O contrato de casamento

1417 Words
Rosa Rosso, 2024 Isabela, sentiu que sua vida mudaria no instante em que assinou o seu nome naquele papel. Não um papel comum, mas um contrato que a uniria por tempo indeterminado com Arthur Esposito. Após a cerimônia do casamento civil, os dois deixaram o cartório e foram para a mansão. Isabela ainda segurava o arranjo de rosas vermelhas quando Arthur abriu a porta que dava para a imensa sala de estar. Ela analisou rapidamente o cômodo, ficou impressionada com a decoração antiga e bem conservada. Muitos comentários circulavam a respeito de Arthur e daquela casa, Isabela não conseguia conter a sua curiosidade. — Essa é Rosa, nossa governanta.— disse Arthur, apresentando a senhora que estava na frente dos outros empregos. Rosa era uma mulher alta, morena e magra que deveria ter por volta dos seus sessentas anos. — Depois que eu te apresentar a casa, ela ficará encarregada de te mostrar os empregados e também de explicar as regras. Isabela não acrescentou nenhum comentário. Ele apontou para a escada e tocou nas costas dela para conduzi-la até lá. — Para a ala norte temos os quartos das visitas, para a ala leste, a biblioteca e o museu da minha família. Você poderá entrar lá caso tenha um bom comportamento. A garota franziu o cenho, pensativa. Como um homem tão jovem agia como um velho ranzinza do século passado? — A ala oeste é completamente proibida, você nunca pode entrar lá. — O que tem na ala oeste? — Não faça perguntas, garota. Apenas acate o que estou dizendo. Isabela aquiesceu, voltando a ficar quieta. Logo depois daquela pequena apresentação, Arthur a levou para o quarto que seria seu. Bastou que ele fechasse a porta para que ela se sentisse uma prisioneira outra vez. Semanas antes — Casar? Como assim “ casar”?— Perguntou Isabela, assustada. Afinal de contas, aquela foi a reação mais comum possível quando de repente o seu pai comunicou que ela iria se casar. Aos 24 anos de idade, ela pensava em focar na sua carreira até finalmente ter a autonomia que sempre quis. Casar e formar uma família eram parte secundária dos seus planos, mas quando isso tivesse que acontecer, ela pretendia que fosse com alguém de sua escolha. — Você não é burra, Isabela, sabe o que é um casamento. Finalmente chegou o momento de você me pagar todos os anos em que te vesti, te alimentei e paguei os seus estudos mesmo você não sendo a minha filha de sangue. Isabela engoliu em seco. Ela odiava quando Giuseppe passava na sua cara o adultério de sua mãe. Aquilo fazia com que Isabela odiasse a própria mãe com todas as forças. Toda aquela rejeição que sofreu por toda a sua vida do homem que a criou, foi por culpa daquela mulher que conhecia como sua mãe. — O senhor poderia me explicar melhor o que está acontecendo? — Estou enfrentando problemas nos meus negócios. A minha fábrica de massas está entrando no vermelho e o apoio econômico de Arthur Espósito é o que vai nos tirar do sufoco. Isabela arregalou os olhos. — Esse homem odeia o meu irmão, por qual motivo ele iria ajudar o senhor? — Não tenho que te dá satisfações sobre os meus negócios. A parte que te interessa, é que em troca dessa ajuda ele me pediu uma das minhas filhas em casamento, claro, eu escolhi você. — Por que eu? — Essa pergunta é óbvia, Isabela. Eu não vou obrigar a minha filha de verdade a casar com um deformado. Os olhos da garota arderam diante das p************s do homem que amava como pai. — Além disso, esse casamento vai deixar para traz aquela briga que o Arthur tinha com o seu irmão. Anos antes, por causa de uma mulher, Gabriel - irmão mais velho da Isabela- e Arthur brigaram f.eio. Desse confronto, resultou um terrível machucado no lado esquerdo do rosto de Arthur. Arthur, que tinha um dos rostos mais bonitos de Rosa Rosso foi obrigado a viver com aquelas cicatrizes enormes que não saíram nem após muitas