SEIS (parte 1)

3291 Words
Kate estava em uma rua estranha, cheia de árvores sem folhas e troncos quebrados, como se algum raio os tivesse atingido, ela olhou para os seus pés e viu lama, então andou tentando procurar algum caminho para sair daquela floresta, olhou para o céu e a única coisa que via eram nuvens nubladas, não havia sinal de luz ou vida naquele lugar. A jovem gritava, mas da sua boca não saia som algum, levou as mãos até o rosto e sentiu a chuva cair sobre ela, depois olhou para o céu novamente e a chuva que antes era água, agora se transformara em sangue. Olhou para os pés e a lama do chão havia virado sangue também. As árvores da floresta não estavam mais lá e em seu lugar haviam pessoas, várias pessoas vestidas de preto, todas de cabeça baixa murmurando palavras que Kate não entendia. — Kate... Kate... Katherine... Kate.. — O som de uma voz familiar chamava por ela, só que não parecia ser naquele local. Tudo começou a ficar claro novamente, Kate apertou os olhos e colocou as mãos sobre um reflexo que vinha da janela, quando sua visão finalmente voltou ao normal, ela olhou para a ponta da cama e lá estava John, ele parecia preocupado por um momento, mas logo a preocupação desapareceu de seu rosto. — Ei, gatinha — disse ele sorrindo. — Estou te chamando faz um tempão. — Ele se afastou da cama e ela sorriu. Em sua mente ainda vagavam algumas partes de seu esquisito sonho, nunca havia ficado tão assustada com algo. — Hummmm. — Ela se espreguiçou levantando da cama. — Oi, panda. — Ela sorriu docemente, panda era um apelido que ela tinha dado a John quando eles ainda eram apenas crianças, no começo o amigo havia odiado o apelido, mas depois pareceu se acostumar, tanto que não mais brigava quando ela o chamava assim. — Deu até tempo de dar uns amassos com a Tracy — ele falou com um sorriso de lado. Kate revirou os olhos para o amigo, John sempre seria John. — Me poupe dos detalhes — ela falou levantando-se da cama. — Se arruma, eu preparei um monte de coisas legais para fazermos juntos hoje — ele falou, empurrando-a para o banheiro. — E não demore ou eu entro e te arranco de lá. — Ele levantou as sobrancelhas e ela riu. A loira entrou no banheiro e ligou o chuveiro, esperando a água ficar morna, lá fora provavelmente estava frio. Fez um coque desarrumado no cabelo, não queria molhá-lo, já que não teria tempo de secá-lo e ficar com os cabelos rebeldes o dia todo não era uma opção aceitável. Após alguns minutos no banho, voando em seus pensamentos, Kate começou a ouvir a voz de John, chamando-a novamente, ele parecia zangado. A loira simplesmente não sabia que já haviam passado tantos minutos. — Katherine Snow, saia desse banheiro agora ou vou entrar e te puxar para fora. — Ela ouviu entre o barulho da água que caia do chuveiro, ignorou o chamado dele e demorou mais cinco minutos até sair de lá. — Pronto, criatura irritante — ela falou atravessando o quarto enrolada em uma toalha. — Vocês mulheres demoram um século para tomar banho e se arrumar. — John reclamou. — Meu Deus, o que eu fiz para merecer um amigo tão dramático? — Ela revirou os olhos e sorriu. — Vista-se logo por que o dia vai ser longo — ele falou. — Eu me visto quando você sair do quarto. — Ela deu língua para ele, um gesto muito imaturo para a idade dela, mas podia ser imatura perto do amigo. — Já nos vimos assim várias vezes antes. — Ele sorriu de lado. — Nós tínhamos 5 anos. Anda logo, John, vai lá para fora. — Ela revirou os olhos. — Tudo bem, mas se demorar mais que quinze minutos entro de novo para te puxar. Estou esperando no carro — ele falou enquanto andava até a porta. Ela ouviu uma porta bater atrás de si e finalmente caminhou até a cômoda. Procurou uma roupa quentinha, gostava do frio, mas às vezes era irritante ter que usar tanta roupa e mesmo assim congelar. Optou por uma meia calça preta quentinha com um vestido vermelho, de mangas longas que ia até metade da sua coxa, pegou luvas pretas e um sobretudo simples também vermelho. Calçou botas baixas com salto grosso e soltou o cabelo. Não quis passar muita maquiagem, então optou por apenas o básico para se estar apresentável. * Mesmo sendo 10:00h da manhã o tempo estava fechado, em algumas frestas entre as nuvens ainda dava para ver um raio de sol tentando sair. Ela caminhou até o carro preto e assustador, onde John se encontrava ao lado. — Ressuscitou dos mortos? — ele disse rindo e indo abrir a porta para ela. — Com esse carro você que parece ter vindo do inferno, mesmo