emma
O dia começou bem difícil. Dormi tarde porque estava empolgada criando um software, portanto me me atrasei nesta manhã, não tomei café e perdi o metrô. Fiquei vinte minutos esperando o próximo e, quando ele chegou, não tinha lugar para me sentar.
Apesar de ter acordado quase agora, meu corpo ainda está cansado. E, depois do trabalho, ainda tenho que correr com Bia, que está me forçando a fazer essa atividade todos os dias depois do trabalho.
Agora estou quase correndo para chegar a tempo para o meu turno no emprego. Meu chefe não é tão r**m, mas odeia atrasos. E, mesmo sabendo que Victor não dirá nada a ele sobre isso, não posso me arriscar.
Estou quase na porta giratória que dá acesso ao prédio, quando uma parede bate em mim e eu caio de quatro no chão. Olho para cima e vejo que o filho da p**a, que nem olha para trás, corre para entrar no prédio.
Não dá para ver direito quem é. O que me deixa ainda mais furiosa. Ainda no chão, vejo um aparelho celular caído. Ele deve ter deixado cair.
Levanto-me, pensando que se o dia começou assim, nem posso imaginar o que mais pode acontecer. Pego o celular e volto a andar. O homem deve ser um daqueles idiotas que trabalham no topo da empresa e se acham os donos do mundo. Não é porque fico em uma sala fria e sem graça, que mereço ser tratada dessa forma.
Passo pela porta e, como de rotina, mostro meu crachá à Molly, que já me conhece e sabe do meu ódio por esse ritual desnecessário. Ela sorri e libera a minha entrada, mas antes de eu seguir para o meu setor, resolvo perguntá-la sobre o brutamonte que passou na minha frente.
— Molly, você sabe quem é o cara que entrou como um furacão antes de mim?
— Nunca o vi aqui antes, mas parece que um executivo chegou e todos estão pisando em ovos.
— Claro. Eles se acham os donos do pedaço. — falei irritada. — Obrigada, Molly! Agora, tenho que ir, ou me atrasarei ainda mais.
Ando até o meu setor, o de engenharia, e dou de cara com o responsável por ele, meu chefe querido. Passo ao lado dele com uma cara de culpada, entretanto ele não fala nada, e dou graças a Deus por isso.
Ocupo minha cadeira em frente aos computadores e olho para Victor, que está concentrado em algo. No entanto, sei que notou a minha presença.
— Você tem sorte de ser a melhor no que faz, Emma. Se não fosse assim, o senhor Milton te colocaria na rua. — Dá um sorrisinho de lado.
— Nem me atrasei tanto. — tentei me defender.
— Mas ele é paranóico com isso e eu já te cobri duas vezes. — Estica-se para me olhar.
Dou um sorriso e começo o meu trabalho.
Minha atenção hoje está no celular que peguei. Irei devolvê-lo, mas é claro que tenho que descobrir primeiro quem é aquele homem que mais parecia um prédio quando passou por mim. Foi um grosso por ter me derrubado e não me pedido desculpa. Entregarei seu telefone de volta, porém também vou irritá-lo e ele nem saberá quem foi.
Deixo minha investigação sobre o senhor arrogante para o meu horário de almoço, pois já cheguei atrasada e não quero o senhor Milton me dando uma bronca por mexer no celular.
***
Pego o aparelho e vou almoçar. Sento-me na cantina do prédio, peço o meu prato, recosto minhas costas na cadeira e começo a vasculhá-lo. Sempre fui boa com equipamentos de softwares. Já me coloquei em situações horriveis, todavia hoje sou boa no que faço. É por isso que trabalho nesta empresa e sou pioneira em p******o de dados aqui, nos Estados Unidos.
Minha curiosidade fala mais alto do que a moral de não mexer no que não é meu.
É facil invadir o celular e, logo de cara, vejo um papel de parede fofo: um cachorrinho branco bem pequeno que está olhando diretamente para a câmera. Fico pensando em como um cara tão bruto como aquele pode ter um animal de estimação. Deveria ser proibido. Esse cachorro deve estar precisando de ajuda.
Meu pedido chega e eu almoço enquanto olho a galeria dele. Espero não ter nada tão comprometedor aqui. Deus me livre ver um nude de um desconhecido! Abro as fotos e vou passando uma por uma, vendo pessoas em festas, duas senhoras que podem ser sua mãe é avó, e um senhor que acho que já vi em algum lugar. Nada de muito importante. Até que chego em uma selfie.
