Ivan
21 de fevereiro
Sexta
Tarde
Levi e eu tínhamos marcado de assistir algum filme no cinema, então lá estava eu parado na praça de alimentação esperando por ele com a minha cara de de taxo. Ele já estava 15 minutos atrasado, mas não era como se fosse novidade.
Olhei meu w******p pela quinta vez para checar se ele não tinha mando mensagem e nada. Eu já estava pronto para entrar em uma livraria e ficar um pouco por lá e o deixar esperando por mim, mas ele apareceu sorridente.
-Amor!- Ele disse quando ficou em frente a mim e me deu um selinho rápido.
-Por que você sempre tem que se atrasar? Já estou te esperando há um bom tempo plantado aqui!- Perguntei. Ele nem esboçou reação.
-Ah, eu não tenho uma desculpa... Mas eu estou aqui agora!- Ele sorriu abrindo os braços para receber um abraço. Eu fiquei parado e de braços cruzados. –Aish, Ivan. Desculpa! Você sempre fica com raiva de tudo... Se for para ficar com essa cara de b***a, eu prefiro ir em embora!- As vezes eu odeio o Levi, ele sabe ser um i****a. Mas eu prefiro acreditar que suas qualidades compensam isso.
-Eu não estaria com cara de b***a, se você não tivesse se atrasado.
-Quer que eu vá embora? Decida rápido, pois, se quiser, eu já peço para meu pai voltar e me levar em casa!- A voz dele dura e grosseira, mas seu tom ainda estava baixo. As vezes acho que ele pensa que eu iria me jogar aos seus pés, se ele terminasse comigo. Ele não sabe o quanto está enganado.
-Você está insuportável!- falei andando em direção ao cinema e ele me seguiu.
-Eu estava louco para ver aquele filme!- Ele apontou para a tela de opções e eu revirei os olhos.
-Você ainda quer escolher o filme? – Ele estendeu as mãos no ar.
-Qual filme você quer ver?- Ele perguntou sarcástico.
-Eu não sei.- Falei e ele riu.
Combinamos de se encontrar na fila, enquanto ele ia buscar a pipoca e os refrigerantes e ele chegou ao meu lado depois de uns 5 minutos.
-Então, qual o filme?
-Eu pensei em ver aquele Como Eu Era Antes de Você.- Sorri apontando para o cartaz e ele forçou uma cara de tédio.- Eu assisti a d***a do Homem de ferro com você e não quer assistir um filme que eu queira?
-Eu não disse nada! Meu amor, se quiser, eu assisto até Carrossel com você, para de querer brigar!- Ele disse colocando as mãos nas minhas bochechas e eu ri sem graça. Ele me abraçou, colocou seu braço em volta do meu pescoço e entregamos os ingressos para entrar na sessão do filme de romance que eu escolhi.
Uma hora e meia se passaram e nós já estávamos fora da sala de cinema tomando sorvete abraçados no banquinho acolchoado da praça de alimentação.
Levi virou para mim com uma feição sapeca e olhou para a casquinha de sorvete em sua mão por um segundo. Não demorou para que eu sentisse o friozinho do sorvete tocando a minha boca e melando o meu lábio inferior. Eu ri envergonhado.
-Jeon Levi!
-Não lamba!- Ele falou rápido e eu parei no mesmo instante. Ele não ia... ah. Levi se aproximou da minha boca e eu senti sua língua quentinha passando por ela. Sem pensar duas vezes, o beijei antes que se afastasse e ele riu entre o beijo.
Eu dei um pulinho para o seu lado para poder sentar mais perto e o alfa me beijou sem se importar se havia alguém em volta ou não. Eu gosto disso.
Eu passei a mão entre os fios do seu cabelo e eles deslizaram soltinhos pela minha mão. Eu amo o cabelo do Levi. Seu cabelo tinha cheiro de Shampoo. Bom... Levi todo tinha o cheiro bom, seu pescoço tem um cheiro doce, mas não é enjoativo e é forte, mas não incensa o ambiente. Eu podia ficar o dia inteiro cheirando o Kook.
Ele desceu sua mão pelo meu abdome até, sem nenhum pudor, tocar o meu m****o por cima da calça. Eu soltei um gemido baixo. Eu amo essa falta de vergonha na cara que o Levi tem. Qual é... Estamos no meio da praça de alimentação! Tem crianças aqui Jeon Levi.
-Safado...- Sussurrei entre o beijo e me soltei dele voltando a sentar no banquinho acolchoado. Eu nem tinha reparado que estava sentado em seu colo.
-Você não gosta?- Ele perguntou com um sorriso malicioso.
-Tem gente comendo ao nosso redor! Velhinhas fofoqueiras podem ficar com raiva!
-Vamos para a sua casa!- Ele sugeriu.