com essa aparência de anjo. Se bem que, Lúcifer também era um anjo e veja no que deu — ela brincou e ele sorriu. — Anda cheia das graças, não é? — John perguntou de modo sarcástico. — Claro, eu... — Kate parou ao ver uma cena mais do que inesperada, Thomas e uma morena, linda, a mulher parecia ser um pouco mais velha do que ela. Olhava para ele com paixão e Thomas sorria serenamente para ela, pareciam até dois namorados. Talvez um casal. Kate sentiu o peito doer com tal pensamento. Menos de uma semana e isso acontecia, não que ela estivesse querendo algo mais sério, definitivamente não era isso. Então, por que se sentia tão traída ao ver a cena? Kate ficou paralisada os observando enquanto a mulher corria a mão pelo braço de Thomas, eles pareciam estar em uma conversa animada. O que ela esperava?! Ele era homem e homens fazem isso o tempo todo. Na verdade, a jovem não sabia bem, não tinha experiência nenhuma com relacionamentos. Relacionamento. Essa palavra pairava sobre a memória dela e ela nem ao mesmo sabia o porquê disso. Estava tão confusa que m*l conseguia raciocinar direito. Era errado sentir ciúmes de alguém que não lhe pertencia, então por que ela sentia? — Kate — disse John pousando a mão no ombro de Kate, só nesse momento ela percebeu o quanto ridícula a cena era, ela parada como uma barata tonta secando o casal. — Vamos? — perguntou o amigo quando não obteve resposta dela. Kate sacudiu a cabeça tentando afastar os pensamentos, uma tentativa um tanto quanto falha. — Oh... Sim, vamos. — Ela voltou sua atenção para John e sorriu tentando tranquilizar o amigo quanto aquela situação, o seu olhar em John não durou muito tempo, Thomas tinha um tipo de magnetismo que a fazia querer olhar para ele o tempo todo. Kate o encarou enquanto entrava no carro e ele também estava a encarando, os olhares dos dois se cruzaram e Kate sentiu seu coração acelerar, o quão errado aquilo poderia ser?! O olhar de Thomas passou de Kate até John e o escrutínio indecifrável de antes havia se tornado um olhar interrogativo. Ela imaginou o que aquela encarada significava "o que você está fazendo?" Ela não entendia como Thomas a fazia se sentir assim, devia ser o fato de ser mais velho ou de ser a primeira vez que tinha aquele tipo de sentimento por alguém, mas Thomas a confundia de um modo impressionante. John fechou a porta e deu a volta no carro rapidamente entrando no lado do motorista, ele sorriu para Kate enquanto colocava uma música animada no som, era a cara de John fazer isso quando percebia que ela estava para baixo. “Meu Deus, está tão na cara assim?”, perguntou para si mesma em sua mente. Claro que estava, Thomas abalava todas as suas estruturas. Depois de três dias longe a jovem achava que aquilo passaria, culpa daquele maldito beijo que havia implantado esperanças em seu coração. Kate abaixou a cabeça tentando não chorar, não sabia porque estava tão emocional deveriam ser suas regras chegando. Respirou fundo enquanto uma lágrima escorria pelo lado esquerdo de seu rosto, apressou-se em enxugá-la antes que o amigo percebesse. Infelizmente, foi em vão. — Ei, o que isso? — John pôs a mão no rosto dela e a fez olhar diretamente em seus olhos, ela sentiu-se envergonhada com a situação. — Você quer me contar o que aconteceu? — ele perguntou de modo doce. — Eu não sei o que aconteceu — ela confessou e sentiu mais algumas lágrimas escorrerem pelo seu rosto. — Eu estou tão confusa. — Vocês tiveram algo? Não me diga que vocês... — Não, isso não — ela falou um pouco envergonhada. — Ah! — ele exclamou em alívio. — Aquele é o pai de Tracy, não é? — ele perguntou. — Sim, por favor não comente com ela — suplicou. — Não comentarei. Só quero que você me conte o que aconteceu — ele insistiu novamente. — Nós nos beijamos, foi o meu primeiro beijo e senti algo estranho. Algo que nunca havia sentido. Depois disso tivemos uma conversa ainda mais estranha e eu estou confusa. Quando estou perto dele me sinto tão irritada e ao mesmo tempo tão realizada. Ele é a pessoa mais irritante que já conheci na minha vida, mas me faz rir com seus comentários desnecessários e faz com que me sinta especial. Porém, acho que ele não sabe que faz isso. — Ela despejou rapidamente, era isso. — Você gosta dele! — John afirmou. — Eu não sinto nada por ele. Só o acho gatinho — ela falou tentando se explicar, Kate sabia que isso não era verdade. — E olhe para mim, John, ele nunca se interessaria por mim — falou e deu um riso irônico. — Eu te conheço melhor