Puta m***a! É ele!
Até me engasgo com a bebida. O cara é lindo. Não! Lindo é pouco. A foto é dele depois da academia. Nossa! Suado fica um pecado. Seus cabelos pretos estão caídos sobre o seu rosto quase pálido e seus olhos azuis parecem penetrar a minha alma.
Arrasto o dedo para o lado, a fim de ver se há outras fotos dele. Constato que, Graças a Deus, têm muitas. O senhor arrogante tem músculos incríveis e fica perfeito de terno.
Vejo o horário e noto que meu tempo de refeição está acabando. Vou deixar para vasculhar mais coisas depois que eu sair do trabalho. Talvez enquanto eu estiver no banho.
Por Deus, Emma! Não seja tão pervertida!
Guardo o celular no bolso e volto para o meu setor.
Minha mente não sai do homem que vi nas fotos. Sei que ele foi um i****a, contudo não posso deixar de apreciar sua beleza. Será que é tão arrogante e i*****l relmente? Podia estar tão atrasado e distraído, que nem tenha me visto em sua frente.
Não! Não posso arranjar desculpas para ele. Não sou tão pequena e insignificante assim. E apesar de ser um pouco estranha e me vestir como uma adolescente problemática, tenho o meu valor. Não vai ser um menino riquinho com um corpo de deus grego que vai me derrubar.
Deixarei isso para lá, descobrirei quem ele é e lhe devolverei o telefone, porém não como o deixou quando derrubou.
***
Chego em casa e coloco minha roupa de corrida. Não sou de fazer muitos exercícios, mas Bia pretende ficar com o corpo definido e não quer fazer isso sozinha. Só corro para relaxar, já que não tenho ninguém para ver o resultado de tanto esforço. Mesmo sabendo que não deveria penssar dessa forma, penso.
Não demora muito para que ela chegue batendo na porta do apartamento.
— Vamos logo! Temos que correr o dobro hoje. Não resisti e comi duas fatias de torta. — avisou desanimada.
— O quê? — Ela só pode estar alucinando. — Você quer me m***r?
— Deixe de ser sedentária! — Puxa o meu braço até me fazer passar pela porta.
Mesmo não querendo correr tanto, saio de casa. Como estou com muita coisa na cabeça, usarei esse tempo para pensar em uma forma de fazer o gato arrogante pagar por ter me deixado no chão.
Logo começamos a andar e, depois, a correr. Passamos por muitos lugares durante a corrida.
— Então... O que fez hoje além de se sentar na frente de um computador para olhar números e coisas bizarras que não entendo? — Bia perguntou ofegante.
— Você não vai acreditar. — Mostro-me bem empolgada com a novidade. — Eu me atrasei de novo, mas o pior é que quando eu estava entrando no prédio, um cara esbarrou em mim e foi embora como se nada tivesse acontecido.
— Não estou entendendo. A notícia é r**m e você está com um sorriso no rosto. É meio masoquista. — Mantém o cenho franzido.
— O cara deixou o celular cair. — ignorei sua ironia. — E agora ele está sob o meu poder. — Tento não ficar empolgada demais.
— Sabe, Emma? Quando digo a você para arranjar um namorado, é exatamente por isso. — Lá veio mais uma ironia. — Alguém esbarra em você e, como uma maluca, rouba essa pessoa e sorri como uma psicopata? Estou ficando preocupada.
— Não encha, Bia! Vou devolver o celular dele. Mas também vou me vingar do i****a. — Reviro os olhos.
— Podemos ver um filme se acha que sua noite está tão r**m.
— Será que dá para me apoiar nisso? — reclamei. — É a primeira vez que faço algo assim, e nem sei quem é o homem. Posso ser demitida, já que ele é, provavlmente, um dos executivos.
— Eu curto s**o selvagem e você é fora da lei. Facinante! Ainda não sei por que somos amigas. — brincou.
Bato de leve em seu ombro e continuamos a corrida.
Bia, como uma tagarela, prossegue brincando com a história, deixando-me um pouco irritada. Quando começa a falar algo sobre o seu trabalho, agradeço.
***
Estou na banheira, quando pego novamente o celular para o vasculhar e descobrir mais sobre o homem. Quero achar seu nome, porém não consigo ser tão fora da lei e ir direto à sua caixa de mensagens ou e-mail.