-Pode ser, mas... Por que não vamos na sua casa dessa vez? –Eu sorri para ver se fazia alguma diferença. Ele odeia que eu vá na sua casa, eu não sei, ele disse que o problema não era comigo, mas como não ficar chateado? Em quase dois anos e meio de namoro, eu só fui uma vez na casa dele.
-Aish, Ivan.- Ele murchou.
-Por que? Sexta passada fomos na minha casa, na outra também e na outra também, a única diferença é que era um domingo.
-Você sabe que não dá. Meus pais são loucos e não quero que veja nada estranho...- ele disse encarando a casquinha, mas dois segundos depois ele voltou a me olhar com expectativa. Ele não costumava ir direto ao ponto como hoje. As vezes ele só moía e remoia frases como “o meu quarto está bagunçado”para me convencer a ir para a minha casa, o que sempre funcionou já que, repetindo, eu só fui lá uma vez.
-Seus pais são adultos, Kook. Você faz tanto drama!
-Por que veio com essa de novo? Não vai adiantar. Nós não vamos para lá!- Ele falou um pouco bravo, mas a voz estava baixa.
-Por que você não me quer na sua casa? Seus pais não gostam de mim?- perguntei e ele revirou os olhos.
-Não, amor... é impossível não gostar de você. Eles só... vamos poupar tempo, vamos logo para a sua casa!- ele pediu rindo, mas era um riso forçado.
-Você não pode fazer uma coisa que eu quero?-Perguntei.
-Vimos o filme que você queria!!
-Eu fico me perguntando o que tem na sua casa de tão incrível para eu não poder ir. Eu vou lá e vou descobrir que você é um demonologista perigoso que quer levar a minha alma para o inferno?- Ele riu sem graça.
-Não é incrível, é r**m. Eu já expliquei, não me faça repetir!
-Por favor! Ficaremos só no seu quarto!
-Eu nem lembro de ter arrumado o meu quarto...- E já vem ele com essa de novo.
-Kook, se quiser eu até arrumo ele para você!- Ele deu uma lambida na casquinha.
-Meus pais estão em casa a essa hora.- Era um argumento?
-Nós não vamos fazer sexo.- Falei. Ele riu e deu mais uma lambida.
-Mesmo assim...
-Você poderia fazer uma mapa da minha casa na sua mão... Na sua casa, eu só sei que o banheiro é a segunda porta a direita!
-Só me diz por que isso é tão importante.- Ele me olhou crítico, mas amoleceu quando eu dei um sorriso aberto e comecei a falar.
-Eu gosto de famílias grandes... Podíamos ter dois natais! Um no dia 24 com a minha família e no dia 25 com a sua, ou tanto faz. No ano novo, você consegue ver as nossas duas famílias discutindo sobre, sei lá... O aquecimento global?
-Minha mãe c***u para o aquecimento global.- Embora a fala, ele sorriu meigo.
-vai, amor!
-Ta, mas você não vai falar com os meus pais. Você vai subir comigo para o meu quarto. Se algum deles falar com você, eu vou te puxar, se você resistir, eu vou te carregar.- Ele falou se levantando e eu o segui andando pelo shopping.
-Que drama...
Nós fomos para o estacionamento onde pegamos um taxi até a casa do Kook. Nem o caminho eu conhecia. Era afastada. Não costumo andar por aqui seja para o que for.
Assim que chegamos nós pagamos o taxista e fomos caminhando até a entrada. Levi parou na porta da casa e me olhou nervoso.
-Se falar com eles, você nunca mais volta aqui, será sempre na sua casa, sempre.- Bom, sempre foi na minha casa de qualquer jeito.
-Estou até com medo.- falei sarcástico e ele pegou uma chave no seu bolso. As luzes estavam acesas, mas ele preferiu não bater na porta. Já começou estranho por aí. Eu teria preguiça de pegar as chaves.
Quando a porta se abriu eu esperei pela neblina e o corvo de Vampires Diaries, ou uma sala de estar vermelha cheia de ferramentas de tortura presas na parede, mas a realidade foi quase frustrante. Uma sala normal um tanto bagunçada. A TV ligada num programa de futebol, algumas almofadas no chão, a mesa de jantar cheia de papeis e alguns copos sujos. Não era nada fora do normal.
Levi estava segurando no meu pulso, embora eu tivesse tentado segurar sua mão ao invés disso. Ele só resmungou e continuou me puxando pela casa –como se nada tivesse acontecido- para aonde eu julgo ser o seu quarto.
A casa parecia ter sido decorada por um arquiteto há alguns anos atrás, mas qualquer que tenha sido o modelo de decoração escolhidos por eles na época, agora dá lugar a garrafas de bebida e cartazes de bandas antigas; dá para perceber, pois o que está debaixo disso tudo são poltronas aparentemente caras e as antigas decorações largadas no chão.