que a mim mesmo, Katherine Snow. — Ele beijou-a no rosto e a abraçou, ela se acolheu em seus braços enquanto ouvia o que ele tinha para dizer. — Você se subestima demais às vezes. Você é linda, encantadora e inteligente, qualquer pessoa que disser o contrário é um i****a. Não tem como não gostar de você, Kate. — Ele sorriu e ela o abraçou ainda mais forte. — Obrigada, John, você é a melhor pessoa que existe — ela falou e se afastou dele para enxugar as lágrimas. — De nada, loira. — Ele piscou e ela finalmente sorriu de modo sincero. Ao mesmo tempo que John ligou o carro o celular de Kate tocou com uma nova mensagem. Kate, precisamos conversar, à sós de preferência. — A mensagem era de Thomas e deixou a jovem extremamente surpresa ao receber aquilo e mais uma vez seu coração acelerou. Ela queria ter forças para falar que não tinham nada o que conversar e queria mandá-lo voltar para a namoradinha, mas não tinha. Precisava conversar com Thomas, precisava entender o que era tudo isso que estava acontecendo. Ela apertou o celular e hesitou um pouco antes de começar a escrever uma resposta. Mesmo que fosse difícil admitir ela queria muito encontrá-lo. Deslizou os dedos sobre a tela do aparelho e apertou em responder, digitou vagarosamente a mensagem. Suspirou e pensou mais um pouco antes de responder, entenderia tudo o que estava acontecendo. Finalmente apertou enviar. Encontre-me amanhã, depois da aula no meu quarto e de Tracy — ela suspirou e olhou novamente para Thomas, que agora se encontrava sozinho olhando fixamente para o carro, ela sabia que ele não poderia vê-la pelos vidros escuros, mas continuou encarando os olhos dele. John deu partida no veículo e finalmente começou a deixar o estacionamento. — Esse professor me assusta. — John fez uma piada. Realmente o olhar de Thomas estava no modo matador. — Você me assusta — retrucou a loira, de início aquilo saiu de um modo grosseiro, nem sabia o motivo de estar defendendo Thomas, por isso deu um sorriso para disfarçar e em seguida beijou a bochecha de John. — E então o quê de tão espetacular você preparou para nós? — Ela mudou de assunto imediatamente, pelo resto do dia só queria esquecer isso tudo e se divertir. — Para nós, não! — John afirmou e em seguida fez uma pausa dramática. — Para você. — Sorriu daquele modo irônico. — O que? Ah, vai, conte-me. — Ela sentiu-se ansiosa, mas John não falaria tão facilmente, ela conhecia o amigo. — Calma que logo logo chegaremos lá. — Ele fez mais suspense e ela suspirou pesadamente ao lado dele. — Você não vai me contar, não é?! — ela falou. — Não mesmo. — Ele sorriu. — Pois bem, se eu tiver um ataque de ansiedade e morrer, você vai sentir culpa para sempre — ela falou, cruzando os braços. — Quem está sendo dramática agora? — ele perguntou e sorriu. Ela não conseguiu evitar e sorriu também. Depois que saíram totalmente de Stanford, John dirigiu até o CoffeeStar, mas não a deixou descer, foi sozinho até o interior da lanchonete, quando voltou estava com dois copos de cappuccino. Entregou um a Kate e foi bebendo o outro. Ele pegou uma estrada que a menina não conhecia ainda e depois de mais 15 minutos chegaram a uma vila, deveria ser um bairro universitário, já que as casas eram praticamente iguais. Ele parou o carro na primeira rua e encarou Kate. — Isso é algum tipo de sequestro? — ela brincou. — Se fosse, você já estaria amarrada. Venha comigo. — Ele desceu do carro e deu a volta abrindo a porta para ela, puxou-a pela mão e a arrastou até a frente de uma casa vermelha, que Kate julgou ser uma gracinha. — Olha só, John, se for invadir uma casa não me arraste junto. Agora nós dois somos maiores de idade e da última vez não deu muito certo — ela falou lembrando-se do dia em que ela e John invadiram uma casa abandonada que havia no final da rua em que moravam, um dos vizinhos havia estranhado o barulho e chamado a polícia. — Não é nada disso, sua boba, entra logo — ele falou, assim que abriu a porta. — E o que é então? — ela perguntou, ainda com receio de entrar e algum alarme disparar. — Eu falei com seus pais e eles decidiram que você já é madura o suficiente para morar sozinha e então eles compraram essa casa para você, fica perto da faculdade, não é lá essas coisas, mas eles já a decoraram. — Kate piscou várias vezes até acreditar no que estava ouvindo do amigo, uma casa, esse era o presente mais caro que os pais haviam dado a ela até o momento. Isso não era tudo, esse voto de confiança deles era ainda melhor do que a casa em si. — Oh, John. — Ela o abraçou forte, aquilo era perfeito. — Isso é bem mais do que eu mereço — ela falou com emoção. — Obrigada. — Não agradeça a mim, agradeça ao tio Snow. Eu apenas joguei um verde e isso me dará passe livre para o quarto de Tracy, sem você para atrapalhar! — ele falou e ela deu um t**a em suas costas. — i****a — murmurou. — Entre e veja se gosta — ele falou, abrindo espaço para ela. A casa era certamente maior por dentro do que parecia por fora. Havia uma sala, já mobiliada com um sofá bege de canto, duas cadeiras estilo poltrona na mesma cor, uma televisão presa a parede e embaixo dela um rack. Havia ainda alguns enfeites que certamente eram coisas da mãe de Kate, era a cara dela fazer algo assim. Um tapete redondo, marrom, estava no meio da sala, mesmo o espaço sendo pequeno, tudo havia se encaixado perfeitamente. Ainda na sala, perto da parede havia uma mesinha com um vaso de flores. Kate caminhou até a cozinha, que era toda moderna, havia uma mesa redonda de quatro lugares na cor branca. Um conjunto de armários brancos, ocupando toda uma parede. A geladeira era um sonho, prata de duas portas, bem espaçosa e já completamente abastecida, o fogão era um cooktop e ficava sobre a bancada e seu forno era separado, também preso a bancada. Como na sala, o local também estava completamente decorado, tudo de modo muito organizado. Kate olhou maravilhada para aquilo tudo. A casa tinha dois quartos, ela entrou no primeiro, que estava mobiliado exatamente do mesmo modo que o seu antigo quarto na casa dos pais. Uma cama box enorme com uma cabeceira marrom com branca, um guarda-roupas na mesma cor, uma mesinha para estudos com um computador e uma televisão na parede. No canto do quarto havia um banheiro. Era pequeno e simples, totalmente branco. Saiu do quarto e passou para o outro, a decoração era mais básica, mas o quarto também tinha um banheiro próprio. Entre os dois quartos existia mais um banheiro. Ela caminhou em um pequeno corredor até uma porta e quando abriu, deparou-se com um jardim, morto por causa da neve, no final, uma churrasqueira feita de tijolos, uma mesinha de jardim com duas cadeiras e um balcão. Aquilo era muito mais do que Kate precisava, os pais como sempre haviam exagerado, mas isso era bom. — Eu acho que essa casa merece uma festa para inauguração — falou John, aparecendo do nada, assustando-a. — Eu posso cuidar das bebidas e de convidar as pessoas, como estudo aqui há mais tempo conheço um pessoal legal e animado e todos já voltaram das férias assim como eu — anunciou todo animado. — Não sei se isso é uma boa ideia, não sou boa com festas — Kate falou, não gostando muito da ideia do amigo. — Mas eu sou e por isso vai ser a melhor festa de todas. — Ele sorriu. — Vamos, eu te ajudo a trazer suas coisas para a casa — ele falou puxando-a para sala. Kate não queria se mudar sem avisar Tracy, mas estava ansiosa para se instalar na casa. — Eu não estou concordando com essa festa, hein? — Kate cruzou os braços e franziu a testa. — Eu ainda a farei mudar de ideia. — Ele piscou e ela revirou os olhos. — Aceito a ajuda com a mudança. Não vejo a hora de estar aqui novamente — Kate falou animadoramente, teriam o dia todo para aquilo. — Então vamos. — John a puxou até o lado de fora, Kate trancou com cuidado a casa e desceu os três degraus de escada correndo para chegar ao carro do amigo. Ela entrou no carro, em seguida os dois saíram e foram até o campus buscar tudo de Kate, por sorte quando chegaram no quarto a menina lembrou-se que havia guardado algumas caixas e que poderia colocar as coisas lá. Enquanto John pegava algumas coisas e enfiava nas caixas, Kate fazia novamente a mala e ao terminar tudo ela escreveu uma carta e deixou para Tracy, era um modo antigo, mas perspicaz de explicar o que aconteceu. Quando terminaram de colocar todas as coisas no carro de John já passava do meio-dia, eles resolveram ir até um restaurante e almoçaram lá. Ficaram mais alguns minutos, apenas conversando no restaurante e foram novamente para a casa nova de Kate. John e ela passaram algumas horas lá organizando as coisas que trouxeram do alojamento. Pouco antes de escurecer tudo já estava pronto. John decidiu que era hora dele voltar para o seu apartamento, perguntou se Kate ia ficar bem e quando ela respondeu que sim, ele ficou aliviado e foi embora, disse que no dia seguinte a levaria para faculdade, já que o carro dela havia ficado lá.
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