Bia sempre fala que sofro da “síndrome” de ser certinha demais. E é verdade. Apesar de poder e conseguir entrar em muitos computadores e redes de dados, nunca faria isso. Já me ferrei uma vez ao ser culpada por algo que não fiz, e hoje tenho esse trauma.
Decido ligar para alguém e rezo para que essa pessoa fale pelo menos o nome dele. A quantidade de contatos femininos é enorme. E não é para menos, já que ele é lindo. É lógico que pega todas que quer. Aposto que com uma ou duas chamadas, alguma delas atenderá, desesperada para sair com ele novamente.
Resolvendo colocar minha teoria em prática, clico em um número com o nome de “Ariana”. A ligação começa a chamar uma, duas vezes...
— Ian! — falou a voz feminina muito empolgada, no outro lado da linha.
Um sorriso de satisfação toma o meu rosto.
— Desculpe! Não é o Ian. — tentei disfaçar a minha voz para o caso de, futuramente, isso ser usado contra mim.
— Quem é e por que está me ligando do celular do Ian? — perguntou furiosa.
Eu penso um pouco na resposta e minha mente diabólica organiza um roteiro fora do comum para a Emma sem graça.
— É que eu queria ouvir a voz da v***a que está atrás do meu namorado. Quero lhe avisar para ficar longe dele se não quiser perder seus p****s falsos e todas as plásticas m*l feitas do seu rosto. — falei em um tom de irritalção e bem mais alto do que normalmente falo.
Não sei de onde isso está vindo, mas se demorar muito, acabarei rindo e pondo tudo a perder.
— Olhe aqui, querida! Se o seu namorado fica atrás de mim, a culpa não é minha. — rebateu alterada.
— Meu Ian não fica atrás de mulheres; são as vadias que ficam atrás dele. Espero que esse recado sirva de lição para que não chegue perto do meu homem! E pode dizer a todas as suas amigas que farei o mesmo com elas caso as veja a cem metros dele. — Desligo a chamada.
Deus! O que deu em mim e por que fiz isso? Meu coração bate a mil por hora, como se estivesse prestes a sair pela boca.
Agora sei como se chama o dito cujo. Mas, Ian do quê? Fuço ainda mais o telefone e não acho nada que ligue esse nome ao seu sobrenome. Talvez amanhã eu lhe investigue na empresa.
Por enquanto, botarei meu plano em ação. Entro novamente na galeria e começo a editar as fotos. É claro que algumas só edito as cópias, já que não sou tão c***l. Depois volto aos contatos e mudo os nomes das piranhas por coisas engraçadas. Acho que ele ficará puto com a bagunça que estou fazendo.
Não ouso ir às suas conversas particulares, porque isso é muito pessoal e não quero invadir sua privacidade. Já basta o quanto estou invadindo. Sei que para alguém que pode fazer o que faço, invadir é o objetivo, entretanto tenho os meus limites.
***
Acordo cedo e nem tomo café. Depois do banho, coloco roupas que não são muito chamativas, pois nunca gostei de chamar a atenção para o meu corpo. Saio na rua e ando até o metrô com uma pequena caixa na mão. Dentro dela, está o celular. Descobrirei quem é o Ian antes do almoço e lhe entregarei o aparelho depois.
A única pessoa naquela empresa que sabe até os segredos mais sujos dos chefões, é Ágatha. Ela é uma das secretárias dos executivos que ficam no topo do prédio. Se há alguém que sabe quem é o bonitão arrogante, é ela.
Após sair do metrô, ando algumas quadras até o trabalho. Hoje ele não veio me derrubar. Que pena! Eu poderia xingá-lo pessoalmente. Terei apenas que imaginar sua reação ao ver o que fiz no seu celular. Além da capa de glitter rosa com enfeites que coloquei nele, baguncei os contatos e editei as fotos.
Poxa! Será uma boa cena.
Passo pela recepção, vou para o meu armário e coloco a caixa no fundo do espaço, com medo de que alguém me veja e me denuncie quando o telefone estiver nas mãos dele. Em seguida, sigo para a cantina e peço um café expresso.
Logo avisto Ágatha, que está sentada com outras duas secretárias, tendo uma conversa bem animada. Não sou amiga delas. Na verdade, a quantidade de amigos que tenho, posso contar nos dedos. Para todas essas pessoas, sou a garota estranha, igual era no ensino médio.