Não consigo olhar para tudo, mas meus olhos acabaram parando numa garrafa quebrada perto do que deveria ser um jardim de inverno e eu parei para olhar num reflexo.
-Continue andando.- Levi disse numa voz áspera e eu segui até finalmente entrarmos no seu quarto. O único lugar que eu reconheci. Era mais claro do que o resto da casa e tinha cheiro de limpo. Não consigo imaginar os pais de Levi arrumando o seu quarto e eles não tem empregada.
-Quem limpa o seu quarto?
-Eu, Por que?-Ele perguntou na defensiva.
-Está cheiroso.-Dei de ombros me sentando na cama e observei cada pedacinho do quarto de Levi. Algumas medalhas por jogar futebol, nenhum livro nas prateleiras, alguns bonequinhos de colecionador de super herói e um guarda roupa.
-Esses bonequinhos são as coisas mais nerds que você tem- Falei rindo e ele pegou um na mão rindo junto comigo.
-melhor eles serem da Marvel do que da DC, não é?!- Ele riu.
-DC? É uma subdivisão da Marvel? – Falei. Ele arregalou os olhos e colocou as mãos na cabeça como se tivesse tentando se controlar.
-Eu estou namorando um e******o!!!- Ele gritou rindo e eu tive uma crise de riso. –Marvel são os super heróis fodas como o homem de ferro e o Wolverine, DC são os super heróis que ninguém se importa como o super homem e a mulher maravilha- Ele parecia que tinha tomado um energético e eu não conseguia parar de rir.
-O meu favorito é o Super homem!- falei e ele negou com a cabeça ofendido.
-Retire o que disse! Escolha um da Marvel!- Ele parecia um garoto gordo e virgem brigando num comentário de Youtube.
-O Super Homem é melhor do que o Homem de Ferro!- Eu sabia que o homem de ferro era o favorito dele.
-Não... Você não disse isso...- Ele falou um tanto alto se aproximando de mim.- Vou ter que fazer você se arrepender disso- Levi me fez deitar na cama de frente para ele, seus braços estavam um de cada lado da minha cabeça, me prendendo. Eu ainda estava rindo, mas ele me encarava com aquela cara de mau sarcástica e o meu riso foi parando até sobrar apenas um sorriso.
-Own. Nem parece um gordinho virgem, fã de super heróis.- Falei alisando a lateral do seu cabelo e ele teve uma crise de riso.
-Chega. Passou do limites, Park Ivan.- Ele se inclinou na minha direção para me beijar, ainda sorrindo. Não demorou para que o beijo se acelerasse e nós ficássemos ofegantes. Ele era o meu paraíso. Me sinto sortudo por ter encontrado alguém como ele ainda jovem.
Ele passou sua mão pelo meu abdome e eu senti um friozinho na barriga. Era como se ele soubesse exatamente onde me tocar. Sua outra mão estava na parte interna da minha coxa e as minhas estavam mexendo em seu cabelo delicadamente.
A porta do quarto se abriu e a voz do meu sogro foi ouvida em bom som ecoando pelo quarto. Levi saiu de cima de mim num pulo e sua feição estava assustada. Não era para tanto... Estávamos de roupa e namoramos há um tempo. É isso que namorados fazem não é? Não sei. Parecia que Levi havia visto um fantasma.
-O que está acontecendo, Jeon?- O pai dele falou bravo e o puxou pelo braço com força fazendo-o se afastar de mim. Eu prendi a respiração. Levi já me disse algumas vezes que seu pai briga muito com ele.
Eu me arrependi de ter pedido para vir aqui. O pai dele estava começando a me assustar também.
-Moleque, eu vou te deixar todo roxo.- O pai de Levi gritou com raiva. Ele tinha cheiro de bebida alcoólica e suor contido.- Sua escola me ligou a tarde me chamando para uma reunião e você está aqui se atracando com um ômega qualquer! O que eu faço com você?- a minha respiração estava acelerada e só piorou quando eu ouvi um estalar, pois eu sabia que tinha sido no rosto do meu namorado.
Eu me encolhi e a voz do seu pai foi ouvida novamente, ainda mais alta. Levi estava de cabeça baixa.
Eu não tinha coragem de olhar para os dois.
-Pai, o Ivan está aqui.- Ele falou em voz baixa e seu pai virou para mim.
