No Coração da Rocinha e do Morro da Maré

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Ananda Narrando

Extra da Nossa Eterna Patroa

Os anos passam e o meu amor pelo Lobão só aumenta, nossa relação só se fortalece mais e mais todos os dias, mesmo depois dos vendavais que passamos juntos, estamos na melhor fase das nossas vidas. Confesso que esse não era o rumo que eu queria que a Alicia tivesse tomado, tive até um pensamento machista que quem poderia assumir esse posto seria o Marcelinho, mas foi tudo ao contrário, ele quis seguir os meus passos e a Alicia os passos do Pai dela.

Saber que minha menina foi presa por aquele moleque que se acha o fodão foi como se tivesse me enfiado uma faca, mas eu tinha que ser forte porque o Marcelo estava a ponto de explodir. A calmaria veio quando a Liz disse que a Olivia estava vindo, dei graças a Deus ali por isso e por saber que no meio de todo esse caos, elas vão se reencontrar e se acertar, a Alicia tem que deixar de ser cabeça dura e lutar contra os próprios sentimentos.

Confesso que por algumas vezes eu preferia a fase deles crianças, davam muito menos trabalho do que agora e eu não só me refiro aos meus filhos não, eu falo por todos em geral, juro que tínhamos bem menos dor de cabeça do que agora com eles adultos, são mais complicados do que quando eram crianças.

Enquanto a Alicia se priva dos seus sentimentos, o Marcelinho tem sentimentos demais até, o primeiro nome dele deveria ser Tatu, porque cada buraco que ele vê, ele quer se enfiar e o pior que são todos os buracos de dentro do hospital, mas essa farra vai acabar e vai ser logo, pra ontem.

Saí da boca e voltei pra casa, coração apertado na esperança da minha menina voltar logo e eu “sufocar” ela de amor assim como ela diz, estava chegando em casa quando eu vi uma mensagem do Caio avisando que a Camylla dormiu aqui no morro por causa das graças do Lucas, num tô dizendo que eu preferia eles pequenos que não davam tanto trabalho quanto agora.

Mudei a minha rota e fui pra antiga casa do Piu que era aonde ela estava, passei pelos seguranças e cumprimentei eles, bati na porta e logo ela veio atender com uma cara feia, acho que ela pensou que era o Lucas, mas assim que me viu abriu um sorriso lindo e eu entrei já envolvendo ela num abraço.

Camila - Desculpa a demora Tia, ninguém avisou que era você que estava aqui, eu pensei .. - nem deixo ela terminar de falar e já vou logo acalmando ela.

Ananda - Pensou que era o Lucas! Vamos conversar um pouco. - falo puxando ela pra sentar no sofá e ela vem já com uma carinha de choro.

Camila - Cansei tia, eu só cansei! Primeiro toda vida escutando que não poderíamos nos envolver porque éramos irmãos, meu pai Piu não aceitava de jeito nenhum de eu ter me apaixonado primeiro, meu Pai Caio não, ele sempre soube, ele sempre esteve comigo. Mas, aí o Lucas ao longo dos anos foi ficando cada vez pior a convivência. Ele não me deixa viver e vive como se não houvesse amanhã, come o morro todo, as putas vivem me afrontando uma em específico principalmente e não me deixa viver, não me deixa livre, vive me fazendo vergonha e no baile foi a gota d’água. Eu tô cansada Tia, eu confesso que não quero mais voltar pra lá, mas não digo isso pra fugir e sim pra ter um pouco de paz, de silêncio. Mas, eu não posso porque tem o hospital e meus pais .. - ela fala e as lágrimas escapam e ela tenta sem sucesso enxuga-las.

Ananda - E você Camila? Você tá preocupada com o Hospital, com seus pais, tá levando desaforo desnecessário de p**a, porque sabemos que p**a sempre vai ser p**a e não há quem não mude isso. Eu já passei por muitas coisas, hoje não mais, mas sabemos que é uma situação que se você não se impor, não ficar o pé, elas te arrastam e f**a-se.

Camila - Tia, eu não posso me impor a nada, não tenho nada com ele e eu não sou de usar o status do meu pai ali pra nada. Eu sempre fiz o meu, sempre tive o meu respeito por mim mesma e sem precisar subir em cima de ninguém, eu sou eu tia, eu sei de onde eu vim. O que eu não quero mais é está no mesmo ambiente que ele, na mesma casa e até no mesmo morro, minha cabeça tá uma confusão e por enquanto eu quero ficar aqui quietinha, pra tentar organizar meus pensamentos. - ela fala fungando e eu puxo ela para um abraço.

Fiquei ali tentando acalmar ela, quando chega uma mensagem no meu celular da Lia a enfermeira chefe lá do hospital dizendo que a Pediatra estava na sala do Marcelinho cobrando explicações dele porque ele tinha ficado com alguém no baile, olhe eu vou te contar viu, o que o Marcelinho tem de responsável ele tem de putão e o pior é que ele sai fazendo o rapa no hospital, aí lasca tudo, mas já sei o que eu vou fazer, ele não perde por esperar.

A Camila se acalmou mais e eu fui com ela pra cozinha fazer algo pra gente comer, ela precisava de colo e eu precisava me acalmar e fazia muito tempo que eu não cozinhava nada. Ficamos por ali conversando e alinhando algumas coisas e fiz uma proposta pra ela que nem titubeou e aceitou na hora, assim que a Alicia voltar e tudo se tranquilizar a farra do senhor Marcelo Filho irá acabar.

(…)

Sai da casa da Camila deixando ela mais calma e fui finalmente pra minha, assim que cheguei vi o meu homem sentado no sofá com a cabeça baixa. Fui até ele que só notou a minha presença quando eu cheguei bem perto dele, me sentei em seu colo e o abracei, infelizmente tem coisas que fogem do nosso controle, nossos filhos crescem e tomam os seus rumos, cabe a nós aceitar e rezar sempre quando algo de r**m acontece com eles que não podemos resolver de imediato.