Embora esteja em boa forma, não tenho roupas chamativas ou sexies e opto por não usar brincos ou colares. Contudo, faço algumas tatuagens quando sinto vontade.
Ágatha, por outro lado, é uma mulher linda, de trinta e dois anos, que veste roupas chiques e está sempre de saltos. Ela mexe no seu cabelo liso de cor escura como se estivesse em um comercial e eu fico só adimirando sua beleza enquanto ando até elas.
— Emma, como vai? — perguntou de forma simpática.
Ainda por cima, a mulher tem simpatia.
— Estou muito bem, Ágatha. Obrigada! — Dou um sorriso tímido. — Como vocês estão? — falei com as outras só para não parecer rude ou fofoqueira.
Elas sorriem e falam, juntas, que estão ótimas.
— Meninas, eu queria perguntar se vocês já viram um homem por aí. Sei que seu primeiro nome é Ian, que ele tem pelo menos 1,90 de altura, cabelos negros, olhos azuis...
— Tem pinta de arrogante? — Ágatha acrescentou.
— Sim. — confirmei feliz. — Você já o viu por aí?
— Se eu já vi? Menina, quem não viu esse homem? E, que homem lindo! É um deus grego, mas muito estressado e m*l-humorado. Está sempre dando ordens e sendo arrogante.
Eu já sabia que ele não era uma boa pessoa, no entanto queria que alguém, pelo menos, dissesse algo de bom dele, para que eu não me sentisse tão m*l por desejá-lo.
— Quem é ele, Ágatha? — questionei, bastante curiosa, sentando-me no meio delas.
— É o mais novo chefe, querida. Ian Novack. É o filho de Robert Novack e assumiu a empresa depois que o pai sofreu o acidente e ficou em coma.
Estou paralisada. Ele é o chefe? O dono de tudo aqui? p***a!
— Você está bem? — perguntou ao ver minha pele mais pálida do que o normal. — Ele te fez algo?
— Não. Eu só o vi por aí. Parecia que tinha comido algo estragado. — Ainda estou tentando me recuperar.
— Ele está assim desde que assumiu os negócios. — Revira os olhos. — O que tem de lindo, tem que m*l-educado.
— Ok, meninas. Tenho que trabalhar agora. Obrigada pela informação! — Levanto—me e saio de perto delas.
Meu Deus! Ian é o CEO da TEC Corporation?! A minha ansiedade está fazendo com que minhas mãos soem e meu coração acelere. Acho que não posso entregar o celular do meu chefe, pois não quero irritá-lo. Mas, ao mesmo tempo, ele é um grosso com todo mundo. Seu pai está em coma, porém isso não justifica seu modo de tratar as pessoas.
O conflito em meu peito pode até me causar um infarto se eu continuar pensando nisso.
Não posso desistir agora. Afinal, ele não saberá quem sou e não sabe nem que existo.
Vou trabalhar e, após o almoço, levarei o pacote para a recepção. Depois, ele que se vire! O que irá deixá-lo ainda mais irritado.
Não sei se isso me deixa feliz ou com mais medo.
Volto do restaurante com o pacote, levando-o na bolsa para que ninguém perceba nada, entro no prédio com ele na mão e vou até a recepção, onde vejo Molly.
Minha língua parece presa, mas não posso desistir agora. Seria errado ficar com o aparelho.
— Molly, uma moça me entregou este pacote agora a pouco e disse que é para o entregar ao Ian Novack. Ela parecia muito irritada e nem quis entrar. — Entrego-lhe.
Odeio mentir, e não faço isso com frequência; só quando preciso muito.
— Quem é Ian Novack? — questionei.
— Lembra do homem por quem você me perguntou ontem e eu também não sabia quem era? — Afirmo com um aceno de cabeça. — É ele, o novo chefe. Dizem que é muito arrogante.
Ian é muito famoso por essa atitude, no entanto não parecia ser um brutamonte quando falei com a p*****a no telefone.
— Entendi. Então, você pode entregá-lo?
— Pedirei para que Mila entregue. Ela é secretária dele.
— Coitada! — Rimos.
Sigo para o meu posto.
Não quero ver o homem pessoalmente. Provavelmente, ele vai querer me m***r quando souber o que fiz.