-Quem é Ivan, Jeon? Quem é Ivan? Suas notas estão todas no vermelho. Você vai repetir de ano e eu vou achar é bom por você ter sido esse moleque burro. Acha que o “Ivan” vai querer você quando você repetir? Ninguém quer um peso como você, não. –Eu não sabia se podia falar. Eu queria dizer que poderia ajudar a melhorar as notas dele, mas não consegui dizer nada. Quem conseguiria? Seu pai olhou para mim. – Acho melhor vocês terminarem. Levi não tem maturidade para nada e você pode usar a desculpa de que eu mandei. Vai ter se livrado de um problema! Daqui a pouco, você aparece grávido e eu não vou querer nem saber. Vai ser problema seu. Meu filho é alfa e ele não vai se prender a alguém por uma barriga.- Minha expressão assustada era evidente e deve ter sido por isso que Levi entrou na minha frente, tampando a visão do pai dele sobre mim.
-Não estávamos fazendo nada, pai. Eu juro para o senhor, ele é o melhor aluno da turma nas notas e a reunião... Eu também juro que não vou repetir mais nada que a coordenadora disse que eu fiz.- A voz de Levi estava falha e sua fala meio sem nexo. Além de que eu sou o segundo melhor da turma.
-Você não tem credibilidade.- Ele deu uma pausa para olhar para o filho com uma feição decepcionada. Eu tinha acabado de decidir que odiava esse homem.- e se esse Ivan não estivesse aqui você ia apanhar muito, moleque. Aliais... É melhor ele saber que eu sou o pai desestruturado mesmo, você já deve ter dito a ele.- Meu coração parou por dois segundos até ouvir mais um estalar na direção dos dois. Eu estava tão tenso que podia sentir meu próprio coração bater. Levi percebeu isso, pois me olhou por um instante como se dissesse que estava tudo bem.
Mas não estava. E agora menos ainda. Seu pai estava puxando-o pelo braço para que ele saísse do quarto e foi só eu parar de vê-los para poder ouvi-los. A cada instante um estalo de pele com pele seguido por um gemido baixo de dor. Era por isso que ele não me queria aqui? Por que eu insisti? Qual o meu problema?
Acho que Levi caiu, pois acabo de ouvir sua cabeça batendo na parede. Eu estava em choque. Eu não podia estar ouvindo meu namorado sendo espancado. Era difícil de acreditar. As palavras de seu pai ainda rondavam a minha cabeça, enquanto eu ouvia agora socos, o barulho era mais baixo, seco. E eu não podia fazer nada.
O que mais me assustava era sua respiração entrecortada que lembrava soluços de choro. Levi nunca chorou na minha frente. Nunca. Ele faz o tipo de cara durão.
-Quero ele fora daqui.- Seu pai gritou se referindo a mim. -E pode falar para a coordenadora que eu não vou em p***a de reunião nenhuma, se você não melhorar eu resolvo com você em casa.- Ele continuou e depois pude ouvir passos se distanciando. Me levantei da cama e corri até a porta do quarto. Ele estava sentado no chão, a cabeça encostada na parede, como se ele nem tivesse se mexido desde que caiu. Seu rosto estava em vários tons de vermelho de vermelho, embora eu precisar me lembrar que boa parte disso ainda era culpa da briga com o irmão do Jin. Até que vi seus braços e pernas, era ali que ele mais tinha batido, como se ele preferisse lugares que desse para Levi esconder.
-Desculpe...- Ele sussurrou para mim e eu chorei quase de imediato.- Eu não te deixaria desamparado se você ficasse grávido. Nós iríamos criá-lo, não é?! Independente da nossa idade... Eu vou ser um bom pai, Ivan. –Meu coração apertou como se fosse eu que tivesse levado a surra. Era com isso que ele estava preocupado? Com o que o b****a do pai dele disse?
-Eu sei que vai, Kook. Eu não tenho dúvidas disso.- Ele sorriu com o rosto inchado e eu o abracei ainda sentado no chão do corredor. –Você não é um peso, ouviu? Eu não deixaria você por nada nesse mundo! Você vai estudar comigo e vai passar direto, é só se dedicar, você é inteligente.
-Não sou não, Ivan!- Eu senti uma lágrima quentinha no meu rosto, mas não era minha, era de Kook.- Eu estou com média 2 em química e não entendi nada do assunto novo...
-Eu ajudo você, não se preocupe com isso agora, tudo bem?- Eu tinha que ser forte, pois era ele que precisava de mim agora.- Desculpe por ter insistido para vir aqui. Eu deveria ter confiado em você.
-Não... Ele foi bonzinho porque você estava aqui.
-Eu disse que queria ele fora daqui, Jeon!!- A voz do pai dele de novo assustou nós dois e eu me levantei num segundo junto com Kook, apanhei minhas coisas no seu quarto e atravessamos a casa em passos rápidos.
-Desculpe por isso.- Levi sussurrou quando chegamos na porta da frente.
-Eu amo você- Falei dando um beijo lento em seus lábios.
-Eu também.- Ele sorriu.
-Eu tenho que chamar o uber- Eu ri sem graça prendendo o choro.-Pode entrar se quiser. Não vai demorar.
-Eu espero com você. É o mínimo que eu posso fazer...