cirurgias. — E se eu me recusar? — Você não seria burra. É uma recém formada, e a única biblioteca da cidade, na qual você trabalha, está sob a gestão de um grande amigo. Não vai querer ficar na rua e desempregada, vai? — Eu não tenho culpa do que a minha mãe fez com o senhor. — Você existe, Isabela. A sua existência é a prova viva da traição da sua mãe. Como se não bastasse, você parece demais com ela. — Eu não pedi para nascer. — A sua mãe ao menos me deu o Gabriel, ele eu tenho certeza que é meu filho. Gabriel, por sorte, além da aparência física que era muito semelhante a do pai, herdou a marca de nascença que os homens da família Colombo tinham no pulso. Graças a forte carga genética dos Colombo que o homem levava, ele se livrou da humilhação e da rejeição de ter o ódio e o desprezo do pai. Já Isabela… Isabela era muito parecida com a mãe e a única forma de comprovar a sua paternidade era um teste de DNA. Um teste do qual Giuseppe nunca se submeteria a fazer, para não se envolver em um escândalo caso a resposta fosse negativa. Tudo se sabia em uma cidade pequena como Rosa Rosso. — Seria mais fácil fingir que a traição da sua mãe não existiu se você não tivesse nascido. Ao menos agora eu vejo um motivo para a sua existência. Isabela secou rapidamente as lágrimas que escorreram por suas bochechas. — Isso é tudo, pode ir embora. Fazendo o que o pai pediu, ela caminhou até a porta e girou a maçaneta para deixar o lugar. Momento atual Isabela girou a maçaneta para abrir a porta assim que ouviu alguém bater. Era Rosa, a governanta que Arthur havia apresentado poucas horas antes. — Eu queria muito ter a chance de conversar a sós com a senhora. Posso entrar? — Claro.— Isabela deu espaço com o corpo para que a mais velha entrasse. — Com certeza você não vai lembrar de mim, mas eu fui governanta na casa dos seus avós quando você era ainda bem pequena. — Eu realmente não lembro, me desculpe. — Não se desculpe. Eu fui mandada embora logo após a morte da Ísis. Eu praticamente criei a sua mãe junto com a sua avó, e quando o senhor Giuseppe a acusou de adúltera eu fui mandada embora por ser julgada alcoviteira. Por sorte os Esposito estavam com a vaga de governanta em aberto na época. — Não me interessa saber nada sobre essa mulher. Graças a ela a minha vida sempre foi um inferno. Graças a ela eu sempre fui tratada como uma intrusa naquela casa e que fui obrigada a me casar com esse homem. — O senhor Arthur, apesar das cicatrizes, é um homem lindo e nem sempre foi essa criatura amarga que você está vendo. — Não me importa quem ele foi, senhora. Me importa quem ele é. Durante anos esse homem perseguiu o meu irmão por causa de um acidente, e agora está empenhado a me usar para alguma espécie de vingança pessoal. Eu não sou i.diota, não foi difícil de perceber. — A sua mãe nunca traiu o seu pai, Isabela.— Rosa prontamente mudou de assunto.— Você é tão filha de Giuseppe Colombo quanto o seu irmão Gabriel. — Por que eu acreditaria na senhora? Rosa chegou a abrir a boca, mas o relógio que ficava no corredor começou a tocar. — O jantar será servido. Troque-se rápido, o seu marido odeia atrasos. — Eu não estou com fome.— Isabela caminhou de volta para a sua cama, parecia irredutível. — Não faça essa desfeita, minha filha. — Com todo respeito, dona Rosa. Eu já disse que não estou com fome. Por favor, saia do meu quarto. Rosa fez o que ela pediu. Arthur não recebeu nada bem aquela recusa. — Não tem problema, eu janto sozinho. Mas proíbo todos vocês de levarem comida para a dona Isabela.— ele olhou para cada um dos empregados que o serviam na minha mesa.— Ou ela come comigo, ou vai morrer de fome. — Desculpe a intromissão, senhor. Mas se agir dessa forma, fará com que a sua esposa se sinta uma prisioneira. — Mas é exatamente isso o que ela é, Rosa, minha prisioneira.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD