — O coração de Thomas disparou mesmo sem ele saber o motivo, até a voz dela parecia com a de Emily. — Não foi nada, eu estava desocupado. — Mentiu, não diria a ela que estava no banho, seria no mínimo estranho. — Bem, era só isso mesmo. — A voz ainda estava trêmula, ela havia ligado só por isso? No fundo ele sabia que não, mas deveria apenas estar imaginando coisas. — Kate — ele não sabia o que falar, apenas não queria que ela desligasse. — Se quiser ajuda com alguma matéria já sabe, né? — Estava agindo como um mero adolescente, era como se tivesse voltado no tempo, que ótimo. — Sei sim, obrigada. — Ela riu, o seu sorrido soa como uma bela melodia ao ouvido de Thomas. — Tenho que desligar, obrigada mais uma vez — ela falou por fim, agora ele sabia a verdade, ansiava pelo dia em que a encontraria pelos corredores da faculdade de novo. — Não foi nada. Tchau. — Kate encerrou a ligação. O coração de Thomas ainda estava batendo forte, mesmo que não quisesse se sentir daquela forma, aquela garota tinha idade para ser filha dele, xingou mil vezes m***a por estar daquele modo com apenas uma ligação de celular. Ele olhou rapidamente no relógio e percebeu que estava atrasado para dar uma aula de Anatomia no lugar de uma professora que simplesmente desapareceu. Era a quinta que sumia do nada e o caso já havia chegado a polícia. Ele terminou de se arrumar, havia esquecido completamente dessa aula, pegou a pasta com o planejamento de aula e correu pelos corredores até a sala, conseguindo chegar ainda antes dos alunos. — Bem, pessoal, sou Wolf, o professor substituto — falou assim que todos os alunos já haviam se instalado em suas carteiras. Ele observou o movimento da sala e viu que todos estavam preocupados com o desaparecimento da professora e não era para menos. O caso já estava em todos os noticiários locais. Suspeitavam que poderia ser um possível serial killer, a ideia parecia meio ridícula, quem iria querer r****r professoras? A aula seguiu tranquila depois de Thomas falar para eles que tudo iria ficar bem. Saindo da aula resolveu ligar para a filha, para ver onde ela se acomodou e se estava bem, ele sempre foi um pai coruja e muito atencioso, mas quem poderia culpá-lo?! Havia criado a filha sozinho, era difícil ficar longe dela e mais difícil ainda admitir que sua menininha havia crescido. — Olá, pai — atendeu a jovem, parecendo bem animada. Como sempre. — Oi, filha, liguei para saber em qual dormitório você está? Vou aí te ver. Já tem colega de quarto? É uma menina, né? Ela fuma, usa drogas, se prostitui? — ele disparou e ouviu a filha gargalhar do outro lado da linha. — No dormitório 7c, minha colega de quarto é ótima, inteligente, educada e super legal e não é nenhuma delinquente juvenil. Que horas você vem, pai? — Vou passar em um restaurante e pegar algo para gente comer e vou logo em seguida. Quer que eu leve para sua colega também? — Claro, vou avisar a ela que você vem. Beijo. Thomas seguiu até o restaurante mais próximo e comprou um jantar para três, foi até rápido, o local era do lado da faculdade, o bom de Stanford era que tudo ficava bem próximo, principalmente quando se ia de carro, ele voltou e estacionou em frente ao prédio da residência estudantil, seguiu até a ala de dormitórios e achou o quarto 7c e os momentos que se seguiram pareciam estar em câmera lenta, bateu na porta e ela foi aberta devagar revelando uma pessoa do outro lado que ele não esperava encontrar tão cedo , esse alguém era...
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